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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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tias. Mesmo que rápida, a travessia era infinitamente penosa paraos cativos.A Coroa portuguesa tentou por diversas vezes regulamentara atividade dos negreiros, coibindo a superlotação, garantindo otratamento médico a bordo e comodidades mínimas para o transportedos cativos. Mas, muitas vezes, a taxa de mortalidade durantea travessia do Atlântico era extremamente elevada. Por exemplo,a galera São José Indiano, aportada em outubro de 1811, noRio de Janeiro, oriunda de Cabinda, perdeu 121 de seus 667 escravos,mais o capelão e três marinheiros. Estimativas mais recentescalculam entre 15 a 20 por cento de mortos durante uma viagemnormal, mas não era incomum haver 40 a 50 por cento de perdas.Pode-se imputar as mortes a bordo a fatores como escassezde alimentos e água, maus-tratos, superlotação e até mesmo aoterror da experiência vivida, que debilitava física e mentalmenteos africanos. Além disso, o tráfico colocava os africanos em contatocom doenças para eles desconhecidas e para as quais aindanão haviam criado defesas suficientes. Ao colocar em contatopovos de diversas regiões da África e mais tripulações brasileiras eeuropéias, os navios negreiros funcionavam como verdadeirosmisturadores de enfermidades típicas de cada continente. Em casode contagio de febre amarela, tifo ou varíola era grande o númerode mortes não apenas entre os cativos, mas também entre a tripulação.Havia ainda a morte provocada por suicídio e não forampoucos os cativos que puseram fim à existência precipitando-seno mar. Mesmo considerando o alto índice de mortalidade, o tráficoera um negócio bastante lucrativo.Sobreviveram poucos relatos sobre os horrores vividos pelosafricanos no interior dos tumbeiros. Em dezembro de 1649,frei Sorrento, capuchinho italiano, à bordo de um negreiro contendomais de novecentos escravos, escreveu: “aquele barco [...]pelo intolerável fedor, pela escassez de espaço, pelos gritos contínuose pelas infinitas misérias de tantos infelizes, parecia um inferno”.No início do século XX, o escritor paraibano José Lins doRego recordou uma ex-escrava chamada Galdina, que viera daCosta da África ainda criança e contava os horrores e traumasvividos a bordo de um navio negreiro. Contava vovó Galdina:50 Uma história do negro no Brasil

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