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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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O tambor de crioula é uma dança própria do Maranhão,na qual os tambores são acompanhados por versos deimproviso. É o som dos tambores que se ouve em festaspúblicas. Aos homens cabe cantar e tocar três tamboresde madeira de tamanhos diferentes, enquantoas mulheres dançam. Conta-se no Maranhão que SãoBenedito gosta de tambor de crioula e por isso muitaspromessas ao santo são pagas com uma festa de tamborde crioulaséculo XX, apesar de forte repressão policial.Entre 1890 e 1950 várias iniciadas no culto aos voduns (as vodunsis)também eram operárias nas fábricas de tecidos de São Luís,capital do Maranhão. Quando, a partir da década de 1950, essas fábricascomeçaram a falir, muitas dessas mulheres migraram para o sudestedo país e principalmente para o Rio de Janeiro, onde encontraramoutras tradições religiosas afro-brasileiras, a exemplo do cultoaos orixás da comunidade baiana. Essa interação entre diferentes referênciasreligiosas certamente favorecia a interpretação de que erano Rio de Janeiro que se construía a síntese da cultura nacional.A Casa das Minas, com suas lideranças religiosas femininasfortes, conseguiu conquistar a cumplicidade de políticos e intelectuais.Aliás, como no resto do Brasil o interesse de pesquisadorese a proteção política foram fundamentais para a continuidade dessastradições. Já comentamos sobre as formas de legitimação dopoder religioso de Tia Ciata. Tal aliança, ao tempo em que resguardavaas religiões afro-brasileiras das investidas policiais, tambémfirmava as bases para incorporá-las entre as expressões dacultura nacional. É por isso que o pai-de-santo baiano SeverianoManuel de Abreu, o Jubiabá, dizia com orgulho ser “amigo dogoverno”, e que ao seu terreiro iam “pessoas de muita importância,médicos, bacharéis, negociantes e autoridades”.Na Bahia, a presença de intelectuais nos terreiros de candombléera antiga. Nina Rodrigues e Manoel Querino inauguraram,no final do século XIX, as pesquisas sobre as práticas religiosasnos cultos aos deuses afro-brasileiros. Eles registraram a distinçãoentre os terreiros de nação jeje-nagô, congo e angola, identificaramos rituais e pessoas importantes na preservação e recriaçãodas tradições africanas no candomblé. Mas essa proximidadeentre intelectuais e adeptos do candomblé se tornou ainda maisestreita na década de 1930. E se os terreiros usufruíam dessa relação,muitos intelectuais também recorreram a eles em busca dematéria-prima para suas carreiras intelectuais e mesmo para seremprotegidos. Em 1937, ao fugir da polícia política do Estado Novo,o escritor Edison Carneiro encontrou refúgio no terreiro de MãeAninha, o Axé Opô Afonjá, em Salvador.O Axé Opô Afonjá e a ialorixá Aninha foram fundamen-240 Uma história do negro no Brasil

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