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jornal de texto, foto, quadrinho e imprensa - Memórias Reveladas

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JORNAL DE TEXTO, FOTO, QUADRINHO E IMPRENSA•W.IOutubro 1975 - 48 páginasCuidado:não vá rasgaro pôster central.Melhor: compre 2 Ex,para guardar o pôster.w: MiEx na Terra doMarlboro: bateboca e bang-bangPAGINA 40Na terra on<strong>de</strong>a televisãofoi assassinadaPAGINA 18E on<strong>de</strong> Francoestá matandohá 40 anosPAGINA 36E na saladaMarx, um <strong>jornal</strong>istabêbado/baixa socieda<strong>de</strong>:pediu pra ser presopelo amor <strong>de</strong> Deus/psicanalista confessa:sou o pai <strong>de</strong> santodos ricos/banho <strong>de</strong>sangue na Bahia: matoupai, mãe, irmão e avó.


2AQUI ESTA OleitoresJORNAL QUE VOCÊS FIZERAM, AGORA COMRio.Vidas ReprimidasEm Canoas, Poluição e Progresso,cida<strong>de</strong> a 10 km <strong>de</strong> Porto Alegre, existeum colégio - o Marechal Ronaon - on<strong>de</strong>a pele da barriga é in<strong>de</strong>cente. A camisanão po<strong>de</strong> ficar aberta, mostrando o peito,nem ser curta.Politicamente: vai ser passado "VidasSecas", a pedido da professora <strong>de</strong> literatura;e o diretor, falando a todos, disseumas 4 vezes em 8 minutos que o que iaser visto "não tem nada a ver com a realida<strong>de</strong>brasileira". Deu vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> perguntarse os esfomeados que tem nasvilas daqui também estão fora da realida<strong>de</strong>.a) Paulo Cezar da Rosa, Canoas, RS.Estamos vivendo como minhocas.Nascemos <strong>de</strong> baixo das coisas. Nãoqueremos subir, mas trazer todos pra daruma espiada aqui em baixo, sentir a vida<strong>de</strong> minhoca. Somos do lixo.Copacabana,ai <strong>de</strong> mim!Cida<strong>de</strong> Maravilhosa, área ver<strong>de</strong>.Falta AmbienteEstamos no momento da opção: ou sereformula o relacionamentoHOMEM/AMBIENTE ou muito em brevejá não sobrarão condições <strong>de</strong> existênciapara a humanida<strong>de</strong>. Contudo, nadadaauela "nostalgia romântica" dosvelhos tempos <strong>de</strong> campos ver<strong>de</strong>s, pássarose céus azuis. O progresso existe eprecisamos <strong>de</strong>le. A maneira como e/e seprocessa é que precisa ser reformulada.O compromisso Homem <strong>de</strong>ve vir antesdo compromisso lucro. Será mesmo que<strong>de</strong>vemos admitir a <strong>de</strong>vastação do meioambiente,a poluição nas várias formasem que se apresenta como necessária aoprogresso? A que tipo <strong>de</strong> progresso?(Semana <strong>de</strong> Ecologia, Escola <strong>de</strong> Arquitetura,Salvador)a) Bernar<strong>de</strong>te Abrão.Sabe, é que moramos numa cida<strong>de</strong>zinha(40 mil habitantes) terra <strong>de</strong> genteformal, bitolada, cheia <strong>de</strong> preconceitos etabus... somos os marginais daqui, somosaqueles que são cuspidos na cara, somoso motivo do riso patético, doentio e sarcásticodos mecanizados.E agora gostaríamos <strong>de</strong> saber maissobre um monte <strong>de</strong> coisas e abrirmos osolhos dos dorminhocos. Temos um <strong>jornal</strong>zinhoudigrudi e nesse barco preten<strong>de</strong>mosnavegar em mares mais longínquos.a) Luís, Jornal Cogumelo Atômico, Brusque,SC."Progresso", ou "liberda<strong>de</strong> não se dá,se conquista".É preciso enten<strong>de</strong>r a barra pesada,encarar e <strong>de</strong>spir o inimigo. Aos quesabem do Inimigo, do Sutocador (queestá em nós), das putrefatas Santida<strong>de</strong>s,<strong>de</strong> Wilhelm Reicn, <strong>de</strong> Cristo e Satã:escrevam-me. Ê preciso acordar nossascarnes. E o resto é inútil,a) Francisco Carlos Lopes, cx. postal 407,14960, Novo Horizonte, SP.A propaganda existe para tampar osseus olhos, você já percebeu?a) Júlio Cezar Figueira.a) Marcos Palácio, Mauá-SP (a cida<strong>de</strong>mais poluída do Brasil)Or<strong>de</strong>m No Universo!Des<strong>de</strong> que o Ex-13 saiu, com a entrevistacomigo, sobre o trabalho da Comunida<strong>de</strong>,aqui em Brasília, não tenho feitooutra coisa senão respon<strong>de</strong>r cartas, <strong>de</strong>todo o Brasil. E o pior é que tem muitagente que quer vir pra cá, outros nemescrevem - arrumam os panos e se mandampra Brasília, o Novo Eldorado.Levanta a CabeçaLevanta a CachaçaAjeita a CabeçaEngole a EsperançaAntes que Anoiteçaa) Sérgio Reinaldo Nogueira, SP.O Profeta Gentileza, personagem carioca.a) Walter Ghelman, fotógrafo.Acontece que não temos mais estrutura(infra, eu falo) para receber pessoas.Falta quarto, toalha, tatami, cobertor,etc... e dinheiro também, é claro, comonão po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser. A única possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> continuarmos a aceitar pessoaspara a Comunida<strong>de</strong> é que elas tragamalgum know-how para produzircoisas, que possam garantir o sustento<strong>de</strong> suas próprias casas, vidas...a) Wan<strong>de</strong>rley Lopes, CP. 111185, Brasília.


EX-15leitores3 PACINAS.MESMO ASSIM NÃO DEU PARA TODAS AS CARTAS.Coluna do Norte ,Jov o ê o u í U B f r o \ÇcoCÔGíço- € UúcêiOo€M € ? r /A£ o u i U 8 * i oPe. Cícero. Nossa Senhora, Frei Damião." —GGf-Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ralLoteria EsportivaCONCURSO TESTE DE 06 e 07/09/75Confira seu cartão, para não ser prejudicado. Verifiquese o reven<strong>de</strong>dor colocou o n.° do seu cartão no volante.Abra Os OlhosNão fique longe das pessoas paraencontrar o caminno que o leva <strong>de</strong> voltaa elas. Não fale simbolicamente, quandopu<strong>de</strong>r falar direto. Não feche os olhospara a carne congelada, o leite aguado, afavela marginalizada, o salário minguado,a fome esfaqueada, a propaganda, afalta <strong>de</strong> perspectivas e todas as coisaspara as quais você <strong>de</strong>ve olhar, precisaolhar.Ponha isso na cabeça: a vida é umatremenda história, na qual você <strong>de</strong>ve<strong>de</strong>sempenhar um papel. Mas sejaco'erente, conseqüente, crie, improvisee mu<strong>de</strong> o tablado. Não seja passivo. Nãoengula o quete empurram. Ligue as coisase as questione. Marque pontos eaceite o meu abraço confiante, Edu,você e todos os Edus <strong>de</strong>ssa terra,a) Heloísa, SP.Pelo TelefoneO sr. Lauro Silva, <strong>de</strong>putado pela região doRio do Sul, lamentou o gesto discriminatório earbitrário do Secretário <strong>de</strong> Educação: disseque, através dos <strong>de</strong>putados governistas, seconsegue emprego até por intermédio <strong>de</strong>telefonemas, graças às Socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> EconomiaMista, criadas para este fim, a serviço dotodo po<strong>de</strong>roso Governo do Estado. A última<strong>de</strong>sconcertante atitu<strong>de</strong> tomada pelo Governo,além das pressões exercidas no sentido <strong>de</strong> forçaros funcionários públicos a se filiarem naArena, foi a distribuição discriminatória dosformulários <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> estudo através daSecretaria <strong>de</strong> Educação. Responsabilizando osr. Salomão Ribas, disse o sr. Lauro Silva que omesmo entregou 20 bolsas <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> nívelsuperior a cada <strong>de</strong>putado da Arena, "esquecendose<strong>de</strong> que, com 400 bolsas, por vezes maldistribuídas, não contentará os 30 mil universitáriosdo Estado, em gran<strong>de</strong> percentagemcarentes <strong>de</strong> recursos."a) Gabinete da Li<strong>de</strong>rança do MDB, Florianópolis,SC.Veja e CensuraLi Ruy Mesquita em Extra! (v.página 6) e gostaria<strong>de</strong> retificar algo que ele afirma lá pelastantas, isto é, que no fim <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1974 acensura saiu <strong>de</strong> Veia graças a um acordoconcluído entre a Abril e o Governo.Como os editoriais do Estado, estou a vonta<strong>de</strong>para falar no caso, pois fui eu o convocadoem Brasília pelo ministro Armando Falcão parareceber a notícia <strong>de</strong> que a censura generosamentenos <strong>de</strong>ixava. E afirmo categoricamente:não firmei na ocasião qualquer acordo oucompromisso. Preocupei-me apenas com asorte <strong>de</strong> outros órgãos <strong>de</strong> <strong>imprensa</strong> que aindapermaneciam soo censura, merecendo doministro a informação <strong>de</strong> que melhores diasestavam para ser saboreados por todos.Ouso supor, embora Ruy Mesquita, se bementendi, sustente tese oposta, que a prova maisconvincente da falta <strong>de</strong> acordo seja precisamentefornecida pelo rápido regresso da censuraa Veja, para ser exato, 2 semanas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ter-se <strong>de</strong>spedido. Que entendimento seriaeste, feito para não ser cumprido)Obrigado pela atenção,a) Mino Carta, Diretor <strong>de</strong> Veja, SP.Conserve Sua EsperançaO povo não gosta <strong>de</strong> opor-se à poesia.a) Mara Lopes, Aracaju, SEEscrevo me <strong>de</strong>sculpando/ por escrever/Escrevo me <strong>de</strong>sculpando/ porviver/ Mas, um dia, isso acaba.O medo <strong>de</strong> se mostrar acaba quandose vêem pessoas como vocês <strong>de</strong> frentepra vida. Quero ir junto,a) Alfredo Schechtman, RJ.Poeta maldito/ sozinho na rua,correndo no tempo/ <strong>de</strong>scobrindo a verda<strong>de</strong>má/ <strong>de</strong>scendo na vida/ contandofantasia, com sangue nas ruas./Louco idiota, que pensa que outrosacreditam/em sua pureza papando todasua vida alimentando-se <strong>de</strong> incertezacantor sem estilo/ repentista vazio/ suado/cansado abatido.Conserva sua esperança numa folhaem branco com a boca e o peito calados,a) Offi, SPSou escrivinhador, amante, estudante <strong>de</strong>árabe, latim e linguistica. Gosto do que nãoestá no mundo e acredito no mistério. Tenhoolhos marrons e não castanhos, uma risonhacicatriz no braço esquerdo. Ergófobo (aversãoao trabalho) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 15 anos e onicófago (róiunhas) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 12. Sonho muito e não seiextrair raiz quadrada. Trabalho no esôfago doMonstro Cana<strong>de</strong>nse: Light.Ja" publiquei nove poemas num livro chamado"Apócnpho Apocalipse" - piratão <strong>de</strong> cemexemplares. Ganho Cr$ 1.259,00 e quero casar.Tenho uma agenda on<strong>de</strong> está anotado assim,comprar uma girafa e fazer um saco <strong>de</strong> dormir;variar a alimentação e tomar banho diário;abrir uma ca<strong>de</strong>rneta <strong>de</strong> poupança; comprarjornais; reclamar o aumento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nado; nãoesquecer do encontro com Dona Telita Baltar(que prometeu nunca me faltar); fazer lição <strong>de</strong>árabe. Deus abençoe vocês,a) Osmar Luís, ex-O. Reyex, SP.La Moneda em chamas. Eu me lembrei docrime. E me lembrei <strong>de</strong> como a gente esquecefácil essas coisas dolorosas. Lendo o <strong>jornal</strong>,outra cacetada: o artigo do meu amigo CarlosMorari - ou Morais, como a gente o chamava(Ex-14, pag. 10). O Morais, bem longe <strong>de</strong> Santiago,2 anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1973, também foi colhido.Mando poemas; Um dos últimos <strong>de</strong>le:Ovelha MansaPer<strong>de</strong>r o mundo.Vou per<strong>de</strong>r o mundoporque já perdi.Não estou só.Estou cercado <strong>de</strong> pessoase pela ciranda <strong>de</strong> ruídos.Passeio como uma ovelha mansapela cida<strong>de</strong>.Não tenho força,W(i"/icrOnão tenho mais forçapara mover um <strong>de</strong>doe dizer a quem passaou quem ficaque há um lugar on<strong>de</strong> o solse encontra com o mare ali mora a eternida<strong>de</strong>.Não estou velho.Sou moço.Mas o mundo é gran<strong>de</strong>,o mundo é muito gran<strong>de</strong>e eu não posso com ele, poeta.Você tem razão.Pra que explicar-me,se o muro é altoe ninguém ouve o que eu digo?Mulheres, <strong>de</strong>sisto.Não vou procurar meu amorse e/e nasce on<strong>de</strong> quandocomo uma faísca.Estou aquie estou longe.Estou enten<strong>de</strong>ndo tudo.Mas não quero mais gritar,não quero mais correr.Não quero levar maiso peso do mundo.Eu sou uma festadas crianças que renascerãona terra <strong>de</strong> ninguém.(Carlos Morari- 1947/75)a) Francisco Alencar, Rio.Sem Preconceito!Sinto a música como um canal importantíssimoda arte atual. Vejam porexemplo o rock - fenômeno pelo qualvocês parecem ter certo preconceito.Po<strong>de</strong>-se observar claramente que elevem exercendo um papel social semelhanteao exercido na Antigüida<strong>de</strong> Reloteatro grego. Em termos <strong>de</strong> manifestaçãocçletiva, po<strong>de</strong>-se observar mundialmentelaueo rock, neste fim <strong>de</strong> século, estásuplantando o próprio teatro, a meu vercada ve/ mais encurralado e distante <strong>de</strong>suas proposições mais primitivas. Pegueio exemplo do rock porque é o mais digamosabrangente, incorporando <strong>de</strong>s<strong>de</strong>um Miles Davis até os Novos Baianos,a) Edson Costa, SP.Excursionando pelo interior do país,Gilberto Gil atravessa os cerrados doBrasil central. Seus shows (com duração<strong>de</strong> 3 horas e ingresso a $15 e $25) reúnemum público que procura no artista o cantorae "Xodó". Gil vira a mesa e aos poucostodos cantam "Jurubeba" e apren<strong>de</strong>ma ouvir "Jeca Total". Sua energiatransborda por todos ^s poros contagiandoa platéia. Sua excursão atual contacom mais <strong>de</strong> 70 espetáculos atravessandoGoiás, Minas e São Paulo. Gil é lindo.a) Esqueceu <strong>de</strong> Assinar, Tupaciguara,GO.En<strong>de</strong>reço:N.° DO CARTÃOInternacional (RS)Bahia (BA)Desportiva (FS)Comercial (MT)Jira<strong>de</strong>ntes (Pl|América |HG|Náutico (PE)Nacional {AM)Coritla (PR)Santos (SP)Remo |PijCorintians (SP)Flamengo (RI)AKTR1AEAunwo <strong>de</strong> todosGrtmio (RS)Vitória (Bi)Port. Desportos (SP)Fluminense |lll|Moto Clube |KA)Rio Negro (AH)Goiânia (GO)América (RI)Guarani (SP)C. S. Alagoano (AL)Paissaniu (PA)Botafogo (RJ)Vasco (RJ)251,ÍO MENINO DIABOSGlílIBlí] FMIIDES DA SUABebé-diabo chega ao Nor<strong>de</strong>ste (v. tx-12).


leitoresCONTINUEM.CONTINUAMOS LEITORES ASSÍDUOS DE VOCÊS."História Naturalis", publicada no Ex-14,saiu apenas com a assinatura <strong>de</strong> Fernando e aomissão <strong>de</strong> Paulo Tarso, responsável pelo argumento.a) Fernando Antônio Pereira da Cunha, Campinas.* j~ [• r. O (,Vo?-CXG-Ç


