08.08.2015 Views

MELHOR

seleção de textos, fotos, quadrinhos e repressão - Memórias ...

seleção de textos, fotos, quadrinhos e repressão - Memórias ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

- Sinto muito, acho quequando os choques são assimcontínuos, são perigosos.- £ absolutamente essencialque continuemos...A obediência é basicamente um elemento de estruturada vida social. Algum sistema de autoridade énecessário a todos os agrupamentos comunitários, esomente a pessoa isolada não é forçada a responder,com o desafio ou submissão, ;io comando de outras.O dilema da submissão à autoridade é tão velhoquanto a história de Abraão; a questão de se deverobedecer às ordens quando estas conflitam com aconsciência já foi discutida por Platão, dramatizadaem Antigone e analisada filosoficamente em quasetodas as épocas históricas.Os aspectos legais e filosóficos da obediência sãode enorme importância, mas dizem muito poucosobre como a maioria das pessoas se comporta emsituações concretas. Realizei uma simplesexperiênciana Universidade de Yale para testar quanta dor umcidadão comum infligiria a outra pessoa apenas porquereceberia, de um cientista experimental, ordenspara fazê-lo.No plano básico da experiência, duas pessoas vãoao laboratório de um psicólogo, para participar de umestudo de memorização e aprendizado. Uma delas édesignada como "professor e outra como "aluno".O cientista diz que o estudo busca saber os efeitos dapunição no aprendizado. O "aluno" é conduzido auma sala, sentado numa espécie de miniatura decadeira eletrica; seus braços são atados para evitarexcessos de movimentos, e é colocado um elétrodoem seu pulso. É dito a ele que lerá uma série de palavrascomuns e depois será testado em sua capacidadede lembrar a segunda palavra de um grupo de quatroquando ouvir a primeira delas, a palavra chave. A cadaerro que for cometendo receberá uma descarga elétrica,em intensidade crescente.O objetivo real da experiência é o "professor".Após o "aluno" atado à cadeira, o "professor" se sentarádiante de um impressionante gerador de choques.O painel de instrumentos consiste em 30 chaveselétricas dispostas em linhas horizontais. Cada chaveestá claramente rotulada com uma designação de voltagem,indo de 15 até 450 volts. As indicações seguintesestão claramente indicadas por grupos de quatrochaves, indo da esquerda para a direita: ChoqueLeve, Choque Moderado, Choque Forte, ChoqueMuito Forte, Choque Intenso, Choque de ExtremaIntensidade. Perigo: Choque Crave (duas chavesapós esta última indicação estão marcadas simplesmenteXXX).Quando uma chave é acionada uma lâmpada pilotocorrespondente a cada chave é acesa em vermelhobrilhante; ouve-se uma campainha elétrica; uma luzazul, rotulada "amplificador de voltagem", pisca; odial do medidor de voltagem corre para a direita; esoam vários cliques de relês.O canto esquerdo do gerador, no alto, tem a etiqueta:GERADOR DE CHOQUE TIPO ZLT, DYSONINSTRUMENT COMPANY WALTHAM, MASS.CAPACIDADE DE 15 A 450 VOLT.Cada "professor" recebe uma amostra de choquede 45 volts do gerador, antes de começar a experiencia.O "aluno" ou "vítima" é, naturalmente, um atorque não recebe choque nenhum. O objetivo daexperiência é ver até onde uma pessoa irá, numasituação concreta e mensurável, na qual é ordenada ainfligir dor crescente numa vítima que protesta.O conflito cresce quando o homem que recebechoques mostra que está se sentindo mal. Aos 75 voltsele geme; aos 120 volts reclama alto; aos 150, pedepara ser liberado da experiência; à medida que a voltagemcresce seus protestos tornam-se mais veementese emocionais. Aos 285 volts sua resposta pode serdescrita apenas como um grito de agonia. Poucodepois ele já não emite som nenhum.Para o "professor" a situação rapidamente ganhauma tensão opressiva. Não é um jogo para ele; o conflitoé intenso e óbvio. O sofrimento manifesto do"aluno" pressiona-o para que desista; mas cada vezque ele nesita em aplicar um choque, o cientistaordena-lhe que continue. Para se livrar dessa situação,o "professor" precisa adotar uma clara atitude derompimento com a autoridade.Cretchen Brandt (o nome foi trocado por motivoséticos) é uma atraente médica de 31 anos de idadeque trabalha em Yale. Ela chegou da Alemanha há 5anos.Em várias ocasiões, quando o "aluno" reclama, eiavolta-se calmamente para o cientista