19.08.2015 Views

UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mento de alguns produtos e serviços específicos, inclusive informaçõessobre as ações dos perseguidores.Só era possível aos quilombolas comercializar o que extraíamdo garimpo nas montanhas se estabelecessem vínculos comgente escrava, liberta e, principalmente, livre. Em Goiás além deservir para a compra de cartas de alforria, o ouro era trocado comcomerciantes por armas, munição, cachaça e tecidos. Se havia entreos livres quem tivesse interesse e empenho em combater osquilombos, também existia quem se favorecesse com a ação deles.Taberneiros, mascates e negros de ganho tinham boas relaçõescom calhambolas — como também eram chamados os negrosfugidos —, contanto que lhes oferecessem boas oportunidadesde negócio. Era tal artifício que garantia aos quilombolas venderna cidade do Rio de Janeiro, em meados do século XIX, a madeirapor eles extraída nas florestas da região de Iguaçu.Nos mocambos se refugiavam não só escravos, mas tambémíndios em conflito com brancos ou com outros índios, brancospobres, entre os quais quem queria escapar do recrutamentomilitar, como aconteceu na época das lutas pela independência naBahia (1822-23), da revolução Farroupilha (1835-41) e da guerracontra o Paraguai (1864-70). Por conta desse “conluio”, como sedizia na época, entre aquilombados e homens livres ou libertospreviam-se duras penas para quem não denunciasse ou quem desseguarida a escravos fugidos. O governo proibiu, em 1764, que naregião mineradora as negras de tabuleiro forras e escravas pudessemnegociar em áreas onde fosse fácil o extravio de ouro. Vê-se,portanto, que as comunidades quilombolas não estavam isoladasda sociedade, ao contrário, interagiam com ela.A existência de quilombolas livres, embora pareça estranha,não foi incomum. No sul da Bahia, em Barra do Rio de Contas,atual Itacaré, foi descoberto, no começo do século XIX, oquilombo do Oitizeiro, onde conviviam escravos e gente livre.Tratava-se de um quilombo agrícola, protegido por grandemanguezal, cuja principal atividade era a produção de farinha demandioca. Tendo como esconderijo os sítios de uma pequena vilade lavradores, os quilombolas trabalhavam nas roças de mandiocalado a lado com pessoas livres e libertas, seus coiteiros. Coiteiro130 Uma história do negro no Brasil

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!