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Trabalhadores

Livro O Mundo dos Trabalhadores e seus arquivos - Arquivo Nacional

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73O Mundo dos <strong>Trabalhadores</strong> e seus ArquivosArquivos do poder / arquivos da resistênciaOs primeiros anos da década de 1990, quando os ventos do neoliberalismoaçoitavam uma classe operária em retirada e uma esquerda em crise, constituíramum marco histórico e político pouco propício para a afirmação de experiênciascomo AIRPATO ou a REMOS. A Argentina conhecia, nesses anos, índices dedesemprego inéditos em sua história, a esquerda batia em franca retirada e o movimentode direitos humanos nascido sob a última ditadura militar não conseguiarecobrar-se de um ciclo de declínio iniciado em 1987 com a sanção das leis deimpunidade e acentuado em 1990 com as leis de indulto decretadas pelo entãopresidente Carlos S. Menem. Neste marco, a história operária que havia começadoa insinuar-se na agenda acadêmica da pós-ditadura ficou reduzida a um papelresidual, enquanto a história das esquerdas não tinha carta de cidadania no mundouniversitário. Os arquivos operários ou das esquerdas apareciam então comocarentes de toda relevância e só pareciam constituir uma carga onerosa para seusdepositários, os antigos sindicatos e os velhos partidos em crise.Contudo, nos últimos anos do século passado e nos primeiros do presenteséculo uma série de circunstâncias coincidentes favoreceu a revalorização das experiênciasmilitantes e com elas as políticas de arquivo. Talvez a marcha multipartidáriaconvocada em março de 1996 pelos organismos de Direitos Humanos emvirtude do vigésimo aniversário do golpe militar pode considerar-se como o pontode partida de um novo ciclo. É que, como apontou Daniel James, em anos recenteseclodiu “o que poderíamos chamar o desenvolvimento da cultura da memória naArgentina, relacionado por sua vez a um contexto político distinto. A Argentinaviveu durante a última década seu próprio auge da memória, sobretudo em relaçãoàs vítimas da ditadura. Passou de uma cultura de amnésia oficialmente sancionada,vinculada aos governos de Carlos Menem, a algo parecido a uma cultura de pesaroficialmente dirigida sob o presidente Kirchner. Este deslocamento refletiu emuma explosão dos lugares arquivísticos da memória - tanto virtuais e com base naInternet como reais -, primordialmente dedicados aos depoimentos de testemunhosorais dos sobreviventes. Houve um crescente interesse, uma verdadeira febrede arquivo, que se denominou ‘era da testemunha’ e ‘época do testemunho’” 11 .Em um contexto no qual se reabriam os processos judiciais contra os responsáveispelo terrorismo de Estado, a sociedade civil recuperava alguns dos arquivosdo poder estatal ao mesmo tempo em que produzia novas fontes testemunhaissobre os chamados “anos de chumbo”. É assim que em março de 2001 váriosorganismos de Direitos Humanos compuseram a associação Memoria Abierta, como propósito de construir um arquivo de testemunhos orais sobre o terrorismo de

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