EX-15MEXA-SE: UMA CAMPANHA COM ESPIRITO EXPLOSIVO!Salada: SIP,Cássio LoredanoNarciso Kalili eIvan Lessa1. "septiembre 15, 7975.Sr. Paulo PatarraEx-Editora Ltda.01314 São Paulo, BrasilEstimado senor Patarra:Ante todo le ruego me disculpeno po<strong>de</strong>r contestar sucarta <strong>de</strong>i 3 <strong>de</strong> septiembre em subello idioma. Des<strong>de</strong> luego, noscomplace mucho que pienseparticipar en nuestra AsambleaGeneral en Sao Paulo.Con ésta le envio una solicitud<strong>de</strong> afiliación, que seriaaprobada por Ia Junta <strong>de</strong> Directoresen Sao Paulo, <strong>de</strong> modoque pueda participar con <strong>de</strong>rechoal voto. Para nosotros seriamuy grato darle bienvenida anuestras filas.Hasta tener el placer <strong>de</strong>conocerlo en Sao Paulo, recibaum cordial saludo.James B. CanelGerente General".Yes! Os editores <strong>de</strong> EX-,como se po<strong>de</strong> ver pela cartaacima, preten<strong>de</strong>m participarda Assembléia Geral da SIP,com reunião marcada para apróxima segunda quinzena, noPalácio aas ConvençõesAnhembi, SP. Já estamos inscritosno congresso, faltando apenasagora finalizar nossa associação<strong>de</strong>finitiva àquela organização,atualmente dirigidapelo <strong>jornal</strong>ista brasileiro, Júlio<strong>de</strong> Mesquita Neto.2. "Hamilton, meu queridoamigo paulista.1.000 vezes <strong>de</strong>mos força proEX-, inclusive no último número.Aí, vocês "enterram" um dosnossos, o Francis.Vai o Ivan e faz uma brinca<strong>de</strong>ira- óbvia ululantemente -com vocês. Eu achei muitoJaguar."engraçada e fiquei besta quandovi que vocês não acharam."Carta apócrifa". Eu, hem?Cuidado, rapaziada. Ninguémper<strong>de</strong> o senso <strong>de</strong> humorimpunemente.Do companheiro pro que<strong>de</strong>r e vier, inclusive pra bakunizarnum lampum,Com esta carta, enviada doRio por Sérgio Jaguaribe, oJaguar, diretor-presi<strong>de</strong>nte daex-15MEXA-SE: UMA CAMPANHA COM ESPÍRITO EXPLOSIVO!Co<strong>de</strong>cri, editora do Pasquim, o<strong>jornal</strong> mais velho da "ImprensaNanica", fica esclarecida aautoria da nota saída na seção<strong>de</strong> cartas daquele <strong>jornal</strong>, nasegunda edição <strong>de</strong> setembro.(Vi<strong>de</strong> fac-simile à direita, acima).3. "Patarra, velho, aí temminha colaboração. Se te interessa,é um retrato da BillieHoliday (você coloca na páginaou não, a teu critério).Quero te pedir o seguinte:que o que é branco no <strong>de</strong>senho,saia branco; preto, preto;cinza saia cinza. Digo porquenão é qualquer gráfica queconsegue isto no <strong>foto</strong>lito. A doOpinião aqui ( Rio, RJ), não, a; Narciso Kalili na entrevista como oar<strong>de</strong>al


saladaESCRITORES ADVERTEM: ESCREVER PODE ABALAR SUA SAÚDE,EX-15— J.itttraínm pon" e um tipo <strong>de</strong>iiferatur& difícil tt# <strong>de</strong>finirporque e um traço que tácomeçando, ta nascendo. Mm.resumindo, seria assim amaO escritor, por Elifas AndreatoDrummond:A Literatura AcabaMe PremiandoCom Um Enfarte!- Literatura "pop" é um tipo <strong>de</strong> litaraturadifícil <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir porque é um troçoque tá começando, tá nascendo. Mas,resumindo, seria assim uma literaturasem cerimônia, sem intelectualismo,uma literatura que o menino aí do elevador,numa hora <strong>de</strong> folga, num feriado,possa ler e enten<strong>de</strong>r à maneira <strong>de</strong>le.- Ainda que èu vibre com BobDylan, com os poucos artistas "pops"que eu conheco, eu não tenho naaa aver como o chamado "un<strong>de</strong>rground"brasileiro. Eu discordo <strong>de</strong>les. Acho quenós, <strong>de</strong> cultura latino-americana, nãotemos que ser sucursal <strong>de</strong> um movimento<strong>de</strong> Nova Iorque ou <strong>de</strong> Londres. Nóstemos condições <strong>de</strong> ditar. Ê o que a literaturalatino-americana tá fazendo, poishoje você encontra americano imitandoBorges.- A linguagem tá violentamenteligada à i<strong>de</strong>ologia. O fascismo em Portugalconseguiu dominar tudo, até a linguagem.No Brasil não - a linguagemprotestou, reagiu, a linguagem explodiupor aí, refletindo um conteúdo socialviolento, certo?- Não quero ser um intelectual. Euprefiro que me acusem <strong>de</strong> ser umMauro <strong>de</strong> Vasconcelos, que eu seja umZé Mauro <strong>de</strong> Vasconcelos, mas que eufaça isso - uma literatura realmentepopular.- Outro dia me convidaram pra umpapo lá no Colégio Santo Antônio e osmeninos da 8* série tavam discutindo opoema "José", do Drummond. Eu vi coisasincríveis. A meninadinha <strong>de</strong> 14-15anos discutia coisas que jamais iria discutir,enten<strong>de</strong>u? Uma molecada que vocêacha que não está com nada, começou adiscutir problemas <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, e opoema não fala em prisão. Fizeram umamontagem e <strong>de</strong> repente apareceu lá oChico Buarque ilustrando o poema doCarlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, o quenão tem nada a ver, mas tem a ver,enten<strong>de</strong>? Se fosse um poema fechado,que já viesse lá "O Brasil é um país muitopobre", "O Brasil é um país cheio <strong>de</strong>prisões", "O Brasil é isso e aquilo", primeiroo pessoal ficava com um pé atras. Ejá vem feito. Isto reforçou tremendamenteminha convicção na literaturaaberta, que permita várias interpretações,contra a literatura fechada, aquelaque nos <strong>de</strong>nuncia a miséria do nor<strong>de</strong>ste,Entrevista <strong>de</strong> Roberto Drummond concedidaa J.A. <strong>de</strong> Granville Ponce e publicadaem "A Morte <strong>de</strong> D.J. em Paris", editora Atica^Extra! é a nova publicação <strong>de</strong> Ex-Editora. Foi àsbancas dia 12 <strong>de</strong> setembro, 30 mil exemplares,distribuição nacional Abril, ao preço <strong>de</strong> $ 3,00!Extra! n' 1 contém: o <strong>de</strong>poimento do car<strong>de</strong>al<strong>de</strong> São Paulo,Dom Paulo Evaristo, que pormotivos técnicos não po<strong>de</strong> sair no Ex-14 (o car<strong>de</strong>alpediu mais tempo para revisar o <strong>texto</strong>quando o Ex-14 já estava na gráfica), entrevistaa situação brasileira e só. Tudo mastigadinho.- Acho que hoje o papel do escritoré bagunçar totalmente o coreto dasocieda<strong>de</strong>, certo? O escritor tem que serum marimbondo, um Chacrinha, temque ser flecha <strong>de</strong> índio atroari, um índioatroari, a gente tem que ser uma gilete,um urubu, a gente tem que ser umpunhado <strong>de</strong> coisas. Acho que a gentetem que ser estrela, tem que dar esperanças,amparo, enten<strong>de</strong>?- Tá acontecendo no Brasil umarevolução literária ou antiliterária tãoimportante como os dois maiores movimentosliterários que já houve aqui: omovimento <strong>de</strong> 22 e do romance nor<strong>de</strong>stino.Pra gente conhecer essa literaturanova, a gente tem que ver o que táhavendo nas faculda<strong>de</strong>s, nos jornaizinhos<strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>, nas experiênciascomo a do Bondinho, enten<strong>de</strong>? E é umaliteratura realmente <strong>de</strong> briga, em todosos sentidos.- Sou mineiro. Nasci no Vale do RioDoce. Não falo a ida<strong>de</strong>. Costumo dizerque tenho 36. Sou casado, e tenho umafilha. Quando menino eu falava quequeria ser escritor e era como se falasseque ia ser assaltante, que ia matar umapessoa, enten<strong>de</strong>? Me olhavam espantadose diziam aue escritore era louco.Falavam que tinham um tal Carlos Drummond<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, que é lá da região <strong>de</strong>Itabira, perto da minha terra, que erainteiramente louco e estava matando apoesia brasileira.com Dias Gomes, cuja novela Roque Santeiro<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ir ao ar na Re<strong>de</strong> Globo por problemascom a censura; e um relato histórico <strong>de</strong>Ruy Mesquita, diretor do Jornal da Tar<strong>de</strong> e <strong>de</strong>O Estado <strong>de</strong> S. Paulo, extraído <strong>de</strong> um <strong>de</strong>bateque manteve com Raimundo Pereira (Movimento),num colégio <strong>de</strong> São Paulo. Extra! serácomo diz o nome: tratará <strong>de</strong> qualquer assunto,sem data nem preço fixos.- Quando eu escrevia me dava ummontão <strong>de</strong> doenças - minha mão ficavasuando, meu coração pulava, eu achavaque era enfarte, pensava que ia morrer.Isso me amarrou pacas. Até que <strong>de</strong>scobrique toda vez que ia escrever encucavaaquele negócio <strong>de</strong> que ia ficar louco,que era vagabundo. Custei a conseguirescrever, enten<strong>de</strong>? Não saía, tinha umbloqueio violento.- Eu parei <strong>de</strong> estudar quando termineio científico. Em seguida entrei no<strong>jornal</strong>ismo. Peguei uma fase que o <strong>jornal</strong>ismomineiro era realmente muito bom.Aqui em Belo Horizonte cheguei a dirigiruma revista chamada Alterosa, queera legal. Foi fechada em 64. Aí eu fui proJornaldo Brasil, ganhando muito bem.Depois comecei a pensar: eu vou entrarnuma <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Ipanema e vou me realizarcom isso aí. Vou ficar um cara comalgum dinheiro e certo nome. porque eutinha muitas condições <strong>de</strong> subir no JB. Játinha uma editoria prometida, aquelacoisa toda. Aí resolvi me mandar...- Eu acho que nenhum prêmio faznenhum Autor, sabe? Mas ajuda muito...Pra mim, o Concurso <strong>de</strong> Contos do Paranáfoi a melhor coisa que me aconteceu.Porque eu. sou um cara <strong>de</strong> formaçãonão-literária, enten<strong>de</strong>? Nunca fui <strong>de</strong>suplemento, eu nunca fui <strong>de</strong> roda literária,felizmente. O meu exercício é umexercício feito numa crônica <strong>de</strong> futebolem <strong>jornal</strong> mineiro. Agora: eu acho queconcurso bom é sempre aquele que agente ganha. Antes <strong>de</strong> ganhar eu achavaMarx rindo pela 1* vez: uma montagem <strong>de</strong>Amancio Chiodi, publicada no Ex n' 1. A boca é<strong>de</strong> Brigitte Bardot.o Concurso <strong>de</strong> Contos do Paraná umadroga. Metia o pau nele. Fiquei no maiorproblema, porque <strong>de</strong> repente passei aachar que ele era o concurso mais genialdo mundo...Depois <strong>de</strong>le consegui editareste livro, fui publicado no México e narevista argentina Crisis.Marx:O JornalismoQuase AcabaCom Meu Fígado!Caso alguém venha a preocupar-seem colher fatos para uma possível Históriado Jornalismo, po<strong>de</strong> ser que encontrealguma contribuição nos artigos e reportagens<strong>de</strong> Marx, o <strong>jornal</strong>ista. Como tambémnão se po<strong>de</strong> mais negar que o Marxtal como ficamos conhecendo, horrordos burgueses e uma espécie <strong>de</strong> Deuscom pés no chão para seus milhões <strong>de</strong>seguidores, não existira se não fosse ò<strong>jornal</strong>ismo.Tudo começou com um simples roubo<strong>de</strong> lenha na Província Renana, Alemanha.Como foi que este fato o levou aelaborar a incendiaria, diabólica e inteligentíssimateoria da mais mais-valia, <strong>de</strong>smistificandotodo o funcionamento damo<strong>de</strong>rna economia burguesa?Em 1842, trabalhando na Gazeta Renana(seu primeiro emprego como <strong>jornal</strong>ista),Marx estudou a legislação sobreroubos <strong>de</strong> lenha e a situação dos camponesesda Mosela; e pela primeira vez <strong>de</strong>uimportância às relações econômicasentreos homens (24 anos mais tar<strong>de</strong>escreveria O Capital). Até então, eleapenas estudava - Hegel, Feuerbach,etc.- Em 1842/43, vi-me pela primeira vezna obrigação embaraçosa <strong>de</strong> dar a minhaopinião sobre os chamados interessesmateriaiis. Sustentamos então polêmicacom outro <strong>jornal</strong>: a Gazeta Geral, <strong>de</strong>Augsburgo.Foi o bastante. Marx provocou a ira dosistema contra seu <strong>jornal</strong>. Os diretores,conta Marx, acharam que podiam "suspen<strong>de</strong>ra sentença <strong>de</strong> morte" contra o<strong>jornal</strong> adotando uma linha "mais mo<strong>de</strong>rada".Ele resolve então retirar-se paraseu gabinete <strong>de</strong> estudo.Fe<strong>de</strong>ndo a gabinete, 5 anos <strong>de</strong>pois,volta a trabalhar como <strong>jornal</strong>ista(1848/49), na Nova Gazeta Renana. E fazbalanços da vida econômica nesta revistaa partir <strong>de</strong> 1850. Anos mais tar<strong>de</strong>, tornasecorrespon<strong>de</strong>nte em Londres do NewYork Daily Trubune, para livrar a barriga(sua e <strong>de</strong> sua família) da miséria. Mais tar<strong>de</strong>,dirá no prefácio da Contribuição àCrítica da Economia Política que essa<strong>de</strong>dicação total ao <strong>jornal</strong>ismo o tez familiarizar-se"com os pormenores práticosque não são do domínio da ciência purada economia política".


saladaGOSTA MESMO Ê DE BATER.ATIRAR SOEM LEGITIMA DEFESA!Classificadosrodrigo farias lima e flávio brunoapresentam'-<strong>de</strong> Luiz Marinho direção <strong>de</strong> Luiz Mendonçao espetáculo teatral que ganhou 2 prêmios MoliéreRio 74.Trinta atores e músicos em cena. Censura: 16anos. , .KTania Alves também está (Io cordão!<strong>de</strong> 3.a a 6.a às 21 horas. Sábado às 20 e 22,30.Domingo às 18 e 21 horas.TEATRO APLICADOBRIGADEIRO LUIZ ANTÔNIO, 931,fone: 32.48.56 e 32.0263.Além <strong>de</strong>ssa experiência, o que Marxganhou com <strong>jornal</strong>ismo foi uma doençaoe fígado, agravada por suas preocupaçõesfinanceiras ("não creio que algumavez alguém tenha escrito sobre dinheirocom tanta falta <strong>de</strong>le"). Abandonou a<strong>imprensa</strong> em 1862, sem reconhecer aimportância <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> em suaobra:Uma colaboração <strong>de</strong> 8 anos no DailyTribune provocou, na medida em que sóexcepcionalmente me ocupo do <strong>jornal</strong>ismopropriamente dito, uma extraordináriadispersão dos meus estudos.Gustavo FalcónAté Nos E.U.A.Jornalismo LivrePe<strong>de</strong> S.O.S.A revista Ramparts, que tem entre seuscolaboradores alguns i<strong>de</strong>ólogos da NovaEsquerda norte-americana, está à beirada morte. Em seu último número,setembro, volta a pedir o auxílio <strong>de</strong> seusleitores. A revista explica que o apelo feitono número anterior (Ex-14, v. acima)"não exprimia a urgência existente".Em 13 anos, Ramparts nunca passoupor uma crise igual. Nascida com o movimento<strong>de</strong> contestação nos Estados Unidosdos anos 60, viveu períodos <strong>de</strong> segurançaapenas alguns meses. Mas sempreaparentou ter mais do que tem. Assim,pe<strong>de</strong> que os leitores não se iludam:"Somos 9 homens e mulheres ocupandotodas as funções, da parte editorialaté assinaturas, passando pela arte e produção.Há meses não temos uma folha<strong>de</strong> pagamentos e chegamos até a atrasaro pagamento <strong>de</strong> nossos redatores e artistas.Mesmo assim estamos sendo obrigadosa pular alguns números para economizardinheiro a curto prazo, o quecorrói ainda mais nossas fontes <strong>de</strong> renda".No penúltimo número os editoresachavam que o lançamento <strong>de</strong> uma campanha<strong>de</strong> novas assinaturas podiamelhorar a situação do livro-caixa. E,muito constrangidos, pediam a colaboraçãodos leitores. Mas, <strong>de</strong>sta vez, botarama boca no mundo. Se não receberam60 mil dólares (quase 500 mil cruzeiros),Ramparts vai fechar:"A quantia po<strong>de</strong> parecer chocante,mas é mo<strong>de</strong>sta em termos <strong>de</strong> editoraçãocomercial. Em termos <strong>de</strong> nossa circulação,significa cerca <strong>de</strong> 1 dólar por leitor.A essa altura, só os nossos leitorespo<strong>de</strong>m salvar esta revista e ninguémmais. Não sabemos se cada leitor po<strong>de</strong>ajudar, mas pedimos a todos vocês quefaçam o máximo. E o que quer que possamfazer, pedimos que façam agora".ilustração <strong>de</strong> AquinoConselhos DaPolícia Para EducarUm Bom Filho.Outro dia eu estava batendo um papocom o guarda que toma conta do prédioon<strong>de</strong> eu trabalhava (Folha <strong>de</strong> SP) e fiqueimeio horrorizado. Como quem nãoquer nada, perguntei se ele atirava semprecom o revolver. Ele foi categórico:- Atirar só em legítima <strong>de</strong>fesa, né?E sem que eu pedisse maiores esclarecimentossobre o assunto, entusiasmousepela minha curiosida<strong>de</strong> sobre as ativida<strong>de</strong>spoliciais <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Pauloe foi falando, sem parar:- Atirar só em legítima <strong>de</strong>fesa, né?Agora, o que eu gosto mesmo é <strong>de</strong> bater.Bater é comigo mesmo. Sou chegado.E quase babava <strong>de</strong> satisfação imaginandosuas possíveis surras noturnas eminocentes ou culpados. Porque, que eu,saiba, o cara só e consi<strong>de</strong>rado culpado<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> julgado. Ou não?Fiquei meio preocupado com aquelepapo do guarda. Ontem achei aqni naminha mesa <strong>de</strong> trabalho, um <strong>de</strong>cálogo<strong>de</strong>nominado Como Criar um Deliquente- Dez maneiras fáceis, publicado pelaAssociação dos Funcionários da PolíciaCivil do Estado <strong>de</strong> São Paulo. Ao lê-lo,comecei a enten<strong>de</strong>r melhor a mentalida<strong>de</strong><strong>de</strong> alguns guardas. Afinal, o que elespensam em termos <strong>de</strong> educação mo<strong>de</strong>rnaé o que se segue.1 - Comece pela infância a dar ao seufilho tudo que ele quiser. Assim, quandocrescer, ele acreditará que o mundo temobrigação <strong>de</strong> lhe dar tudo que o <strong>de</strong>seja.Isto significa, para mim, em outraspalavras, que você não <strong>de</strong>ve dar nada aoseu filho. Tem que <strong>de</strong>ixar o garotomorrer <strong>de</strong> inveja <strong>de</strong> tudo quanto forbrinquedo do vizinho. Imaginem comque odio ele não vai crescer.2 - Quando ele disser nomes feios,ache graça. Isso o fará consi<strong>de</strong>rar-seinteressante.Quer dizer, ensine seu filho dizer "<strong>de</strong>baixodas calças", "fezes" e "pistola".Ou mesmo "canhão".3 - Nunca lhe dê orientação religiosa.Espere até que ele chegue aos 21 e' <strong>de</strong>cidapor si mesmo".Porque? Um iovem <strong>de</strong> 21 anos não temcondições <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir por si mesmo, sejasobre o que fôr? A minha geração, queANÚNCIOS FÚNEBRESF. FRANCOOs editores e funcionários <strong>de</strong>sta empresacumprem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> comunicar ofalecimento.estudou quase toda em colégio <strong>de</strong>padres, hoje, em sua maioria, <strong>de</strong>ixou areligião <strong>de</strong> lado.4 - Apanhe tudo que ele <strong>de</strong>ixar jogado:livros, sapatos, roupas. Faça tudopara ele, para que aprenda a jogar sobreos outros a responsabilida<strong>de</strong>.Quem aprenda? Os pais ou os filhos?5 - Discuta com freqüência na presença<strong>de</strong>le. Assim ele não ficará muito chocadoquando o lar se <strong>de</strong>sfizer mais tar<strong>de</strong>.O pior é o lar não se dissover e ele <strong>de</strong>scobrirque o pai sempre teve mil amantese mãe não é a flor que se cheire. Issosim, vai fundir a cuca <strong>de</strong> qualqueradolescente.6 - Dê-lhe todo o dinheiro que elequiser. Nunca o <strong>de</strong>ixe ganhar seu própriodinheiro. Por que terá ele <strong>de</strong> passarpelas mesmas dificulda<strong>de</strong>s por que vocêpassou?Quem escreveu isso <strong>de</strong>ve ser daquelespais que tiveram que começar a trabalharcom 5 anos, sempre pensando emficar rico. Agora que ficaram e os filhosnão precisam trabalhar, ficam doidos <strong>de</strong>raiva. E colocam o garoto para estudarcontabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> noite e trabalhar o diainteiro sem o direito <strong>de</strong> viver sua adolescênciacomo bem quiser, já que temcondições para tanto.7 - Satisfaça todos os seus <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong>comida, bebida e conforto. Negar po<strong>de</strong>acarretar frustrações prejudiciais.Meus senhores, que eu saiba, toda afamília come as mesmas comidas, moranas mesmas casas e o conforto <strong>de</strong>ve ser omesmo. Ou não?8 - Tome o partido <strong>de</strong>le contra vizinhos,professores e policiais (todos têmmá vonta<strong>de</strong> para com seu filho).Agora afirmam taxativamente que osvizinhos, professores e policiais têmsempre razão.9 - Quando se meter em algumaencrenca séria, dê esta <strong>de</strong>sculpa: "Nuncaconsegui dominá-lo".Quer dizer que um filho é um bichoque se domine? A palavra mais a<strong>de</strong>quadanão seria educar? E essa "encreríca" éencarada como "encrenca séria" porquem? Pelos vizinhos, professores epoliciais?10 - Prepare-se para uma vida <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgosto.É o seu merecido <strong>de</strong>stino.Você vai ser pai <strong>de</strong> um policial.Mário PrataEla dá.E dá mais que chuchu na serrapor que enten<strong>de</strong>do assunto. Para homens,mulheres e crianças. E aosestudantes sem grana,ela faz um <strong>de</strong>sconto especial.Aulas <strong>de</strong> inglês e alemão,a 40 por hora.Johanna NeubauerRua Wan<strong>de</strong>rley, 487, ap. 13Perdizes (a rua fica transversalà Cardoso <strong>de</strong> Almeida)Obs: Johanna é amasiadacom um Ex-editor,que não dá moleza.Você quer a coleção do EX?A Livraria CHRIS tem.(e tem mais: Crisis, revista <strong>de</strong>Surf , Aviação, automobilismo,músicaPop e o Escambal.)Av. Paulista, 809DINHEIROeu tenho projetos eidéias que esperampor um financiamentopara gerar mais dinheiroainda do que você temainda mais do que você tem.,Se seu problema é terdinheiro e não sabe o quefazer com ele, escreva paraIDÉIA, aos cuidados do Ex.Classificados <strong>de</strong> <strong>imprensa</strong>-tembro/75 -Brusque-iTEATRO AMADORDE BRUSQUE365, Seleção <strong>de</strong>Leitura e Informação, é umapublicação daEditora ABZ. Onúmero 1 estánas bancas eMt". livrarias. Comartigos <strong>de</strong> JorgeAmado,Drummond,JOBM;\MADOi \i\ m nuChico Anísio eFernando Sabino.$12


