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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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as, seguindo os músicos com seus tambores e cuícas. Os blocosou cordões reuniam até cem pessoas que, cercadas por uma corda— daí o termo “cordão” — dançavam e cantavam músicas aprendidasnos terreiros de candomblé. Da banda constavam instrumentosde sopro e percussão; nos estandartes eram exibidas mensagenscomo Outum Obá da África e Ideal Africano.Do mesmo modo, os cordões cariocas tinham uma óbviareferência africana, chegando a se intitularem de Benguelas, Munhambanee Cabundas, por exemplo. Além disso, os cordões eramimplacáveis na crítica social. Era comum ver seus foliões usandopaletós às avessas e perucas cacheadas, enquanto riam dos hábitose trejeitos das elites. Tudo isso ao som dos mesmos tambores quedavam o ritmo aos rituais do candomblé àquela altura, condenadosem todo canto do país.Os estivadores ligados ao Sindicato da Resistência dos Trabalhadoresem Trapiche de Café no Rio de Janeiro, também chamadode Companhia de Pretos, se divertiam durante o carnaval no Ranchodas Flores. Aos olhos da polícia os estivadores não eram exemplode civilização. Volta e meia estavam envolvidos em conflitos,rodas de capoeira e freqüentemente acusados de cometerem desordens.Contudo, não era pouco o sucesso do seu rancho.E não era apenas no Rio de Janeiro que a atuação dessas associaçõesde classe extrapolava as lutas especificamente trabalhistas epolítico-partidárias. No Rio Grande do Sul, grupos como o RecreioOperário, criado em 1885 — e que ainda saía às ruas na década de1930 — não só agregava e divertia os foliões durante o Carnaval.Eles também promoviam atos políticos e manifestações a favor decausas negras e operárias. A existência do Rancho das Flores no Riode Janeiro e do Recreio Operário em Pelotas demonstrava que oCarnaval proporcionava a comunhão entre interesses de classe eidentidade racial, ou seja, aquelas pessoas se reconheciam a partirdas dificuldades que enfrentavam como operários negros.Ranchos, cordões e blocos tinham raízes firmes nos terreirosde Candomblé. Pode-se dizer que, em diferentes lugares do país,as religiões afro-brasileiras foram espaço de preservação de herançasafricanas e, sobretudo, de criação de uma cultura negra. O curiosonisso tudo é que, enquanto políticos, jornalistas e intelectuais234 Uma história do negro no Brasil

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