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seleção de textos, fotos, quadrinhos e repressão - Memórias ...

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"O sangue espirrou das arvores.Escorria pelos troncos. Caía dosgalhos, vermelho. Tive aimpressão que ia desmaiar/ 7Vou ser enforcado amanhã. Atravessarei,pela primeira e última vez, uma dasduas portas de minha cela, a que nuncavi aberta. Uma serve para os guardasquando vêm me ver. Mas sei que aquela,sempre fechada, é por onde passa ohomem que vão executar. É a soleira doalém.Atravessarei aquela porta se/n medonem remorsos. Os homens mecondenaramporque os apavorei. Eu ameaçavasua sociedade miserável, sua ordem.Mas estou acima deles; participo de umavida mais alta, e tudo o que fiz, aquilo aque chamam de crimes, cometi impulsionadopor uma força divina. Ê por issoque fico indiferente quando me tratamde crápula ou louco; tao indiferente quemulheres estúpidas se comprimem parame ver. Parece - disse-me um guarda -que numerosas cartas desse sexo frívolochegam para mim, na prisão. Eu me perguntose existe sobre a terra alguém quepossa me compreender.A pri meira pessoa que matei chamavaseWilliam Donald McSwan. Mais tarde,iria matar-lhe pai e mãe. A maneiracomo conheci Swan não oferecenenhum mistério. Ele tinha uma casa dejogo em Tooting.Era o ano de 1936. Eu estava saindo daprisão, por fraude. Foi a primeira deminhas condenações. Li um anúncio emque Swan procurava um gerente paraseu negócio. Mandei-lhe um telegrama,e foi assim que ele me empregou duranteum ano, depois que voltei aliberdade.Sozinho de novo, pude ganhar dinheiromais fácil, graças a várias fraudesengenhosas. Infelizmente fui descoberto,e novas condenações me obrigaram aficar na cadeia até setembro de 1943. Aosair, reconciliei-me com o jovem Swan.Durante aquele tempo, não andara mal.Transformara seu dinheiro em propriedadese estava explorando industrialeve. Por acaso, comecei a me dedicar aomesmo tipo de trabalho, e logo me estabelecipor conta própria. Uma noite, em1944, reencontrei Swan num café deKensington. Estava preocupado. Tinhamedo ae ser convocado para a guerra emeconfiou sua intençãoaeseesconder,para não ter que se alistar. Voltei a vê-locom freqüência: ele chegou até a levarmeà casa dos pais. Uma noite, propus aele que fosse visitar meu apartamento desubsolo, no número 79 da GloucesterRoad. Não posso explicar o que fizentão, sem evocar fatos anteriores quelevam à minha infância. É necessáriomencionar os sonhos que eu tinha.Minha mãe gostava muito de estudaros sonhos. Achava que eles previam ofuturo. Comprava todos os livros sobre oassunto, e eu os lia. Minha mãe pressentia,às vezes, a doença ou a morte de nossosparentes. Esses pressentimentoseram sempre exatos. Mais tarde, eu viriaa ter a mesma faculdade. O primeirosonho que recordo com precisão é daépoca em que cantava no coro da catedralde Wakefield. A noite, de olhosfechados, eu via Cristo torturado nacruz. Na igreja, eu contemplava o crucifixo;e na cama, via a cabeça coroada deespinhos, ou o corpo inteiro do Cristo, osangue escorrendo das feridas.Em outro sonho, eu construía umaimensa escada telescópica, em que euchegava à Lua. De lá, olhava a Terra ameus pés, não maior que um confeito. Oque significava este sonho? Achava queele queria dizer que eu faria coisas grandiosasna vida. A maior parte das vezes,meus sonhos falavam de sangue. Tinhamum papel terrível e fascinante em minhavida. E no entanto eu ainda não conheciao gosto de sangue. Um acaso iria fazermeexperimentar, e eu não iria esquecermais. Estava com dez anos. Tinha machucadoa mão numa escova de cabelo decerdas metálicas. Chupei o sangue, eaconteceu uma revolução fem todo omeu ser. Aquela coisa viscosa, quente esalgada, que eu sugava à flor da pele, eraa vida - a própria vida. Foi uma revelação,que me perseguiu durante anos.Logo, comecei a ferir os dedos ou a mão,de propósito, para colocar meus lábiossobre a ferida aberta, e sentir de novoaquele gosto encantador. O acaso,assim, me havia feito voltar àqueles temposfabulosos em que o ser extraía suaforça do sangue do homem. Descobrique pertencia à raça dos vampiros. Porque? Por que eu? Não saberia explicar.Apenas descrevo o que me aconteceu.Adolescente, durante um encontroamoroso, mordi os lábios que a garotame oferecia. Foi um gesto inconsciente,ao sentir sua boca quente em contatocom a minha. Mas tive um lampejo delucidez e fugi antes de ter provado o gostodaquele sangue. Do contrário, não seio que teria acontecido. Mas alguns incidentescomo este haviam despertado emmim a necessidade frenética, a grandenecessidade de sangue, que eu precisavasatisfazer com urgência.Na páscoa de 1944, fiz uma viagem deautomóvel. Passando por Three Bridges,vi um caminhão na minha frente. Muitotarde. Foi um choque terrível. O carrocapotou, sofri um corte profundo nacabeça. O sangue corria pelo rosto, até aboca. Aquele gosto despertou tudo emmim, de maneira decisiva. Naquela noitetive um sonho terrificante. Vi umafloresta de' crucifixos, que se transformavamem árvores. Primeiro, pensei quefosse chuva, pingando dos galhos. Mas,chegando perto, compreendi que erasangue. De repente, a floresta inteiracomeçou