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O VINHO PARA O PRETO

o vinho para o preto - Centro de Estudos Africanos da Universidade ...

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José Capela12Por outro lado, as multidões a viver nos subúrbios das cidades africanas,em condições de salubridade, de recreio e económicas, em geralabaixo de qualquer admissibilidade para uma vida urbana, bebem nosbares tal como, nas mesmas condições, em Portugal, se bebeu e se bebenas tabernas.Não se explica assim o fenómeno. Mas deixam-se interrogações quepoderão aproveitar ao sentido crítico do eventual leitor, particularmenteno que respeita a textos da antologia.O mais curioso, porém, é que nesses mesmos textos que se destinarama relevar o alcoolismo generalizado dos africanos, alguma coisa encontramosque nos leva a admitir ter-se introduzido o hábito na populaçãoafricana, a partir da iniciativa dos europeus (que calçam, assim, as esporasde, além da tuberculose, da sífilis e de outras calamidades, terem sido osintrodutores do alcoolismo em África) (7) .João de Andrade Corvo testemunha, para o último quartel do séc. XIX,que «o uso imoderado da aguardente é um dos vícios favoritos dos negros,que os brutaliza e tem directa influência na persistência do comércio deescravos e na indolência e falta de aptidão dos africanos, para os trabalhosconstantes da civilização. Este vício, que os deprava, devem-no os negrosaos europeus, que alimentam grande parte do seu comércio com a vendadas bebidas alcoólicas e, por muitos anos, se serviram do vício dos negrospara facilitar o comércio dos escravos.Os primeiros escritores portugueses, que trataram do comércio e doresgate na costa da Guiné, contam que os negros se compravam ali pormanilhas e bacias de cobre; posteriormente, este infame comércio fazia-se,dizem os escritores, por vinho do reino; posteriormente, a aguardente erao principal agente comercial do tráfico.(7)A. da Silva Rego, ALGUNS PROBLEMAS SOCIOLÓGICO-MISSIONÁRIOS DA ÁFRICA NEGRA, Juntade Investigações do Ultramar, Lisboa, 1960, págs. 68 e segs.Este autor afirma peremptoriamente que «Foi a Europa que ensinou à África o uso e o abuso dasbebidas alcoólicas». A calamidade causada pelo abuso do álcool em África foi objecto da Conferência deBerlim, em 1885, da iniciativa da Alemanha. Mas os próprios alemães tinham comprado parte do Sudoesteafricano (actual Namíbia) com armas, pólvora e aguardente, ainda em 1884.A Conferência de Bruxelas (1889-1890) acordou medidas pondo entraves à venda do álcool e aConferência de Saint-Germain-en-Laye (1919) também se ocupou do assunto.Em Benguela, no final do Séc. XIX, só uma roça fabricava mais de quatro mil pipas de cachaça(supõe-se que anualmente) segundo o SÉCULO de 4 de Fevereiro de 1899.E-BOOK CEAUP 2008

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