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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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Juca Rosa ou Pai Quibombo foi um líder religioso cariocaque tinha entre os freqüentadores da sua casa políticose ricos comerciantes. Em 1870, Juca foi acusadode seduzir senhoras brancas e casadas, além deenganar clientes para arrancar dinheiro. A sua relaçãocom figuras importantes da política e mulheres brancasera escandalizada nos jornais da época, mas estavalonge de ser incomum. Tais relações faziam partedo jogo político que envolvia negros e brancos.Bahia e minas no Maranhão, cultuavam deuses a que chamavamde voduns. Já os povos de língua iorubá, conhecidos como nagôsna Bahia, cultuavam os orixás. Tal como as diversas tradições angolanas,aquelas conhecidas como jeje e nagô tinham muito emcomum e se fundiram em diversos aspectos. Organizado em tornode um “terreiro”, verdadeira comunidade religiosa, com suasconstruções, locais de orações, hierarquia, o candomblé jeje-nagôdisseminou-se nas cidades e nas áreas rurais do Nordeste, sobretudona Bahia. Mas ele se encontra também presente em outrasregiões de norte a sul do país.Mas não havia exclusividade de uma ou outra tradição religiosaafricana em nenhum local do Brasil. Apesar da pretensão aopurismo em alguns grupos, a religiosidade africana aqui praticadaabrigava deuses e crenças de diversas regiões. Aqui nasceram e sedesenvolveram estruturas religiosas novas. Por exemplo, nos terreirosde candomblé nagô juntavam-se deuses cultuados separadamenteem regiões distintas da África – Oxossi, do reino de Ketu,Xangô de Oió, Oxum de Oxogbô e assim por diante. Por isso quese diz que a religiosidade africana foi reinventada no Brasil.Havia líderes religiosos que curavam, adivinhavam e ganhavamrespeitabilidade dentro e fora da comunidade de escravos porserem capazes de lidar com o sobrenatural e de neutralizar o mal,inclusive o mal dos senhores cruéis, além de tornar os escravosinvulneráveis às doenças, fazê-los bem sucedidos nas fugas e outrasações em busca da liberdade. A maioria dos escravos recorria aoscurandeiros ou curandeiras negras para se tratar de alguma enfermidade.Práticas de cura africanas e também européias, como a sangriapor meio de sanguessugas, eram bastante praticadas por negros barbeirosnas ruas das cidades coloniais brasileiras. Não era difícil encontrar-seem alguma esquina ou praça um curandeiro negro ematividade. Além de extraírem dentes e prescreverem receitas paravárias enfermidades, esses curandeiros davam conselhos e vendiamamuletos que protegiam o corpo da doença e da inveja.Uma característica importante das religiões dos africanosfoi a sua capacidade de atrair outros setores da sociedade, inclusivepessoas livres e brancas. Estas últimas foram durante muitotempo atraídas como clientes em busca de soluções para seus pro-104 Uma história do negro no Brasil

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