a contorcer-se, e o sangueespirrou da:, árvores. Escorria pelos troncos.Caía dos galhos, vermelho. Tinha aimpressão que ia desmaiar. Vi umhomem que ia de árvore em árvore.recolhendo sangue. Assim que o poteficou cheio, aproximou-se de mim."Beba", disse ele. Mas eu estava paralisado.O sonho acabou. Tinha consciênciade meu enfraquecimento, e todomeu ser se inclinava em direção ao pote.Despertei quase em estado de coma. Viasem parar a mão que me estendia o pote;e esta terrível sede que nenhum homem,hoje, pode entender, instalou-se emmim para sempre. Durante três ou quatronoites, tive o mesmo sonho; e a cadadespertar eu estava mais cheio desseterrível desejo.Agora vocês compreendem a que seexpôs o jovem Swan, quando ficou sozinhoem minha casa, naquela noite deoutono de 1944. Derrubei-o com um péde mesa. já não me lembro bem. Então,rasguei-lhe a garganta com um canivete.Tentei beber seu sangue, mas não estavaconfortável. Não sabia em que posiçãome colocar. Arrastei-o até um ralo e,com um copo, tentei recolher o líquidovermelho. Finalmente, acho. foi mesmoo corte aberto que suguei lentamente,com profunda satisfação. Quando meergui, fiquei assustado com a presençadaquele corpo. Não sentia remorso. Eume perguntava como poderia livrar-medo corpo. Depois fui dormir.Naquela noite sonhei com a floresta.Mas desta vez consegui agarrar o pote, eao beber o sangue tive a mesma satisfaçãosentida na realidade. Acordei; e aícomecei a refletir sobre o que tinha feito.Sobre como podia ter chegado a esse,ponto. Voltei ao porão. Vi que precisavatomar uma decisão quanto ao corpo. Derepente, imaginei um bom método.Eu guardava no escritorio uma boaquantidade de ácido sultúrico e clorídrico,para aplicar em metais. Conhecia osuficiente de química, para saber que ocorpo humano é composto de áçua, namaior parte. E o ácido sulfúrico e ávidode água. Só precisava descobrir um recipientepara colocar o corpo. Encontrei,num cemitério, uma espécie de toneidemetal. Pus McSwan dentro do barril.Usei um balde para derramar o ácido.Não tinha previsto os vapores, e fiqueiincomodado a ponto de sair para respirarum pouco de ar fresco. Depois saípara o trabalho, deixando fechada a portado porão. Quando voltei, vi que aoperação tinha ido bem. O corpo derretera.Fiz uma ligação entre o barril e oesgoto e deixei escorrer aquela mistura.Se ainda sobrava alguma coisa de McSwan, seria encontrado no mar, lá ondedesaguam os esgotos de Londres.Agora precisava explicar o desaparecimentode Swan. Voltei à casa dele paraver seus pais. Contei a eles que o filhoestava escondido para fugir a convocação.Escrevi algumas cartas com a sualetra e as remeti da Escócia. Os velhosacreditaram nas cartas e não fizeramnenhuma pergunta.Jamais tive medo de ser descoberto.Nem sentia remorso. Eu era conduzidopor um ser superior, que estava a meulado e me controlava. Dois meses depoisfiz uma segunda vítima, uma mulner.Tinha uns 35 anos. Era morena, de alturamédia. Tínhamos nos encontrado na ruae soube imediatamente que ela iamorrer. Eu estava num ciclo de sonhos equeria beber no pote. Ela aceitou ir atéminha casa. Golpeei-lhe a cabeça e bebi-Ihe o sangue. Coloquei a moça dentrodo barril, e então achei que seria práticoter uma bomba para derramar ácido. Saíe comprei uma. Só depois do segundoMc Swan, o pai do jovem Swan, é quepensei em usar máscara, para não serincomodado pelos vapores. Mais tardearranjei botas, luvas e avental. Assimequipado, mexia a mistura, armado deum pedaço de madeira.Matei os dois velhos Mc Swan no mesmodia. Nenhum de meus mortosmorreu porque eu tivesse intenção delucro. Quando havia algum lucro, aceitavacomo prova de solicitude que medava a força suprema. Quanto aos Mc-Swan, fui até a casa de um advogado deGlasgow e falsifiquei um contrato passadoem tabelião, onde eu aparecia com onome de Willian Donald Mc Swan. Imiteisua assinatura com facilidade. Já tinhafeito, como se sabe, minhas provas deaptidão como falsário. Graças a essa fraude,consegui vender as propriedades dafamília Mc Swan, o que me trouxe cercade 4 mil libras. A policia nunca percebeuo desaparecimento dos Swan.Minna quinta vítima foi um moço desconhecido,Max. Mas vou falar dos números6 e 7: o jovem casal Henderson.Archibald Henderson era um médicolondrino. Tinha uma jovem e belamulher, chamada Rose. Desapareceramem fevereiro de 1948. A polícia jamaisteria resolvido o mistério, se eu nao ajudasse,revelando que os matara.Conheci o casal da maneira mais simplesdo mundo. Eles tinham posto umanúncio para vender casa. Respondi,porque era um bom método para entrarem contato com as pessoas. Fiz isso umaporção de vezes. Os Henderson queriam8.750 libras pela casa. Respondi, paragrande surpresa deles: "Não é muitocaro. Se aceitarem 10.500 libras, estou deacordo!" Tempos depois, soube queRose Henderson tinha dito ao irmão:- Acabo de errcontrar o maior dosimbecis.vAo que o irmão respondeu: "Quandoum homem fala desse jeito, é melhortomar cuidado". Não Ine faltava intuição,como se vê.Logo em seguida, comuniquei aosHenderson que não tinha conseguidoreunir o capital necessário, mas eles nãofaziam mais questão do negócio, Eu já

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