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UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Untitled - Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto

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de confinamento era o tempo todo desafiada. A vida no campooferecia oportunidades de escravos e escravas de propriedadesdiferentes se amarem e constituírem famílias, embora a convivênciadesses casais fosse difícil.Na perspectiva dos escravos e escravas, afinidades culturais eétnicas contavam bastante nas suas escolhas afetivas. No século XIX,nos engenhos baianos, havia uma tendência entre os escravos aocasamento endogâmico, ou seja, dentro do próprio grupo étnico.Assim, nagô casava com nagô, angola com angola e assim por diante.Possivelmente a endogamia refletisse o desejo de refazer laçosculturais comuns, a partir de normas e hábitos já conhecidos. Entretanto,essa endogamia não era absoluta e os africanos e africanastambém casavam-se com indivíduos de regiões diversas da África ecom os nascidos no Brasil. Em todas as regiões do Brasil haviagrande quantidade de casamentos mistos envolvendo africanos comcrioulas ou africanas com crioulos. Lembrando de novo que criouloera como, na época, se chamava o preto nascido no Brasil.Diante dos efeitos desagregadores da vida escrava, os cativoscriaram parentescos simbólicos, aqueles que vão além dos laçosconjugais e consangüíneos. Incorporaram ao âmbito da famíliaparentes de consideração e parceiros de trabalho, padrinhos emadrinhas, afilhados e afilhadas, compadres e comadres. Ao serbatizado na igreja, o escravo passava a ter um padrinho e umamadrinha que assumiam responsabilidades quase idênticas às dospais. Principalmente, o padrinho tinha a obrigação de dar assistênciaao afilhado, ajuda espiritual e material. Se fosse livre e dealguma posse, o padrinho tinha obrigação moral de pagar pelaalforria do afilhado.Os testamentos deixados pelos forros mostram a incessantepreocupação com os afilhados e especialmente com os que estavamsob a escravidão. Não era incomum deixarem alguma quantiaem dinheiro como legado para comprarem a alforria. Ocompadrio também representava para o escravo um instrumentode defesa nos confrontos cotidianos com os senhores. Um escravofugido que resolvia voltar ao domínio do senhor, geralmenterecorria a um “padrinho” para interceder a seu favor. Esse “padrinho”,no entanto, nem sempre era aquele de batismo. Um ho-100 Uma história do negro no Brasil

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