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seleção de textos, fotos, quadrinhos e repressão - Memórias ...

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Zé - Mas o pensamento tem que serapaixonado! E a vida está ficando gelada,horrível! Viemos pra cá, ficamos umahora - uma hora - no trânsito! MeuDeus, pra que isso?Otto - Eu acho bacana isso. Querdizer, daqui a pouco vamos tomarcachaça... Mas veja; não pense que afrieza que está sendo abordada sejaresultado de uma completa insensibilidadeem relação aos problemas quevocê está levantando. Uma coisa eu possodizer. Nós procuramos, voltando aocaso do queijo, ensinar aos nossos alunos,pelo menos nesta Escola - que seconsidera muito honesta dentro do contextoem que estamos inseridos - que opublicitário não deve se incumbir detarefas que considere eticamente rejeitáveis.Em outras palavras, se você estáconvicto de que o queijo faz mal, nãopegue a "conta", como já fizemos; acampanha não deve ser feita. Porque acoisa mais burra que você pode fazer édivulgar mentira. Pois a propaganda éum fator de aceleração em termos econômicos,e com maior número de pessoastendo contato, em menos tempo,com o seu "abacaxi", o produto seráenterrado em 2 meses em vez de em 1ano.Zé - Bom, mas tem divulgado mentirapra chucu, principalmente sobre amor,casamento, propnedade, férias - sobretudo! Só vejo mentira na rua; tudo o queeu vejo na rua, eu leio ao contrário...Otto - Estou falando de coisas materiais.Se você diz que o automóvel anda a140 e ele vai a 80, quer dizer, você nãoconsegue... fiz campanha da Volkswagendurante 5 anos, fui um dos responsáveispela criação do slogan "O bom sensoem automóvel"; um slogan quedefenderia hoje com o mesmo ardor econvicção. Porque se existe um carroque é bom senso é aquele, quer dizer,pelo menos era... talvez seja ainda hoje.Zé - A coisa de Goebbels... Volkswagen,o ca rro do povo. Claro, foi ele quelançou. Na época em que o operariadoalemão estava sendo submetido a muitapolitização, e havia a coisa de dar ocarro...Otto -Eu entendo muito bem. Minhamãe tava nas filas pegando ficha. Mas,vamos voltar à Revolução Industrial.Você disse que o operário de hoje temmenos opções quanto à própria personalidade,mas a gente hoje tem muitomais. horas de lazer. Ao invés da semanade 50 horas, temos a de 40.Zé - Mas o que é o lazer? O quê apublicidade faz com o lazer? O que éque se faz na hora do lazer? £ o maior trabalhoque existe, é uma batalha voce sairpelas estradas...Otto - Você rejeita isso? Eu respeitodemocraticamente. A única coisa que eugostaria que você fizesse, já que rejeita aconsumo-society, e tudo o que elarepresenta, porque você não rejeita apenasa consumo-society, na realidadevoce rejeita a ideologia que a formou.Zé - Você também rejeita. Qualquerpessoa que olhar dentro de si própria,rejeita.Otto - Já que você rejeita, eu gostariaque criasse uma opção. Medêuma visãodessa opção. Como ser humano, precisoter alguma coisa para por no lugar.Zé - Eu poderia ser um ótimo publicitário.Otto - Mas não estou falando em termosprofissionais...Zé - Só não sou porque achei que eraantiético...Otto - Não estou colocando o problemaem termos de opção profissional,: < i i n n i ' > iOtto: "Você nãocondenaria uma faca, quepode cortar o queijo,mas também pode matar."mas sim: já que você rejeita a consumosociety,o que você gostaria de colocarno lugar, porque eu preciso de umaopção!Ex-Só como tentativa de discutir umaopção: voltando ao problema da kombi.Nunca se viu uma campanha dizento"akombi é ótima pra isso e isso; a kombinão presta pra isso e isso".Otto - A publicidade moderna nãoparte mais da premissa de que o consumidortem a idade mental de 13 anos.Então, se você diz que a kombi é um veículopara transporte de famílias grandes,que pesa tantos quilos, etc. - so atravésda caracterização de seus usos principaisvocê dá idéia de que não é um carro decorrida! Você não pode, inclusive dentroda técnica e da lógica, explicar vantagense desvantagens; quer dizer, como apublicidade é uma técnica de persuasão,obviamente ela tem que salientar as vantagens,e deixar que o consumidor chegueàs próprias conclusões.Zé - Tem um termo da publicidadeque eu acho terrível: persuasão. Nãoacho que a massa tenha Q.l. baixo - acabeça dessas pessoas é um territórioocupado pela persuasão.Otto - Que seja assim, eu vou aceitar. Evou voltar