José Capela150Como esta monstruosidade muitas outras poderia citar, porque infelizmentesão casos vulgares, como vulgar é a embriaguez.Porque convenções internacionais, atendendo a certos interesses,mas sob um simpático pretexto de humanitarismo, nos forçaram aadoptar medidas especiais de repressão do fabrico e consumo do álcool,enveredamos sem hesitações por esse caminho e com uma boa fé, quesó nos honra, porque nem todos os países procederam igualmente,reprimiu-se severamente a importação e consumo do álcool e nestedistrito, já no meu governo, se tem procedido de forma a evitar, tantoquanto possível, o uso da terrível droga, tendo-se para esse efeito requisitadoum destacamento de Guarda Republicana e publicado umaportaria especial.Do resultado deste atitude falam com eloquência as estatísticas, que,no ano de 1917, dão como apreendidos aos indígenas 16.000 tubos dealambiques.Por este lado a nossa consciência deve estar tranquila; temos cumpridoo nosso dever. Mas essa mesma consciência, que é implacável nosseus julgamentos, nos grita a cada instante que a repressão do álcooltraz como consequência imediata o alargamento colossal do consumo debebidas fermentadas, que também produzem a embriaguez, que tambémalcoolizam a raça, que também contribuem para o seu definhamento epara a sua decadência!Não deixamos embriagar o indígena com álcool importado, reprimindo-lheseveramente o seu fabrico, partimos e despedaçamos os seusalambiques, mas inundamos o distrito com ondas de sope, de sura, de caju,etc etc., onde ele pode apagar a sua sede de álcool e com que sustentar oseu vício e cavar a sua miséria e a degradação da sua raça.Não há limite para a bebedeira. Quanto mais bebem, mais avultadasserão as receitas da Comissão de Fomento e mais depressa enriquecerãoos fabricantes da ignóbil mixórdia, que outro fim não têm, e cuja mentalidadeé muito rudimentar para que possam medir o mal, que fazem, e asconsequências do seu repugnante comércio.O futuro da raça negra, o futuro do distrito, que lhes importa a eles?O que os seus olhos lhes mostram é o fácil caminho para juntar algumascentenas de libras; o resto para eles não existe.E-BOOK CEAUP 2008
O Vinho para o PretoNotas e Textos sobre a Exportação do Vinho para ÁfricaO alcoolismo, o definhamento da raça, o aumento da mortalidade, tudoisso constitui, para os fabricantes de bebidas fermentadas, uma nebulosaque não compreendem, nem consentem que se lhes faça compreender.Enriqueçam eles depressa e fique o distrito em ruínas, que a sua consciênciacontinuará tranquila como a superfície de um lago em noite de calmaria.Não esperemos pois que, sem a adopção de medidas especiais e rigorosasse consiga eliminar esta origem do mal, que venho a apontar.Com as modificações, que propus ao Regulamento de Bebidas Fermentadase de que tratei no capítulo — «agricultura» —, vibrava um golpe aeste estado de coisas, golpe que não seria decisivo, mas seria o primeirode uma série, pois à sombra da protecção oficial se criaram interesses, quenão é justo atingir mortalmente, sem lhe dar um pouco de tempo paratomarem diversa orientação.Este problema é preciso encará-lo de frente e pô-lo em equação parase facilitar a sua solução. Moralmente, sob o ponto de vista da civilizaçãoe da educação do indígena, sob o ponto de vista económico, sob qualqueraspecto, que se encare a questão, é um erro manter o actual estado decoisas e chega a ser um crime.O nosso papel não pode consistir em embriagar o indígena, colocandoassim a nossa civilização ao nível da dele; deve consistir em combater aembriaguez, por todos os processos possíveis, desde que ninguém põe emdúvida de que ela é uma causa da miséria e da ruína de uma raça.É um mal que o indígena se embriague com álcool, que ele fabrica, ouque para ele se importaria, mas é uma fonte de receita e deixa de ser ummal, se ele se embriaga com bebidas fermentadas, que os brancos fabricame lhe fornecem a preços módicos!Ao indígena, que é simplista nos seus raciocínios, há-de custar-lhemuito a compreender porque o não deixam beber o seu álcool e o afogamem bebidas fermentadas, que os brancos fabricam.Pois que, dirão eles, a embriaguez só é vício e só é prejudicial, quando sejaproduzida a preços baixos pelo álcool fabricado pelos nossos alambiques, edeixa de o ser, quando seja produzida pelo sope a sura e o caju, que os brancosfabricam e nos fornecem em qualquer quantidade a troco das nossas libras?Não, o que eles querem é apenas as nossas libras e nada mais. Confessemosque não raciocina mal de todo o bom indígena.1512008 E-BOOK CEAUP
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