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seleção de textos, fotos, quadrinhos e repressão - Memórias ...

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46ééEu estou, humm, tendo uma"Daí eles fie olham nlhzm para nzrz mim, esses occoc hhomensn m o n c *da companhia, minha careca e tudo, eme querem para o papel, mas depois doencontro ouço dizer que um deles disse:"Mas olhem, ele é um toxicômano". Umbarato! Na vez seguinte que apareci parafalar com eles, eu não estava realmentealto, mas a intenção tinha sido de ficarchapado. Entrei nesse escritório de executivose me larguei no sofá de couromarrom, roncando. E eles ainda me contrataram..."A guitarra de novo. mais fumo. "Vouand me..."canta ele, docemente, despojadamente,para Barbara. De repente, saio sol, para nos lembrar de onde realmenteestamos, em Hollywood, umlugar criado por um fenômeno nãosonhado através de todos os séculos atéeste em que estamos. Por incrível quepareça, David está falando de novo, eespontaneamente: "Uh, eles me perguntaramno estúdio se eu sabia algumacoisa de, você sabe, caratê, judô, as artesmarciais, a luta Kung-Fu. Eu disse praeles: "Picas", e até hoje não sei picas.Depois que assinei e começou o espetáculo,eles tentaram achar alguns especialistaslocais em Kung-Fu, - e tem montesdeles em todo lugar hoje em dia - pra virajudar a gente mas elés recusavam, pen-. savam que a gente fosse apenas uns picaretascomerciais. As pessoas que praticamKung-fu são muito delicadas, muitosérias. Daí, mora, é tudo fajuto, man ascenas de luta são, mora, coreografadas.Isto é, sou um dançarino..."Barbara vai atender o telefone, emseguida acena para David; estranhamente,é um guri de 12 anos, de Massachusrsetts, que conseguiu o número com atelefonista. David se arreganha no fonecom esse adorador desconhecido:"Hey, man..." No meio da conversa, ogaroto lhe pergunta se as lutas Kung-fusão reais ou falsas. "Yuh, bem, um montede gente pergunta isso...". Suave, comtato, ele responde honestamente. Estamostodos no living agora, menos Barbara,que prepara um café na minúsculacozinha ao lado, murmurando algumasvezes lá de sua atravancada ilha femininapara a península maior masculina - ondeos montanheses toscamente talhados, osatores-carpinteiros, esperam as próximaspalavras de David. Eles são, a gentepercebe, exatamente o tipo de entourageque costumava seguir Dennis Hopperquando, no final da década de 60, Hopperfoi reverenciado com o novo Salvadorda mídia.Carradine fala! Da próxima vez quefala, não é na montanna, é lá embaixo,no mundo real, no restaurante dos executivosda Warners. A maioria dos atoresde seriados, mesmo os astros, não comeaqui, mas David entra ingenuamente,descalço, como estava ha quatro minutoslá atrás no cenário de Kung-Fu, acidade do Oeste dos filmes, com seugrande armazém e sua oficina de ferreirode plástico, carinhosamente pintadaspelos derradeiros artesãos das belasartes,os decoradores de cenário, paraparecer madeira rústica talhada. A genteassistiu às últimas tomadas da manhã,uma seqüência que será exibida semanasmais tarde, o familiar Confronto Kung Fude Rua: Piscando inescrutavelmente,Caine encara ladrões de gado, ou assaltantes,ou magnatas de estrada-de-ferromontados em cavalos de estúdio. Umdeles diz a David que eles sabem que foium chino que roubou o carregamentode ouro e simultaneamente estuprou asrta. Ainsley. Ao que David, na pele deCaine, retruca que eles deviam dar aosoperários da estrada-de-ferro menoshoras de trabalho. O mais ignóbil dosmagnatas desmonta num abrir e fecharde olhos e o ameaça com seu gordopunho, do qual Caine se afasta com dignidade.Quando novamente ameaçado,ele sacode o antágonista no ar, depois deter observado, como sempre, os ensinamentosdo templo shaolin: Evitar, antesde lutar; mutilar antes de matar; humildade,paciência, paz.Corta! Okay, pessoal, almoço rápido,próxima cena à uma hora; necessários àuma em ponto são o senhor Carradine, osenhor... Rindo, os atores se livram imediatamentedas roupas características,como marionetes desligadas dos fios;menos David, que parece livrar-se deCaine suavemente, para ir passando lentamenteda austeridade ae caráter dopersonagem para o seu:prãípio, indefinido.Ficou claro, olhandó-o no cenário,de algum jeito que nunca .