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O Negro na Universidade - Universidade Estadual de Londrina O Negro na Universidade - Universidade Estadual de Londrina

08.08.2015 Views

Do problema da “raça” às políticas de ação afirmativaDo Problema da “Raça” àsPolíticas de Ação AfirmativaMaria Nilza da Silva e Pires Laranjeira 1A Raça 2 : um problema social no século XIXNo século XIX, o Brasil foi considerado um laboratório paracientistas do mundo inteiro que se preocupavam com a temática racial.Vivenciava-se um contexto em que a ciência estava voltada para aperspectiva darwinista, evolucionista e poligenista. A existência de váriasraças era justificada pela antropologia física, e, não somente por isso,mas também pela mentalidade vigente quanto às raças, acreditava-sena existência de raças superiores e inferiores. A ciência justificou e norteouo comportamento racista, difundindo idéias como a necessidade deproteção contra o contágio das raças consideradas inferiores.Também havia a preocupação com algo que era comum noBrasil: a mistura das raças, ou seja, a mestiçagem. Para alguns, o contatoentre diferentes raças resultava num povo “desequilibrado e decaído”,tornando-se necessária a preservação das “raças puras”. Para outros, araça superior era a ariana, a que devia ser protegida da mistura com1Maria Nilza da Silva é Professora Adjunta do Departamento de Ciências Sociais daUniversidade Estadual de Londrina. Pires Laranjeira é diretor do Mestrado deLiteraturas e Culturas Africanas e da Diáspora, doutorado em Negritude Africana deLíngua Portuguesa, investigador do Centro de Literatura Portuguesa e ProfessorAssociado da Universidade de Coimbra.2As raças “são, cientificamente, uma construção social e devem ser estudadas por umramo próprio da Sociologia ou das Ciências Sociais”. GUIMARAES, Antonio SérgioAlfredo. “Como trabalhar com ‘raça’ em sociologia”. Educação e Pesquisa, jan./jun.2003, vol.29, no.1, p.93-107.125

Maria Nilza da Silva e Pires Laranjeiraoutras raças e, neste caso, previa-se a gradual eliminação dos indivíduospertencentes às raças inferiores ou dos mestiços.É nesse contexto que a idéia de nação brasileira estava seformando e havia a preocupação de que ela se livrasse do mal queestava na sua raiz: a presença das raças consideradas inferiores. O objetivoera que o país pudesse desenvolver-se e fazer parte do processocivilizatório mundial.Os políticos, os médicos, os bacharéis, que tinham muita influêncianos destinos da sociedade, preocupavam-se com a mácula ou o ladoruim do brasileiro, temendo influências negativas nos destinos da nação.Nessa perspectiva, o empenho em eliminar aquilo que, segundo asidéias dominantes, inferiorizou o povo brasileiro ganhou força e resultounuma política aberta de defesa do embranquecimento.Lilia Schwarcz, em artigo 3 , cita algumas idéias correntes difundidaspor pessoas destacadas no final do século XIX e início do século XXsobre o “problema racial brasileiro”, destacando que a mestiçagem,era considerada como um problema nacional capaz de retardar odesenvolvimento do país.O antropólogo Roquete Pinto 4 , presidente do CongressoBrasileiro de Eugenia, realizado em 1929, previa que em 2012, o paísnão teria mais nenhum negro e nenhum índio. A população seriapredominantemente branca, representando 80% e os mestiços seriamapenas 20%. O “branqueamento” seria a solução para o Brasil. É nessecontexto e com esse teor que a temática racial, hoje considerada pormuitos como um tabu, era debatida nos meios políticos, econômicos eoutros. Pois, tratava-se de um problema da nação brasileira. Desde então,a ideologia do branqueamento foi-se desenvolvendo.3SCHWARCZ, Lilia. “Nomeando as diferenças: a construção da idéia de raça noBrasil”. In VILLA LOBOS, Gláucia e GONÇALVES, Marco A. (orgs.) O Brasil navirada do século. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 1995, p. 177-191.4SCHWARCZ, Lilia. “Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça naintimidade”. In História da vida privada. São Paulo: Cia. Das Letras, 1998, p. 177.126

Maria Nilza da Silva e Pires Laranjeiraoutras raças e, neste caso, previa-se a gradual elimi<strong>na</strong>ção dos indivíduospertencentes às raças inferiores ou dos mestiços.É nesse contexto que a idéia de <strong>na</strong>ção brasileira estava seformando e havia a preocupação de que ela se livrasse do mal queestava <strong>na</strong> sua raiz: a presença das raças consideradas inferiores. O objetivoera que o país pudesse desenvolver-se e fazer parte do processocivilizatório mundial.Os políticos, os médicos, os bacharéis, que tinham muita influêncianos destinos da sociedade, preocupavam-se com a mácula ou o ladoruim do brasileiro, temendo influências negativas nos destinos da <strong>na</strong>ção.Nessa perspectiva, o empenho em elimi<strong>na</strong>r aquilo que, segundo asidéias domi<strong>na</strong>ntes, inferiorizou o povo brasileiro ganhou força e resultounuma política aberta de defesa do embranquecimento.Lilia Schwarcz, em artigo 3 , cita algumas idéias correntes difundidaspor pessoas destacadas no fi<strong>na</strong>l do século XIX e início do século XXsobre o “problema racial brasileiro”, destacando que a mestiçagem,era considerada como um problema <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l capaz de retardar odesenvolvimento do país.O antropólogo Roquete Pinto 4 , presidente do CongressoBrasileiro de Eugenia, realizado em 1929, previa que em 2012, o paísnão teria mais nenhum <strong>negro</strong> e nenhum índio. A população seriapredomi<strong>na</strong>ntemente branca, representando 80% e os mestiços seriamape<strong>na</strong>s 20%. O “branqueamento” seria a solução para o Brasil. É nessecontexto e com esse teor que a temática racial, hoje considerada pormuitos como um tabu, era debatida nos meios políticos, econômicos eoutros. Pois, tratava-se de um problema da <strong>na</strong>ção brasileira. Desde então,a ideologia do branqueamento foi-se desenvolvendo.3SCHWARCZ, Lilia. “Nomeando as diferenças: a construção da idéia de raça noBrasil”. In VILLA LOBOS, Gláucia e GONÇALVES, Marco A. (orgs.) O Brasil <strong>na</strong>virada do século. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 1995, p. 177-191.4SCHWARCZ, Lilia. “Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça <strong>na</strong>intimidade”. In História da vida privada. São Paulo: Cia. Das Letras, 1998, p. 177.126

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