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SETOR RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA

Material do Professor - Setor Religiosidade Afro-Brasileira

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do XVIII, houve predomínio absoluto dos escravizados deorigem bantu. Só a partir de então tornou-se significativo,até ser predominante, o tráfico do Golfo do Benin, especialmentepara a Bahia. Este fato vai introduzir as divindades – osorixás – e o modelo ritual dos yoruba na religiosidade afrobrasileirajá em adiantada formação, modificando-a e instituindoum novo modelo de culto, já semelhante ao atual.No Material do Professor do Setor África encontram-setambém informações sobre as formas de organização sociale política nas sociedades africanas, mostrando que apertença a uma família, a uma linhagem, é que determinavao lugar que um indivíduo ocupava na sociedade, suaprofissão, a pessoa com quem se casava, a forma comovivia. Além disso, havia um permanente contato com osmembros já mortos da família, os ancestrais, vistos comoresponsáveis pelo bem-estar dos vivos. Esta relação estabelecia-sepor meio de um culto, assentado em um territórioque, sendo a morada dos ancestrais, balizava a existênciados vivos, abrangendo elementos da natureza como rios,lagos, pedreiras, matas. Este território adquiria, assim,dimensões sagradas.A escravidão destruiu tanto os laços de parentesco quantoas referências territoriais dos africanos, as duas instânciasque conferiam significado a suas vidas. Desterrados, separadosde suas famílias, a travessia do mar (chamado de Kalungapelos bantu) significava, para a maioria deles, a morte.Mesmo quando sobreviviam, aquela vida que tinham em suaterra já não existia aqui, do outro lado do Atlântico.Chegando aqui, os africanos, especialmente os que permaneceramnas cidades como escravos urbanos, em diversoscontextos procuraram reconstruir suas vidas, criandoassociações e grupos de auxílio mútuo fundados na solidariedadeétnica, ou seja, grupos que reuniam escravizadosprovindos do mesmo grupo étnico ou pelo menos deregiões próximas. Estes laços eram o mais próximo que sepodia chegar da família de sangue, uma vez que esta nãopodia ser reconstituída. Exemplos deste tipo de associaçãoforam algumas irmandades católicas de homens pretos,que amparavam seus membros, auxiliando-os financeiramenteem caso de doença ou para seus sepultamentos, eos cantos de trabalho, que reuniam homens escravizadosde uma mesma etnia, que faziam diversos tipos de serviçomanual, contratados por jornada. Acredita-se ainda quealguns quilombos tenham se originado a partir de umgrupo de escravos pertencentes ao mesmo grupo étnico.Algumas rebeliões escravas, como a Revolta dos Malês,ocorrida em 1835 na Bahia, também foi alicerçada em laçosétnicos e religiosos, uma vez que a maioria dos revoltososeram nagôs muçulmanos.Percebemos assim que os africanos tentaram reconstruirno Brasil seus vínculos étnicos e culturais, constituindoorganizações por etnias ou “nações”: jejes, nagôs, angolas,cabindas, benguelas, congos e outros. Note-se que“nação” era o termo usado pelos brancos, inicialmente pelostraficantes de escravos, para referir-se à procedência dosafricanos, mas indica apenas o porto de embarque, e não ogrupo étnico ao qual o africano pertencia. Assim, “angola”pode referir-se à etnia mbundo, mas igualmente pode tratarsede um imbangala ou mesmo alguém de grupos étnicosdistantes do litoral, mas igualmente envolvidos nas redesdo tráfico, como os lunda ou tchokwe. Uma vez embarcadospelo porto de Luanda, todos tornavam-se “angolas”.No Brasil, porém, os escravizados passaram, com o tempo,a designar-se a si próprios usando o nome da “nação”, criandoinclusive os grupos de auxílio mútuo mencionadosacima com base em tal identificação. No século XIX foramcriadas comunidades religiosas baseadas, também, nestaidentificação por nação. Assim, surgem os terreiros decandomblé das nações congo, angola, nagô, ketu, jejemina,jeje-mahin, entre outros. Com o passar do tempo,porém, os terreiros vão englobar adeptos de diferentesprocedências étnicas, inclusive crioulos (negros nasci-

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