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SETOR RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA

Material do Professor - Setor Religiosidade Afro-Brasileira

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Da mesma forma, é quase uma banalidade dizer que nossorico e variado patrimônio musical deve-se fundamentalmenteà música afro-brasileira. No caso da música sagradadas religiões afro-brasileiras, ela sempre influenciou e relacionou-secom outras expressões da música negra, comoo samba, o jongo, os maracatus, as cantigas de capoeira,o tambor de crioula, para as quais, como para tudo na culturaafro-brasileira, não se pode estabelecer uma claraseparação entre “sagrado” e “profano”. Trata-se na verdadede uma outra concepção de sagrado e outras formasde relacionar-se com ele.De todas as expressões musicais afro-brasileiras, as maisdiretamente influenciadas pela música sacra do candomblésão as dos afoxés e, depois, dos blocos afro. Os afoxés, aocontrário do que pensam alguns, existem desde o séculoXIX, derivados dos cortejos de reis congos, desaparecidosna Bahia mas ainda muito presentes em Minas Gerais, EspíritoSanto e São Paulo. Em 1949 foi fundado o mais famosodestes grupos, o Afoxé Filhos de Gandhi, por trabalhadoresdo porto de Salvador, sintonizados com as lutas anti-coloniaisem curso do outro lado do mundo, na Índia. Em 1974surgiu o primeiro bloco afro, o Ilê Aiyê, no bairro do Curuzu,Liberdade, presidido por Vovô, um trabalhador do pólopetroquímico, filho de uma ialorixá e sobrinho-neto de ummembro de um afoxé das primeiras décadas do século XX.O Ilê foi logo seguido por outros blocos afro, como o Malêde Balê, Olodum, Muzenza e vários outros, surgidos nosanos 1970 e 80, mas que se desintegraram até os anos 90.É comum ouvir-se afirmar que o afoxé é o “candomblé narua”, caracterizado pelo ijexá, um dos ritmos característicosda música do candomblé, o qual também marca osamba-reggae, ritmo híbrido dos blocos afro que sintetizadiversas musicalidades negras da diáspora. Afoxés e blocosafro tornaram-se os principais personagens de um movimentocultural e político de “reafricanização” do carnavalbaiano, a partir de meados dos anos 1970, em que a músicae a performance carnavalesca converteram-se em instrumentopara ocupar o espaço público e dar visibilidade agrupos negros que reivindicavam sua herança culturalafricana, criando novos penteados e formas de se vestir,uma estética e uma atitude política que se contrapunhamao ideal de branqueamento do país.Não apenas no carnaval, mas nas várias “festas de largo”que marcam o calendário afro-baiano, como a de SantaBárbara, N. Sra. da Conceição, Senhor do Bonfim, Iemanjá,sempre estão presentes os afoxés e blocos afro, levando oritmo dos terreiros para as ruas. Para além da música, aafricanidade está presente no “jeito festeiro” do baiano, muitasvezes estereotipado para promover a Bahia como destinoturístico ou estigmatizado e confundido com “preguiça”.Esse “jeito” traduz uma forma muito afro-brasileira de sere viver, na qual a festa é muito mais que diversão. Na festase faz política, se reafirmam solidariedades e alianças, secultuam as divindades, se movimenta a economia, se projetamas identidades dos diversos grupos que compõem asociedade. Festa, em suma, é coisa séria e merece maisatenção dos educadores e um lugar no currículo, poisoferece aos estudantes oportunidade ímpar de observare refletir sobre os mais variados aspectos de nossa sociedadee, em particular, sobre as marcas africanas emnossa cultura, que gravitam em torno da matriz religiosaafro-brasileira.3. Prática de solidariedade, resistência e livre expressão dapopulação negra e culturalmente marginalizadaPor tudo que foi afirmado acima, o candomblé é, acima detudo, uma organização de resistência negra, na medidaem que cria redes de solidariedade – a família-de-santo decada terreiro e uma “rede de terreiros” relacionados entresi – que permitiram à população negra sobreviver em meioà sociedade escravista e, depois da abolição, em uma sociedaderacista, na qual os negros continuaram a ser mão-deobrabarata e cidadãos de “segunda classe”, sem direitos

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