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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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Apesar de vitórias, a desigualdade continuaOs dados do último censo populacional, realizado em 2000, informamque os negros são mais de 76 milhões dentre os quase179 milhões de brasileiros. Entre as capitais, São Paulo, com 3,1milhões, concentra a maior população negra urbana, seguida peloRio de Janeiro com 2,4 milhões, e por Salvador com 1,8 milhão.Negros são todos os que no recenseamento se identificaram como“preto” ou “pardo” na classificação adotada pelo IBGE. O levantamentoe análise desses dados são fundamentais para o entendimentoda história recente do negro no Brasil, pois ajudam a medir asdesigualdades sociais e apontar para a necessidade de políticas públicasdestinadas especificamente à população negra.A partir dos dados dos censos foi possível observar duastendências: uma é que a população preta vem declinando e a populaçãoparda vem crescendo; e outra que, quando somadas, elasquase empatam com a população branca. Se em 1940 os negros(considerando aqui pardos e pretos) representavam 36 por centoda população nacional, em 2000 já chegavam a 45 por cento. Esseaumento sugere que as taxas de nascimento nas famílias negrassão maiores do que nas famílias brancas. Esse aumento tambémsugere que pessoas que antes se definiam como brancas passarama se definir como pardas. Isso já seria resultado de mais genteassumir sua descendência africana.Mas a mortalidade infantil é mais alta na população negra doque na população branca. O censo de 1996 mostrou que para cadamil crianças nascidas vivas, 36 negras morriam antes de completarum ano e apenas 24 brancas. Isso resulta da precariedade do acompanhamentopré-natal na rede pública de saúde e da maior incidência,nas mulheres negras, de doenças como a anemia falciforme,diabetes e hipertensão arterial, que afetam a saúde dos bebês. Noestado do Paraná, por exemplo, o risco de morte das mulheres negrasé 7,4 vezes maior do que o das brancas. As conseqüências dissosão drásticas, pois a morte materna prejudica a vida das famíliasnegras que são, em grande parte, chefiadas por mulheres.Quando se leva em conta as diferentes regiões do país, ficaevidente onde a desigualdade mais assusta. As crianças negrasAs expressões usadas para designar a cor dos indivíduosnos levantamentos populacionais foram, e continuamsendo, alvo de muita polêmica. A partir do censode 1940, as categorias branca, preta e amarela passarama fazer parte dos questionários do IBGE. Naqueleano só eram classificados como pardos aqueles que,por qualquer razão, não coubessem nas outras categorias.Já nos censos de 1950, 1960, 1980 e 2000, pardopassou a ser uma opção de identificação tanto quantobranco, preto e amarelo. A categoria indígena sópassou a constar das opções do questionário do censoa partir de 1991. Desde a década de 1970 militantes,pesquisadores e gestores públicos discutem os critériospara a identificação racial nos levantamentospopulacionais. Alguns defendem a supressão das expressõesque fazem menção à cor da pele. Nesse caso,preto e pardo deveriam ser suprimidos dos questionáriosdo censo. Mas há quem argumente que tal procedimentoreforçaria a idéia de que as raças são verdadesbiológicas e não construções culturais e ideológicas,como já vimos no capítulo IX. Por outro lado, aausência da categoria “negro” revela o quanto essa palavraainda é estigmatizada na sociedade brasileira.Tudo isso evidencia a complexidade da identidade racialno Brasil. E essa relação entre identidade racial ecor da pele é uma das evidências dessa complexidade.Os militantes consideram que mulato, pardo, morenoe outras maneiras de denominar os não-brancossão termos que fazem parte do discurso da mestiçageme comprometem a construção de uma identidaderacial negra.Uma história do negro no Brasil 299

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