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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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O golpe militar de 1964 foi o desfecho de uma longacrise política que se seguiu à renúncia do presidente JânioQuadros, em 1961, e que se acirrou durante o governode João Goulart. As reformas sociais propostas porGoulart e o medo de uma aliança entre o governo, setorespopulares e sindicatos geraram uma trágica reaçãomilitar. Em 31 de março de 1964 teve início em MinasGerais um movimento que se espalhou por diversos estados,principalmente São Paulo e Rio Grande do Sul.No dia seguinte, o Brasil amanheceu sob a ditadura militar,um regime que durou vinte e um anos e teve gravesconseqüências sobre as organizações políticas brasileiras,inclusive as entidades negras. Abdias do Nascimento,por exemplo, buscou exílio fora do país para fugir àrepressão. Militantes negros estavam entre aquelesfiliados a organizações de esquerda que foram submetidosà tortura e eliminados pelos militares.não teve qualquer eficácia no combate ao preconceito racial. Emboravárias queixas tivessem sido registradas na polícia com base nalei Afonso Arinos, os acusados nunca eram condenados e punidos.Mesmo depois do golpe militar em 1964, e apesar da censuraà imprensa, as denúncias de preconceito racial eram cada vezmais citadas na imprensa. Ao comentá-las, o argumento dos jornalistasera quase sempre o mesmo: não se deveria admitir qualquertipo de discriminação num país famoso pela tolerância racial.Os casos de preconceito racial eram vistos como aberrações enão como manifestações de um racismo entranhado na sociedadebrasileira. E era conveniente que fossem vistos assim, pois permitiaa reprodução de relações sociais que terminavam privilegiandoapenas uma parte da população brasileira.Em 1968, a partir dessas denúncias e de estudos sobre amão-de-obra negra, técnicos do Ministério do Trabalho propuseramum projeto de lei que reservava dois terços das vagas nasempresas privadas para negros. A coisa deveria estar muito ruimpara que a própria ditadura militar reconhecesse a necessidade depolíticas de inclusão dos negros. Mas setores da sociedade, a imprensa,sobretudo, logo reagiu. Nos jornais cariocas dizia-se que oBrasil era um país de mestiços, onde todos tinham tanto sangueíndio e negro quanto branco, e por isso não se deveria privilegiaraqueles a serem contemplados pela reserva de vagas. Naquelemomento, o discurso da mestiçagem e da cordialidade das relaçõesraciais no Brasil foi o bastante para barrar qualquer tentativade reparação racial. Logo em seguida, a partir 1970, o regime militarendureceu com o general Garrastazu Médici, e falar de racismono Brasil virou ato de subversão da ordem pública.Durante o regime militar o item cor sequer existia nas estatísticasnacionais, inclusive no censo populacional. O regime tratavaassim de impedir que as desigualdades raciais ganhassem visibilidadenas estatísticas oficiais. A idéia de um povo mestiço comopatrimônio nacional foi exaustivamente veiculada nos meios decomunicação pelos governos militares. A pretensa harmonia racialbrasileira foi exaltada como a marca mais característica da nação.A simples menção à cor da pele das pessoas era interpretadacomo um sinal de preconceito. Até mesmo os dados do censo de276 Uma história do negro no Brasil

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