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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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de dos senhores. A alforria podia ser resultado de anos a fio de“bons serviços”, lealdade, obediência e trabalho. Mas a obediênciae a lealdade podiam esconder uma estratégia paciente e perseverantede obter a confiança do senhor, de prendê-lo ou enredáloem suas próprias obrigações morais. As mulheres eram especialmentehábeis nessa estratégia.Assim, invertendo o sentido do paternalismo da época, algunssenhores se tornavam devedores da gratidão de seus escravos.Em 1864, na cidade Porto Alegre, os herdeiros de uma senhoramorta concedeu liberdade a Laurindo, “pardo velho”, depoisdos “longos anos de serviço e atendimento à falecida”. Namesma cidade, em 23 de março de 1872, Joana, mulata, recebeucarta de alforria do senhor e da senhora pelos serviços prestados,especialmente nas moléstias do filho dos mesmos, sepultado naquelemesmo dia.Por vezes, escravos e escravas considerados fiéis e obedientesse tornavam repentinamente rebeldes obrigando os senhores alibertá-los. Em 1882, ainda na cidade de Porto Alegre, a africanaJustina abriu caminho próprio para a liberdade minando a paciênciade sua senhora. Aborrecida, a senhora confessou que Justina “temme faltado o respeito e entende que deve dizer-me quanta liberdadequer, e eu já não posso sofrer, castigo-a dando-lhe sua completaliberdade para gozar de ir onde queira e eu ficar em paz”.Todos os estudos sobre alforrias têm revelado que crioulose pardos eram alforriados em maior número do que os africanos.Possivelmente, por terem nascido escravos tinham um conhecimentomaior das formas de convencer os senhores. Entre osalforriados crioulos e africanos, a mulher era quem mais recebiacarta de liberdade. Em Parati, na capitania do Rio de Janeiro, entre1789 e 1822, 66 por cento dos alforriados eram mulheres. EmSalvador, entre 1684 e 1745, 57,6 por cento eram mulheres. Entre1807 e 1831, 64 por cento na cidade do Rio. Estas diferenças sãomarcantes se levarmos em consideração que a maioria dos escravosera do sexo masculino.Vários motivos concorriam para essa predominância femininaentre os alforriados. Os laços íntimos que se formavam entreescravas, seus senhores e suas senhoras podiam favorecer as mu-150 Uma história do negro no Brasil

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