e pergunta:"Devo continuar?". E prontamente volta a sua mesaquando o cientista manda que continue. Na aplicaçãoao choque de 210 volts, ela vira para o cientista edeclara com firmeza, "Bem, sinto muito, mas achoque não devemos continuar".CIENTISTA: A experiência exige que voce continueaté que ele tenha aprendido todos os pares de palavrascorretamente.BRANDT: Ele tem um problema de coração, sintomuito. Ele lhe disse isso antes.CIENTISTA: Os choques talvez sejam doloridos masnão são perigosos.BRANDT: Bem, sinto muito, mas acho que quandoos choques são assim contínuos, são perigosos. Pergunte-lnese ele quer desistir, é a vontade dele.CIENTISTA: É absolutamente essencial que continuemos...BRANDT: Gostaria que perguntasse a ele, viemosaqui de livre e espontânea vontade. Elelhe disse quetinha um problema cardíaco, sinto muito. Não queroser responsável por nada que venha acontecer comele. Aliás, eu não gostaria que fizessem isso comigo.CIENTISTA: Voce não tem outra escolha.BRANDT: Eu acho que estamos aqui por nossa vontade.Não quero ser responsável por nada que aconteçaa ele. Por favor entenda isso.Ela se recusa a ir adiante e a experiência está terminada.A mulher é firme e resoluta através de toda a experiência.Sua entrevista indica que nunca ficou tensaou nervosa, e isso corresponde a sua experiência controladadurante o teste. Ela sente que o último choqueque aplicou no "aluno" foi extremamente doloroso erepete que "não queria ser responsável por nenhummal que viesse a acontecer a ele".O comportamento honesto e atencioso da mulherno teste, a falta de tensão e o controle total sobre osseus próprios atos, parecem fazer da desobediênciaum fato simples e racional. Seu comportamento é aexpressão correta do que previ que constataria emtodos os terstados.Antes de começar a experiência, fui ouvir o palpitede vários tipos de pessoas sobre os resultados - psiquiatras,estudantes, adultos da classe média, estudantesgraduados e catedráticos de ciências comportamentais.Com incrível unanimidade eles prognosticaramque virtualmente todos os testados se recusariama obedecer o cientista. Os psiquiatras, especificamente,previram que a maioria dos testados não iria alémdos 150 volts, quando a vítima fizesse o primeiro pedidopara ser liberada. Eles esperavam que apenas 4%chegariam aos 300 volts, e que apenas uma minoriapatológica - por exemplo 1/1000 - aplicaria o maiorchoque do painel.Essas previsões estavam totalmente erradas. Dos 40testados na primeira experiência, 25 obedeceram a$ordens do cientista até o final, punindo a vítima atéalcançar o choque mais potente indicado pelo painel.Depois que os 450 volts foram aplicados 3 vezes, ocientista suspendeu a sessão. Muitos "professores"obedientes, soltaram então, suspiros de alívio, franziramas sobrancelhas, esfregaram os olhos, ou nervosamenteacenderam um cigarro. Outros demonstraramainda mínimos sinais de tensão, do começo até ofim.Quando o primeiro dos testes foi realizado, foramusados estudantes de Yale como "professores", e cercade 60% foram completamente obedientes. Umcolega meu imediatamente minimizou o resultadodizendo que os estudantes de Yale são altamenteagressivos, um bando de jovens competitivos quepisam na cabeça uns dos outros à menor provocaçao.Ele me assegurou que quando testasse pessoas "comuns",os resultados seriam bem diferentes. A medidaque passamos dos estudos-piloto à série de experiênciasregulares, foram contratadas pessoas detodas as camadas sociais da vida de New Heaven: profissionaisliberais, executivos, desempregados eoperários. O resultado da experiência foi o mesmoque havíamos observado entre os estudantes.Além do mais, quando as experíncias foram repetidasem Princeton, Roma, Munique, África do Sul eAustrália, o nível de obediência foi invariavelmenteum tanto maior do que o verificado na pesquisa relatadaneste artigo. Um cientista de Munique constatouque os 85% dos testados foram obedientes.As reações de Fred Prozi, embora mais dramáticaque as da maioria, ilustram os conflitos sentidos poroutros de forma menos visível. Com cerca de 50 anosde idade, e desempregado na época das experiência,ele é do tipo bonachão, embora levemente dissolutona aparência e com o costume de esmurrar as pessoasmais ou menos corriqueiramente. Ele começa a ses-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!