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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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Desde a década de 1850 do século XIX a província deSão Paulo tentava implementar uma política que garantissea imigração regular de europeus. Em agostode 1871, o governo Imperial autorizou o funcionamento,em São Paulo, da Associação Auxiliadora de Colonizaçãoe Imigração. À associação era permitido financiarparte dos custos com o transporte e instalação dosimigrantes. Muitos fazendeiros aderiram ao trabalho imigrantepor meio dessa associação. Durante a PrimeiraRepública o governo de São Paulo se dispôs a assumiros gastos necessários com a imigração. Era a chamadaimigração subvencionada. Os investimentos na imagemdo Brasil no exterior também fizeram parte desta investidagovernamental. Em 1907, o governo divulgou na Europaum panfleto que defendia que no Brasil as epidemiasestavam sob controle. No texto comparavam-se os índicesde mortalidade de várias cidades do mundo, paraconcluir que São Paulo e Rio de Janeiro tinham taxasmais baixas que Madri, Lisboa e Roma. Do mesmo modo,Salvador e Curitiba eram cidades mais saudáveis queBoston e Nova Iorque. Por conta desses esforços, em1914, 2 milhões e 700 mil imigrantes, em sua maioriaitalianos, moravam no Brasil. Mais da metade deles noestado de São Paulo.cas do século XIX no país, formou-se um grupo de especialistasque adotou as teorias raciais para os estudos de medicina legal.Casos de doença mental, epilepsia e alcoolismo, dentre outrosmales, eram considerados conseqüências da mistura de raças, amestiçagem. Nesse sentido, a miscigenação era algo a ser evitadonuma população que se pretendia saudável.Mas para outros era justamente a miscigenação que garantiriaa civilização no Brasil. A esperança era que, em médio e longoprazo, o país se tornasse predominantemente branco. E o caminhopara o branqueamento era a miscigenação. Desse modo a“raça branca”, considerada mais evoluída, corrigiria as marcas deixadasna população brasileira por aquelas tidas como “raças inferiores”,negros e índios.Daí os investimentos na imigração de trabalhadores europeuse as barreiras para a vinda de negros e asiáticos. Aos imigrantesbrancos caberia o papel de civilizar os costumes e embranqueceras peles, remediando, na lógica da época, os danos de séculos deescravidão de africanos. Em 1890, para estimular a imigração européia,o recém-instaurado governo republicano mandou divulgarno exterior que os estrangeiros dispostos a trabalhar no Brasileram bem-vindos, exceto os asiáticos e africanos. Para fazer cumpriressa determinação, a polícia estava autorizada a impedir o desembarquede negros e asiáticos nos portos do país.Durante a Primeira República a recusa a imigrantes negrosera justificada por razões explicitamente racistas. Existia tanto empenhoem impedir a imigração negra que em 1921 dois deputadosfederais, Andrade Bezerra e Cincinato Braga, apresentaram na câmarao projeto de lei nº 209, que proibia “a imigração de indivíduoshumanos das raças de cor preta”. O projeto, disseram os autores,era uma precaução. Naquele mesmo ano o governo do Mato Grossodivulgou que estava concedendo terras para quem se dispusessea ocupá-las no interior do estado. Logo os jornais noticiaram quenorte-americanos negros estavam interessados na proposta.As opiniões contrárias à imigração desses norte-americanosforam divulgadas em todo o país. Num jornal se podia ler aseguinte questão: “por que irá o Brasil, que resolveu tão bem o seuproblema de raça, implantar em seu seio uma questão que não206 Uma história do negro no Brasil

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