é claro na televisão:a maneira contemplativa , altamenteformal com que ele se move e falaquando representa Caine é intencionalmentesatírica um atravessado comentáriocara-de-pau em cima do despropósitoda história e de seu papel."Oh, yeah", diz ele quando mencionoisso, rindo, balançando a cabeça, pulandosobre a porta encrencada do seuvelho e cicatrizado Lancia conversível,para nossa corrida através das ruas dosestúdios, até o restaurante onde apressadamenteordena ovos mexidos e café, deque parece tomar uma duas dúzias de xícaraspor dia. Apôs a comida, tento denovo falar sobre o humor de seu desempenho;desta vez ele pensa, mastigando,depois bajança a cabeça, com grandeanimação."Você viu aquilo? Aquilo é um barato,man. Bom. Tentei mantê-lo muito, sabecomo é? sutil. Talvez esteja suavizadodemais, porque acho que os espectadoresnão sacam aquilo. Num sei... Achoque vão se acostumar mais a isso na próximasérie, em parte poraue estouentrando mais c/aro nessa. Incrivelmente,ele está falando com grandevelocidade, quase com vivacidade,como se tivesse deixado seu espírito demontanha lá na cabana do Canyon."Quero que eles percebam o humor,mas ainda levo muito sério o papel.Alguém disse, quando contei aue aslutas eram falsas: "Oh. então é tudo apenasencenação". Apenas encenaçao?Man, pra mim, encenar é vida, não façodiferença entre encenar e viver. Queroviver o Caine, quero que ele cresçacomigo. Saca, só no nível físico - o guarda-roupatem os sapatos que eu deviausar, mas logo no começo eu tirei ossapatos e fiquei descalço. Cheguei àconclusão de que Caine não precisariade sapatos e pão os usaria. E estou simpiesmentedeixando o cabelo crescer,não o cortei mais desde que começamose não vou cortar, tive que lutar com elespor causa disso e venci. Veja, quero Caineatingido por essa nova cultura na qualfui empurrado, a coisa americana... talvezeste país maluco comece a diverti-lo,talvez Caine venha a ficar menos rígido,esse novo mundo, gradualmente, muitosutilmente, vá aliviando-o..."Num relance ele acaba os ovos e estamosde volta no Lancia. Dificilmente é omomento de fazê-lo examinar-se pessoalmentecomo uma presença quemagicamente entra, toda semana numadeterminada hora (como Deus entravauma época nas cabeças e corações aosdomingos de manhã), em milhões desalas à meia-luz, para planar através damente da República suburbana. Ao contrário,neste momento a gente meramentepergunta-lhe se está preocupadocom o prêmio Emmv (para o qual foiindicado), ou se submete a algo tãomundano como enfiar um smocking ecomparecer à cerimônia. A perguntaparece pertubá-lo; de novo ele assume ocomportamento de montanhês. "Uh,sacar... bem, eu saco as cerimônias, as,uh, pompas... eu saco essas coisas. Mas oque pensei que faria, era mandar emmeu lugar, saca, o mais humilde empregadode Kung Fu, como o cara do carrinhode café. Saca essa? Um barato."Esse ar, inocente, essa caipirice, emboraaparentemente genuínos, deixam agente perplexo. Você fica admirado:como David pode ter trabalhado longotempo no ambiente sofisticado dos palcosde Nova York? Em que fração deminuto a vasta audiência de Kung Fupoderia conceber que, antes de se transformarem Kwai Chang Caine, ele, entreoutras coisas, representou Laerte noHamlet de seu pai, brilhando na Broadway.essa Bizâncio cansada ondeopulentas filosofias homossexuais sãoapresentadas em seis sessões noturnas eduas matinês, para burgueses ricos edesconfiados que cochilam em meioàquela água-com açúcar? Ainda em 65faziam fila para vê-lo como o chefe incaem The Roval