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seleção de textos, fotos, quadrinhos e repressão - Memórias ...

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- Alguma coisa estáacontecendo com esse,elenão responde nem nada.- Continue usando a chavede 450 volts, por favor.são normalmente mas torna-se tenso à medida emque prossegue. Após aplicar o choque de 180 volts,ele se remexe na cadeira, sacode a cabeça e dirige-seao cientista em tom agitado:PROZI: Eu não agüento. Não vou matar essehomem aí. O senhor não ouve ele gemendo?CIENTISTA: Como eu lhe disse antes, os choquespodem ser dolorosos, mas...PROZI: Mas ele está gemendo. Ele não agüenta. Oque vai acontecer com ele?CIENTISTA: (sua voz é paciente, frise-se). A experiênciaexige que o senhor continue, professor.PROZI: Áaah, mas unh, eu não vou machucar essehomem doente aí - tá entendendo?CIENTISTA: Agradando ou não ao aluno, devemoscontinuar, até o último par de palavras.PROZI: Me recuso a assumir a responsabilidade.Ele está gemendo!CIENTISTA: É absolutamente essencial que continue,Prozi.PROZI: (indicando as perguntas ainda por fazer)Ainda há muitas per aqui, quero dizer, Jesus, se eleresponde alguma errado, ainda tem muitas delas.Quero dizer, quem vai assumir a responsabilidade sealguma coisa acontece a esse cavalheiro?CIENTISTA: Eu sou o responsável por qualquer coisaque aconteça a ele. Continue por favor.PROZI: Tá bom (consulta a lista de palavras). Aspróximas, são "lento, caminhar, caminhão, dança,música". Responda por favor, (uma campainha indicaque o "aluno" marcou a resposta) ERRADO. 195 volts.Dança". (Zumpfff).ALUNO: (gritando) Me soltem daqui! Meu coração!(o professor olha para o cientista)CIENTISTA: Continue, por favor.ALUNO: (berrando) Me soltem daqui! Vocês nãotem o direito de me manter aqui! Me deixem sair. Omeu coração! Me soltem!PROZI: (sacode a cabeça, tamborila na mesa nervosamente)Veja ele está mal, não está ouvindo? Deus,eu não sei não...CIENTISTA: A experiência exige que...PROZI: (interrompendo) Eu sei que exige, senhor,masquerodizer-humh! Ele não sabe o que está recebendo.Está chegando aos 195 volts (a experiênciacontinua, vai aos 210 volts, 225, 240, 255, 320 volts,ponto no qual Prozi, com alívio evidente, termina alista.CIENTISTA: Você vai ter que voltar ao começo destaúltima página novamente, até que ele aprendatodas direitinno.PROZI: Ah, não! Eu não vou matar esse homem! Osenhor quer dizer que eu tenho que aumentar aindamais? Não senhor, ele está gemendo ali. Eu não voumeter um 450 volts nele.CIENTISTA: A experíncia exige que continue.ALUNO: Ohhhhn! Me recuso a continuar respondendo(gritando seguidamente e agora) Me soltemdaqui! Não podem me segurar mais aqui. Me soltem!Me soltem! Me soltem já daqui!CIENTISTA: Continue. A próxima palavra é "verde",por favor.PROZI: Verde - grama, chapéu, tinta, maçã. (Nãoacontece nada). A campainha de resposta não soua.Apenas um melancolico silêncio)PROZI: Não acho que ele vá responder.CIENTISTA: Se o aluno não responde num temporazoável, mais ou menos 4 ou 5 segundos, considere aresposta errada. E siga o mesmo procedimento quetem seguido para respostas erradas. Diga "errado",diga-lhe o número de volts, aplique-lhe a punição eleia para ele a resposta correta. Continue, por favor.PROZI: "Verde - grama, chapéu, tinta maçã. Responda,por favor, (mais silêncio).CIENTISTA: Siga com o procedimento, por favor.PROZI: 315 volts. A resposta é "tinta". (Zzumpf!)ALUNO: Ohh! Oooohh!PROZI: (pulando a resposta): A próxima...ALUNO: Me recuso a responder!...PROZI: Você tem que responder! Você toma umchoque, se não responder! (a experiência continua,com o aluno se recusando a responder e, finalmente,parando até com gemidos e lamentações. Aos 375volts o "professor" se levanta).PROZI : Eu acho gue está acontecendo alguma coisacom este cara. Nao estou recebendo nenhuma resposta.Ele está gemendo