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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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Tratado proposto a Manuel da Silva Ferreira pelos seusescravos durante o tempo em que se rebelaram (porvolta de 1789):“Meu Senhor, nós queremos paz e não queremos guerra;se meu senhor também quiser nossa paz há de sernessa conformidade, se quiser estar pelo que nós quisermosa saber. Em cada semana nos há de dar osdias de sexta-feira e de sábado para trabalharmos paranós não tirando um destes dias por causa de dia santo.Para podermos viver nos há de dar rede, tarrafa e canoas.Não nos há de obrigar a fazer camboas, nem amariscar, e quando quiser fazer camboas e mariscarmande os seus pretos Minas. Faça uma barca grandepara quando for para Bahia nós metermos as nossascargas para não pagarmos fretes.(...) A tarefa de canahá de ser de cinco mãos, e não de seis, e a dez canasem cada feixe.(...) Os atuais feitores não os queremos,faça a eleição de outros com a nossa aprovação.(...)Os marinheiros que andam na lancha além de camisade baeta que se lhe dá, hão de ter gibão de baeta, etodo vestuário necessário. O canavial do Jabirú o iremosaproveitar por esta vez, e depois há de ficar parapasto porque não podemos andar tirando canas porentre mangues. Poderemos plantar nosso arroz ondequisermos, e em qualquer brejo, sem que para issopeçamos licença, e poderemos cada um tirar jacarandásou qualquer pau sem darmos parte para isso. Aestar por todos os artigos acima, e conceder-nos estarsempre de posse da ferramenta, estamos prontos parao servirmos como dantes, porque não queremos seguiros maus costumes dos mais Engenhos. Poderemosbrincar, folgar, e cantar em todos os tempos quequisermos sem que nos impeça e nem seja preciso licença.”Sabe-se que nos engenhos e fazendas de café os cativos aumentavamo ritmo de trabalho na presença de senhores e feitores,mas assim que estes se afastavam procuravam fazer pequenaspausas para descansar. Nos cafezais do Sudeste, os escravos costumavamentoar cânticos improvisados, chamados de jongos, queserviam para ritmar o trabalho e, quando preciso, alertar os companheirosda aproximação dos senhores e feitores. Aliás, nas lavourasde cana e café os conflitos entre os escravos e seus senhoresmuitas vezes estavam relacionados à redução da jornada detrabalho. Em 1789, escravos do engenho Santana, em Ilhéus, Bahia,se rebelaram e redigiram um documento contendo várias reivindicações,e numa delas exigiam a redução do tempo de trabalho nalavoura de cana e o direito ao lazer.Vestir, morar e comerTanto nos engenhos como nas fazendas de café, charqueadas e nasminas, as condições de moradia eram bastante precárias. Como sabemos,a morada dos escravos era chamada senzala, palavra de origemquimbundo que significa residência de serviçais em propriedadeagrícola, ou morada separada da casa principal. No século XIXexistiam nas grandes propriedades rurais dois modelos de senzalas.A primeira, estilo barracão, consistia de uma única construção retangulare alongada, internamente repartida em vários cubículos.Eram projetadas e construídas pelos senhores e quase sempre localizadasao lado ou atrás das casas-grandes, a residência senhorial, deforma a manter a escravaria ao alcance da vista. Geralmente existiaum barracão para homens e outro para mulheres, mas havia tambémcompartimentos em que eram alojados casais com filhos. Estassenzalas eram trancadas à noite pelos feitores, uma medida emgeral insuficiente para impedir as fugas, mas importante para estabelecera disciplina, porque determinava o horário de recolher-se ànoite e de começar a trabalhar ao amanhecer.O segundo modelo era formado por barracos separados,construídos com paredes de barro batido e cobertas de sapê outelhas de cerâmica. Eram construídas pelos próprios cativos. Nessashabitações eles tinham a oportunidade de organizar o espaço78 Uma história do negro no Brasil

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