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SETOR RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA

Material do Professor - Setor Religiosidade Afro-Brasileira

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viva, ativa, incorporada e dinâmica deste patrimônio cultural,precioso para todos, negros e brancos, neste país. Talpatrimônio constitui-se de diversos saberes: culinários,medicinais, lingüísticos, artísticos.A cozinha ritual do candomblé atualiza as formas depreparar os alimentos na África (usando muitas vezes otrabalho coletivo das mulheres), utiliza ingredientes iguaisou semelhantes aos africanos e reproduz formas de comerafricanas (“comer de mão”, comer na gamela). Na Bahia,aquilo que é conhecido como “comida baiana”, a “comidade azeite”, importante capital cultural e fonte de atraçãode turismo gastronômico para o estado, é na verdade umaderivação da “comida de santo”, da comida oferecida àsdivindades, que obedece às preferências e tabus de cadauma delas, segundo os mitos e poemas orais da tradiçãoafro-brasileira. O acarajé é o acará, oferecido a Iansã etradicionalmente preparado por suas filhas que exercema profissão de baiana de acarajé, importantíssima na provisãodo sustento de tantas famílias negras. O caruru é umaversão ligeiramente modificada do amalá, comida ritual deXangô. Em outros casos, ocorreu uma apropriação criativade ingredientes brasileiros, especialmente o milho e a mandioca,usados abundantemente na alimentação indígena,para fazer as comidas de santo, como o milho branco ou apipoca, o que testemunha as trocas culturais estabelecidasentre negros e indígenas e o caráter dinâmico da culturaafro-brasileira.Na medicina afro-brasileira, o uso de plantas de valormedicinal na forma de chás, infusões, banhos e emplastosrevela um imenso conhecimento da natureza, fruto decentenas de anos de observação e experimentação de seusefeitos terapêuticos. É importante ressaltar este aspectodas culturas africanas, uma vez que elas são mais conhecidaspor suas feições artísticas e estéticas, mas pouco sefala de seus conhecimentos científicos. A ciência ocidental,de uma forma geral, representa-se como a única ciênciaque há, como se todo o conhecimento da natureza e todoo desenvolvimento tecnológico fossem sua prerrogativaexclusiva, enquanto que as culturas africanas e indígenasseriam marcadas pela ausência de pensamento analítico,abstrato, por uma característica pré-lógica que revelariaseu “primitivismo”.Tais estereótipos, com ranços evolucionistas, são contestadospela grande procura na atualidade, pelos própriospaíses do Ocidente industrializado, do conhecimento sobre anatureza que outros povos vêm desenvolvendo há milênios,auferindo grandes lucros para instituições de pesquisase laboratórios farmacêuticos multinacionais através dapatente de plantas medicinais, com as quais os verdadeirospesquisadores africanos e indígenas nada ganham.O uso das plantas no candomblé assinala uma outra concepçãode saúde e oferece formas de tratamento maisnaturais e holísticas. A doença não é vista como disfunçãofísico-química, mas como conseqüência de um desequilíbrioque envolve as múltiplas dimensões da pessoa, nãosó nosso corpo físico, mas também nosso duplo espiritual,acarretando a diminuição da força vital – concepção quetem sido corroborada por práticas medicinais alternativas,menos comprometidas com a indústria médica, hospitalare farmacêutica, no próprio Ocidente. O restabelecimentoda saúde implica em restaurar o equilíbrio na relação comas divindades e ancestrais, instando-os a agirem a favordos vivos. Há um provérbio yoruba que diz “kosi ewé, kosiorisa”, “sem folha não há orixá”, o que nos mostra que asfolhas estão presentes em todos os rituais. Para além deseus usos terapêuticos, as plantas são parte central dosfundamentos da religião, cujo conhecimento está sob aguarda do orixá Ossaim.As línguas africanas (kimbundo, kikongo, yoruba e fon,principalmente) mantiveram-se em uso nos terreiros,nas saudações, cantigas, provérbios, contos, poemas, nos

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