o negro na universidade

O Negro na Universidade - Universidade Estadual de Londrina O Negro na Universidade - Universidade Estadual de Londrina

08.08.2015 Views

Do problema da “raça” às políticas de ação afirmativaa violência sofrida pela criança negra no interior das escolas, e, quandoo negro conseguia permanecer na escola, apesar do ambiente hostil, odiploma não representava possibilidade de ascensão social, como oera para as pessoas brancas:Os colégios religiosos, como o ‘des Oseaux, ou ‘de l’Assomption”que, são ‘elegantes’, destinados à educação das meninas da elite,barram a entrada dos seus externados e, com mais forte razão,dos internatos, a todos os elementos de cor, mesmo aos mulatos.Não aceitam senão famílias da ‘alta’, as que se jactam, com ousem razão, da pureza do seu sangue (BASTIDE, in FERNANDESe BASTIDE, 1955, p. 179).Com a criação dos cursos noturnos, vemos aumentar o número depretos nas universidades. Mas é evidente que um certo número debrancos toleram com irritação esse transtorno da sociedade tradicional(BASTIDE, in FERNANDES e BASTIDE, 1955, p. 143).[...] essas brigas nas quais os meninos brancos fazem sentir ao negroa diferença de pele, explicam o horror da criança de cor pela escola elevam os pais a afastar os filhos. É a primeira barreira informal. Épreciso energia para transpô-la. Sobretudo, da parte dos pais de cor...(BASTIDE, in FERNANDES e BASTIDE, 1955, p. 143).O diploma não confere automaticamente um meio de ascensãosocial [...], se o preto não tiver um padrinho branco influente paraprotegê-lo. Mas um título universitário qualquer confere ao seuportador, perante os brancos, certas vantagens honoríficas; ‘é umpreto formado’, que rompeu assim com certas pretensascaracterísticas da sua raça, que se aproximou do branco, de quemo branco espera, nesta ou naquela situação, um comportamentoidêntico ao seu próprio (BASTIDE, in FERNANDES e BASTIDE,1955, p. 133).Sobre o período de transição para uma sociedade livre daescravidão, Bastide analisa a realidade ligada ao mercado de trabalhopara o ex-escravo:131

Maria Nilza da Silva e Pires LaranjeiraEm conexão com a desorganização do trabalho escravo e com adesintegração da ordem escravocrata, processou-se a eliminaçãoparcial do negro no sistema de trabalho. As oportunidades surgidascom a instituição do trabalho livre foram aproveitadas pelosimigrantes e pelos então chamados ‘trabalhadores nacionais’,geralmente ‘brancos’, ou ‘mestiços’ [...], que construíram sob oregime servil uma camada social ‘livre’, mas dependente e semprofissão definida. Em resumo, com o desaparecimento daescravidão o elemento negro perdera a posição no sistemaeconômico de São Paulo [...]. O regime de trabalho que seconstruíra através da escravidão ruíra completamente, destruindosecom ele todos os ajustamentos sociais criados anteriormenteentre brancos e negros, senhores e escravos (BASTIDE, inFERNANDES e BASTIDE, 1955, p. 48, 49, 50).As dificuldades vivenciadas pelo negro no período pós-aboliçãoe analisadas por Fernandes e Bastide continuam ainda hoje. A sociedadebrasileira ainda não conseguiu ver o negro como pessoa com igualdadede direitos e deveres. É como se existissem cidadãos de primeira ecidadãos de segunda categoria, colocando-se a população negra nestasegunda categoria. Cabe destacar que, apesar dos avanços produzidossobre o conhecimento da população negra no Brasil, Bastide e Fernandesnão criticam o sistema social vigente como o responsável pelasdificuldades experienciadas pelo negro; é como se o próprio indivíduofosse responsável pela situação em que se encontrava porque não sehavia se adaptado à sociedade moderna que emergia. Esta idéia continuapresente na sociedade atual.Os Estudos de Carlos Hasenbalg e Nelson do Valle SilvaRepresentando também um marco na produção teórica dasrelações raciais no Brasil, estão os estudos de Carlos Hasenbalg e Nelson132

Do problema da “raça” às políticas de ação afirmativaa violência sofrida pela criança negra no interior das escolas, e, quandoo <strong>negro</strong> conseguia permanecer <strong>na</strong> escola, apesar do ambiente hostil, odiploma não representava possibilidade de ascensão social, como oera para as pessoas brancas:Os colégios religiosos, como o ‘des Oseaux, ou ‘de l’Assomption”que, são ‘elegantes’, desti<strong>na</strong>dos à educação das meni<strong>na</strong>s da elite,barram a entrada dos seus exter<strong>na</strong>dos e, com mais forte razão,dos inter<strong>na</strong>tos, a todos os elementos de cor, mesmo aos mulatos.Não aceitam senão famílias da ‘alta’, as que se jactam, com ousem razão, da pureza do seu sangue (BASTIDE, in FERNANDESe BASTIDE, 1955, p. 179).Com a criação dos cursos noturnos, vemos aumentar o número depretos <strong>na</strong>s <strong>universidade</strong>s. Mas é evidente que um certo número debrancos toleram com irritação esse transtorno da sociedade tradicio<strong>na</strong>l(BASTIDE, in FERNANDES e BASTIDE, 1955, p. 143).[...] essas brigas <strong>na</strong>s quais os meninos brancos fazem sentir ao <strong>negro</strong>a diferença de pele, explicam o horror da criança de cor pela escola elevam os pais a afastar os filhos. É a primeira barreira informal. Épreciso energia para transpô-la. Sobretudo, da parte dos pais de cor...(BASTIDE, in FERNANDES e BASTIDE, 1955, p. 143).O diploma não confere automaticamente um meio de ascensãosocial [...], se o preto não tiver um padrinho branco influente paraprotegê-lo. Mas um título universitário qualquer confere ao seuportador, perante os brancos, certas vantagens honoríficas; ‘é umpreto formado’, que rompeu assim com certas pretensascaracterísticas da sua raça, que se aproximou do branco, de quemo branco espera, nesta ou <strong>na</strong>quela situação, um comportamentoidêntico ao seu próprio (BASTIDE, in FERNANDES e BASTIDE,1955, p. 133).Sobre o período de transição para uma sociedade livre daescravidão, Bastide a<strong>na</strong>lisa a realidade ligada ao mercado de trabalhopara o ex-escravo:131

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