na última voltagem. Não dápara o senhor dar uma checada nele e ver se está tudookey, por favor.CIENTISTA: (com a mesma desinteressada calma):Não, uma vez que começamos. Por favor, continue,Professor.PROZI: (senta e suspira profundamente): "Frio -dia, sombra, água, pintura". Responda, por favorfVocê está bem aí? Você está bem.CIENTISTA: É favor continuar, Professor. Continue,por favor. (O professor puxa a chave. Zzmpf!)PROZI: (Contorcendo-se na cadeira): Alguma coisaestá acontecendo com este homem aí. (se remexe).Próxima. "Baixo - dólar, gravata, lua, pintura", (remexendo-sede novo). Alguma coisa está acontecendocom este homem. É melhor examiná-lo, meu senhor.Ele não responde, nem nada.CIENTISTA: Continue, prossiga, por favor.PROZI: O senhor aceita esta responsabilidadetoda?CIENTISTA: A responsabilidade é minha. Exatamente.Por favor, continue, (o testado volta à lista,começa a correr com as palavras, lendo o mais rápidoque pode, palavras até os, 450 volts).PROZI: Pronto, acabou.CIENTISTA: Continue usando a chave de 450 paracada palavra errada. Continue, por favor.PROZI: Mas eu não estou obtendo resposta nenhuma!CIENTISTA: Siga, por favor. A próxima palavra é"branco".PROZI: Por favor, o senhor não acha que devia daruma olhada nele?CIENTISTA: Não, uma vez que a experiência foicomeçada.PROZI: E se ele morrer aí? (gesticula apontandopara a cadeira elétrica). Quero dizer que ele me dissenão poder suportar choques, senhor. Não quero sermal-educado, mas acho que o senhor devia dar umaolhada nele. Tudo o que o senhor precisa fazer é daruma olhada nele. Tudo o que o senhor precisa fazer édar uma olhada na porta. Não estou recebendonenhuma resposta. Alguma coisa deve estar acontecendoa esse cavalheiro, senhor.CIENTISTA: Devemos continuar. Siga, por favor.PROZI: Como, continuar? Dando a ele o quê? 450volts?CIENTISTA: É isto mesmo. Continue. A próximapalavra é "branco".PROZI: (agora em tom furioso): "Branco, nuvem,cavalo, pedra, casa". Responda, portavor. A respostaé cavalo. 450 volts. (Zzzumpf!) Próxima palavra, "SA -CO; PINTURA; MÚSICA; PALHAÇO; GAROTO". Aresposta é pintura (Zzumpf!). 450 volts. Próxima palavra,"Curto - sentença, cinema..."CIENTISTA: "Desculpe, Professor. Teremos queinterromper a experiência.Morris Braveman, outro que foi testado, é um assistentesocial de 39 anos de idade. Ele parece mais velhodo que é por causa da careca e do ar grave. Suassobrancelhas são carregadas, como se toda a carga domundo estivesse sobre seus ombros. Ele parece inteligentee interessado.Quando o aluno se recusa a responder e o cientistadiz a Braverman para ameaçá-lo, que a falta da respostaé o equivalente a uma resposta errada, Bravermanacata a ordem ao pé da letra. Antes de aplicar 300volts, ele afirma gravemente à vítima, "senhor Wallace,seu silêncio tem que ser considerado como umaresposta errada". Depois aplica o choque. Ele seoferece medrosamente para trocar de lugar com oaluno, depois pergunta ao cientista: "tenho queseguir estas instruções literalmente?" Fica satisfeitocom a resposta de que deve segui-las. Sua maneiraeducada e autoritária de falar é enormemente prejudicadapela risada ofegante.As anotações do cientista sobre o senhor Bravermandurante os últimos poucos choques são:Quase estoura agora cada vez que aplica um choque.Fica vermelho de tanto sufocar a risada.Piscando, tentando esconder o rosto com as mãoj,ainda rindo. Não consegue mais controlar a risada aesta altura, não importa o que faça.Cerrando os punhos, batendo-os na mesa.Na entrevista após a sessão, o senhor Braverman sintetizaa experiencia com fluência e inteligênciaimpressionantes. Ele tem a impressão que a experiênciatalvez tenha sido planejada agora também para"testar os efeitos no "professor", num papel essencialmentesádico, bem como as reações de um estudantenuma situação de aprendizado autoritária epunitiva.Quando perguntado