a outra pergunta, que tinhafeito antes...Zé - Queria dizer também o seguinte:essa coisa de não informar que a kombi éperigosa, é que a sociedade de consumoè uma sociedade dopada, anfetamínica.Ela não pode parar, ela não pára, nãopára, ninguém sabe por quê, nem como,nem quando. O horror que as pessoastêm de diminuir, modificar, o ritmo deprodução, é o terror! Então tem-se que irsempre, e vai-se até a destruição, é o quevai acontecer.Otto - Viva então o rei Faiçal, queesta . botando um freio nesse negócio?Zé - Viva o rei Faiçal!Otto - Bem, você ainda não respondeuà pergunta mais importante. Aindústria automobilística no Brasil realmentecriou novos horizontes econômicos.Ela está dando trabalho a um milhãoe 400 mil pessoas, que poderiam ser usadasem outra atividade, não sei.Zé - Na China...Otto - Eles usaram 3 milhões de pessoaspra construir uma ponte. Podem-seencontrar formas de uso de mão-deobramenos ricas de capital. A questão ése o Brasil tinha, em 1958, a mesma opçãoque a China; o Brasil já era muito maisindustrializado. Isso não podemosesquecer. Então, como o Delfim dissequando deu a aula inaugural na Escola,em 71, um País que tem uma riquezanatural como o Brasil, que tem o potencialdesenvolvimentista que o Brasil tem,não seria o caso da propaganda ser útilno sentido de ampliar o elenco deopções do consumidor pra buscar maisferro na terra, mais óleo, pra acelerar oprocesso econômico?...Zé - Pra destruir mais a terra?Otto - Você tem uma visão idealista,muito bonita da coisa, mas acho que oseu caminho, a longo prazo, provavelmenteiria nos levar a uma situação quaseque medieval. Pode ser muito bonita,muito romântica, mas acredito que aprópria existência dessa opção é falsa.Zé - Não acho; é outra coisa - será quenão há condições de botar essa tecnologiaa serviço de nós mesmos?Utto - Nao sou ecóiogo.Zé - Não se trata de ecologia. Não setrata de voltar à Idade Média.Otto - Mas você sempre precisa dealgum dispositivo político que acioneesse negócio. Que tipo de sociedadevocê queria ter? Você não pode fugir àopção, e como não pode, simula talvezum tipo de sociedade ideal, em que gostariade viver, e dentro dela não há lugarpara a propaganda, admite tudo isso.Agora, dentro do elenco de opçõesatualmente existentes...Zé - Claro: a sociedade tem que fazerguerra, tem que fazer propaganda, temque fazer esses prédios praj pessoasmorarem, fazer essa cidade, tudo isso. Éque é uma sociedade baseada na exploração.Otto - O que eu acho injusto...Zé - Todo contato é na base da exploração.£ sempre um em cima e outroembaixo. Tudò exatamente na base doque o senhor chama de frieza e...objetividade.Coloca entre parênteses a coisareal e chama isso de objetividade. Isso éque não entendo: a realidade, a vidahumana é colocada entre parênteses e,em nome da objetividade, o cara arrumauma série de formas, de dados, que ocomputador se encarrega de resolver.Isso não é desenvolvimento. O serhumano da sociedade de consumo é omais burro que houve na história.Aquém das maquinas que tem do lado,escravizado a ela, e nem sabendo porquê. O cara é escravo e não sabe que é.Otto - Você está dando a idéia de quea aceitação do "consumerismo" nosEstados Unidos é úma coisa pacata, masnão é. É uma contestação violenta! Temum cara, chamado Nader. que está sacudindoesse negócio, e todo um dispositivode defesa violentíssimo, inclusiveconsagrado em lei. O negócio não é tãotranqüilo como quem tem uma tropa decarneiros assim, que aceita esse bombardeioenorme dos meios de comunicaçãode massa, e masoquisticamente se dirige-"Zé - Não, isso não vai acontecer, vocetem razão; isso já está acabando, porqueé antinatural, antibiológico, antivida, é odomínio da morte, isso vai acabar. Comoacabou o nazismo, que foi a forma maisbrutal disso. Aj;ora estamos vivendo aforma mais sofisticada, pior; o nazismopelos menos tinha unia vedete, o Hitler.Agora não tem nem vedete, só tem máquina,não tem mais gente, acabou.Otto - Você lembra que eu disse que opróprio sistema cria seus antídotosZé - Cria, claro. A destruição total estánele. Total, absoluta. Não vai sobrarnada.Otto - Eu não tenho a bola de cristal,não sei, acredito que o homem -carneiro,completamente massacrado, é umaconcepção falsa. O que eu não entendifoi o problema, assim, em termos deantagonismo propaganda-teatro...

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