saladaNÃO TINHA CONDIÇOES PE SOBREVIVER EM LIBERDADE!EX-15Um cartum <strong>de</strong> "Ovelha Negra", I 9 livro <strong>de</strong>Geandré, publicado pela Global Editora e Distribuidora.NrangW" íFxmúip» « ria pnafi»&«HJornal dominical <strong>de</strong> Ribeirão Preto.DOISPONTOSJornal do Centro <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Artes e Comunícações <strong>de</strong> São Paulo.KL*» f*?^ ' ^"' - i ^ J f »KXCt.l S/IO l/t/K; : : /1 m t'í.t.,1,< ou/ stíi i V 1IMW iw' : * Mas. e aP«"ua DodgtrViver Londrina, Jornal <strong>de</strong> serviços, distribuiçãogratuita.Í S E H C AMACIODOM(iUTKVBAIXA SOCIEDADEVida De PresoÊ Ruim.Vida De SoltoÉ Pior.Sem comentários, transcrevo mensagemurgente (radiotelegrama) recebidapelo diretor-geral do Departamento dosInstitutos Penais do Estado (SP), enviadapelo diretor da Penitenciária <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nteWenceslau: Comunico Vossênciaapresentou-se este Presídio sentenciadoJoão Batista <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, matrícula22.628, que se encontra em gozo <strong>de</strong>livramento condicional <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 17 <strong>de</strong>junho ano próximo passado. Alegandonão possuir mínimas condições paraviver mais em liberda<strong>de</strong>, solicitou o seuimediato 'recolhimento a esta Penitenciária,até que seja <strong>de</strong>cidido pedido <strong>de</strong><strong>de</strong>sistência do benefício a ser encaminhadooportunamente. Consi<strong>de</strong>randoprecárias condições físicas e psíquicas doapresentado, aa referendum <strong>de</strong>ssa diretoriae Egrégia Vara Execuções Criminais,<strong>de</strong>terminei sua reinclusão em caráterprecário até que seja solucionada <strong>de</strong>finitivamentesua situação.Os lava-cadáveres - Rádio Olinda, PE,divulgou esta, a 12 <strong>de</strong> setembro: a Delegacia<strong>de</strong> Costumes do Recife adota novosistema <strong>de</strong> repressão à livre ação doshomossexuais em Pernambuco. Agentesdaquela <strong>de</strong>legacia pren<strong>de</strong>ram 18homossexuais e os obrigaram a lavar oscadáveres do Instituto <strong>de</strong> MedicinaLegal. De início, os homossexuais nãoestranharam a baixa temperatura na câmara,mas ficaram horrorizados com oestado em que os cadáveres se encontravam.Bola preta - Bola superpreta para osGaviões da Fiel. Primeiramente, porquepuxam o <strong>de</strong>crépito presi<strong>de</strong>nte; segundamente,como diz a múmia, porqueassassinaram a pontapés um feliz torcedorluso após aquela lavada <strong>de</strong> 5 noPacaembu. Só porque o portuga fez "5"com as mãos e empunhava uma ban<strong>de</strong>irarubro-negra, foi massacrado pela gentalha.E vai ficar por isso mesmo, porqueninguém sabe, ninguém viu e... mais umcadáver para ser necropsiado no InstitutoMédico Legal. Assassinato covar<strong>de</strong>.Caloteiro <strong>de</strong> morte - Já faz algum tempo,mas vale a pena informar: um senhorfoi pegar o ragu no Itália, aquele prediãoda Ipiranga (com restaurante nò últimodos 40 e tantos andares). Após o rango,sei lá o porquê, jogou-se lá ae cima. Presenteo majura <strong>de</strong> plantão, o garçon docitado restaurante <strong>de</strong>monstrava a suamais visível indignação: puxa, doutor,como um cara po<strong>de</strong> fazer isso sea conta primeiro?>sem pagarSujeira no Galaxie - "È, a vida estáassim. Dia <strong>de</strong>sses, um ônibus atropelouuma senhora na avenida Celestino Bourroul,SP. A seguiV, passava um lustrosoCalaxie cuja placa não pu<strong>de</strong> anotar: omotorista não quis saber <strong>de</strong> levar a feridíssimamulher a um PS qualquer. Foipreciso chegar um sherlock e ameaçar oabastado dono da caranga à base do vaiou <strong>de</strong>sce: omissão <strong>de</strong> socorro, etc. Ocara concordou, massaiu-se com essa: tábom, mas põe lá atrás, no chão, para nãosujar o banco. Argh!Candidato a caveira - O pinote doCaveirinha do xilindró <strong>de</strong> Santos estádando pano para manga, chegando adividir a marginália da baixa e da dita altasocieda<strong>de</strong>. O Israel, o tal minicaveira, éfato um bandidão que não vacila emarrebitar umas azeitonas fumegantes.Na verda<strong>de</strong>, a caveiral figura é umdaqueles espécimes que misturam paranóiacom periculosida<strong>de</strong>. Escafedéndose<strong>de</strong> Santos, em cujo presídio estavaporque fora enfrentar os capas pretaslitorâneos, o jovem gratificou (com poucagrana, ao que parece) um dos chafrasresponsáveis e <strong>de</strong>u no pé. Ressalte-seque o caveira em miniatura estava enjauladoporque um certo dr. Paranhos foigrampeá-lo nos aprazíveis mocós paraguaios.Mas, mesmo in galleran, o tal caveirinhaaprontava das suas. Bem guardado -removido do hotel do seu Gue<strong>de</strong>s para atemível Penita - ele continuava transandoseus boxixos, principalmente aquelesrelacionados com a moçada <strong>de</strong> suacurriola (em liberda<strong>de</strong>) que adora<strong>de</strong>brucar-se sobre o artigo 15/ do cardápioinfracional. o qual os doutos preferemchamar <strong>de</strong> Código Penal. Nessastransas, todas, cruzou um data vênia,que entrou ffcmbém para o gang caveiral.Sim senhores: um cara <strong>de</strong> anel noanular, um a<strong>de</strong>vo. O tal data vênia andoucom a patota num escruncho ao LagoAzul, ajudou a escarafunchar um monte<strong>de</strong> lanças e...Bem, e daí os sherlockes que habitamaquele largo com nome <strong>de</strong> Osório passarama ficar <strong>de</strong> butuca em cima da patota -numa espécie <strong>de</strong> free-lancer, pois suasativida<strong>de</strong>s normais - represália aos ditoscontestadores - andam numa maré mansa.O tal a<strong>de</strong>vo se chama Radion. Sabendoque po<strong>de</strong>ria dançar, Radion procurou,muito malandramente, sensibilizara Or<strong>de</strong>m dos A<strong>de</strong>vos, os Capas Pretas,seus colegas datas vênias, os escribas.Fuça daqui, fuça dali, apurou-se que oa<strong>de</strong>vo. é, <strong>de</strong> fato, um tremendo truta,uma peça que não po<strong>de</strong>ria reclamarmuito porque aprontara pacas. Radionanda pirado, mas vai entrar e puxar corda.Quanto ao tal Caveira, andou mocozado,segundo consta, pelos morroscariocas. A justa anda em cima <strong>de</strong>le, comtudo. Se o jovem vacilar, vai ficar maisfurado que peneira. Aguar<strong>de</strong>mos.Oue colher <strong>de</strong> chá! - Chain, aqueleKild are manjado por ser fabricante <strong>de</strong>anjinhos, tem merecido umas estranhascolheres <strong>de</strong> chá do Palácio <strong>de</strong> Tênis. Apeça, que puxa várias cordas abortíferas,choramingou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um flagra e foicurtir uma "cana especial" no seu própriopronto-socorro. Nesse mesmolugar o dr. Chain entrou noutro flagra,também por duplo aborto. Agora estáflanando <strong>de</strong> novo, porque um capa pretafoi na conversa mole <strong>de</strong>le: precisa cuidar,ele mesmo, da sua santa mãezinhaporque São Pedro estaria ameaçando apiedosa velha com um tremendo cartãovermelho. É, abonado não puxa cordamesmo...Percival <strong>de</strong> SouzaA Bicharada VaiSer HonestaQuandoFor Da BichobrásO Jogo do Bicho tem inúmeras e indiscutíveisvantagens sobre outros jogos <strong>de</strong>azar: a frau<strong>de</strong> é totalmente impossível;não estraga a saú<strong>de</strong> nem faz per<strong>de</strong>r noitesfora do lar; é indicado por alguns psiquiatras(como o mineiro Oswaldo Fortini)como ótimo recurso <strong>de</strong> terapêuticaeducacional para certos neuróticos oupsicopatas: é um jogo no qual se po<strong>de</strong>ganhar milhões num só golpe, com umrisco insignificante; é o único jogo bancadoque po<strong>de</strong> ser rigorosamente controladoou fiscalizado pelo Estado. (Sendoregulamentado).Dentro <strong>de</strong> 30 anos teríamos no Brasil,com suas gran<strong>de</strong>s indústrias, suas riquezasimensas, sua lavoura prodigiosa, umnovo povo com outra mentalida<strong>de</strong>, educadopara outros planos e outros sonhose. i<strong>de</strong>ais. E a massa popular (formadapelos meninos que hoje têm 10 ou 12anos) não pensará mais no Bicho comoum jogo clan<strong>de</strong>stino.Extraído <strong>de</strong> O Jogo do Bicho A Luz DaMatemática, <strong>de</strong> Malba Tahan (Júlio César <strong>de</strong>Mello e Souza, 1895 - 1974, matemático eescritor).GAVETA LITERÁRIAO VotoHoje é dia <strong>de</strong> eleição. Acor<strong>de</strong>i, meusolhos sonolentos procuraram o relógio,estava na hora. Poucos minutos fiqueiem casa, nem sequer tomei meu café damanhã. O tempo vai se escoando rapidamente,tenho medo <strong>de</strong> atrasar, per<strong>de</strong>r aseleições, <strong>de</strong>pois vou ter que apresentarjustificativas, etc.Um táxi leva-me ao distrito eleitoral,on<strong>de</strong> já encontro milhares <strong>de</strong> pessoasansiosas, sequiosas <strong>de</strong> escolher alguémou qualquer coisa. Eu fiz minha escolhahá muito tempo, por isso também estouansioso e sequioso, pergunto ao guardaon<strong>de</strong> fica a cabine, ele não sabe inforrrmr.Perdi muito tempo até <strong>de</strong>scobri-la,é a sala 21.Um rapaz com aparência displicenteme recebe, carimba um papel que lheapresento, parece-me que ele nemolhou se era meu título <strong>de</strong> eleitor ou umbilhete <strong>de</strong> loteria. A cabine está aqui áminha frente, finalmente vou cumprir omeu <strong>de</strong>ver. Entro com calma, endireitoos ombros e então <strong>de</strong>ito-me na urna.José Roberto Negrões da NaveAtenção inéditos: não estamos jogandofora nenhum original que nos chega.Estamos pensando em editar uma gavetaliterária Extra!


EX-15saladaCUIDE COM INTENSO AMOR PE ALGUÉM DO OUTRO SEXO.Se o BrasilNão Me Curte,DescurtoSérgio Ricardo, 43 anos, vai emborapara os Estados Unidos. A culpa é dapopularida<strong>de</strong>, que não vem na medidaem que ele <strong>de</strong>seja. Recentemente, tentoudar mais uma oportunida<strong>de</strong> ao Brasil,apresentando um show e seu últimofilme - A noite do Espantalho - no TUCA(SP). Antes, disse para o Ex:FALA OPOVOQuem Ganha ComHora Extra?Nós Não Somos."O trabalho em turnos (divisão das 24horas do dia em diferentes equipes <strong>de</strong>trabalho) tem aspectos positivos. Porém,é <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar o aspecto negativo - dolado dos trabalhadores. Por exemplo,tem empresas que mantêm turmas trabalhandodas 14 às 22 numa semana, das22 às 6 na outra semana, <strong>de</strong>pois a mesmaturma das 6 às 14 hs. na seguinte e assimpor diante."Quem trabalha 1 semana <strong>de</strong> manhã, 1semana à tar<strong>de</strong> e 1 semana <strong>de</strong> madrugada,em primeiro lugar fica impossibilitado<strong>de</strong> compor sua vida familiar e estácon<strong>de</strong>nado a não po<strong>de</strong>r estudar - porquenão há nenhuma coincidência dorevezamento <strong>de</strong> horários <strong>de</strong> trabalhocomo os da escola."É bom que se diga que hoje, noaspecto trabalhista, é muito difícil sabero que é legal ou ilegal. A nossa lei, além<strong>de</strong> permitir um sem número <strong>de</strong> interpretações,é <strong>de</strong> 1943, já está muito ultrapassadapara os gran<strong>de</strong>s centros industriais.A lei abre uma exceção para a hora extra,no máximo <strong>de</strong> duas por dia, quando hánecessida<strong>de</strong> relevante <strong>de</strong> serviço oumotivos <strong>de</strong> força maior. Mas não hánenhuma <strong>de</strong>finição do que é a necessida<strong>de</strong>relevante. Então a empresa, naturalmente,abusa. O elemento sai dafábrica realmente arrebentado, atrofiadoe sem condições físicas."Tem que <strong>de</strong>ixar bem claro que,sobretudo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1965, quandoentrou em vigor a política salarial, a cadaano que passa, o salário vem sofrendouma redução brutal diante do custo <strong>de</strong>vida. A hora-extra passou a ser para o trabalhadoruma complementação salarial.Mas <strong>de</strong>sgraçadamente, esta "complementaçãosalarial" é uma forma <strong>de</strong> enganaro trabalhador. Quando há uma situaçãonormal na economia, os trabalhadoressão submetidos, inclusive <strong>de</strong> formacoatora, a um trabalho extraordinário.Eles se adaptam ao acréscimo salarial epassam a programar sua vida com basenas horas trabalhadas mais as horasextras.Quando surge qualquer coisanegativa no mercado, o que acontece?As empresas reduzem as horas-extras.Basta dizer que na industria automobilísticadificilmente o trabalhador é <strong>de</strong>mitidoe recebe dinheiro <strong>de</strong> empresa. Issoporque todos eles fazem compras e têmdiviaas na coooerativa da indústria."O trabalhador fica totalmente à mercêdo patronato. Na indústria automobilísticaos contratos <strong>de</strong> emprego já colocamcomo condição fechada (só se põeuma cruzinha <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um quadradinho)se se aceita trabalhar nos horáriosque existem na empresa, bem como emoutros que po<strong>de</strong>rão ser criados. Costumamosdizer no Sindicato que tal contrato<strong>de</strong> trabalho é um verda<strong>de</strong>iro atestado<strong>de</strong> óbito assinado pelo trabalhador."Paulo Vidal, 33 anos, nascido em Mogi dasCruzes, SP, metalúrgico da Mollins do Brasil(São Bernardo), ex-presi<strong>de</strong>nte do Sindicatodos Metalúrgicos <strong>de</strong> São Bernardo do Campo<strong>de</strong> 69 a 74, atual secretário da presidência.Se a coisa não acontecer em São Paulo,vou para Nova Iorque ver se lá ninguémtá a fim <strong>de</strong> me ver. Se ninguém tiver, nãotem problema, não vou ficar todo o tempoprocurando público. Para mim po<strong>de</strong>significar simplesmente o reflexo <strong>de</strong>nossa realida<strong>de</strong>. Ou seja: ele não estáinformado o suficiente para saber o querepresento ou não. Ou então está informadoe me dizendo que não representonada. Agora, que o público está <strong>de</strong>sinformadoa meu respeito, está; não estávivenciando o meu trabalho, ouvindo,tocando meu disco, porque não sabeque o disco existe. As fábricas dizem quenão tem na loja e na loja dizem que nãotem na fábrica.- Estou sendo recusado em algumasestações <strong>de</strong> rádio. O Projeto Minervatirou toda a minha parte da História daBossa-Nova que apresentou. Disseramque não podia tocar meu nome. Querdizer, não está po<strong>de</strong>ndo contar com umdado histórico: "fulano pertenceu a estemovimento..."O show do TUCA acabou não acontecendomesmo. Foi apenas mais um episódioda briga <strong>de</strong> Sérgio Ricardo paraampliar seu público, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que trocou amúsica clássica pela popular. Em 1967,jogou o violão sobre o publico que não o<strong>de</strong>ixava cantar seu Beto Bom <strong>de</strong> Bola,num dos festivais da TV Record. Aí chegourealmente ao povo, através da famosamanchete do <strong>jornal</strong> carioca "A Luta" -Violada No Auditório.Mesmo no tempo da bossa-nova,quando barquinhos iam e vinham semparar, em dias <strong>de</strong> luz e festa <strong>de</strong> sol, SérgioRicardo pensava em temas populares efez Zelão - "Todo morro enten<strong>de</strong>uquando Zelão chorou...". E pegou a chamadamúsica <strong>de</strong> protesto logo no começo,junto com a efervescência políticados anos 60.Depois <strong>de</strong> Beto Bom <strong>de</strong> Bola, <strong>de</strong> maisalguns festivais, fez também um show noTeatro <strong>de</strong> Arena (SP), dirigido porAugusto Boal - Sérgio Ricardo na Praçado Povo - e passou a musicar seus filmes:Juliana do Amor Perdido (Festival <strong>de</strong>Berlim) e Noite do Espantalho ( Festival<strong>de</strong> Cannes e Nova York), título <strong>de</strong> 1 dos 4discos gue lançou nesse tempo. Osoutros sao Calabouço e Conversação <strong>de</strong>Paz e Gran<strong>de</strong> Música.A 1' edição <strong>de</strong> Malagueta, do escritorJoão Antonio, é <strong>de</strong> 1963. Relançado hámenos <strong>de</strong> 2 meses, o livro já chega à 3*edição, com tiragem <strong>de</strong> 4 mfl exemplarese custo <strong>de</strong> Cr$ 25,00 (segundo Veja da últimasemana <strong>de</strong> setembro, Malaguetaestava em 4? lugar entre os livros nacionais).Dia 26/9, João <strong>de</strong>u Noite <strong>de</strong> Autógrafono Ex, lançando Leão <strong>de</strong> Chácara erelançando Malagueta em São Paulo.On<strong>de</strong> NelsonGonçalves é GaloProponho seja registrado em nome daor<strong>de</strong>m dos costumes e dos maus comportamentos,nas vizinhanças da loucura,e da dor feérica, o vocabulário da escrota,sublime, <strong>de</strong>sarrumada e coerenteNairlândia, PR (a maior zona do Brasil - v.Ex-14):Nelson Gonçalves - Galo.Cano <strong>de</strong> botas - Macarrão 'Festar - Alegrar-se, farrear, cair nagandaia.Pra lá <strong>de</strong> Bagdá - Muito doido, à vonta<strong>de</strong>,(botar) pra quebrar: <strong>de</strong>ixar cair.Pirogenar - Entrar em órbita via umbarato.Marofa, jascu - Maconha, erva, chá.Alarica - Crise <strong>de</strong> fome canina advinda<strong>de</strong> uma maconhagem.Preto - Tratamento afetivo da prostitutacom seu homem, amigo, gigolô; maisque benzinho ou querido ou amor.Bailarina - Prostituta (as mulheres <strong>de</strong>Nairlândia são fichadas na polícia <strong>de</strong>Apucarana como bailarinas).Trato - Cuidados amorosos intensoscom alguém do outro sexo.Talento - Paciência hábil, persistência.Dar um tombo no loiro - pentear-se(dito principalmente por crioulos, mulatose donos e donas <strong>de</strong> carapinhas).João Antônio