Hunt of the Sun."Uh, foi um barato" diz ele. "Nao,man, eu gostava da Broadway, era umagrande coisa representar esse grandepapel nesta grande peça toda noite". E oque o levou ao teatro nao foi exatamenteuma viagem num caminhão honestonuma estrada do interior. Seu pai, JohnCarradine, era um astro do teatro e docinema que gastou um monte de tempoem turnes, casamentos e divórcios; naadolescência, David já tinha estado emseis escolas particulares das duas costas enum internato, por ter gazeteado emtodas as outras. (Isso foi o início da décadade 50; agora ele está com 37 anos,uma estranha idade para o herói de umpúblico jovem que anteriormente idolatrouDavid Cassidy). Ele também estevena Universidade Estadual da Califórniapara estudar música. "Mas saca, na lanchoneteos estudantes de música tinhamsuas mesas, e os estudantes de teatro assuas. Eu, naturalmente, me liguei narapaziada de teatro, eu sacava eles."Maseles não diziam a David - seria uma caretice- que certas noites ficavam acordadosaté tarde para ver o pai dele na TV,em filmes como "O Tesouro de SierraMadre"..."Oh, eu acho, saca? que não teria metornado ator se meu velho não tivessesido; ele me influenciou paca. Nós sempreestávamos OK um com o outro, ásvezes e/e me parecia um Deus, às vezes...menos, mas, man, saca, ele foi o primeirohippie, o cabelo dele descia até as costasna década de quarenta. Ele agora vivenesse barco, no mar. Ele consegue serrealmente conservador, não acreditoque aprove Barbara e eu vivendo juntose tendo o bebê e tudo, mas ele estámelhorando, acho que agora ê/e gostariade viver como nós. Minha mãe viveem San Francisco, ela casou outra vez eparece que saca a nossa; acho quepeguei minha, uh, idéia de liberdadedela. Veja, meu pai... eu idolatrava elequando eu era moço, depois vi que estavamacaaueando ele, fazendo seu estilo,caí fora.O cair fora aparentemente aconteceudepois do desbunde: David deixouOakland para começar representandoem pequenos teatros ao norte da Califórnia,na maioria fazendo os clássicos eShakespeare, como seu pai tinha feito.Também recitou poesia em cafés honestos,da década de 50, vendeu máquinasde costura e enciclopédias de porta emporta, e tornou-se um dos primeirosbeatnikis de San Francisco.Foi preso com maconha. Em seguidaconvocado pelo exército; a acusaçãofoi retiraaa, mas o exército foi mais per-.sistente. Passou depois dois anos em FortEustis, na Virgínia, a maior parte do tempona cadeia, depois de várias cortesmarciais, três em dois anos. "Porque,hmmm, em nenhum lugar, man, comono exército, eles te encanam se o cordãodo seu sapato está desamarrado. Não,até que me diverti lá: eu tinha esses uni~formes muito bons, muito bem cortados,realmente enfeitados! só que eu tinhasempre que enfrentar a corte marcial,daí que nunca recebi, nem botei aquelasinsígnias ou coisa parecida em cimadeles, assim o resultado foi que meu uniformeera muito vazio, como o de umoficiahtinha cara que até me batia continênciapensando que eu era isso mesmo.Saca?" A única coisa da vida militar queparece tê-lo interessado, além do uniforme,eram as competições de talento."Fui finalista em um show", diz ele,obviamente orgulhoso disso. "Fiz o, uh,monólogo de Ricardo II. Huh! Daí perdio primeiro lugar para um cara que faziamalabarismo..."Depois da baixa, que naturalmente foihonrosa, ele fêz mais um bocado de teatromenor e muita televisão, inclusiveum ano da série "Wagon Train", unspapéis em cinema, na de espetacular, e acoisa da Broadway. "Yeh, eu pertubeipaca. Eu gostava de representar, noduro, eu respeitava a profissão e tudo,mas eu fazia... as escolhas erradas: mora,The Royal Hunt of de Sun foi aquelegrande sucesso da Broadway e eu saídela só depois de seis meses para fazer oo papel principal na série Shane, da TV,baseado no velho filme, sabe como é?Sóque eu tentei fazer de Shane um tipo de

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