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seleção de textos, fotos, quadrinhos e repressão - Memórias ...

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EXTRA 47# 9 #positiva sobre a juventude. Um barato!/ /herói meio diferente, meio cômico, eacho que a TV não estava preparada paraisto na década de 60, e a série foi pro brejo!"A indústria então o puniu, dando-lhequase só. papéis de vilão, em filmes chatoscomo "Heaven with a Gun", estreladopor Glenn Ford (Clen Ford?)e Bárbara Hershey, que ainda nãotinha encontrado o tal pássaro condenadoque a levaria mudar de nome.Alegremente, ela explica isso, o negóciodo pássaro. Nós estávamos sentadosnovamente na esteira do quarto de dormir,a criança agarrada a Barbara, comosempre, como se fosse um faminto irmãosiamês. Novamente é domingo; nocomeço da tarde, David tocou um poucode guitarra e fumou um pouco. Chegamalguns carpinteiros e ele precisa falarcom eles. No quarto não havia nenhumfumo. "Não, eu nunca me liguei em drogas",diz Barbara. "Oh, eu tentei comtodas elas, em várias épocas, mas elasnão são realmente minha viagem. Nuncagostei de fumar, por isso realmente nãoaprecio o fumo, e agora, com o bebê, dequalquer forma não fumaria." Ela falaanimadamente, sorrindo muitas vezes,embora tenha começado dizendo tranqüilamenteque resiste à idéia de darentrevistas. E mais, que David, de certaforma, força-a a dá-las; ele sente que issoé importante para os dois, agora queestão fazendo seus próprios filmes."Eu acho, hmmm, que David e eu realmentenão vivemos muito como asoutras pessoas. Saca, nós nunca Vamos afestas aqui, nunca somos convidados;ele sabem que não iríamos. Às vezes nóssaímos sim, como quando fomos ao balé,pára ver Nureyev. Foi estranho, eu nãoimaginava aue não se pode levar umbebê ao balé. Free chorou um bocadodurante o espetáculo, tive que ir lá pratrás como ele..."Ela olha para o bebê babante comamor infinito. "Foi tão genial quandoFree começou a nascer, David estava' aqui comigo, vestido com uma pele deanimal e todas as suas jóias indianas.Tocava piano e guitarra e se dependuravanas vigas do teto para relaxar. Hmmm?Oh, sim, eutive Free aqui em casa. Tinhadecidido não chamar um médico, masdepois que estava no meio do parto, meacovardei e chamei um. Foi uma noitebrava. A maior parte do tempo fiqueisentada naquela cadeira de balanço. Aforça de gravidade ajuda o bebê a descere sair... é mais fácil do cjue ficar deitada,,quer dizer, imagine see possível evacuardeitado. Nós, uh, tínhamos planejadocomer a placenta. Os animais fazem isso,é incrivelmente nutritivo. Mas depoisque a vimos, decidimos enterrá-la eplantar uma figueira em cima, e quandoa figueira crescer, Free vai poder comeros figos crescidos de sua própria placenta.E, sabe de uma coisa? a árvore estáficando bonita..."Claro, a gente diz. Silêncio. Uh, e onome? "Bem, sempre tive um pouco devontade de mudar meu nome, entãoenquanto fazia Last Summer - você assistiu?- eu fazia uma garota muito perturbadaque ajuda uma gaivota e quando agaivota a ataca,.ela a mata. Bem, o pássarocom que trabalhei era muito especial,eu podia sentir seu espírito, me sentimuito ligada a ele. Ea equipe costumavame chamar "Bárbara Gaivota". Mas,numa cena, eu tinha que atirá-la para oar, para fazê-la voar, e tivemos aue ficarrepetindo a cena e eu via que ela estavamuito cansada; e quando a tomada ficoupronta, Frank Perry, o diretor, veio medizer que na última atirada, o pássarotinha quebrado o.pescoço. Exatamentenesse momento senti que seu espíritoentrou no meu corpo.Não disse isso a ninguém durante muitotempò. Finalmente, compreendi quetinha que mudar meu nome e fiz isso, nocartório. Ah, sim, eu li jonathan LivingstonSeagull, mas isso realmente não temnada a ver com minha viagem. A não serque é lindo livro, sabe? Agora, tenhaesses grandes sonhos alados, eu realmenteplano. Fui