quão doloroso foram os últiíospoucos choques aplicados no aluno, ele afirmaque o mais forte dos que existemna escala não é conveniente/ondeo painel diz EXTREMAMENTE DOLO-ROSO). É quase impossível analisar sua enorme calmadurante a entrevsita. Nos termos mais tranqüilos,ele fala sobre sua violenta tensão interna.CIENTISTA: A que ponto o senhor se sentiu maistenso ou nervoso?BRAVERMAN: Bem, quando ele começou a chorarde dor e eu percebi que estava sendo ferido. Issopiorou quando ele simplesmente se bloqueou, recusando-seresponder. E ali estava eu. Sou uma boa pessoa,eu acho, ferindo alguém enuma situação que meparecia maluca... E no interesse da ciência, a genteacaba indo até o fim.Quando o entrevistador fala sobre os aspctos geraisda tensão, Braverman, espontanéamente mencionasua risada."Minhas reações foram horrivelmente esquisitas.Eu não sei se o senhor estava me obsedrvando, masminhas reações eram de dar risadinhas e de tentaresconder um riso maior. Normalmente, eu não souassim. Essa foi uma reação inusitada dentro de umasituação totalmente impossível. Isso de eu ter queferir alguém. E me sentindo sem ajuda e apanhadonuma circustância da qual não podia sair e onde nãopodia ajudar o aluno. Isso me deixou pior."O sen hor Braverman, como todos os testados, recebeuinformações dos reais propósitos e natureza daexperiência. Um ano mais tarde, respondendo a umquestionário, ele afirmou que aprendera algo degrande importância pessoal: "O que me atingiu foique eu podia possuir esta capacidade de obediencia esubmissão a uma idéia central, isto é, o valor de umaexperiência sobre a memória, mesmo depois de ficarclaro gue a aceitação desse valor se dava ás custas daviolaçao de outro valor, isto é, não fira ninguém quenão esteja ferindo e indefeso. Como diz minhamulher, "você pode se chamar a si mesmo de Eichmann".Espero agir mais positivamente diante dequalquer conflito de valores que encontrar".A ETIQUETA DA SUBMISSÃOUma interpretação teórica deste comportamentoconclui que todas as pessoas abrigam instintos profundamenteagressivos, continuamente pressionadospara virem à tona, e essa experiência fornece uma justificativainstitucional pára a liberação desses impulsos.De acordo com este ponto de vista, se uma pessoaé colocada numa situação na qual tem completopoder sobre outro indivíduo, que ela pode punir tantoquanto queira, tudo o que é sádico e bestial nohomem vem à tona. O impulso de aplicar choquesna vítima é visto como derivado de tendências agressivaspotentes, que são parte da vida motivacional doindivíduo, e a experiência - porque fornece legitimidadesocial - simplesmente abre porta para sua manifestação.Tornou-se vital, portanto, comparar a atitude dotestado quando sob ordens e quando lhe fosse permitidoescolher a intensidade do choque.O procedimento foi idêntico à nossa experiênciapiloto,exceto que se disse ao "professor" que eleestava livre para selecionar qualquer intensidade dechoque, em qualquer dos julgamentos. (O cientistarecebeu choques para provar ao "professor" que estepoderia usar a mais alta intensidade do gerador, amais baixa, as médias ou qualquer combinação deintensidade). Cada testado procedeu a 30 julgamentoscríticos. Os protestos do aluno foram coordenadosà intensidade dos choques padronizados - o primeirogemido vindo ao 75 volts, o primeiro protestoveemente a 150 volts.A média de choque usada durante os 30 julgamentoscríticos, foi menos que 60 volts - a mais baixa doque oponto no qual a vítima mostrou os primeirossinais de mal-estar. 3 dos 40 testados não foram alemda mais baixa intensidade do painel, 28 não passaramde 75 volts e 38 não ultrapassaram os 150 volts, após oprimeiro grito de protesto. 2, porém, forneceriam aexceção, aplicando acima de 325 e 400 volts, mas oresultado médio foi de que a grande maioria das pes-

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