salada ..MALDIÇÃO! NOSSOCINEMA ÉNANICOE SEM DINHEIROREVI5TA c-HçtA Oe HUMOR.E QWPRiMHQScompicmcnTOi<strong>jornal</strong> da cida<strong>de</strong>VASCONCELOS SOBRINHOftOVESTE:mrêpre$& :oe, SÍOnSOLUÇillPARUENCHENTES % ' „A HISTÓRIA £ A GLÓRIA9 É i £ iuLULtui^t^eeL L ^ L L U LttWTANTESYESDO RECIFE " 4 vBARRETO JÚNIOR, entrevistaCARLOS PENA FILHO, memóriaLEIA0 m CULTURAL ^Duas cenas com Analu Prestes, do filme i A$$untina das Améric \s, <strong>de</strong> Rosenberg.Parece UmaEsquina Perigosa:é Um DesastreAtrás Do Outro!livros a literatura brasileira é um <strong>de</strong>sastre.Fora uma ou outra peça, o teatro brasileiroé um <strong>de</strong>sastre.Rosenberg - Luiz Antonio, você achaque a televisão como veículo <strong>de</strong> comunicação<strong>de</strong> massa po<strong>de</strong>ria atingir osobjetivos <strong>de</strong> um teatro científico comoqueria Brecht?Luiz Antonio - Que Loucura, Rosen-Os problemas do cinema nanico sao berei Você enlouqueceu. Teatro não seos mesmos do teatro, ou da literatura, a p r e n d e na escola! Hoje quem faz escoladiz o cineasta Luiz Rosenberg Filho-que teatro é pra trabalhar na Globo. Teaalgunschamam <strong>de</strong> maldito, mas ele não tro se apren<strong>de</strong> no teatro!gosta. Rosenberg é o autor <strong>de</strong> Jardim das André Luiz - O cinema brasileiro temEspumas, inédito há mais <strong>de</strong> 5 anos para ^oie seu pjor momento. Não vejo saída:o público. "Para po<strong>de</strong>r exibir Affuntina sei} futUro é a burocracia oficial. Eu, pordas Américas, meu colorido, tenho <strong>de</strong> exemp|o tinha 2 opções: pornochanpagar53 mil que <strong>de</strong>vo à EmbrafUme, "diz chacja ou clássico da literatura. Precisavae/e. Além disso, todos os filmes anterio- je dinheiro pra sobreviver, continuarres <strong>de</strong> Rosenberg são em 16 mm, bitola meu trabalho. O livro <strong>de</strong> Alencar (Ubiraignoradapelo esquema cinematográfico :ara e 0 senhor Da Lança) foge um poucocomerciai dos 35 mm. ja rea|jda<strong>de</strong> do índio brasileiro, mas não- André Luiz <strong>de</strong> Oliveira, que fezMeteorango Kid em 1970, só agora terminouo 2 Ç longa-metragem, baseadoem José <strong>de</strong> Alencar. E está na fila paraexibir. (E já ganhou prêmio em Brasília eestá convidado para o Festival <strong>de</strong> Teerã).Maria do Rosário acaba <strong>de</strong> fazer o alonga,Kirk Douglas, Meu Pai. Tambémespera cinema para exibir.No teatro, diz Rosenberg, Luiz AntonioMartinez Corrêa, do Grupo Pão eCirco, um <strong>de</strong>sdobramento do Oficina(<strong>de</strong> seu irmão Zé Celso), está com casa eprodução pagas pelo empresário GuilhermeAraújo para montar Simbad, oMarujo. Rosenberg entrevistou AndréLuiz, Luiz Antônio e Maria do Rosário,separadamente. E o diálogo foi montadopor Alex Solnik.Rosenberg - O que é hoje dar umaentrevista, sendo um cineasta maldito?Não çosto nada <strong>de</strong>ssa terminologia. Malditoe o dinheiro, maldita é a Globo! Noinício a <strong>imprensa</strong> <strong>de</strong>u algum apoio aofilho que nascia do ventre apodrecido dachanchada. Mas o filho cresceu, horrorizou-secom a realida<strong>de</strong> (Vidas Secas,Deus e o Diabo, Os Fuzis); foi ao <strong>de</strong>lírio(Terra em Transe, Viagem ao Fim doMundo, Cabeças Cortadas); chegou àloucura (Bang-Bang, Tristes Tropicos,Matou a Família e Foi ao Cinema); e voltacom uma puta consciência da realida<strong>de</strong>(O Rei da Vela, Guerra Conjugai, Uirá).Maria do Rosário - Pornochanchada?Quem quiser que as faça. Eu sou contra eestou em outra.André Luiz - Fora 3 ou 4 filmes o cinemabrasileiro é um <strong>de</strong>sastre^ Fora 2 ou 3me fixei no Alencar, procurei outras fontes,bebi e fiz meu indio com atoresbrancos.Maria do Rosário - Fui, sou e sereisempre uma atriz. Não tenho porquenegar. Chego à direção como a escravaque se liberta ao assumir os medos e asvitórias. Toda mulher consciente é feminista.Contra o <strong>de</strong>samor, contra censura,contra a direção patronal. Eu quis fazerum filme <strong>de</strong>sreprimido, livree totalmenteaberto.Luiz Antônio - Que papel tem <strong>de</strong>sempenhadoo teatroria modificação da vidabrasileira? O teatro dança conforme amúsica. O melhor espetáculo que já vifoi Tudo Na Cama, com Dercy Gonçalves.O melhor espetáculo que já fiz foi OCasamento do Pequeno Burguês emNova Iguaçu. O dúdIico <strong>de</strong>lirou.André Luiz - Quero brigar pelo gran<strong>de</strong>público, humilhado pela violência dosfilmes estrangeiros, condicionado pelai<strong>de</strong>ologia do Gran<strong>de</strong> Espetáculo Voltadopara o Nada. Este público que há 10 anosvem sendo massacrado pelas chanchadaseróticas.Rosenberg - Tá todo mundo comprometido<strong>de</strong> corpo e alma com o capitalestrangeiro. E com mo<strong>de</strong>los estrangeiros.Como temos bons imitadores, emnome disso se está criando a indústriacinematográfica segundo Goebbles.Luiz Antonio - Nao foi a televisão queacabou com o teatro e o cinema. A nossatelevisão é um retrato do país a cores eao vivo.Maria do Rosário - Nosso país é umcontinente <strong>de</strong> contradições. Meu filmecorre em 3 paralelas distintas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>FOTO: CLÁUDIO EDINGERum sistema opressivo. Meus personagensse fortalecem com a marginalida<strong>de</strong>e se unem na procura <strong>de</strong>sesperada <strong>de</strong>um mundo melhor.André Luiz - Tento com Ubirajara <strong>de</strong>spertarconsciência para integração donomem com seu universo primitivo, sópra ele. perceber que a vida não está noseu apartamentinno diante <strong>de</strong> uma tv.Maria do Rosário - Meu filme são marginaisfilmando outros. Não que sejamosmarginais, mas esta nossa profissão ésempre um estado não consi<strong>de</strong>rado oficialmente.Luiz Antonio - Hoje como ontem,quem faz teatro não tem profissão. Nósnão temos profissão!Rosenberg - O cinema in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntese bateu sempre contra a importação domo<strong>de</strong>lo industrial americano. O povo sósç i<strong>de</strong>ntifica com as anomalias cinematográficaspresentes porque está completamenteentorpecido pelo álcool, pelamiskéria, pela religião, pelo Nada.André Luiz - O homem primitivo viviamelhor, era mais feliz e por isso foi sendoeliminado, vi<strong>de</strong> Darcy Ribeiro. Euqueria transformar Ubirajara num cântico<strong>de</strong> prazer e vida, mas lá chegamossem dinheiro e o filme foi feito semdinheiro. O que é assinar um pacto coma loucura.Maria do Rosário - Vendi um roteiro(Pequenas Taras) para Kiko SeverianoRibeiro (Lqiz Severiano Ribeiro é donoda meta<strong>de</strong> dos cinemas do Brasil - N.R.)para fazer Kirk Douglas, Meu Pai. Pu<strong>de</strong>trabalhar com tranqüilida<strong>de</strong>.Luiz Antonio - Ainda não montarmos apeça Titus Andronicus (Shakespeare) emSão Paulo porque não havia dinheiropara sustentar 15 atores <strong>de</strong> junho (fim datemporada no Rio) a agosto (data paraestrear em São Paulo).Maria do Rosário - O nosso principalinimigo é a censura, que tenta <strong>de</strong>struir osúltimos momentos <strong>de</strong> resistência donosso cinema, da nossa vida, do nossoprazer.Luiz Antonio - Os verda<strong>de</strong>iros heróisda classe são os caras do teatro rebolado.Para eles epara nós o show precisa cotinuarmas eles são muito mais resistentes,eles não são paternalizados por ninguém.E nós ainda somos.Maria do Rosário - O estado <strong>de</strong> prazertá sendo tão batalhado hoje quanto acomida.Luiz Rosenberg Filho


EX-15 salada11ARTISTA DO PARANÁ DIZ QUE SAÍDA £ VOLTAR PRO MATOO primeiro <strong>jornal</strong> espírita no Brasil foi"Eco D'Além Túmulo": Salvador, 1869.De lá pra cá, todos os folhetos, revistasou pequenos jornais editados pelasfe<strong>de</strong>rações e centros espíritas circulavamsó no meio espírita.2 jornais da <strong>imprensa</strong> leiga - que écomo os espíritas batizaram a <strong>imprensa</strong>não-espírita - já tinham colunas assinadaspor espíritas sobre assuntos da doutrina(J. Herculano Pires no Diário <strong>de</strong> SP eValentino Lorenzetti na Folha <strong>de</strong> SP)quando em abril <strong>de</strong> 1974 apareceu aFolha Espírita - 10 páginas, ) 2,00, distribuiçãonacional, editada pelo <strong>de</strong>putadoFreitas Nobre(MDB, São Paulo) e disvinculada<strong>de</strong> qualquer centro espírita.A Folha circulou sozinha até fevereiro<strong>de</strong> 1975. Nesse mês nasceu Mensagem -tablói<strong>de</strong>, 16 páginas, $ 3,00 - editado porj. Herculano Pires e vinculado ao GrupoEspírita Cairbal Schutel.Em julho <strong>de</strong> 75 sai o Jornal Espírita (12páginas, $ 2) e surpreen<strong>de</strong>: tem a mesmapaginação do Jornal da Tar<strong>de</strong>(SP).- A aiagramação do Jornal da Tar<strong>de</strong>nasceu <strong>de</strong> um grupo do qual eu particim<strong>jornal</strong> espírita E3" «««ao^UTUftO.fcNmmòofl») *• •-• •- - • •COMUNICAÇÕES DEJ U MOZART E CHOPIN(j#Bio* pronunciam-se »obr< a múucsnasüttiProtótipo espacialexecutado na TerraçA (m Intntiióni dc rubianoi cnyiik «m V Puniu. Página ml RELIGIÕES: ESPIRITISMO E UMBANDAIfcNNriM Esjwt* « dl Krlhci»


