SETOR RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA

Material do Professor - Setor Religiosidade Afro-Brasileira Material do Professor - Setor Religiosidade Afro-Brasileira

08.08.2015 Views

assim como ser católico ou do candomblé. Porém, umaeducação pluricultural deve problematizar como e por queser branco e cristão significa, na sociedade brasileira, sermelhor do que alguém negro e do candomblé. Apontandoas discriminações sofridas pelos “diferentes” em relação aopadrão hegemônico, a educação abre a possibilidade de quetais diferenças deixem de ser uma marca de desigualdade.CANDOMBLÉ E APRENDIZAGEM DORESPEITO À DIVERSIDADE CULTURAL,ÉTNICO-RACIAL E RELIGIOSAOs valores e crenças que divergem, contrastam e mesmose chocam com os nossos próprios valores e crençasconstituem o desafio, a “prova de fogo” para uma posturade respeito à diferença. Quando tratamos de religião, entramosem um campo em que são colocadas frente a frente formasde ver o mundo por vezes radicalmente diferentes. Estãoem jogo verdades tidas como absolutas pelos que crêemnelas, que explicam e dão sentido à própria vida destas pessoas.Esta crença íntima e profunda, esta forma de explicare dar sentido ao mundo tida como única e verdadeira, que éa religião, dá pouca abertura a considerar que a verdade ea forma de ver o mundo do outro possa ser tão válida quantoa nossa própria. Isso pode dar origem à intolerância, aodesrespeito e ao fundamentalismo religioso, tanto maisquando o alvo é uma religião historicamente marginalizada,à qual estão associadas também outras formas de discriminação(econômica, étnico-racial, sexual) que resultam emexclusão social de seus adeptos, como o candomblé.A religião é, com freqüência, uma forma de expressar relaçõesde poder e hierarquias sociais. A religião hegemônica,assumida muitas vezes como religião “oficial” de um país ouregião, é via de regra a do grupo social dominante, à qual osgrupos subalternos aderem por imposição ou como formade negociar com os dominantes possibilidades de inserçãosocial. No Brasil, o catolicismo, religião do colonizadorbranco, impôs-se aos negros e indígenas, cujas religiõesoriginárias foram discriminadas, proibidas, demonizadase perseguidas. O ensino e aprendizagem da diversidadeétnico-racial e religiosa tem de levar em consideração olugar das diferentes religiões no imaginário e na vidasocial, elemento essencial para compreender e investircontra o preconceito religioso.Uma postura ética e relativizadora é requisito paraconviver com pessoas de diferentes religiões e para aceitare respeitar sua forma diferente de ver o mundo. Estaaprendizagem não pode ser “espontânea”, na medida emque requer um esforço de racionalização e reflexãocrítica sobre a própria prática. O ensino da atitude éticae relativizadora é, desta forma, um dever da escola e doeducador. Para isso, o professor tem que primeiramenterever suas próprias práticas e valores, para depois podersuscitar, através do diálogo, tais atitudes em seus alunos.RELATIVIZAR E SER ÉTICOAssumir uma postura ética significa refletir sobre osvalores e normas que orientam o comportamento de pessoasde determinada sociedade e que pautam as regrasde sua convivência. Na sociedade democrática, assumemsealguns princípios, como a igualdade de todos perantea lei e o direito à livre expressão de idéias, pensamentose crenças, que constituem a base de um “contrato social”no qual os direitos e deveres mínimos dos cidadãosestão assegurados. Tais princípios são expressos na ConstituiçãoBrasileira e em documentos internacionais, como a DeclaraçãoUniversal dos Direitos do Homem.Desta forma, o professor deve levar o educando a refletir sobreseus valores e ações frente à coletividade, orientado portais princípios de convivência democrática. Os ParâmetrosCurriculares Nacionais, que propõem Ética como um dos te-

