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seleção de textos, fotos, quadrinhos e repressão - Memórias ...

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KUNG.FUMACETEXTO DE TOM BURKE"Daí ele diz ao Times que planta seufumo no próprio quintal! Depois dessalamentação em voz baixa, o conservadíssimoprodutor de TV, os cabelos longosbem cuidados, barba ruiva grande, lançouum olhar arregalado para a piscinaao Beverly Hills Hotele colocou uma dasmãos sobre o copo de Margarita, comose o estivesse silenciando. "O Times",diz ele, "saca essa/"Tínhamos queimadodois cigarrinhos "colombianos no caminhopara cá, em seu Mercedes, e agora,após três drinques e mais um sub-reptíciocigarrinho passado por baixo damesa, sufocando pelo ar abafado da piscinaaquecida, seu machismo estimuladopelos cigarros arrefeceu. "Babe",começa ele agora - em vez de usar"Man , - gesticulando a esmo, "Ouça,babe, o que eu estou querendo dizer éque Denis Hopper e Peter Fonda já fizeramrebelião, isso é muito 1968; além domais é muita estupidez, quando vocêvive num estado policial f... e o seu passadorprovavelmente é um tira disfarçado,você declarar ao Times que vocêplanta, o seu fumo! Quer dizer, a ABCnão está nem aí, eles conseguiram botaruma porcaria em 7? lugar de audiência.Eles jamais sonharam que Kung Fu ia vingar,e agora estão amarrados nessesuperstarhippie, e não param de dizer aele "uh, David, você não poderia, uh,maneirar um pouquinho mais em seu,uh, comportamento público?" E elesjogam ele no show oe entrevistas deCavett que ele foi fazer muito chapado.Cavett começa a suar, então aparece agarota de David, Barbara Hershey? Ela sótrocou o nome para Barbara Seagull(Gaivota) - você ouviu essa já? - porqueum pássaro morto dormiu com ela oucoisa parecida, e ela traz o bebê que elesbatizaram de Free, Cavett fica mais pálido.Free começa a berrar e Barbara,diante das câmaras, abre o suéter e põeum pra fora e dá de mamar para ele,diante das cameras! Corte imediato paraCavett, que está verde, e diz "Uh, creioque acabamos de testemunhar algo inéditona TV..."Esse é o tipo de cochicho acovardadoque você ouve hoje dentro das víscerasda indústria da televisão (um espíritomais baixo que o do cinema, se é que istoé possível), sobre o sucesso de Kung Fu ea repentina cánonização de David Carradinepela mass-media, a menos que vocêfale com a ABC, onde todo mundo estáexultante como o que é um dos dois outrês maiores esdrúxulos sucessos da históriada TV, como Laugh-ln e SesameStreet. Bem, apreensivamente exultantes.Principalmente quando alguémpede uma entrevista com David Carradine.Do outro lado da linha telefônica háuma série de pigarros do pessoal de relaçõespúblicas; depois o empurraempurra:você tem que chamar Mortypara resolver a coisa, e Morty apresentaoa Gordon, que explica que esse tipo decoisa geralmente é resolvida por Dave,ou então você devia procurar Sheldou,até a hora que não sobra ninguém e voceouve: "Hmmm, naturalmente, isso precisaser discutido... a orientação doshomens lá em cima é tão... naturalmente,David vive muito simplesmente lá emcima em Laurel Canyon ligado à terra,um cara muito simples. Na o acho quevocê vá conseguir muita coisa. Você,hmmm, você não vai publicar nadasobre o que ele planta...?"Por que você simplesmente não telefonapara ele?" Impaciente, enquanto arede de TV discute o caso, a genteprocuraum orador de Canyon quase tao lendárioem Laurel quanto o próprio Carradine,um jovem candidato a escritorator,chamado Michael Peito, que pareceJames Dean aos 20 anos se Dean tivessetido cabelos iguais a Julie Christie, eque trabalha para David no time deescritores-atores-carpinteiros errantesque a gente observará durante toda*aprimavera, martelando taciturnamentesobre as vigas enegrecidas da velha efantástica casa meio-queimada, queDavid comprou no pico da montanhamais alta de Laurel. "O número dele estáaí na lista", diz Miehael, bucolicamentegentil. "Mas claro, é só discar, ele gostaoe estar em contato com as pessoas".Oh! O que dirá disso o conservadíssimoprodutor de TV, quando lhe contarem:"Lindo! Perfeito, babe! O número nalista!"A conversa telefônica com David tendeà incoerência: "Yeh, man, uh, sábado...não, venha domingo... bem, uh,pah! A voz dele é um ronronar de gato, édefumada.O domingo chega escuro; no sul daCalifórnia, um dia sem sol atinge a gentecomo a cegueira; é com receio que agente sobe, por entre galhos agressivos,os 78 degraus