12 saladaEX-15BANANAS DOCARIBEEUFORICAS: YES,NÔS TEMOS OPEP!Matou o Pai,a Mãe, a Avóe o Irmão!0 DIFÍCIL ESTAGIOvisão <strong>de</strong>mitedfretor sindicalEaiei?Oretrata<strong>de</strong> uma época danotícia policiaiA htta pam mvpemr o soUrío(t"ft&toÓrgão Oficial do Sindicato <strong>de</strong> JornalistasProfissionais <strong>de</strong> São Paulovx âtMV Oí iíij' jm esWWÊCEJt: Tm M ESCâim < i&c06 («Trffssrt» mmçp.xJornal do DCE da Fundação Universida<strong>de</strong>Estadual <strong>de</strong> londrinaOficina samba *Da Comunida<strong>de</strong> Oficina Samba, Lisboa- O que me levou a <strong>de</strong>cidir matar meupai e meu irmão foram todos os meusanos <strong>de</strong> raiva e ódio. Meu pai sempremandava. Emprestei o carro a Rui, meuoutro irmão, e cheguei em casa a pé.Estava sem a chave. Bati na porta, meupai abriu e perguntou pelo carro. Eu quisencobrir Rui e disse que o carro estavacom <strong>de</strong>feito e que o tinha <strong>de</strong>ixado emcasa <strong>de</strong> Vera Lúcia, minha namorada. Elemandou que fosse buscar para que não oroubassem. 'A noite estava auente.Fiquei perto <strong>de</strong> casa esperando Rui.Minha raiva ia crescendo. Meu pai podiatudo, dispunha <strong>de</strong> todos nós. Eu odiavaisto. E José dormia lá <strong>de</strong>ntro com suasdrogas e sono porque tinha piorado.Quando Rui chegou, pedi a chave dacasa e man<strong>de</strong>i que ele fosse dar uma volta.Eu já Sabia que tinha que matar.- Uni <strong>de</strong>lírio, um transe <strong>de</strong>struidor mepossuiu, matei, todos, até minha mãe eeu não queria. As armas aue eu tinha namão eram instrumentos ae um brinquedohorrível. Vi que era pra valer e já nãopodia matar. Matei os 4, José foi o último.Pensei que todos iam acreditar quefoi José quem matou os outros e se suicidou.Ele não era doente? Podiam teracreditado nisso sempre.- Eu odiava meu pai por que ele medava tudo o que achava que <strong>de</strong>via dar,mas eu não era livre, ele cumpria as obrigaçõesque tinha e cobrava um preçomuito alto; não me <strong>de</strong>ixava ganhar efazer minha vida. Não acertei o caminhoda fuga, fiquei em casa com meu conforto,minhas roupas; era seguro. Meu paiprometeu comprar uma fazenda paramim (<strong>de</strong>pois que me proibiu <strong>de</strong> estudaragronomia), comprou mas pôs no nome<strong>de</strong> todos os filhos. Gastei na fazenda eele não me in<strong>de</strong>nizou. Um dia me vi trabalhandono balcão da loja da firma dafamília. Eu não queria isso. Meu pai prometeucomissão <strong>de</strong> 2 por cento sobre asvendas. Eu vinha recebendo meta<strong>de</strong>,mesmo assim para pagar a dívida <strong>de</strong> umcarro* a minha avó.Marcedino Souto Maia Neto tinha 19quando matou 3 gerações <strong>de</strong> sua famíliaa tiros <strong>de</strong> Winchester 44 e Taurus 38, em1970. Preso há 5 anos na PenitenciáriaLemos <strong>de</strong> Brito, Salvador, on<strong>de</strong> começoua pintar, foi julgado aia 7 <strong>de</strong> agostoultimo (dia em que o campeonato baiano<strong>de</strong> futebol ia ser <strong>de</strong>cidido no jogomais concorrido na Bahia, O Ba-Vi, Bahiax Vitória).O julgamento durou 13 horas e foitransmitida'pelo rádio como se fosse umjogo <strong>de</strong> futebol. A "família baiana",como costuma berrar no microfoneeoradialista França Teixeira, responsávelpela mais bem sucedida resenha esportivabaiana, estava comovida e atenta aoresultado. Levada pelo tipo <strong>de</strong> <strong>jornal</strong>is-FOTO: AGLIBERTO CUNHA LIMAmo que faz, a chamada <strong>imprensa</strong> antecipou-seà Justiça. Na véspera do julgamentoo programa <strong>de</strong> França Teixeirapôs mais sangue na chacina, aos berrosdo protagonista; A Tar<strong>de</strong>, <strong>jornal</strong> <strong>de</strong>maior circulação em Salvador, publicouuma <strong>foto</strong> do irmão <strong>de</strong> Marcelino banhadoem sangue.Mais uma vez, com os gestos teatraisque são peculiares aos homens da Justiça,a noite do crime foi <strong>de</strong>talhada, agoradiante dos 7 homens do júri e 400 pessoasda platéia: 3 bancários^ 2 funcionáriospúblicos, 1 universitário e 1 representantecomercial estavam bem barbeadose com caras <strong>de</strong> patetas diante <strong>de</strong>uma tarefa difícil e surpreen<strong>de</strong>nte.Apenas 1 hora após a con<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>Marcelino (31 anos que po<strong>de</strong>rão cairpara 10, vitória da <strong>de</strong>fesa por 5x2, insanida<strong>de</strong>mental do réu na época do crime)os torcedores do Bahia comemoravam aconquista do campeonato: 5 anos <strong>de</strong>espera do julgamento foram esquecidosnuma noite <strong>de</strong> carnaval esportivo.Mestre DeCerâmicase Dizedor DeFrasesCândido Santos Xavier, ou simplesmenteCândido, filho <strong>de</strong> Ogun, analfabeto,44 anos, é um preto velho quehabita uma casinha <strong>de</strong> chão batido naLa<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Mané Vitória, em Cachoeira(BA).Conhece o Candomblé a fundo e falaNagô muito bem. Cândido adora cantarpontos <strong>de</strong> Oxóssi e lansã, bebe semprecachaça pura e costuma trocarseu trabalhopor coisas, temperos e comida.Sua vida simples seria o bastantepara torná-lo uma figura admirável. Masnão é ela, e sim seu.trabalho que o fezconhecido no Brasil, Alemanha, Portugale Estados Unidos.Cândido constituiu-se numa dasraras exceções da Bahia no campo dacerâmica. Seu Estudante, figurava comum livro, sentada à beira <strong>de</strong> uma árvorecheia <strong>de</strong> frutos, com uma pomba emcima, os Exus, pretos cor <strong>de</strong> carvão, comobscenas línguas vermelhas, o Boi Pretoou Castanho, o Vaqueiro a Cavalo, trabalhadoscom tintas baratas (cores prediletas:amarelo, azul, preto e branco), sãoconhecidos mundialmente.Sua cerâmica é produzida combarro apanhado quase no quintal <strong>de</strong>casa. Pés no chão. pés grossos <strong>de</strong> preto,mãos no barro molhado a mo<strong>de</strong>lar, eleusa um sistema <strong>de</strong> encaixes para dar formaàs figuras: valendo-se <strong>de</strong> orifícios,penetra hastes na base <strong>de</strong> uma figura,introduzindo-a até a seguinte.Filho <strong>de</strong> Francisco <strong>de</strong> Paula Xavier -Chico <strong>de</strong> Babá - antigo e famoso Pai-<strong>de</strong>-Santo do terreiro <strong>de</strong> Ventura, Cândidotambém é exelente dizedor <strong>de</strong> frases:- Cândido Santos Xavier, um criadoàs suas or<strong>de</strong>ns... Q boi pelas pontas, ohomem pelas palavras.- Você encontra Cândido; anda éassim <strong>de</strong> qualquer jeito. Mas não queroandar grãnfino com o seu suor nem dosoutros.- Cada qual, se gosta.<strong>de</strong> macumba,do candomblé, s'é da seita não saia, porquese sair se campa.Serviço: sua cerâmica está a vendano restaurante "A Cabana do PaiTomás", em Cachoeira.A United FruitEscorregouNa CascaAté 1970. Eli Black era dono <strong>de</strong> umapo<strong>de</strong>rosa ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> frigoríficos nos EstadosUnidos. Aí resolveu entrar numnovo negócio: banana. Comprou o controleda United Fruit Co. e trocou onome para UNited Brands Co. Mas,como se diz, escorregou na casca.Ao fechar negócio, Black disse queia recuperar, "a qualquer custo", oterreno quea United Fruit tinha perdidopara a Standard Fruit Co. Claro, o custoque ele imaginava era uma exploraçãoainda maior dos produtores latinoamericanos,e não seu suicídio em fevereiro<strong>de</strong>ste ano - um salto da janela <strong>de</strong>seu escritório num prédio <strong>de</strong> Nova York.Além <strong>de</strong> suas próprias trapalhadas, misterBlack não contava com outros fatos:- Criação, a 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1974, da União dos Países Exportadores<strong>de</strong> Bananas - UPEB - que preten<strong>de</strong> seruma espécie <strong>de</strong> OPEP das bananas, sob ali<strong>de</strong>rança do Panamá, e englobando ospaíses que aquelas companhias, ao longo<strong>de</strong> 75 anos <strong>de</strong> exploração, transfor-


EX-15 salada13DA BAHIA: 4 MORTOS E 2 ARTISTAS. (POR GUSTAVO FALCÓN)O ex-presi<strong>de</strong>nte Sukarno (com Juscelino na<strong>foto</strong> <strong>de</strong> 1959, quando veio ao Brasil) foi golpeadoem 1965. Suharto, o golpista, acusou o PC <strong>de</strong>tentar um contragolpe e matou 1 milhão <strong>de</strong>seus militantes e simpatizantes.ILUSTRAÇÃO DE SPINOLAmaram em "republiquetas das bananas":Costa Rica, Honduras, Guatemala,Nicaragua, Equador e Colômbia.- Um escândalo: a <strong>imprensa</strong> <strong>de</strong>scobree <strong>de</strong>nuncia que a United Brandstinha subornado um alto funcionáriohondurenho para que baixasse o impostosobre a exportação do produto. Coma revelação ao escândalo, Black suicidou-see o presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Honduras,general López Arellano, foi <strong>de</strong>stituídoem fins <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 75.- Na guerra contra a Standard, mr.Black foi incompetente, teve prejuízosenormes com a United Brands, mas nãocom a banana, que representava 29%da produção da companhia e contribuíacom 80% dos lucros. A Standard, aproveitandonovos mercados, cresceu 54%em menos <strong>de</strong> 5 anos.Mas, em toda essa guerra, quem saiuper<strong>de</strong>ndo mais foram os países produtores.A Brands <strong>de</strong> mr. Black - para enfrentarsua competidora - não pagou umcentavo <strong>de</strong> imposto durante 4 anos em.nenhum país; e, no Panamá, dos 27 produtoresnacionais sobraram apenas 14.Mas isso acabou iniciando uma outraguerra, <strong>de</strong>sta vez entre os produtores eas companhias. O Panamá tomou a iniciativa.Seu ministro da Economia, FernandoManfredo, conta:- Todos os países estavam sofrendoo mesmo <strong>de</strong>sequilíbrio em suas balanças<strong>de</strong> pagamentos. Iniciamos, então, ummovimento <strong>de</strong> integração, o primeiro asurgir nessas bandas. A maioria dos paísesreconhecia que era tempo <strong>de</strong> assumiro controle da exploração do produto:75 anos é <strong>de</strong>mais!Os 75 anos <strong>de</strong> exploração começamquando 3 norte-americanos se unempara fundar a United Fruit Co., com capitalinicial <strong>de</strong> U$,20 milhões. Foi triânguloperfei to: o capitão Lorenzo Dew Bakertinha uma empresa que transportavabanana da Jamaica para Boston; em Boston,Andrew Preston tinha outra firmapara distribuir a banana trazida porBaker; e Minor Keith era dono das ferroviasao longo das plantações <strong>de</strong> bananasna Costa Rica, Panamá, Nicaragua eColombia. Com a fusão ficaram os 3americanos ficaram com 112 milhas <strong>de</strong>ferrovias e 86 mil hectares <strong>de</strong> terra. Meioséculo <strong>de</strong>pois, em 1954, a United Fruit jádominava 700 mil hectares (um décimodo território panamenho). A StandardFruit surgiu <strong>de</strong>pois.Acostumadas a mandar tanto temponesses países, as duas multinacionaisforam apanhadas <strong>de</strong> surpresas em março<strong>de</strong> 74: os ministros da Economia dos paísesexportadores se reuniram e criaramum imposto à exportação^A UPEBsurgiulogo <strong>de</strong>pois. A reação, no entanto, foiimediata: o Equador não aguentou aspressões da Standard e saiu fora da UPEB.A companhia pressionou também Hondurase Costa Rica.Aí o general Omar Torrijos pegou os2 milhões <strong>de</strong> dólares em impostos que oPanamá tinha cobrado das companhias edividiu entre a Costa Rica e Honduras.Explicação <strong>de</strong> Torrijos: "Não po<strong>de</strong>mosusar esse dinheiro sabendo que há trabalhadorescom problemas por causa <strong>de</strong>uma ação iniciada por nós". As companhiasacabaram conseguindo que os 2países baixassem o imposto para 25 centavosa caixa; a Guatemala não chegou afixar um imposto mesmo apoiando aUPEB; a Colômbia ficou firme, masé umexportador sem expressão.Mas não <strong>de</strong>ram resultado as pressões sobre o Panamá. Durante 6 semanas,a United Fruit parou tudo e nãoexportou nada. Isso acabou fortalecendoa posição do país. Os 17 mil trabalhadoresatingidos receberam contribuiçõesda população. E, baseado nesseapoio, o governo advertiu: ninguémpodia ser <strong>de</strong>mitido sem autorizaçao doministério.Outras exigências: a companhiatinha que pagar todos os saláriosdos dias em que não exportou e, seresolvesse parar suas operações, <strong>de</strong>viapagar 1 dólar por caixa exportável.Quando reiniciou as ativida<strong>de</strong>s, a companhiapagou tudo. E os jornais saíramcom essa mpnchete: "Cumpram e fora!"Há 5 meses o governo panamenhodiscute com a United Brands num climatenso, mas <strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>nte igualda<strong>de</strong>.Para que sua banana seja mais competitiva,o Panamá fixou um imposto <strong>de</strong> 35centavos por caixa. A companhia concordouem sair do Panamá em 1977.Antes disso o governo po<strong>de</strong> comprar asplantações quando quiser, com avisoprévio <strong>de</strong> 90 dias. No momento estáavaliando o ativo da companhia parafixar seu custo, levando em conta oslucros que ela teve até agora.- Se não houver acordo, ela seránacionalizada: o povo já não aceita asituação êm que a empresa é dona dascasas, das terras, dos cinemas, das vendas,da educação, da saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> tudo - dizFernando Manfredo.Ele está certo <strong>de</strong> que todos os outrosprodutores estão perto <strong>de</strong>.controlar suaativida<strong>de</strong>: para apressar isso, o Panamápropôs que a FAO, órgão da ONU para aalimentação, apoiasse o controle dascompanhias. A proposta foi aceita porunanimida<strong>de</strong>, menos pelos Estados Unidos.Outra luta <strong>de</strong> pequena república d;.-América Central - 74 mil km 2 ,1 milhão e400 mil habitantes - é pelo canal quedivi<strong>de</strong>, cuja zona é uma extensa faixa sobjurisdição norte-americana. O canal e asbananas são as principais fontes <strong>de</strong> divisasdo país.Se a IndonésiaPega o Timor,Haja Sangue!A Indonésia (arquipélago <strong>de</strong> 13.677ilhas, 6.044 habitadas, 130 milhões <strong>de</strong>habitantes) ameaça invadir Timor (coloniaportuguesa, que ocupa meia ilha doarquipélago indonésio, 600 habitantes).Porttugal já per<strong>de</strong>u o controle da situação.Seu comissário abandonou Dili, acapital, e se instalou na pequena ilha <strong>de</strong>Atauro, protegido por 100 soldados.A guerra em Timor começou a 11 <strong>de</strong>agosto. Forças da União Democrática <strong>de</strong>Timor (UFT) chegaram a dominar Dili.Mas a Frente Revolucionária <strong>de</strong> TimorLeste In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (Fretilin) contraatacoue expulsou a UDT<strong>de</strong> Dili. Logo oscombates se enten<strong>de</strong>ram por toda acolônia.A Fretilin, organização <strong>de</strong> esquerda,agora em melhor posição, só aceitanegociações com o governo português.Seu objetivo é a completa in<strong>de</strong>pendência<strong>de</strong> Timor. A base política da UDTsãcos pequenos comerciantes. Para eles,Timor não <strong>de</strong>ve se tornar in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<strong>de</strong> Portugal, mas ter apenas um governoautônomo. Ao lado da UDTesta a AssociaçãoDemocrática do Povo <strong>de</strong> Timor(Apo<strong>de</strong>ti), uma organização inexpressiva,que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a incorporação pura esimples <strong>de</strong> Timor á Indonésia.No dia 8 <strong>de</strong> julho, o ministro doExterior da Indonésia, Adam Malik,<strong>de</strong>clarou que seu país não aceitará umregime <strong>de</strong> esquerda em Timor - comoseria o da Fretilin. Se a Fretilin continuarse fortalecendo e a Indonésia cumprir aameaça, a colônia portuguesa levara umdos gran<strong>de</strong>s banhos <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong> nossaera.O regime militar indonésio, presididopelo general Suharto, já tem tradição.Ele chegou ao po<strong>de</strong>r com um golpe militar,no dia 39 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1965. Acusandoo Partido Comunista Indonésio <strong>de</strong>estar preparando um golpe, os militaresiniciaram um massacre. 6 meses <strong>de</strong>pois, 1milhão <strong>de</strong> pessoas estavam mortas.Orgulhoso, um oficial indonésio dissealguns anos mais tar<strong>de</strong>:- No começo, fuzilamos muitos.Mas <strong>de</strong>pois recebemos or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> não<strong>de</strong>sperdiçar munição, porque ninguémestava resistindo. Eles chegavam até nóscom as mãos já amarradas âs costas.Creio que matamos pelo menos 200 milpessoas no setor <strong>de</strong> Java, mas com oapoio das populações. Toda noite levavamosum caminhão com 25 a 30 prisioneirosaté uma al<strong>de</strong>ia e <strong>de</strong>ixávamos aseus habitantes a tarefa <strong>de</strong> matá-los. Nósmilitares respeitávamos a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> nãoatirar. Deus! Como correu sangue dacanalha infiel! Gritos? Claro que eles gritavame imploravam perdão, covar<strong>de</strong>ssujos! O salário? Era a satisfação.Hoje, a polícia política indonésia - aKopkatib - tem 300 campos <strong>de</strong> concenitração sob controle. O general Suhartoadmite que existem 600 mil presos políticosno país. A revista conservadorainglesa Tne Economist fala em quase 120mil. Outras fontes falam em 150 mil.Os presos políticos estão divididosem três categorias: A (comunistas comprovados);B (comunistas sem filiação aopartido comprovada): eC(simpatizantese suspeitos <strong>de</strong> colaboração com o partido).Calcula-se que 10 mil estejam nacategoria A. Mas, até hoje, pouco mais<strong>de</strong> 100, <strong>de</strong> todas as categorias, foramlevados a julgamento.A ração média <strong>de</strong> cada preso, no4campos <strong>de</strong> concentração, não passa <strong>de</strong>uma xícara <strong>de</strong> arroz por dia. Mas, ásvezes, até isso falta. Em algumas épocas,quando aumentava o número <strong>de</strong> presosA, o governo libertava alguns C. Outrométodo para diminuir as <strong>de</strong>spesas : o fuzilamento.Nos últimos anos, adotou-se umnovo tipo <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> concentração.Na ilha <strong>de</strong> Buru, a 2 mil quilômetros <strong>de</strong>Jacarta, a capital da Indonésia, foramcolocados militares <strong>de</strong> prisioneiros.Antes receberam roupa, ferramentasagrícolas, material <strong>de</strong> cozinha e provisão<strong>de</strong> alimentos para 1 ano e meio. Depoistinham que se virar.Mas os militares indonésios aindanão se dão por satisfeitos. "É como seesses comunistas tivessem várias vidas",comentou certa vez um oficial. "A gentemata 5, logo aparecem 15". Por isso, <strong>de</strong>tempos em tempos, o governo selecionauma <strong>de</strong>terminada região para realizaruma campanha <strong>de</strong> repressão. Semprecom a participação da população, comoexplica um habitante do oeste da ilha <strong>de</strong>java:- Meu vizinho ficou louco. De agostoa novembro <strong>de</strong> 1968, matou 17 pessoas,com or<strong>de</strong>m escrita do exército,porque meu vizinho queria agir corretamente.Ele cortava o pescoço das pessoasá noite, perto do rio. A escuridão era tantaque uma vez ele matou a irmã <strong>de</strong> suamãe. Sem contar que ele também foibem pago - 3 mil rúpias (70 cruzeiros)por cabeça <strong>de</strong> comunista.Gabriel RomeiroRecado Para MiltonFOTO: WALTER FIRMOAlô; Milton, queremos falar com vocêno ex-16. Precisamos saber o que houve,que o empresário Benil Santos te executou180 mil. Esperamos que não aconteçacoisa <strong>de</strong>sse tipo com os outros.


