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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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injustificado podia resultar em fugas e ameaças à vida do senhor,seus auxiliares e familiares. O escravo não era um ser passivo cujaobediência podia ser mantida exclusivamente através do chicote.Em suas lutas cotidianas, os escravos impuseram limites à dominaçãoescravista e jamais se acomodaram. Em todos os lugaresem que existiu escravidão, os senhores buscaram temperar a políticade domínio com incentivos ao trabalho. Nos engenhos doNordeste, nas minas e nas fazendas de café do Sudeste brasileiro,os senhores adotaram uma ideologia paternalista que consistia emcolocar o escravo sob “proteção” familiar. Aos senhores, é claro,cabia o arbítrio de castigar e perdoar faltas porventura cometidas.Humildade, obediência e fidelidade eram as expectativas dos senhoresem relação a seus cativos.Por isso, em terra de branco, a sobrevivência significou abrircaminhos para tornar a vida mais suportável. E isso significavaesforço cotidiano para modificar e mesmo subverter as condiçõesde domínio escravista. Através de diversas e criativas maneiras, osescravos buscaram tirar proveito da ideologia paternalista dos senhoresludibriando suas vontades e caprichos e, às vezes, invertendoa direção que eles pretendiam imprimir às suas vidas. Comoveremos ao longo deste livro, além das fugas e revoltas, os escravosdesenvolveram formas sutis de resistência cotidiana, e foi assimque interferiram no seu próprio destino e modificaram omundo à sua volta.Era preciso fugir à condição de “peça” produtiva impostapelo escravismo e criar espaços próprios para amar, constituir famílias,criar filhos, brincar, folgar, cultuar deuses africanos e osque passaram a venerar no Novo Mundo. E, além disso, era precisocriar possibilidades de cair fora da escravidão por meio da fuga,revolta ou alforria. Para sobreviver e modificar sua sorte no mundoda escravidão, os escravos tiveram de recorrer às lembrançasdo que haviam vivido na África e às experiências acumuladas aolongo da vida no cativeiro.Para começarmos a entender as experiências do povo negrosob a escravidão no Brasil, vejamos suas condições de vida.Uma história do negro no Brasil 69

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