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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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to, a rigidez nas regras de convívio parecia ser comum a essesambientes. Durante o baile, um mestre-sala se encarregava de fiscalizaro comportamento dos presentes para inibir abusos, comoexcesso de bebida, desrespeito às damas ou a inadequação do traje.Como medida disciplinar, ele podia inclusive parar o baile ereclamar publicamente com alguém que não usasse o colarinhobem engomado ou os sapatos engraxados. Fora dos salões, a preocupaçãocom a aparência da roupa, cabelo e comportamentotraduzia o esforço desses negros para se mostrarem adequados aum mercado de trabalho regido pela lógica, muitas vezes racista,da “boa aparência”.Falar de preconceito contra negros já era algo bastante censurado,uma vez que a sociedade brasileira não reconhecia a existênciado racismo, nem tão pouco que as dificuldades de ascensãosocial das populações negras tivessem como causa a discriminaçãoracial. A negação do preconceito era conveniente, pois mantinhaos privilégios de uma minoria e isentava o governo brasileirode qualquer responsabilidade sobre a situação de pobreza e marginalidadeda população negra.Por isso que, ao abordarem o problema da discriminaçãoracial, os jornais negros recorriam a diversos artifícios de linguagem.Em 1926, O Clarim da Alvorada publicou o seguinte texto:“Há muitos pretos que afirmam a existência de um pequeno preconceitode cor em nossa terra! Não é verdade, meus patrícios decor. Existem uns incultos e invejosos que sempre procuram obstruira ascensão de alguns dos nossos de cor [...]. Não se podefalar no Brasil de preconceito de raças”. Ou seja, o racismo quedificultava a ascensão de alguns negros seria atitude de uma pequenaminoria branca, segundo o jornal.As páginas dos jornais negros freqüentemente estampavamdenúncias de discriminação racial contra pessoas de cor negra. Umcaso bastante comum foi publicado nas páginas de O Getulino, em21 de outubro de 1923: um negro “vai às fábricas, mas não lhe dãoserviço, muitas vezes nem lhe deixam falar com os gerentes. Procuraanúncios nos jornais, corre pressuroso onde precisam de empregados,e embora chegue primeiro do que qualquer outro candidato,por ser de cor é posto à margem e recusado”. Havia também de-262 Uma história do negro no Brasil

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