. salada „ANALISTA PÕE A MÃO NA CONSCIÊNCIA. FAZ AUTOCRÍTICASomos OsPais DeSanto Da EliteMe chamo Carlos Fernando Fortes <strong>de</strong>Almeida, tenho 39 anos, sou médico, casado,moro na Urca, tenho dois filhos e escrevo <strong>de</strong>s<strong>de</strong>os 15 anos, já tendò publicado 8 livros,alguns premiados. Me assino literariamenteFernan<strong>de</strong>s Fortes. Fui o analista mais jovem doBrasil: titulei-me aos 29 anos por uma Socieda<strong>de</strong>filiada à International PsichanaliticalAssociation. Desliguei-me em 1970, contra avonta<strong>de</strong> dos meus colegas, e tenho muitoorgulho disto. Escrevi uma peça <strong>de</strong> Teat.roinédita (só vale a pena escrever livros impublicáveis,hoje em dia): quando me retirei dasocieda<strong>de</strong>, como já esperava, ninguém meseguiu e, pelo contrário, <strong>de</strong>vem ter pensadoque eu era louco em largar uma Cosa Nostratão rendosa e fechada, on<strong>de</strong> os filiados <strong>de</strong>tinhamo monopólio da consciência e dainconsciência.Entendo que a luta da análise é uma luta<strong>de</strong> contornos moito mais amplos: é umaquestão <strong>de</strong> sistema certo ou errado. Mascomo um analista classe A trabalha <strong>de</strong> 10 a 12horas por dia para ficar rico antes que a análisecaia <strong>de</strong> moda, é natural que não tenha tempopara ler sobre política, economia, sociologia,arte, pelo monos não além do nível superficialdos jornais ou revistas. Esquadrinharoutros ângulos <strong>de</strong> visão da realida<strong>de</strong>, que nãoo analítico, é um programa que os analistasreservam, no bolso do colete, para quandoforem suficientemente ricos, isto é, sempremais tar<strong>de</strong>. Agora é trabalhar e dormir. Aliás,está em plena voga terapêutica a maratona,que consiste em reunir o grupo aos sábadosae 2 às 7 da noite, numa tertúlia que é mais umesforço <strong>de</strong> cura bem pago.Acho que superei os riscos sem fazerconcessões. Hoie, 5 anos após. mantive aminha clinica sem favores <strong>de</strong> colegas, unicamentealimentado por clientes que aju<strong>de</strong>i.Trabalho, à minha maneira sócio-psíquica,procurando dar ao cliente uma visão integradado mundo, e não a perspectiva mesquinhadas interpretações meramente infanto-juvenis,porque creio e sei que um indivíduo seforma a partir <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coletiva enão egoísta, predominantemente humanísticae não tecnológica; e que, ao contrário doVESTIBULARNOVEMBR01975(INSCRIÇÕES ABERTAS)DIREITOARQUITETURA E URBANISMOENGENHARIA OPERACIONALCOMUNICACÃO SOCIAL/ECONOMIA E ADMINISTRAÇÃOLETRAS - CIÊNCIAS - PEDAGOGIAESTUDOS SOCIAIS - EDUCACÃO MORAL E CÍVICAPSICOLOGIA CLÍNICA, EDUCÁCIONAL E INDUSTRIALFEDERAÇAODASFACULDADESBRAZ CUBASDE MÓGIDAS CRUZESInformações e inscricoes:MOGI DAS CRUZES: Rua FranciscoFranco, 133 - tels. 4200 a 4204 - RuaManoel Caetano, 265 - tels.: 2255 e4218 - Av. Francisco Rodrigues Filho,1233 - tels.: 4437 e 4438SÃO PAULO: Rua Álvaro <strong>de</strong> Carvalho,50 - cj. 2 - te!.: 33-3597SANTO ANDRÉ: Rua Cel. OliveiraLima, 252 - s/ 35 - tel.: 444-5800SANTOS: Rua Floriano Peixoto, 20s/25 - tel.: 4-0642GUARULHOS: Rua D. Pedro II, 201-Atel.: 209-1075ensamento analítico oficial vigente, o serumano começa a ser feliz e a se <strong>de</strong>purar, nosentido inverso do inconsciente, isto é, a partirdo momento em que reconhece a responsabilida<strong>de</strong>perante os seus semelhantes comoser social, caminhando em direção à famíliaaté chegar ao indivíduo, e não <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro parafora, como pensava o velho Freud.Que eu saiba, é a primeira vez queum analista titulado vem a público exporos problemas <strong>de</strong> sua classe à crítica; éuma provocação altamente salutar, queaborda uma série <strong>de</strong> problemas clamandopor urgente revisão. Não sei que riscoscorrerei, mas, infelizmente, não sepo<strong>de</strong> fazer uma omelete sem quebrar osovos! (*)No dia em que a burguesia neurotizadase i<strong>de</strong>ntificar com o processo gerador,e adquirir um conteúdo participanteno governo, em termos <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>social criadora, começará a sesentir útil. a ser gente, a contar comofator <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Então, haverá tanto oque ajudar que <strong>de</strong>saparecerão os vazios,as crises <strong>de</strong> solidão e outros faniquitosexistenciais; pois a mãe-pátria <strong>de</strong> seusinumeráveis filhos-cidadãos propõe umlar inesgotável <strong>de</strong> problemas e situaçõespropiciatórias à sublimação dos nossosmaus instintos.Daí porque, no futuro, a aplicaçãoda psicanálise <strong>de</strong>verá ser muito mais umatarefa <strong>de</strong> política social, do que umproblema <strong>de</strong> divã; mas não um programinhapara obter um condicionamentoatravés <strong>de</strong> mecetes <strong>de</strong>magógicos e sim<strong>de</strong> uma psico-socialização <strong>de</strong> massas. Oimportante é a ética da coisa, pois todosnós sabemos que a China, sem analistasformados, tem muito menos neuróticosdo que os Estados Unidos, on<strong>de</strong> existe omaior número <strong>de</strong> analistas; o que vemmostrar que o problema não é só <strong>de</strong> análise,e menos ainda <strong>de</strong> analistas, mas <strong>de</strong>sociologia, <strong>de</strong> economia, e principalmenteaa ética do sistema. As compensaçõesindividuais <strong>de</strong> posse e <strong>de</strong> lazer, <strong>de</strong>lucro e ócio, já provaram conduzir aspessoas à alienação e à neurose e <strong>de</strong>pois,quem se compensa, confessa implicitamenteque não tem. A compensação éuma metáfora <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> quem nãose consubstanciou; é a falência confessa,o adjetivo sem o substantivo, o símbolono lugar da matriz, a substituição dasubstância.Se o ser humano já é um feixe tãoforte <strong>de</strong> egoísmo não será patrocinado oseu american way o <strong>de</strong>atn que iremosproporcionar-lhe felicida<strong>de</strong>.Por isso o papel dos governos, comovia terapêutica <strong>de</strong> massa, <strong>de</strong>verá ser cadavez maior, no futuro. Com essa colocaçãoe trato do problema estaremos dandoum passo imenso, no sentido <strong>de</strong> curada neurose, como problema <strong>de</strong> massa,que é o que interessa; pequenos <strong>de</strong>sviose casos resistentes ficarão para o consultório,mas <strong>de</strong>pois.Na análise tradicional há muitosproblemas a serem revistos, por exemplo:o da relação médico-paciente. Ovelho Freud imaginava o analista umindivíduo neutro, on<strong>de</strong> o paciente projetariaseus problemas numa situação<strong>de</strong>liberadamente artificial, algo comouma tela on<strong>de</strong> seriam expostas situaçõesconflituosas, mas essa neutralida<strong>de</strong> é ilusóriae falsa. O analista é um ser humano,fundamentalmente um ex-neurótico queapren<strong>de</strong>u a se conhecer e se equilibrar, eestá tentanto transferir ao paciente umpouco da sua experiência <strong>de</strong> cura e doque apren<strong>de</strong>u; e não um indivíduo misterioso,perfeito, neutro, equilibradíssimo,um magister-dixit na torre do marfim.Os analistas, mantendo essa posturaasséptica e supostamente neutra, estãocontribuindo muito mais abertamentepara que o paciente os i<strong>de</strong>alize e seexclua da responsabilida<strong>de</strong> da sua doençae cura: pois se o seu analista é umsujeito tão sério e auto-suficiente, quenão precisa se comunicar espontaneamentecom ele. nem <strong>de</strong>ixar transparecerqualquer problema pessoal, então <strong>de</strong>veser um <strong>de</strong>us onipotente capaz <strong>de</strong> curá-loatravés da fé e confiança que inspira; oque é um excelente prato para a resistência<strong>de</strong> um neurótico que não se assume.E o Pai <strong>de</strong> Santo <strong>de</strong> Elite.Acontece que os analistas são pessoasmais complicadas que a maioria,têm uma vida íntima quase sempre atribulada,não admitem facilmente críticas,nem se conformam em aplicar humil<strong>de</strong>menteo método que apren<strong>de</strong>ram. Acreditamnum sistema <strong>de</strong> valores fechadocapaz <strong>de</strong> explicar, pelo inconsciente,toaos os fatos humanos. Esquecem-se <strong>de</strong>que não foram eleitos para a sua profissãopelo grau <strong>de</strong> equilíbrio, e sim porque seapresentaram como candidatos, isto é,neuróticos disfarçados <strong>de</strong> médicos (poispara ser analista é, preciso ser formado emmedicina).Encarando o problema em linhareta, a análise não tem feito mais do quesubstituir a religião <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte. Antes, agente ia à Igreja, confessava, comungava,e estava livre para pecar <strong>de</strong> novo.Hoje em dia, é na psicanálise que se<strong>de</strong>positam as maiores esperanças daclasse dominante (principal usuária)para neutralizar suas enormes culpas. Aanálise ven<strong>de</strong> os melhores argumentospara o sujeito se tranqüilizar. Basta provara ele que os seus complexos vêm daprimeira infância para assinar o chequecom prazer e sair do consultório para oseu negócio, on<strong>de</strong>explorará os empregados, com o orgulho <strong>de</strong> um patrão analisado,até que a morte os separe.Quanto ao analista, esfregará asmãozinhas <strong>de</strong> satisfação, ante o polpudoóbolo, <strong>de</strong> que se vê que é mais fácil umcamelo passar por <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma agulha,do que um pobre entrar no reino dapsicanálise. Alias, outra mentira é a <strong>de</strong>que o cliente <strong>de</strong>ve pagar uma quantiaque represente um esforço pon<strong>de</strong>rável,para ser curado. Eu já tive excelentesresultados tratando um grupo gratuitamente,no hospital Pinei, durante 6 anos.O cliente <strong>de</strong>saculturado é menos poluídoe escon<strong>de</strong> muito menos os problemas;e quanto a essa história <strong>de</strong>le nãocompreen<strong>de</strong>r as interpretações é puraasneira: o analistas que não é capaz <strong>de</strong>dar uma interpretação compreensível,ao nível do cliente, é que não o compreen<strong>de</strong>u.O importante não é dizer, nem conduziro indivíduo ao que ele <strong>de</strong>ve fazerpara se curar. É muito mais jogar com asua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intuir o aue ele não<strong>de</strong>ve cometer para não ser infeliz, pois seos clientes não sabem como <strong>de</strong>vem agir,sabem, e muito mais do que se pensa,como não <strong>de</strong>vem agir. Evitando o adversárioé que se chega ao gol.Se os pais continuarem a per<strong>de</strong>r pon-


EX-15 salada15EX LANÇA A SEÇÃO NOVA HISTÓRIA. Al VAI O 1? CAPÍTULO.tos na educação dos filhos, se os governantesinsistirem em ignorar o povo, e seo patrão cada vez mais explorar oempregado, daqui a alguns anos chegaremosao "<strong>de</strong>scomplexo do Édipo",on<strong>de</strong> o justiçamento da figura da autorias<strong>de</strong>será um gesto salutar (ao menospsicologicamente).Depoimento a Democrito Moura* (NR: <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da quantida<strong>de</strong> dos ovos).Luz Del Fuego,a Que Foi ImprópriaAté Para MaioresA mais cobiçada nudista das Américas,a cabocla do Espírito Santo, a popularfigura carioca, dançarina notabilizadapelas duas serpentes gue a enlaçam emseus bailados sem véus. Autora <strong>de</strong> 2livros "impróprios para menores". Estrela<strong>de</strong> filmes pornográficos. Aplaudidaem pé nos seus números <strong>de</strong> rumba.Carnaval <strong>de</strong> 50: barrada na porta doMunicipal. Multada várias vezes pordançar nua. Presa e expulsa <strong>de</strong> bailes carnavalescos(...) jogada numa cela fétida eescura; hemorragias; agredida por militarno pátio interno do batalhão; seucompanheiro marinheiro surradoimpiedosamente num compartimentoreservado.Planeja abrir um Clube NaturalistaBrasileiro, com se<strong>de</strong> na ilha do Sol, baíada Guanabara. Neste paraíso não há telefone,credores nem policiais. Tudo ésonho e tranqüilida<strong>de</strong>. Contra a realida<strong>de</strong>social vestida e opressora, a realida<strong>de</strong>sem complexos. Cercada por mar altocom uma praia diminuta e rochas lindas,Luz Del Fuego vive ao lado do guardaportuário HéTio, do travesti carnavalescoGilda, do velho vigia Edgar, <strong>de</strong> cabras,cães e cobras. No apogeu, a colônia <strong>de</strong>nudismo teve até 240 sócios.Assim mataram Luz Del Fuego: os criminososabriram o ventre da vítima ecolocaram pedras e manilhas e afundaramo corpo <strong>de</strong>ntro do próprio barco daatriz a 400 metros da ilha do Sol (início dadécada <strong>de</strong> 60).A polícia pren<strong>de</strong> suspeitos, marginais,mundanas. Gaguinho no rol: con<strong>de</strong>nadouma vez por homicídio, outra poragressão. Gaguinho manda dizer queresistirá e matará o primo que o <strong>de</strong>nunciou.Gaguinho preso: já levou 29 tiros."Não matei Luz Del Fuego. Meu únicocrime foi matar o investigador José Júlio,que partiu pra cima <strong>de</strong> mim. Era ele oueu".Con<strong>de</strong>nado a 60 anos <strong>de</strong> prisão, na 7*Vara Criminal, lança maldição:- Sou o rei dos reis e quando morrervou virar santo. Quando eu morrer aságuas vão invadir tudo e acabar comtodos os homens.Do livro Folias Brejeiras, <strong>de</strong> JoséSimão, editado pelo próprio autor; epelo próprio autor colocado nas bancas<strong>de</strong> São Paulo e Rio. Além <strong>de</strong> Luz Del Fuego,reportagens e <strong>foto</strong>s <strong>de</strong> Elvira Pagã,Virgínia Lane, Mara Rúbia e Elke Maravilha.NOVA HISTORIAO TenentismoO preso pediu para falar com o diretor. Fezum insólito pedido: o senhor me facilite a fuga,antes que seja tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais . O diretor nadadisse, mandou o carcereiro conduzí-lodaquele jeito indiferente que têm os diretores<strong>de</strong> prisão e os barbeiros - <strong>de</strong> volta à cela. Lá forafremia a revolução: breve bateria nos portõesda penitenciária com seus punhos <strong>de</strong> ferro. E,àquele preso, no minimo arrancariam osbofes: era o assassino <strong>de</strong> João Pessoa.João Pessoa era o candidato a vice (<strong>de</strong>rrotado)pela oposição, na chapa <strong>de</strong> Getúlio. E JoãoDantas o assassinou meio por política meio porpaixão: o município <strong>de</strong> Princesa estava rebeladocontra o governador da Paraíba (João Pessoa)e João Dantas era <strong>de</strong> lá - até aí vai o casopolítico. O <strong>jornal</strong> <strong>de</strong> João Pessoa, A União,ublicou a correspondência erótica <strong>de</strong> JoãoS'antas com uma moça finíssima da cida<strong>de</strong> e,num aviso, disse que quem quisesse saber maisera ir à redação - aauí, os tênues fios do amorentrelaçaram-se ao barbante forte da história.João Dantas se mandou para o Recife, coberto<strong>de</strong> opróbrio (como diziam nossos pais). Quis o<strong>de</strong>stino que em julho o governador fosse a Recife,espaírecer. João Dantas passava por uma'confeitaria quando viu, numa roda, o <strong>de</strong>safeto."loão Pessoa dirigiu-se/A rua Barão da Vitória/Aantiga rua Nova/ Conhecida_na


JORNAL DE TEXTO,FOTO,QUADRINHOE O DIABO.Compre o Ex! Melhor ainda: assine o Ex, mandandoeste cupon (ou cópia <strong>de</strong>le, pra não estragar o <strong>jornal</strong>)para a Rua Santo Antônio, 1043, São Paulo -CEP 01314Nome:En<strong>de</strong>reço:Cida<strong>de</strong>:CEP:FstaHrvHa ta-12 EDIÇÕES (CrS 70) CZI 6 EDIÇÕES (CrS 35)Forma <strong>de</strong> pagamento: cheque nominal para a Ex-Editora Ltda.CONFESSE!HermesUrsini, ex-pedreiro, ex-vocalista do"Red Jets", ex-locutor em Sorocaba , ex-redatorda Nortòn, Thompson e Standard. Atualmenteilustrador free-lancer, sem telefone pararecados e colaborador do Ex. Um dos poucosredatores que <strong>de</strong>senha e vice-versa.— Hermes, é melhor você confessar logo: <strong>de</strong>on<strong>de</strong> você chupou os anúncios e ilustrações quevocê fez?— Daquelas revistas bonitas e coloridas lá da Look.— Diz aí o nome das revistas e não se fala maisnisso.— Não dá.— Por quê?— Em inglês eu só sei falar "maybe"Look é o lugar on<strong>de</strong> você encontra revistas, livros e jornais escritosem quase todas as línguas, alguns até em português. Tem revistas<strong>de</strong> arquitetura, HQ, arte & <strong>de</strong>coração, cinema, moda, aviação, automobilismo,<strong>foto</strong>grafia, ciências e, naturalmente, os The One Show,Graphis Annual e Mo<strong>de</strong>m Publicity da vida.— Mais alguma coisa a dizer, Hermes?— Queria aproveitar para <strong>de</strong>ixar aqui meu en<strong>de</strong>reço (rua RodrigoCláudio 478 - Aclimação), oferecer ilustrações, <strong>texto</strong>s e campanhasà preços módicos-e agra<strong>de</strong>cer às autorida<strong>de</strong>s civis, militares e eclesiásticaspor terem me <strong>de</strong>ixado vencer na vida.A AGENCIA LOOK « Õgaleria Zarvos — av. Sao Luis n? 258 — loja 27 —esq. r. da Consolação — São Paulo.ATENÇÃO: basta dizer que leu este anúncio para você ganha^10% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto. Oferta válida somente no mês <strong>de</strong> outubro.JÁ ESTÃO NAS BANCASOS LIVROS DE CABECEIRA DO HOMEM E DA MULHER N* 2LIVRO -D€ C4BCCCIR4DOHOM€MOS LIVROS PARA OUEM GOSTA DE LER DE VERDADEDUAS ANTOLOGIAS PARA QUEM GOSTA DE LER A VERDADEPoemas <strong>de</strong> Vinícius e Milton NascimentoConheça um crioulo <strong>de</strong> 120 anos que foi reprodutor <strong>de</strong> escravosRock: a pauleira que não houve, por Ana Maria BahianaCarlos Gar<strong>de</strong>l, por José Lino GrunewaldUm perfil antológico <strong>de</strong> Tristão <strong>de</strong> Athay<strong>de</strong>, o dr. AlceuJaguar fala <strong>de</strong> humor - Um conto <strong>de</strong> ConyVocê gosta do presi<strong>de</strong>nte Horta? E <strong>de</strong> Francisco Franco?Um conto <strong>de</strong> Stanislaw Ponte Preta e uma novela <strong>de</strong> Mary McCarthyOS BONS E OS MAUSFLAGRANTES DA REALIDADEEM TODAS AS LIVRARIAS DO BRASILCADA EXEMPLA RCr$ 25,00 - DISTRIBUIÇÃO NAS BANCASFERNANDO CHINAGLIALIVRO D€ OIDCCCIR4M ^ULHCRMALAGUETA,-PERUS E BACNAÇOO clássico velhaco <strong>de</strong>João Antônio - 2.a ediçãoesgotada em 15dias - 3.a edição já àvenda - 160 páginas -Cr$25,00LEÃO DE CHÁCARAO novo livro <strong>de</strong> JõaoAntonio. O mundo damalandragem. Os personagensquentes <strong>de</strong>que até então ninguémfalava. É o livro domomento. 105 páginas.Cr$ 25,00ac30 >STANISLAWFONTE FRETATIA ZULMIRA E EUTIA ZULMIRA E EUPrimo Altamirando eelas. Rosamundo e osoutros. São estes os 3primeiros volumes dasobras completas <strong>de</strong>Stanislaw Ponte Pretaque a Civilização estárelançando. Cr$ 40,00cada volume.LANÇAMENTOS DA CIVILIZAÇAO BRASILEIRA QgPedidos pelo reembolso postal áEDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRARua da Lapa, 120 - 12? andar - Rio


EX-15piadas17El MEU AMIGO CHARLIE BROWN: ENTRA NA LATA,GO HOME!SQ.:Vamos comerda nossaprópria cozinha?Contra a importação do <strong>quadrinho</strong>enlatado, vendido a quilo,agente da lavagem cerebral (claroque um Wolinsky ou Reiser não éenlatado). Uma questão <strong>de</strong> mercado:penetrando com seu humorfeito em computador, mostrandouma realida<strong>de</strong> que não é a nossa,os enlatados inva<strong>de</strong>m um espaçoque po<strong>de</strong>ria ser dos nossos aesenhistas,mostrando coisas nossas.Seria bom o Ford oy o governoamericano baixar um <strong>de</strong>cretoimpedindo que os quadrinheirosmultinacionais exportassem paracá o seu humor insosso, amarelo erapinante. Se o Ford não pu<strong>de</strong>r, oque é provável já que está muitoocupadpem escapar <strong>de</strong> atentados,que tal se <strong>de</strong>sse um ataque <strong>de</strong> bomhumor em nossos legisladores, eeles baixassem lei a favor dohumor nacional? Não que a gentequeira a proteção paterna!, mas éque os gringos, além <strong>de</strong> não teremnenhum senso <strong>de</strong> humor, são fortes<strong>de</strong>mais pra gente encarar sozinhos.Já estamos enjoados <strong>de</strong> tantocomer enlatado. Vamos comeralguma coisa da nossa própriacozinhar? a) Jota/min»JÁ DESPEDIDO!