de madeira, quebrados,até a desintegrada casa de fazenda, tambémde madeira, que David está ocupandoaté que a casa queimada estejapronta. A porta antiga tem uma inscriçãomanuscrita, NÃO DEIXE BLUEBÍRDESCAPAR, ELE ESTÁ NO CIO, e quematende além de Bluebird, a cocker-spaniel,é Barbara Seagull, campestrementebonita, impassivelmente sorridente numvelho suéter desabotoado, para alimentarFree, que parece mamar perpetuamente.Barbara murmura coisas de boasvindas - na casa de David, às coisas parecemser murmuradas, em vez de ditas ouexclamadas - e saracoteia sob as vigas detoras cortadas a machado (por David) deempoeirado living, passa pelos móveis(um piano de meia cauda, um colchãode molas), até chegarmos à outra únicadependência da casa, um quartinhocontendo um arremendo de esteiraoriental e David, de cócoras, à moda chinesa,vestindo calças esfarrapadas e umacamisa careca de lã marrom, com umbotão de latão de identificação de motorista:1950, CHAUFFEUR 29796.Embalando sua guitarra, ele arreganhaum sorriso perto da cara do visitante efaz um aceno com a cabeça; nenhumagrosseria tipo aperto de mão é necessárianeste dormitório. Barbara e o bebêdobram-se ao lado dele, Free babandoanimadamente sobre o pijama cor-derosa,enquanto ouve enlevadam ente osarranhões e zumbidos saídos do instrumentode David, agarrado à guitarra ecomeçando a cantar a canção-título deum filme independente que acaba deproduzir e dirigir, estrelando ele próprioè Barbara: "You and me... that's how it'seorfaa be... from now on... "Cause that'sthe name of this song." Ele canta paraBarbarai, embora não olhe para ela.Eventualmente, a gente tenta; numapausa, introduzir a idéia de uma conversarudimentar; ele não rejeita nem resistea isso, ignora-o, se arreganhando,balançando a cabeça, arranhando, zumbindo,eventualmente indo até o livingpara consuJtas com os atores-carpinteirosque parecem estV sempre entrandoe saindo vagarosamér\te. Seu bizarrocachimbo doméstico, um fantástico carburadorde lata, que ele próprio construiu,é passado entre os horriens, depoisele o traz para nós, no dormitório, sacudindosuavemente a grande cabeça episcando os curiosos olhos inchados.Após mais guitarra embalado peloexcepcionál cachimbo, ele começa afalar sobre a evoluçãodesse enigma, essasúbita lenda. Kung Fu, um velho roteiroretirado de uma estante poeirenta daWarners (que produz a série para a ABC)sobre esse jovem órfão, meio-chinês,meio-americano, chamado Kwai ChangCaine, que foi levado por monges budistasa um templo shaolin na China, paraali aprender a antiga arte oriental ("ciência",diz o serviço de imprensa da Warners)do combate pessoal chamadoKung Fu (você quase pode ouvir osbocejos na mesa de discussão de programaçãoda Warners). O jovem Caine matapor engano um príncipe de Casa Imperiale, com a cabeça a prêmio, foge para aAmérica, onde perambula no meio dacorrida do ouro do Velho Oeste, desinteressadopelo ouro, defendendo osoprimidos e quase nunca sorrindo. (Bocejo,arroto). Misteriosamente, talvezmagicamente, Jerry Thorpe, jovem produtorcontratado pela Warners-TV paradesenvolver novos projetos, disse, oubajulou ou hipnotizou o estúdio de formaa que aquele roteiro resultasse numexcelente filme-piloto. Cautelosamente,exibiram o filme, e a receptividade foitambém excelente. Quando a série chegoua um ano de vida, a Warners estavaestocando e distribuindo filmes Kung Fubaratos, na mesma base de confiançatotal com que o oriente estava fabricandorádios transistorizados."... Então minha cabeça foi ra pada",está contando David, "algunsdiás antesde eu ter ouvido qualquer coisa sobreesse roteiro. Um barato. Mas não eranada místico. Mora, eu tinha feito um índionum filme, e tinham riscado toda aminha cabeça, meu cabelo ficou todofudido, então pensei que a única saídapra voltar a ter o cabelo normal era raspara cabeça. Barbara mesma fez issocom essa... navalha. Depois peguei oroteiro de Kung Fu, um barato! Só queeu nunca pensei que esse Western chinêsrealmente chegasse à TV. Fui falarcom eles, de aualquer forma, e esse produtor,jerry Thorpe, ele vai até a Warnersno seu Lincon Continental marrom chocolate,e está vestido de marrom chocolatee carrega uma maleta marrom chocolate,um verdadeiro tipo de estúdio,um homem da companhia, e eu pensei:"Este homem é Satã! O Demônio!"Saca?"Suas mãos de presunto traçam pequenosgolpes de caratê no ar, para reforçar.

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