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SETOR RELIGIOSIDADE AFRO-BRASILEIRA

Material do Professor - Setor Religiosidade Afro-Brasileira

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de possessão no candomblé era na verdade um estado de“sonambulismo mórbido”, relacionado também à histeria,que deveria ser tratado psiquiatricamente. Neste momentoconcorriam duas visões racistas sobre o candomblé: paraalguns, juristas e policiais, o candomblé continuava a seruma prática criminosa que deveria ser reprimida. Para osmédicos psiquiatras, ele era manifestação de doença mentale assim devia ser tratado.Demoníacos, criminosos, loucos: assim têm sido consideradosos praticantes de religiões de matriz africana no Brasil,desde o início da colonização. O Brasil, país majoritariamentenegro, mas que se representa como branco; país profundamentemarcado pelas culturas africanas, mas que valorizae legitima apenas o legado cultural europeu, considerado oúnico relevante e necessário à socialização, portanto o únicoa constar no currículo escolar; neste país, ser adepto do candomblésignifica lutar pela preservação de uma memória,de uma história e de um conjunto de saberes que têm sidosistematicamente invisibilizados, que a sociedade branca hegemônicavem tentando eliminar há séculos, e que no entantotêm corajosamente resistido, devolvendo sentido à vidadesenraizada dos africanos escravizados, reconstruindo amemória fragmentada dos escravos crioulos das práticasculturais de seus ascendentes, criando laços de solidariedadeque permitiram que os negros sobrevivessem à imensaviolência física e simbólica da escravidão.CANDOMBLÉ COMO HERANÇA CULTURALE PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA POPULAÇÃONEGRA DA BAHIAÉ, assim, importante que o professor demonstre aos estudantesque, independentemente da adesão religiosa decada um, é necessário saber sobre o candomblé para entenderaspectos cruciais da história do Brasil e da culturabrasileira. É preciso ficar claro que a visita monitorada doMafro não abordará o candomblé a partir de uma perspectivareligiosa ou teológica, discutindo seus dogmas e fundamentos,mas sim a partir de uma perspectiva histórica,sociológica e antropológica. Deve-se assegurar aos estudantesque saber sobre outra religião não implica em uma“conversão” a esta outra, nem muda nada na fé que elesprofessam à sua própria. A ação educativa do Mafro entendeo candomblé como:1. Prática de reestruturação das famílias africanas noBrasil e de reatualização da cosmovisão africanaO candomblé é uma religião afro-brasileira, ou seja, surgidano Brasil a partir de elementos de diversas religiõesafricanas, trazidas para cá pelos africanos escravizados. Aformação desta religião foi longa: começou com o desembarquedos primeiros africanos, em meados do século XVI,passando por diversas mudanças até chegar, no final doséculo XIX, a uma forma de ritual semelhante à que existeatualmente. Esta religião, como outras, continua em transformação,adaptando-se à vida contemporânea, mas semperder seus vínculos com as tradições africanas de queé herdeira. Estas tradições vieram de povos e de lugaresdiferentes na África: dos povos bakongo, mbundo e ovimbundo,de Angola e do Congo; do povo fon (ou jeje), doBenin; do povo yoruba (subgrupos nagô, ketu, ijexá), daNigéria e do Benin, entre outros. No Brasil, estas tradiçõesse sincretizaram entre si e por vezes com tradições indígenase com o catolicismo.Para compreender melhor como se deu a formação do candomblé,é preciso entender o processo histórico do tráficonas duas regiões que forneceram o maior número de africanosescravizados ao Brasil e às Américas, o Golfo do Benine a África Centro-Ocidental. Para isso, consulte o Materialdo Professor referente ao Setor África do M<strong>AFRO</strong>, nositens “A África no Brasil: os ‘sudaneses’ do Golfo do Benin”e “A África no Brasil: os povos bantu”. É preciso lembrarque durante mais de dois séculos, de meados do XVI a fins

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