No ar, Cassilândia.No meio do Brasil, sem telégrafo, estação <strong>de</strong> rádio,telefone, <strong>jornal</strong> e - principalmente - sem televisãoCassilândia vive.E todos lá são muito bem informados.Do que lhes interessa.Reportagem <strong>de</strong> Hilton LibosVou começar contando como atelevisão morreu, barbaramenteassassinada pelo irmão mais novo dopistoleiro Camisa <strong>de</strong> Couro, sujeitoaque botou mais gente em baixo doue em cima da terra, em Cassilânia.Deixo pra contar <strong>de</strong>pois comoaquela terra boa assim mesmo estáprogredindo, mas tanto, tanto, quevou dizer: o Banco do Brasil já está<strong>de</strong> olho no dinheiro que tem lá.Antes quero dizer que só se chegapor terra a este jovem municípiomato-grossense, e que os ônibusmais Batem lata do que andam:levam 16 horas pra chegar a Cassilândia,a apenas 800 km <strong>de</strong> São Paulo; seeu ficasse todo esse tempo a bordo<strong>de</strong> um avião, não estaria a 300 km <strong>de</strong>Brasília - estaria no Japão.Assim que o prefeito <strong>de</strong> Itajá, aliperto mas do outro, lado da fronteira,em Goiás, instalou uma antenarepetidora em comum acordo como prefeito <strong>de</strong> Cassilândia, o baianoZé Santanna - dono do bar do Zé -correu até São Paulo e comprou umaparelho <strong>de</strong> tv, à prestação. Foi o primeiroque chegou lá, em 1972. E,correndo, Roberto Lopes <strong>de</strong> Olivei-,ra - dono da loja <strong>de</strong> eletrodomésticos- mandou vir <strong>de</strong> Cuiabá umaporção <strong>de</strong> televisores também. ZéSantanna colocou o <strong>de</strong>le no barzinhoà frente <strong>de</strong> um sofazão bonito e umamesa <strong>de</strong> centro. Quem sentasse alipara beber, pagava 20 centavos amais em cima duma cerveja, e assimpor diante. Tudo bem, até que 3meses <strong>de</strong>pois as 100 famílias cassilan<strong>de</strong>nsesque já tinham televisão,quando sentaram à noite para assistirUma Rosa Com Amor", ligaram errão viram Marília Pera na tela. Oprefeito Ibe Fabres <strong>de</strong> Queiroz era oculpado. Caloteiro, não porque quisesse,mas porque a Prefeitura nãotinha mesmo o dinheiro, não tinhapago ao prefeito <strong>de</strong> Itajá a meta<strong>de</strong>das <strong>de</strong>spesas com a antena, conformehaviam combinado. Então o prefeitovizinho pegou a antena, instaladana serra do Baú, e virou só prolado da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le.Mas o vivaldo do Zé Santanna <strong>de</strong>ixouo aparelho no bar mesmo assim,cheio <strong>de</strong> chuvisco e sem som. Continuandoa cobrar mais pela cerveja.Uma noite, <strong>de</strong> passagem pela ciaa<strong>de</strong>,Marinho - o irmão caçula do pistoleiro- cismou <strong>de</strong> beber no bar doZé. E quando pediu a conta chiou:- Se em todo lugar a cerveja é 3cruzeiros, por que aqui é 3 e 20?Era por causa da tv, ia explicando,murcho, Zé Santanna. Seo JerominhoPio, testemunha do ocorrido,conta que o rapaz, igual ao irmão emruinda<strong>de</strong>, exclamou "ah, é?", puxouo Taurus 38 e meteu 6 balas na carada tv. De lá pra cá, a Re<strong>de</strong> Globonunca mais piou nada naquelasparagens. E Zé Santanna, 6 filhos,não quis mais saber <strong>de</strong> tv - da qualagora anda dizendo <strong>de</strong>speitado quetraz mal exemplo para as crianças.Vacas e chifresDomingo <strong>de</strong> manhã, nos baresvermelhos <strong>de</strong> pó, os homens começama beber e ao meio-dia estão bê-


EX-15bados, <strong>de</strong> cócoras nas portas, conversando.De vez em quando, carros<strong>de</strong> luxo passam levantando o pó,mesmo nas 15 ruas asfaltadas do centro.Eles sabem quem é que está novolante, quantos alqueires <strong>de</strong> terra,quem matou para conseguir o quetem; e se for mulher <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iroinfiel:- Essa aí dá mais que ca<strong>de</strong>la em cio.Esta não, mulher honesta. Mas aquelalá, gostosa, tá enxergando? poisnão tem quem não tenna uma boapinta aqui em Cassilândia, que nãotenha comido. Vacona braba.E o fazen<strong>de</strong>iro é consi<strong>de</strong>rado tãochifrudo quanto os bois que tem nospastos. O juiz <strong>de</strong> Direito, José Maranhãocomo é conhecido por ser <strong>de</strong>São Luiz, está impressionado com onúmero <strong>de</strong> <strong>de</strong>squites que viu <strong>de</strong>s<strong>de</strong>que chegou: 50 e tantos, fora asseparações extra-oficiais, em apenas4 meses. Porém é mais sobre a secaque os homens discutem acirrados,ae cócoras neste domingo <strong>de</strong>manhã, com raiva nos lábios rachados<strong>de</strong> secura, as pelinhas se soltando.Há 6 meses não cai chuva <strong>de</strong>molhar chão, enxarcar a terra até nofundo. De boca em boca, pelosbares, casas reven<strong>de</strong>doras <strong>de</strong> ração,horticida, semente, pelos pontos <strong>de</strong>encontro dos pecuaristas e agricultores,por todo o "bolsão matogrossense"(Cassilândia fica no fundo <strong>de</strong>um imenso vâle cavado pelo rioAporé, que começa numa chapada105 km ao norte, on<strong>de</strong> também nascemoutros 3 rios, entre eles o Araguaia)- as notícias são <strong>de</strong> que a secavai <strong>de</strong> mal a pior.Nenhum gran<strong>de</strong> <strong>jornal</strong> chega àúnica banca da praça São José; SétimoCéu, Tio Patinhas, Status e Caprichoestão nas prateleiras empoeiradas,junto com a sonolência ae Nei<strong>de</strong>.Mas nenhuma publicação dizdiz uma palavra sobre as pastagensque começaram a secar em maio,preocupando os 382 arrendatários eproprietários <strong>de</strong> gado; enfraquecendoe matando lentamente 130mil reses da região. Pelo menos 20mil já morreram, sem contar a queda<strong>de</strong> preço por cabeça (<strong>de</strong> 2 mil para800 cruzeiros). A estiagem "normal"<strong>de</strong> novembro a fevereiro foi esticandoaté queimar tudo, secar todo over<strong>de</strong>, plantação e pasto; parapiorar, caiu a geada em julho. Aí ogado ficou sem ter o que comer em<strong>de</strong>finitivo, e toda a banana que secultiva na região queimou. Só naplantação <strong>de</strong> Filisteu Camargo, aliperto da cida<strong>de</strong>, foram 50 hectares:- Essa terra é boa. Parece que não,seca assim como está, mas é boa,conta o velho Filisteu na porta do bar<strong>de</strong> Zé Santanna, afinando um palito<strong>de</strong> fósforo com o canivete, cabeçabaixa, falando com a boca vincada,endurecida, para <strong>de</strong>ntro, e volta emeia dando uma cuspida que -splháchi! - se espalha, a chamadacagada <strong>de</strong> pato, logo chupada pelapoeira que atapeta a calçada.- Precisa <strong>de</strong> chuva aos poucos,enten<strong>de</strong>? Se chove tudo <strong>de</strong> uma vez,a água bate no chão, lava a terra esobe com o sol.Normalmente é segunda-feira odia mais movimentado, mas nos últimostempos não tem aparecido ninguém,a cida<strong>de</strong> fica às moscas (muitasmoscas, com esse calor), lojas <strong>de</strong>portas abertas mas vazias, balconistassolitários se mescalando a roupas,brim coringa, chita xadrez, botas <strong>de</strong>couro grosso com esporas <strong>de</strong> prata,discos, aparelhos elétricos, à espera<strong>de</strong> alguém para fazer negócio: a vistaou a prestação. Loja que nuncatinha feito isto, ven<strong>de</strong>r a prestação,agora está correndo o risco <strong>de</strong><strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da safra, preço do gado,para receber a mensalida<strong>de</strong>: se <strong>de</strong>rtudo bem, jóia! Caso contrário,ficam como os homens do campo,sem dinheiro. O resto da semana,terça, quarta, fica como na sextafeiraque cheguei, à tar<strong>de</strong>, com ospassos acompanhados por olharescuriosos.Na manhã <strong>de</strong> domingo passado,ao saírem da missa, as mulheres ecrianças avistaram da praça duasmangas <strong>de</strong> chuva passar uma <strong>de</strong> cadalado, abraçando a cida<strong>de</strong>. Correrampara alertar os homens nos bares, etodos ficaram <strong>de</strong> queixo pra cima,esperando que as nuvens <strong>de</strong>sviassempara as terras <strong>de</strong> Cassilândia.Nada. Choveu um pouco em TrêsLagoas naquele dia, 380 km ao sul; eem Aparecida, 100 km a suleste, parao lado <strong>de</strong> São Paulo. As mulheresforam para casa fazer o que comer eos homens voltaram para beber maisuma, <strong>de</strong>ixando os cavalos pastar oque ainda resta <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> na praça.Inconformado, o Diário <strong>de</strong> Cuiabá,da capital, que tem 5 assinantesentre os 13 mil moradores <strong>de</strong> Cassilândia(mais 17 mil na zona rural),criticou a seca em nota <strong>de</strong> 1? página,sob o título "Dissonante do Dia":"È o calor insuportável, a fumaça ea poeira que impiedosamente estãotomando conta do Mato Grosso,que há muito tempo não sabe o queé chuva. Bem que São Pedro po<strong>de</strong>riamandar chover.,.er...er..." (Diário<strong>de</strong> Cuiabá, 16/9/75).As duas estradas que trazem o restodo mundo a Cassilândia (uma vindapor Santana do Paranaíba, chegando<strong>de</strong> São Paulo; outra vinda porTrês Lagoas, chegando do sul matogrossense)estão com um palmo emeio <strong>de</strong> pó; quando passam os ônibusesculhambados da Viação Itamaraty,o pó levanta e <strong>de</strong>sce sobre acida<strong>de</strong>. Os gran<strong>de</strong>s proprietáriosusam máquinas para limpar o queestá seco, mas os pequenos ateiamfogo na roça e ficam esperando choverpara po<strong>de</strong>r semear. O fogo passapara outras fazendas soltando umafumaça branquíssima que paira todoo tempo sobre Cassilândia como sefosse névoa da manhã, mas quesufoca as pessoas com o calor e a falta<strong>de</strong> perspectivas <strong>de</strong> que chova.Na butique <strong>de</strong>laSábado, o "presi<strong>de</strong>nte da Arenamais novo do Brasil", que se chamaGirotto e tem 27 anos, ou vai ao cinema(6 cruzeiros) ou ao baile (15 cruzeiros,mas aí ele não paga pois é dadiretoria). Girotto e seu amigoManuel Afonso (os dois são sóciosnum escritório <strong>de</strong> advocacia) meconvidam para o baile, no CassilândiaTênis Clube, com se<strong>de</strong> social aindaem construção, mas que já temsalão para as noites impulsionadaspor uma vitrola e duas potentes caixas<strong>de</strong> som. Tirando isso, volta e meiaaparece circo na cida<strong>de</strong>, com dramase duplas sertanejas, como Zico eZeca, os "reis do riso". Vamos aobaile, então, com uma advertência:chegante, forasteiro que quiser daruma namorada em qualquer moça,ganhar a guria no baile e "<strong>de</strong>pois sairpara dar uns amassos e, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndodos amassos, comer", tem que primeirover se ela não está sendo seriamenteobservada por algum gaviãodali mesmo - segundo Girotto. Casocontrário, é puleira na certa, vira amaior bagunça, que será amainadapelo cassetete do cabo Moreira- um dos 6 policiais da <strong>de</strong>legacialocal. Tudo isso ao som <strong>de</strong> HamiltonLello na vitrola, que grava seus discospela gravadora Chororó, particularmente,ele mesmo custeando aprodução; Antonio Francisco, donoda loja <strong>de</strong> discos A Cuiabana, garanteque se Hamilton fosse gravadopela RCA teria estourado:- Po<strong>de</strong>-se dizer que ele é o VicenteCelestino do Brasil hoje. Começoucom umas músicas que cantavaquase chorando, dizendo que estavamal <strong>de</strong> coração e bolso. Hoje ele támal só <strong>de</strong> coração: cobra 10 mil cruzeirospor cada show em circo aípelo interiorzão. •,No salão <strong>de</strong> baile, umas 100 pessoasdançando a Severina Xique-Xique <strong>de</strong> Hamilton Lello:"Ele tá <strong>de</strong> olhoé na butique <strong>de</strong>la,ele tá <strong>de</strong> olhoé na butique <strong>de</strong>la!", mas assimque entramos substituem por umabalada-rock melosa lá do norte, dosstates.- Por que tiraram o baião? - perguntoa Girotto.- Primeiro porque sou um dosdiretores do clube e não gosto <strong>de</strong>ssasmúsicas. Segundo porque elesenten<strong>de</strong>m... a diferença, né? Nósestudamos, fomos <strong>jornal</strong>istas em SãoJosé do Rio Preto,'eles enten<strong>de</strong>m...- Você me faz um favor? Coloca oHamilton Lello <strong>de</strong> novo?Fui atendido. Girotto chamou odiscotecário, e me ioguei para dançar.Peguei a Marli, loirinha <strong>de</strong> olhosver<strong>de</strong>s joíssima, filha <strong>de</strong> fazen<strong>de</strong>iroe, por isso, cobiçada pelos paqueras.- De on<strong>de</strong> você é - foi a primeirapergunta que fez, 2 minutos <strong>de</strong>pois.Estava escrito na cara <strong>de</strong>la que jásabia que eu era <strong>de</strong> São Paulo, masmesmo assim ela fez um "ah!...",sem me olhar. Voltou rebolandopara a mesa, on<strong>de</strong> estavam suas duasirmãs e algumas amigas. Todas ficaramolhando ora para mim, ora paraminha bolsa no encosto da ca<strong>de</strong>ira,dando risinhos. Outra musica eMarli estava esperando alguém parati/á-la. Pois não. Pouco a pouco,Marli, 17 aninhos, foi encostando orosto no meu, e encostou mesmoquando a vitrola vibrou comTe asseguroque e$ta noitevoltarei para quem amo; Girottotinha engatado Outra garota e sóManuel Afonso ficou chupando o<strong>de</strong>do. No meio da música ae OdairJosé,Esta noite você vai terque ser minha,esta noite vai ser feita •pra nós dois.Nem que seja <strong>de</strong>sta veze nunca mais,só não quero <strong>de</strong>ixar nadapra <strong>de</strong>pois, então Marli perguntouse eu era comprometido comalguma mulher em São Paulo. Disseque sim. Marli reagiu bem, disse:- Esta mulher está em São Paulo.Eu estou aqui, né?Ou porque eu era "<strong>de</strong> São Paulo",ou porque estava com duas "autorida<strong>de</strong>s"<strong>de</strong> Cassilândia, nenhumrapaz me olhou torto quandopeguei a menina e saí. Marli <strong>de</strong>fine ajuventu<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong>:- A gente sai do cinema e entra nobaile. Meio chato...Os rapazes endinheirados ficamesmerilhando carangas envenenadas,talas largas, levantando poeirana praça São José - para <strong>de</strong>leite dasgarotinhas. Os pobretões, os plebeignara, os do povo dizem que elassão uma marias-gasolina. Por certoos rapazes trabalhadores <strong>de</strong> balcão<strong>de</strong> bar, roça, farmácia, ajudantes <strong>de</strong>encanador, que normalmente estudamaté ginásio e tentam fazer aEscola Técnica <strong>de</strong> Contabilida<strong>de</strong> ouCurso Normal - maiores graduaçõesescolares que Cassilândia oferece -também sonham possuir carroscomo os filhos dos fazen<strong>de</strong>iros ou osjovens que trabalham em profissões<strong>de</strong> mais status, como o bancário, oescriturário, profissões difíceis <strong>de</strong>arranjar ali.Depois do baile, bate um ventofresco graças à água corre<strong>de</strong>ira egelada ao Aporé. O breu da escuridãoque aborca a cida<strong>de</strong> fica ponti-Ihado pelas lâmpadas vistas nas janelasdas casas, parecendo tomatesmaduros que se vão apagando atévirar um filamento incan<strong>de</strong>scente,subindo <strong>de</strong> novo, <strong>de</strong>ixando tudoclaro, e <strong>de</strong>pois voltam a parecertomates maduros pendurados emfios elétricos. Alguns chaveiam a eletricida<strong>de</strong>para 220, obtendo assim os<strong>de</strong>sejados 110 volts para fazer umalâmpada iluminar perfeitamente,mas correndo o perigo da energiasubir para o nível normal e queimar,além aas lâmpadas, toda a instalaçãoda casa.Diarréia e progressoNa casa <strong>de</strong> Ermelindo Barbosa, umlavrador <strong>de</strong> 52 anos, o banho à noitefoi proibido pelo vizinho, que járeclamou até para a Câmara Municipal.Quando alguém liga o chuveiro<strong>de</strong> 220 volts na casa <strong>de</strong> Ermelindo, aluz apaga na casa do vizinho, seoQuinzinno.- Não tem nada não, diz Ermelindo.O Quinzinho é boa pessoa, maso que ele tem <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r é que aculpa não é minha, nem <strong>de</strong>le, e simdos governos, não é?O marido <strong>de</strong> Gabriela veio paraCassilândia quando isso nem fazendaera, Gabriela durante muito tempoteve vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir pelo menospara Santana <strong>de</strong> Paranaíba, um lugarmelhor, mas o marido dizia que não,que aqui é que era o lugar bom paraprogredir na vida; porém morreufaz 10 anos e até hoje Gabriela nemtelevisão assistiu direito:- Tem dois problemas, moço:televisão e luz. Porque o senhorveja, sem luz não dá para colocarindústrias, e eu tenho duas filhas fortespara trabalhar. E <strong>de</strong>pois, a gentetem que ver os artistas na tv, né?, é oúnico passatempo que eu sempresonhava.Iluminação pública, claro, nãoexiste. A praça São José fica às escuras.O último resquício <strong>de</strong> vida são osestudantes que saem das 7 escolas,aos grupos, medrosos, às 10 horas.Depois é o cricrinado e o coaxar, àsvezes um latido. As duas usinas a 2km da cida<strong>de</strong>, no entanto, continuamproduzindo os mirrados 5 milKWA por dia com seus 2 motoresque, juntos, somam 700 cavalos -enquanto Cassilândia precisaria <strong>de</strong>pelo menos o dobro.Nenhuma gela<strong>de</strong>ira da cida<strong>de</strong>jamais fabricou um cubo <strong>de</strong> gelointeiro. O cinema, o clube, quemprecisar <strong>de</strong> energia a 220 ou maisvolts, precisa instalar por conta própriaum gerador, que custa por volta<strong>de</strong> 25 milcruzeiros, e ainda por cimacontinua a pagar a taxa mínima <strong>de</strong>consumo ao município. Os geradoresmunicipais funcionaram 20 anosem Paranaíba e foram vendidos apreço irrisório para Cassilândia, em1960.Os olhos <strong>de</strong> João Girotto, o jovemlí<strong>de</strong>r arenista do lugar, brilham:- O governador Garcia Neto fezpromessa pública <strong>de</strong> que a energiaelétrica chegaria até o fim do ano. Eele só fez 3 promessas na região: eletricida<strong>de</strong>,mais uma escola para nós eoutra, menor, para Três Lagoas!...Conversa pra boi dormir, consi<strong>de</strong>raJosé Tenório, o presi<strong>de</strong>nte loca!do MDB (que só tem 203 filiados).José Tenório é um dos raríssimosindustriais <strong>de</strong> Cassilândia, dono <strong>de</strong>uma fábrica <strong>de</strong> refrigerantes. Diz:- Sabe que nós temos que pagar osimpostos fe<strong>de</strong>rais em Paranaíba,porque Cassilândia não tem exatoria?Sabe que a água que nós bebemosé suja e - isto eu garanto - meta<strong>de</strong>dos cidadãos caga mole <strong>de</strong> tantaverminose e diarréia? Pois é. Imaginaentão a eletricida<strong>de</strong>, quando chega?Apesar <strong>de</strong> todos os percalços, Cassilândiaestá em franco e permanenteprogresso. Ê o que todos acham,gente <strong>de</strong> toda estirpe, pois já existiramtempos piores, bem piores, bempiores. Só para exemplo <strong>de</strong> pujança,vejam vocês que o Banco ao Brasilvai instalar uma agência na cida<strong>de</strong>.No ano passado, a Prefeitura passou


