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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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Revoltas escravasDurante a primeira metade do século XIX, os escravos da Bahiaficaram conhecidos em todo país pelas rebeliões que promoviam.Eles deixavam claro que não iriam se sujeitar sem luta. Naquelemesmo período a vitória negra em São Domingos, atual Haiti,deixou os senhores em desassossego. Não podia ser diferente, poisnaquela ilha do Caribe uma revolução escrava, iniciada em 1791,marcou o fim da escravidão e a criação de um país independente.Temia-se que o desfecho haitiano enchesse de ânimo os escravosdaqui. E esse não era um medo infundado, pois há registro de queno Brasil escravos e libertos sabiam sobre as ações dos rebeldesem São Domingos e os tinham como exemplo.A Bahia era, na primeira metade do século XIX, o maiorprodutor de açúcar no Brasil. No Recôncavo baiano, como sedesigna a região que circunda a Baía de Todos os Santos, estavamos engenhos mais produtivos. Trata-se de uma região formadapor mangues, baixios, tabuleiros, ilhotas e vales margeando o mar.São terras férteis e propícias para o cultivo da cana-de-açúcar. Todaa atividade dos engenhos era movida pelo trabalho escravo dosafricanos e crioulos. A grande concentração de escravos tornou oRecôncavo baiano especialmente propenso a revoltas escravas. Defato, ali a rebeldia escrava deixava os senhores em sobressalto.Alguns levantes, talvez a maioria deles, não passaram da faseda conspiração. Em 1807, por exemplo, Salvador foi palco de umaconspiração planejada para o dia 28 de maio, durante as comemoraçõesde Corpus Christi. Naquela noite, depois da festa, os rebeldespretendiam incendiar a Casa da Alfândega e uma igreja. Instauradaa confusão, os escravos empossariam seu próprio governador,convocariam outros negros, eliminariam os brancos porenvenenamento e queimariam as imagens católicas numa grandefogueira no meio da praça. Em seguida, uma força rumaria paraPernambuco, onde também havia uma numerosa população escrava,e lá se juntaria a outros escravos para formar um reino independenteno interior.Os rebeldes eram africanos de origem haussá, que ocupamum território no norte da atual Nigéria, gente que fora escravizadaem meio a uma jihad ou guerra santa muçulmana. Os amuletosEm 1791, em meio à Revolução Francesa a aboliçãofoi decretada nas colônias da França, inclusive no Haiti.Mas quando Napoleão Bonaparte assumiu o poder aescravidão foi restabelecida. Os ex-escravos haitianosnão aceitaram a volta do cativeiro e, sob a liderança deToussaint L’ Ouverture, enfretaram as tropasnapoleônicas. Os franceses controlaram os revoltosose prenderam L’ Ouverture. Mas sob a liderança de JeanJacques Dessalines os haitianos resistiram e em 1804assumiram o controle do país. Os franceses foram expulsosou mortos, a independência foi proclamada edecretou-se de novo o fim da escravidão.No território haussá, norte da atual Nigéria, foi deflagrada,em 1804, uma jihad pelo xeque de origem fulani,Usamam dan Fodio. Essa guerra santa produziu muitosprisioneiros que acabaram sendo vendidos para otráfico atlântico.Uma história do negro no Brasil 135

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