à Holanda para fazeressè outro filme, e quando cheguei láexpliquei sobre o nome aos caras e elesficaram apavorados, queriam usarHerhey, que era conhecido, mas fui firme..."O planeta gira; Free ouve com olhosespantados o murmúrio do living, queKUNGFUagora está a meia-luz e salpicado decigarrinhos acesos, como vagalumes circulando.David volta, sorri para Bárbarae suavemente canta outra música queestá compondo para outro filme que vãofazer. Os dois estão planejando um montede filmes, quer arrumem dinheiro ounão. Até o momento,'um desses distribuidoresjá viu partes de um copião muitoprecário de You and Me, que parecetratar exaustivamente (e em grande partesilenciosamente) de uma longa viagemde um motociclista e um garotir\jionuma moto de alta potência. Os fantasmasde Dennis Hopper e Peter Fondaparecem espreitar nas beiradas destedelicado kodachrome de David; é algoalegórico da intimidade dele, o sentidodoiilme não é facilmentê percebido."Dirigir é essa nova, incrível viagempra mim... mora, pra mim, um filme éuma Proclamação da Independência,uma declaração de liberdade. E liberdade,man, eu acho que você já notou, éuma grande coisa. Se você faz um filmeque é verdadeiramente pessoal, semcompromissos, ele será comercial também,eu sei disso. Agora, Fellini... eleslhe disseram que sua viagem não seriacomercial, mas ele não escutou..."A gente pergunta a ele sobre os filmesque ele gostou ou não gostou; o assuntonão o sensibiliza. Ele achou What's UpDoe? hilariante e parece espantadoquando lhe digo que, como toda obra dePeter Bogdano vich, é um filme semamor, transigente e sem humor. "Bemeu ri paca... Não acho que qualquer dessescaras como Bogdanovich, ou RobertAltman, ou Frank Perry, estejam realmentetentando dizer alguma coisa. Elesnão têm qualquer declaração a fazer,sabe disso?"Ele examina o ciparrinho aceso queestá segurando e da uma tragada tranqüila."O que há comigo é que... nãotem sentido escrever a meu respeito, amenos que você me leve a sério, porquesou realmente, hmmm, uma coisa séria.Eu estou, uh, naturalmente, tendo umainfluência positiva sobre pelo menos ajuventude dos EUA e, potencialmentedo mundo. Um barato! O que todomundo está olhando, saca, em Kung Fu,sou eu - alguém aue está fazendo umabusca espiritual, alguém que fez 400 ou500 viagens de ácido, que usou LSDcomo ferramenta para adquirir conhecimento,para, hmmm, descobir a verdade.Hmmm? Não, eu me Sentiria fantástico,como um herói cultural, dizendo atodos os garotos que me vêem para largaro ácido, porque algumas pessoasviram um lixo com ele; mas eu poderiadizer-lhes que eu próprio não vejo razãopara temer o que possa acontecer comminha cabeça. Eu quero saber, essa é aminha viagem, eu sou como Che Guevara,só que faço isso numa série de TV. Éextraordinário, você não encontra genteassim, fazendo uma série de TV. Certo?Bem, um meio de se conseguir isso é seesforçar constantemente para nuncamentir, em nenhuma circunstância, pornenhum motivo, nunca. A verdade écomo, hmmm, um deserto, todo areiabranca; e uma mentirá é como umamancha negra nessa areia, visível a quilômetros..."Ele curte esta metáfora por, talvez,vários minutos, ou mais, é difícil dizer."... £ Bárbara, na primeira noite que dormimosjuntos, ela disse olha, nuncavamos mentir um para o outro. Uau, aidéia me chocou. Quer dizer, uma coisaé não mentir, mas não mentir para umamulher? Impossível!" Ele sorri tão raramente,que quando o faz é como umabenção inesperada. Não se deve interrompê-lo,a menos que seja para encorajá-lo,porque se sente que esses monólogossão, para ele, raros, algo difícil, e nãosuportam repetições. "Mas o ácido... eunum sei, não tem em mim o efeito quedizem ter. Por exemplo, nunca tive umaalucinação, óh, não sei porquanto temponão vou ter. Estou ficando impaciente:mora, se é verdade mesmo que existereencarnação e que nós estamos