08.08.2015 Views

MELHOR

seleção de textos, fotos, quadrinhos e repressão - Memórias ...

seleção de textos, fotos, quadrinhos e repressão - Memórias ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

USE BURRICEILUSTRAÇÕES: JAYME LEÃOnios atrás, com freqüência se apresentavacomo uma pessoa de recursos intelectuaislimitados. Poderíamos dizer emforma lapidar caricata que o neuróticoconscientemente era um bobo e inconscientementeum gênio - como as minhaspacientes.Em muitos estudos da época, o próprioFreud assinalava que os mecanismosde defesa inconscientes eram hábeis,astutos, precisos e tenazes.No extremo oposto, encontramos apartir de Jung, todas as Escolas espiritualistase esotéricas tanto orientais comoocidentais, todas elas declarando que defontes interiorés desconhecidas doHomem, pode surgir e surge muitasvezes um conhecimento e uma inteligênciaprofunda das coisas.Homens que tivessem o livro exercícioda maior e da melhor parte de sua inteligência,aceitariam os condicionamentossociais que sofreram?Do ponto de vista da estrutura socialautoritária e eterna, a primeira coisa afazer não é a castração mas o emburrecimento.É essencial que no lar e na Escola,através dós assim chamados processossocializantes, se consiga da criança umtotal embotamento da inteligência, noduplo sentido de destruir-lhe a lógica e ointeresse intelectual.Isto se consegue "ensinando-lhe" coisasque não a interessam de jeitonenhum, "explicando-lhe" proposiçõesgritantemente falsas, destituídas dequalquer fundamentação afora a autoridadede quem diz (pai, mãe. parentes)ou do lugar ou do nome onde são ditas(escolas, Igreja, Congresso Nacional,etc).Depois de ouvir durante anos coisassem pé nem cabeça, pouco e nada ligadosà sua experiência imediata, a criançaaprende - certamente por medo - abrincar de faz-de-conta. Faz-de-contaque mamãe tem razão, faz-de-conta quepapai sabe tudo, faz-de-conta que aEscola é importante, faz-de-conta que asleis do Congresso visam nosso bem, fazde-contaque todos são honestas, fazde-contaque os bons e os trabalhadoresirão para o céu, faz-de-conta que osmelhores lugares serão para os maisobedientes ou os mais conformados,que cada um recebe o que merece, quesomos todos culpados pelas nossas másações e todos merecemos recompensaspelas nossas virtudes.Aí se completa a Lenda do Aprendizde Feiticeiro. Depois que aprendi a mágicado faz-de-conta, quando tenho umpensamento meu digo que é bobagemou que é loucura. Deste momento emdiante, serei um bom tijolo na parede daprisão social e perderei para sempre apossibilidade de encontrar minha verdade.Aviso muito importante aos que navegamhoje. Não estou falando so de umacoisa que era. Falo de uma coisa quecontinua sendo. O principal da minhahistória não é o fato dela ter começadohá 40 anos atrás, com todas aquelaspobres crianças, filhas daqueles pobrespais quadrados que eram os nossos.O método de emburrecimento sistemáticocomeça no lar, continua na Escolae na TV. mas não pára aí. Sua principalcaracterística não está na infância, masno coletivo. Em qualquer grupo quetenha a sua linguagem própria, quemaprende a linguagem, aprende o faz-decontada patota. Tanto faz que a linguagemseja Op, Pop,.Trac, Cac, ou Mec.Importante no faz-de-conta é que eleé brinquedo de grupo. Quando qualquergrupo começa inteiro a brincar defaz-de-conta, não tem mais grupo, nãotem mais gente. Só tem coletividade.Multidão de ninguéns. Opinião pública.Depois dos estudos de Korzibskysobre Semântica, surgiu nos EUA terapiado mesmo nome que consiste em ensinaras pessoas a falarem com clareza eprecisão, verificando a cada passo aconexão de cada palavra com a coisacorrespondente; recordando a cadapasso, que coisas com o mesmo nomenem por isso são a mesma coisa. Casas,por exemplo. A palavra é uma só e ascasas correspondentes são inúmeras.Aprender a pensar - é isso. Na terapiasegundo C.G. Jung, reconhecia-se explicitamenteque estavam em presençaduas personalidades basicamente semelhantes,diversificadas pela história particularde cada um. Esta história é a soma ea seqüência dos fatos que me fizeramexatamente como eu sou. Aquilo que aminha história não explica é a minhaindividualidade - precisamente minhaforma específica de responder às circunstânciasque me formaram. Isto é. alógica da minha vida é a inteligência dasminhas respostas reais e concretos atodas as perguntas que a vida, o mundo eos outros me fizeram.Ê preciso não esquecer que "tomarconsciência" é um ato essencialmenteintelectual - por definição, è uma formade conhecer - ou são muitas formas deconhecer - desde que existem muitasformas de consciência, de ser conscientee de tomar consciência.O Psicanalista não parece se dar contade que o seu famoso, criativo e curativo"insighht" é, com certeza, a mais pura elímpida ação intelectual do Universo.Claro que estou falando de uma inteligênciaviva que se desenvolve, que integrae reintegra os dados da percepção que,ao mesmo tempo, constrói grandes sistemasexplicativos do mundo e grandessistemas explicativos de si mesma. Falode uma inteligência que acompanha osfatos, que é dócil em se reformular e quevive, prazenteira, destruindo uma verdadepara construir outra.Esta compreesnão, como queremtodas as Filosofias práticas do Oriente, sópode provir do desenvolvimento lentode uma profunda capacidade de concentração- outra palavra tão confusacomo "tomar consciência" e "emocional".Tenho para mim que concentrar-sesignifica compreender cada vez maisfundamentalmente, organizar fatos cadavez mais numerosos em classes cada vezmais diversas, passíveis de arranjos erearranjos em conjuntos cada vez maiscomplicados. Tudo isto são definiçõesda inteligência como uma função viva.Tenho para mim. ainda e enfim, que ainteligência verdadeiramente viva acabadestruindo sua fé ingênua de organizartoda a experiência em um só sistema.Esta é sua etapa infantil, precisamente:destruída esta fé no sistema único, ei-laque descobre - e agora já e madura - quesua função específica é criar e destruirsistemas, que sua realização última écriar, para cada momento, para cada

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!