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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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Durante a viagem, os caravaneiros muçulmanos acampavamnas fronteiras das cidades ou aldeias sudanesas e não deixavam decumprir os seus rituais religiosos. Rezavam cinco vezes ao dia, mastambém adivinhavam chuva, confeccionavam amuletos, previam ofuturo, administravam remédios aos doentes locais e, é claro, faziamnegócios. Tudo sempre de acordo com os preceitos islâmicos. Nessainteração, o Islã dos mercadores ia encontrando ora uma maiorreceptividade, ora a firme resistência das populações sudanesas adeptasde crenças tradicionais. Em muitos lugares a fé em Alá e o cultoaos ancestrais conviveram, noutros a conversão ficou restrita aosoberano e à aristocracia, enquanto as pessoas comuns continuavama professar as crenças herdadas dos antepassados. Mas tambémse viu a conversão de populações inteiras, fosse para escapardo risco do cativeiro, já que apenas os infiéis podiam ser escravizados,fosse por sincera convicção religiosa.O Corão não condenava o cativeiro. Para os seguidores doprofeta Maomé, a escravização era uma espécie de missão religiosa.O infiel, ao ser escravizado, “ganhava” a oportunidade da conversãoe, depois de devidamente instruído nos preceitos islâmicos,tinha direito a voltar a ser livre. Entretanto, não bastava se converterpara ter direito a alforria. Havia razões bem mais comerciais ebem menos altruístas a justificar o crescimento do número deescravos no mundo muçulmano. Primeiro, porque uma vez escravizadoo indivíduo nem sempre dispunha de tempo e condiçõespara ser educado de acordo com as leis islâmicas, e segundo, porqueo trabalhador escravo era fundamental para a viabilidade docomércio dos mercadores muçulmanos.A intensificação do comércio de longa distância exigia oaumento do número de cativos. Além de produto de troca, o escravoera o carregador nas exaustivas viagens. Estava a seu encargoo transporte das barras de sal, dos fardos de tecidos, dos cestosde tâmaras, das armas, dos objetos de cobre. Na outra ponta dasrotas comerciais a procura por escravos só aumentava. Quantomais escravos eram capturados outros tantos eram necessários parapreencher várias ocupações no mundo árabe. Podiam serconcubinas, agricultores, artesãos, funcionários encarregados daburocracia, domésticas, tecelões, ceramistas. Mas era principalmen-18 Uma história do negro no Brasil

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