mas transversais da Educação Básica, sugerem que os professoresestimulem a adoção de “atitudes de respeito pelasdiferenças entre as pessoas”, “atitudes de solidariedade,cooperação e repúdio às injustiças e discriminações” pelosalunos e levem-nos a “valorizar e empregar o diálogo comoforma de esclarecer conflitos e tomar decisões coletivas”.Tais reflexões são indispensáveis para orientar os estudantes,antes da visita ao MAFRO, acerca da diversidade religiosaexistente no Brasil e da postura a adotar frente a ela.Relativizar significa perceber que nossos valores culturaisnão são universais nem absolutos. Temos a tendênciaa pensar que nossa forma de ser e viver é “normal”,“natural”, enquanto a dos outros é “estranha”, diferente”,“anormal”, “exótica”. Quando se diz “nossa forma de ser”,não se trata de uma característica individual. Esta expressãorefere-se à forma de ser, agir e pensar de pessoasdo nosso grupo étnico, de nossa religião, do nosso país ouregião, de nossa orientação sexual ou de nosso gênero,entre outras categorias que nos posicionam na sociedade.Normalmente, não questionamos por que somos como somos,ou por que vivemos como vivemos. Isto é para nós umdado de realidade: “é assim porque é”, diriam muitos.Por outro lado, estamos sempre buscando explicaçõespara os hábitos e comportamentos dos outros: por que oschineses comem insetos? Por que alguns grupos indígenaspintam o corpo ou perfuram os lábios? Por que os judeusfazem circuncisão? Por que os muçulmanos ficam um mês(o Ramadan) sem comer durante o dia? Por que a mulheresficam nervosas antes da menstruação? Por que alguns homense mulheres têm preferência por pessoas do mesmosexo? Tudo parece tão estranho...Relativizar, assim, significa deixar de considerar que taishábitos, comportamentos, crenças e práticas dos outrossão “estranhos”. Significa aceitar que eles são apenasdiferentes dos nossos, mas não inferiores, anormais oudesviantes. Eles fazem sentido e cumprem importantesfunções sociais em suas respectivas sociedades, são respostasculturais diferentes encontradas para problemashumanos comuns.Ao mesmo tempo, relativizar implica também em adotaruma postura mais “desconfiada” em relação aos nossospróprios comportamentos, crenças e práticas, percebendoque eles não são “naturais”, mas sim fruto de circunstânciashistóricas específicas. Será que é “normal” comerum alimento feito com mais de uma dezena de substânciasquímicas que podem ser prejudiciais à saúde, comogrande parte dos alimentos industrializados? Será que é“normal” uma sociedade produzir centenas de milhões detoneladas de lixo por dia que não podem ser absorvidaspela natureza e acabam contaminando o ar, a água e osolo? Será “normal” uma mulher passar a vida torturandosepsicologicamente por causa da medida de sua cintura esubmeter-se até mesmo a uma perigosa cirurgia como alipoaspiração, em nome de ter um “corpo perfeito”? Seráque em outras sociedades, em outros tempos e em outroslugares as pessoas achariam essas coisas “normais”? Oque uma mulher indígena acharia de nosso padrão de belezae da lipoaspiração? O que uma pessoa de uma sociedadeagrária da Antigüidade acharia do lixo produzido pelo modode vida das sociedades industriais contemporâneas?Relativizar, portanto, requer que dirijamos nossas perguntas,nossos “porquês” a nós mesmos, tentando desnaturalizarnossa própria cultura, ou seja, tentando investigarnossa cultura como coisa “estranha”, lançando um olharcurioso sobre ela, um olhar que pressupõe um deslocamento:saímos de nossa posição e tentamos nos colocar naposição do “outro” para olharmos sob um ângulo diferentepara nós mesmos, tentando perceber por que vivemos comovivemos, quando e como passamos a viver assim, quais osinteresses que motivam este modo de vida. Isso nos levará,inevitavelmente, a perguntar quem somos nós.

assim como ser católico ou do candomblé. Porém, umaeducação pluricultural deve problematizar como e por queser branco e cristão significa, na sociedade brasileira, sermelhor do que alguém negro e do candomblé. Apontandoas discriminações sofridas pelos “diferentes” em relação aopadrão hegemônico, a educação abre a possibilidade de quetais diferenças deixem de ser uma marca de desigualdade.CANDOMBLÉ E APRENDIZAGEM DORESPEITO À DIVERSIDADE CULTURAL,ÉTNICO-RACIAL E RELIGIOSAOs valores e crenças que divergem, contrastam e mesmose chocam com os nossos próprios valores e crençasconstituem o desafio, a “prova de fogo” para uma posturade respeito à diferença. Quando tratamos de religião, entramosem um campo em que são colocadas frente a frente formasde ver o mundo por vezes radicalmente diferentes. Estãoem jogo verdades tidas como absolutas pelos que crêemnelas, que explicam e dão sentido à própria vida destas pessoas.Esta crença íntima e profunda, esta forma de explicare dar sentido ao mundo tida como única e verdadeira, que éa religião, dá pouca abertura a considerar que a verdade ea forma de ver o mundo do outro possa ser tão válida quantoa nossa própria. Isso pode dar origem à intolerância, aodesrespeito e ao fundamentalismo religioso, tanto maisquando o alvo é uma religião historicamente marginalizada,à qual estão associadas também outras formas de discriminação(econômica, étnico-racial, sexual) que resultam emexclusão social de seus adeptos, como o candomblé.A religião é, com freqüência, uma forma de expressar relaçõesde poder e hierarquias sociais. A religião hegemônica,assumida muitas vezes como religião “oficial” de um país ouregião, é via de regra a do grupo social dominante, à qual osgrupos subalternos aderem por imposição ou como formade negociar com os dominantes possibilidades de inserçãosocial. No Brasil, o catolicismo, religião do colonizadorbranco, impôs-se aos negros e indígenas, cujas religiõesoriginárias foram discriminadas, proibidas, demonizadase perseguidas. O ensino e aprendizagem da diversidadeétnico-racial e religiosa tem de levar em consideração olugar das diferentes religiões no imaginário e na vidasocial, elemento essencial para compreender e investircontra o preconceito religioso.Uma postura ética e relativizadora é requisito paraconviver com pessoas de diferentes religiões e para aceitare respeitar sua forma diferente de ver o mundo. Estaaprendizagem não pode ser “espontânea”, na medida emque requer um esforço de racionalização e reflexãocrítica sobre a própria prática. O ensino da atitude éticae relativizadora é, desta forma, um dever da escola e doeducador. Para isso, o professor tem que primeiramenterever suas próprias práticas e valores, para depois podersuscitar, através do diálogo, tais atitudes em seus alunos.RELATIVIZAR E SER ÉTICOAssumir uma postura ética significa refletir sobre osvalores e normas que orientam o comportamento de pessoasde determinada sociedade e que pautam as regrasde sua convivência. Na sociedade democrática, assumemsealguns princípios, como a igualdade de todos perantea lei e o direito à livre expressão de idéias, pensamentose crenças, que constituem a base de um “contrato social”no qual os direitos e deveres mínimos dos cidadãosestão assegurados. Tais princípios são expressos na ConstituiçãoBrasileira e em documentos internacionais, como a DeclaraçãoUniversal dos Direitos do Homem.Desta forma, o professor deve levar o educando a refletir sobreseus valores e ações frente à coletividade, orientado portais princípios de convivência democrática. Os ParâmetrosCurriculares Nacionais, que propõem Ética como um dos te-

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