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Livro O Mundo dos Trabalhadores e seus arquivos - Arquivo Nacional

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irrompiam na cena pública reivindicando seus direitos, a começar pelo primeiro,pelo direito de reivindicar direitos” 7 . Instigados e fascinados, esses intelectuais reforçarama imagem de novidade dos movimentos e também atentaram para a necessidadede preservação de sua memória.Assim, no bojo desta preocupação memorial, constituíram-se diversos arquivos“em tempo real”, ou seja, concomitantemente (ou imediatamente após) àorganização e à ação dos “novos personagens” cujas experiências eles procuravammonumentalizar. Algumas vezes, foram os próprios movimentos, ou organizações aeles ligadas (sindicatos, pastorais, centros de educação popular e de formação profissional,etc.), que tomaram a iniciativa de guardar e organizar seus documentos. Esteé o caso, por exemplo, do Centro Pastoral Vergueiro (CPV), de São Paulo, fundadoem 1973, e do Centro de Assessoria Multi Profissional (CAMP), de Porto Alegre,criado dez anos depois. Em outras ocasiões, foram os militantes que, individualmente,se incumbiram da tarefa de reunir e conservar os registros dos movimentosaos quais estavam ligados. Cabe ainda destacar o papel desempenhado pelas instituiçõesde pesquisa e ensino, sobretudo as universidades, na formação de acervosreferentes a estes movimentos sociais. Tal é o caso do CDS, objeto do presentetexto. Para todos os sujeitos – individuais e coletivos – que se empenharam naformação destes arquivos, a reunião, conservação, organização e disponibilização aopúblico de tais documentos eram vistos como atos políticos; de resistência a umahistória/memória oficial desqualificadora, de afirmação de uma identidade combativa(servindo, seguidamente, para a formação/“conscientização” de lideranças ede militantes de base), e de “imortalização” das lutas e ideias que defendiam.A argumentação que até aqui viemos delineando nos ajuda a entendermelhor o caráter destes arquivos e, mais especificamente, do CDS. A documentaçãoque o compõe não foi preservada “espontaneamente”, “por acaso” ou porque eraconsensualmente vista como significativa. Os registros daqueles movimentos sociaisque chegaram ao presente foram escolhidos para se perpetuarem, selecionados,de forma mais ou menos consciente, por diversos agentes em função de opçõespolíticas e de relações de força variadas. Afinal, retornando às considerações deLe Goff, o documento/monumento conservado em um arquivo “resulta do esforçodas sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente– determinada imagem de si próprias” 8 . Desta forma, julgamos importante lembrar– embora esta constatação possa parecer um tanto óbvia – que, por maior que sejaa nossa simpatia pelos homens e mulheres que produziram os documentos abrigadosno CDS, ou que neles são referidos, não podemos fazer o papel de ingênuose cair “nas malhas do feitiço”, acreditando na “espontaneidade”, “autenticidade” e204

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