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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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gou ofensivo que aquele grupo de negros fizesse uma alusão tãomaliciosa à questão racial. As fantasias de índio também eram proibidas.A ridícula alegação era que, sob tangas e cocares, se escondiamnavalhas e punhais. A implicância policial com esse tipo deindumentária chegou a tal ponto que os foliões mais afoitos cantavamnas ruas a seguinte quadrinha:eu vou beber, eu vou me embriagar,eu vou sair de índio pra polícia me pegar.Mas se a repressão se intensificava, sustentada em circulares eportarias policiais, não faltavam aos foliões meios para driblá-la.Valia tomar de empréstimo licenças concedidas a outros grupos,tentar passar despercebido pelos rigores da lei se intitulando sociedadesdançantes familiares. No mais, a interdição policial nunca foieficaz a ponto de aniquilar certos aspectos da cultura negra. Obumbo, por exemplo, foi um instrumento proibido durante o Carnavalem várias cidades brasileiras na década de 1920. O que nãosignifica que os instrumentos percurssivos tivessem todos sido retiradosda festa. Criar formas de subverter, de encontrar alternativasàs determinações nascidas do racismo das autoridades foi, comocontinua a ser, o exercício rotineiro da população negra.O exemplo mais explícito desse jogo de concessão e subversãoera o “bloco do sujo”, ou seja, as pessoas que saíam vestidascom fantasias velhas e máscaras como se estivessem prontaspara brincar o velho Entrudo. Vários ranchos cariocas tinham osseus “sujos”, que se vestiam sem qualquer luxo, brilho ou alegorias.O “sujo” de Tia Ciata era conhecido como “o macaco é outro”.Esse era o refrão que os participantes gritavam depois decolocar a mão nas máscaras, gozando da própria cor, e dizer baixinho“nós somos gente”, para em seguida gritar bem alto: “o macacoé o outro”. Talvez a ironia da brincadeira não fosse notadapela polícia, mas para os foliões era claro que o Carnaval inspiradona Europa não excluía a bem humorada crítica social.E foi com esse sentido subversivo que os sambas promovidospela comunidade negra ficaram famosos. Na São Paulo dasdécadas de 1910 e 1920 era no bairro da Barra Funda, zona oeste236 Uma história do negro no Brasil

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