semprenuma reciclagem até ficarmos no pontocerto, bem, quero ser um reflexo deminha época e ir caminhando para apróxima: sinto a responsabilidade defazer isso. Eu vou ser isso através da verdade,com a qual estou trabalhando háanos e agora estou, uh, quase cem porcento verdadeiro. Mora, antigamente eucostumava até roubar porcarias em lojas.Agora não".A gente é tentado, nessa altura, acomentar que a honestidade é mais viávelcom um contrato de televisão de cemmil dólares por ano; mas a gente nãocomenta. "Portanto, uh, mas minha últimaviagem pesada de ácido - bem, viajandoeu sempre entro nessa coisa de umprofundo exame de conciência, comoum raio-x que vem e me mostra por dentro.Em alguns lugares, eu pareço estarenvolto em bandagens e vejo afi tudocinzento é decadente, e pergunto aoraio-x: que p... é essa? Preciso examinarisso! E ele deixa. Mas nessa última viagem,nós estávamos caminhando atravésdesse corredor dentro de mim e haviauma porta e ele medisse"você não podeentrar, man", e eu disse "eu preciso ver,e peguei na maçaneta e ela desapareceu!Saca? E aí então descobri que essaexperiência psicodélica nunca será suficientepara quebrar todas as barreiras.Entendeu? E descobri também que nãose pode quebrar elas com sistemas - psicanálise,religião, cientologia - porqueeles estão todos, uh, abaixo do problemaespiritual que estou pesquisando. Porqueeles existem. Isto é, quando umaidéia passa para o papel, ela se tornaestacionaria para sempre, bloqueada. Seela não é estacionária, pode., uh, semprecontinuar a se expandir como o universo.Entendeu?"Definitivamente, David, você não precisaficar elaborando. "Assim... não sei,acho que não quero continuar fazendoessa série por muito tempo", declararepentinamente. "Isto é, existe essaenorme distância entre mim e a estrutura.O estúdio me deu o emprego porquesabia que eu era bom para o papel:Caine não é tocado pela estrutura e eutambém não. Eu busco o que Caine busca,saca? Ouça, man, esses caras do estúdio,todos tomam drogas, só que dapesada, e cheiram coca, eles não tomampsicodélicos porque sabem que o LSDpoderia quebrar a estrutura deles, o sistemadeles, seria uma tremenda sacudidana estabilidade deles. Por isso elesprocuram só a fuga, não o conhecimento.Eles sabem que a estrutura deles estácondenada, como Terceiro Reich. Essejerry Thorpe, o produtor - e/e é como KitCarson, que o presidente emprega pr>rase comunicar comigo, o Jerônimo; ele éa ligação entre mim e Eles, só que eletambém é Eles, saca? Thorpe transa como universo de um modo totalmente individualista,o universo é como ele o vê nacabeça dele. Ele é como um feiticeiroque não tem poder nenhum. "Mora,desde o começo, toda a preocupaçãoque ele tinha com Kung Fu era que asérie tivesse sucesso, aue desse índice deaudiência, fizesse dinheiro; ele não davaa mínima para os valores espirituais.Agora, quando os roteiros estão errados,ou são ruins, ou são falsos em relação aosvalores espirituais, eu ienho de brigarcom ele. Eles. Os homens da companhia.E todos eles são feiticeiros. Há talvez umaou outra jyessoa envolvida na série, alémde mim, que eu sinto que estão numa boa.Bem, merda, o que è que você podeesperar? Thorpe, man, todos eles, afinalde contas, trabalham na televisão..."Ele sorri com sarcasmo. Silêncio.Durante a tarde, andando pela casa, éque me ocorreu o que estava faltandoali: um aparelho de TV. Pergunto, masele está afinando a guitarra e a questãopode distraí-lo."Hmmmmm? Oh... Yeah. Bem, mora,eu já tive um, uma vez, mas joguei elefora. Ver televisão é envenenador. Poluia consciência. Você viu aquele filme decinema, Play it as it Lay? Aquele ator nofilme que come a garota e que poucoantes daquilo eles tiveram que sentarpara vê-lo no seu show de TV? Se vocêcomeça a se levar muito a sério, é issoque você vira".

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