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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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Muitos ex-escravos, porém, permaneceram nas localidadesem que haviam nascido. Estima-se que mais de 60 por cento delesviviam nas fazendas cafeeiras e canavieiras do Centro-Sul do Brasil.Mas decidir ficar não significou concordar em se submeter às mesmascondições de trabalho do regime anterior. Muitas vezes, os exescravostentaram negociar as condições para sua permanência nasfazendas. Estudo recente mostra que, no Sudeste, grupos de libertosrecorreram aos párocos locais e mesmo a agentes policiais paraapresentar suas condições de permanência aos antigos senhores.No entanto, negociar com os libertos parece ter sido uma situaçãopara a qual seus ex-senhores se mostraram indispostos.Grande parte dessa indisposição para negociar estava relacionadaaos desejos dos libertos de terem acesso à terra e de não seremmais tratados como cativos. Na região açucareira do Recôncavo, oslibertos reivindicaram a diminuição das horas de trabalho e dos diasque deveriam dedicar à grande lavoura de cana. Exigiram também odireito de continuar a ocupar as antigas roças e dispor livrementedo produto de suas plantações. Nos dias seguintes ao 13 de maiolibertos ocuparam terras devolutas de engenhos abandonados e iniciaramo cultivo de mandioca e a criação de animais. Isso mostraque os ex-escravos percebiam que a condição de liberdade só seriapossível se pudessem garantir a própria subsistência e definir quando,como e onde deveriam trabalhar.Para os ex-escravos e para as demais camadas da populaçãonegra, a abolição não representou apenas o fim do cativeiro. Paraeles a abolição deveria ter como conseqüência também o acesso àterra, à educação e aos mesmos direitos de cidadania que gozava apopulação branca. Na ausência de qualquer iniciativa séria por partedo governo para garantir um futuro digno aos negros brasileirosapós o dia 13 de maio, um grupo de libertos da região de Vassouras,no Rio de Janeiro, endereçou uma carta a Rui Barbosa, entãofigura importante da política nacional. Na carta, eles reivindicavamque os filhos dos libertos tivessem acesso à educação.A abolição estava prestes a completar um ano, a monarquiaentrara em colapso e aquelas pessoas, ex-escravos, agora tinhamplanos de ascensão social para seus filhos. E, ao contrário do queproclamavam alguns abolicionistas, aqueles libertos tinham, sim, umainterpretação própria do que seria cidadania. Para eles, uma das for-198 Uma história do negro no Brasil

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