Amin José, o fundador.uma lista entre <strong>de</strong>terminadas pessoas,pedindo 800 cruzeiros emprestadosa cada uma (aserem maistar<strong>de</strong><strong>de</strong>scontados do imposto municipal),para comprar o terreno on<strong>de</strong> ficaráo Banco. Pegaram dinheiro até dopessoal da oposição, que chiou,aproveitou para meter a boca naadministração, mas <strong>de</strong>u o dinheiropedido direitinho:- Nós somos a favor do progresso -afirma José Tenório.Com terreno <strong>de</strong> graça e vonta<strong>de</strong><strong>de</strong> ir para Cassilândia, o Banco doBrasil só espera que o municípiotambém dê um jeito na energia elétricapara instalar-se <strong>de</strong> uma vez.Política da lambeçãoA política <strong>de</strong> Cassilândia é dasmais conhecidas em todo o suleste<strong>de</strong> Mato Grosso. Terra on<strong>de</strong> todomundo discute acaloradamente otempo todo, em níveis <strong>de</strong> afirmarque o prefeito Joaquim Pernambucoé joguete do <strong>de</strong>putado WaldomiroAlves Gonçalves, além <strong>de</strong> ser analfabeto.- Ele encontra um correligionárionosso - diz o homem do MDB - etem a coragem <strong>de</strong> falar com o sujeito<strong>de</strong>ssa maneira: "Ò, xente, ficaandando com aqueles comunistas láem vez <strong>de</strong> vim pro nosso lado,bichim?"Diz-se também que Pernambuco<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> os interessses das famíliasque dominam economicamente aregião, como é o caso da famíliaCa<strong>de</strong>te, da qual o <strong>de</strong>putado Waldomirofaz parte. O velho Joaquim,filho <strong>de</strong> caboclos que nasceu naquelasbandas muito antes <strong>de</strong> existir aprimeira casa em.Cassilândia, afirma:- O <strong>de</strong>putado Waldomiro é genteboa, sim senhor. Homem direito ehonesto. Só que ele tem dois irmãosruim que nem a doença quandopega e não sai mais, que já matarammuita gente, meu Deus!Política que a princípio era na força,no voto comprado, lambeçãopela frente e língua viperina pelascostas. Não se envolver <strong>de</strong> cara comos homens do po<strong>de</strong>r: é uma recomendaçãoque os mais velhos fazemaos que chegam, afoitos <strong>de</strong> riqueza.Amin José, mesmo fora <strong>de</strong> sua terranatal, o Líbano, há 63 anos, aindamantém o sotaque, o que tornaengraçada a pronúncia <strong>de</strong> certaspalavras como "macaco", que elediz magago quase dando um nó nomaxilar inferior afilado, ossudo,assim como todo o corpo frágil mascapaz <strong>de</strong> incrível agilida<strong>de</strong> no caminhar<strong>de</strong> um lado para outro enquantofala. Aos 83 anos, Amin José fixa aspessoas bem na cara, mas não conseguever nenhum <strong>de</strong>talhe a mais doessencial para guardar uma fisionomia,coisa para o que ele tem boamemória. Po<strong>de</strong>-se dizer que osolhos, assim como a carne pelancosado rosto estão ficando translúcidos.A cabeça,' um globo coberto poralgumas mechas <strong>de</strong> cabelos brancosempastados com ainda uma vaidosabrilnantina, a voz rouquenha <strong>de</strong>porteira que há muito tempo ninguémabre. Após as aulas, grupos <strong>de</strong>crianças ficam na varanda <strong>de</strong> suacasa, na praça São José, escutandohistórias do passado <strong>de</strong> Cassilândia,que ele fundou em 1944 junto com oCassinha, já morto.- Nunca me meti na política daquinão. Nos velhos tempos tinha 2 partidos:PSD e UDN, que agora sãoArena 1 e Arena 2. Eu era amigo <strong>de</strong>todos, <strong>de</strong> maneira que era amigo daspessoas filiadas tanto num comonoutro partido. Mas quando FernandoCorreia da Costa ganhou aseleições para governador, monteinum cavalo e fui até Paranaíba, on<strong>de</strong>ele estava, para cobrar uma promessaque tinha feito. Fui perguntando:"Como é que vai ficar o 1' Cartório<strong>de</strong> Registro <strong>de</strong> Terras em Cassilândia,governador?" Hoje, meu filhomais velho, Edil Amin, é efetivo <strong>de</strong>stecartório, enquanto que outromais novo é do <strong>de</strong> Três Lagoas. Coma política daqui, tem que saber lidarcom <strong>de</strong>dos finos, tato, meu filho.Tomaram a rádioEntro na Telefônica, uma salinhacom balcão, mesa com painel PABX:- Por favor, queria fazer um interurbanopara São Paulo.A moça me olha espantada:- Olha, moço, daqui não dá, porenquanto. Os políticos dizem queestão provi<strong>de</strong>nciando o interurbanomas ainda não veio. Só em Paranaíba,mesmo assim já vou avisando:<strong>de</strong>mora muito a ligação.O correio, prédio clássico, diferente<strong>de</strong> todas as construções <strong>de</strong>Cassilândia, encardido <strong>de</strong> poeira,nunca mais foi pintado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a suainauguração, 1958, "na presidênciada República Juscelino Kubitschek",conforme diz a placa <strong>de</strong> bronze.- Telegrama? Não é possível. Estamossem telegrafista. O prefeito jáestá provi<strong>de</strong>nciando um, que <strong>de</strong>vechegar daqui uma semana, sei lá.Mas quando ele chegar, o telégrafoquebra. Então ficamos sem o aparelhomas com o operador, que vaiembora daí uns tempos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>esperar pelo conserto. É sempreassim.Pergunto a seu Jerominho no bardo Zé Santanna como fazem nessasituação.- Você podia ir na estação <strong>de</strong> ônibuse pedir a alguém que esteia indoa Santa Fé pra botar recado no rádic.Teu pessoal lá em São Paulo nãoOuve rádio?As mulheres <strong>de</strong> Cassilândia ficamo dia inteiro com o rádio ligado; eCassilândia fica na região conhecida como"bolsão mato-grossense", a suleste <strong>de</strong> MatoGrosso, ocupando a área <strong>de</strong> 2.340 km 2 equivalentea 0,18% da superfície do Estado. A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><strong>de</strong>mográfica no "bolsão" varia entre 1 e9,9 habitantes por km 2 . Eles consi<strong>de</strong>ram o caféuma "cultura ae jardim" (na geada <strong>de</strong> julho sóforam prejudicados os 30 alqueires que Cassilândiareserva aos cafezais). E há apenas 4 anoscomeçou o plantio <strong>de</strong> arroz em larga escala, noChapadão aos Gaúchos, on<strong>de</strong> também existemreservas <strong>de</strong> mármore. A base da economiado lugar é a pecuária e o arroz, apesar do soloquebracho, i<strong>de</strong>al para o cultivo <strong>de</strong> abacaxi,ananás e cajú.mesmo que o <strong>de</strong>stinatário do recadonão esteja atento, logo aparece ummenino informando. Como é normalem todo o interior do Brasil, osproblemas mais elementares <strong>de</strong> umafamília ficam do conhecimento <strong>de</strong>toda a região, quando são divulgadospela Rádio Difusora <strong>de</strong> Santa Fédo Sul, a 200 km <strong>de</strong> distância, noEstado <strong>de</strong> São Paulo. Os recados sãogratuitos, intercalados com músicasertaneja e propagandas do Elixir;Chapéu <strong>de</strong> Couro - "bom para tudoquanto é dor no corpo"; a voz dolocutor dá uma entonação a cadatipo <strong>de</strong> recado, inclusive opina,como:-"O, José, teu pai manda avisarvocê aí em Cassilândia - eta, terrinhaboa que dói! - pra você trazer, alémdas sementes <strong>de</strong> salsão, abobrinha,milho híbrido, é pra comprar também200 gramas <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> alface,que tá bom pra comer nessecalorzão dos diabos!"E notícias <strong>de</strong> casamento, como o<strong>de</strong> Miriam "que agora vai passar aser chamada <strong>de</strong> senhora Miriam SilveiraPires, <strong>de</strong>pois do esforço danadoque o João Pires fez pra casar comela". E notas <strong>de</strong> falecimento:- "... pe<strong>de</strong>-se o comparecimentoespecial <strong>de</strong> Jovino Camargo, lá <strong>de</strong>Aparecida, para completar as <strong>de</strong>spesasdo enterro com o dinheiro queestava <strong>de</strong>vendo para o falecido faztempo..."Cassilândia já teve estação <strong>de</strong> rádioprópria, até 1964. Seo Quarentinoera o dono, mas na Revoluçãoapareceram um cabo e um sargentoa mando do antigo DCT (Departamento<strong>de</strong> Correios e Telégrafos), econfiscaram todos os aparelhos, sónão confiscaram a concessão que eleainda não ven<strong>de</strong>u porque não quis:apareceu gente pagando até 300 milcruzeiros nos dias que correm. Masseo Quarentino tem uma posição:- Quando eu podia falar, falavamesmo. Agora não vou aí ven<strong>de</strong>r praqualquer um, pra <strong>de</strong>pois os sujeitosnão fazerem uma rádio como <strong>de</strong>veser.Aí vem a tv!Se Cassilândia agora está progredindo,uma parcela se <strong>de</strong>ve aos sulinos,gente ao Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,que comprou as terras da chapada,100 km ao norte, e lá plantou arrozque por sorte foi colhido antes dageada. Era terra que ninguém dava amínima, barata, 10 cruzeiros umalqueire <strong>de</strong> 80 litros, 48 mil metros<strong>de</strong> terra, o dobro do alqueirecomum. Dizia-se que não compensavacercar, pagar a taxa mínima exigidapelo Incra (Instituto Nacional<strong>de</strong> Colonização e Reforma Agrária),i para só ter lucros 3 ou 4 anos <strong>de</strong>pois.Pois é. Agora a chapada está sendoconhecida como Chapadão dosGaúchos, 500 f?;nílias <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntesEX-15<strong>de</strong> alemães, organizadas em cooperativas,com 60 mil cruzeiros emmaquinarias para benéfíciamento euma estimativa <strong>de</strong> 1 milhão e 200 milsacas <strong>de</strong> arroz para a próxima colheita.Plásticos <strong>de</strong> pregar em para-brisajá anunciam o lugar como a FuturaCapital do Arroz no Mato Grosso.Outro dia os gaúchos procuraramRoberto dos eletrodomésticos para,junto com a Prefeitura <strong>de</strong> Inocência,município vizinho, instalar 3 retransmissoresdo Canal 4 - Tupi <strong>de</strong> SãoPaulo - através <strong>de</strong> Araçatuba. Coisaque Roberto vê com simpatia, pois sópara o Pessoal do Chapadão vai ven<strong>de</strong>runs 200 televisores;Na porta da <strong>de</strong>legacia, o caboMoreira relata histórias do tempoem que esteve no Exército - por 8anos - e saiu por causa dos processosque acumulou, por homicídio (arquivados).Goiano, tipo magro, esimiesco, agora na farda cheia <strong>de</strong>bolsos da PM que veste há 15 anos,estala os <strong>de</strong>dôs apontando para umlado - como os meninos fazem <strong>de</strong>conta que estão com um revólver namão:- Atirava não para acertar, sóqueria dar susto. Mas a bala pareceque <strong>de</strong>sviava no ar e batia no cabraem cheio. Agora resolvi parar.Toda quinta e domingo, o prefeitoJoaquim Pernambuco vem à <strong>de</strong>legacia,trazer aos presos um engradado<strong>de</strong> coca-cola, comida e doces.Depois sai e fica conversando umpouco com o cabo e com o escrivãoZé Maia. A oposição comenta queJoaquim Pernambuco faz isso para"fazer média" e <strong>de</strong>pois colocar seufilho Assis em liberda<strong>de</strong>, sem julgamento.Assis era um rapaz como qualqueroutro na cida<strong>de</strong>. Dois meses atrás,num pileque <strong>de</strong> Parnanaíba Velha,foi fechado por um carro e começoua brigar com outro rapaz. O promotorsaiu <strong>de</strong> casa e interferiu. Assisavermelhou <strong>de</strong> raiva por não terpodido dar umas porradas no outro,foi em casa, pegou um revólver eacertou o promotor e seu sogro, queficaram feridos. Não se arrepen<strong>de</strong>:- Saio daqui fácil, fácil.O escrivão Zé Maia não dá opinião.Está no cargo <strong>de</strong> <strong>de</strong>legado interino,o que já fez 12 vezes em 10 anos<strong>de</strong> polícia em Cassilândia, aon<strong>de</strong>chegou como alfaiate. Delegado lánunca parou mais que 2 anos:- É a política.Nós mugimos diferenteDe verda<strong>de</strong>, pelas plagas <strong>de</strong> Cassilândia,só existe uma pessoa quenunca se envolveu com questões <strong>de</strong>política, <strong>de</strong> luz, esgoto, rua asfaltadaou não, nem vai ver televisão quandoela chegar. Um cego, Adauto,que ao primeiro ano <strong>de</strong> vida pegouuma congestão <strong>de</strong> lejte <strong>de</strong> cabra: amãe, que já morreu faz tempo, tentousocorrer colocando nos olhosum bife tirado <strong>de</strong> vaca ainda viva,com milho ver<strong>de</strong> moído por cima,mas não teve saída. Ele pára na portado açougue que já foi do Luís Neves,da mercearia do Aristi<strong>de</strong>s, da quitanda,e fica cantando:Oôôôô! Vida amargurada,Vida perdida!Enquanto não lhe dão algumasgramas <strong>de</strong> charque, arroz, meio litroae óleo, cenoura, rabanete, continuacantando com a voz estri<strong>de</strong>nte.Cheguei perto <strong>de</strong>le e puxei conversa.Adauto virou o nariz para o meulado, bateu com o bastão na minhacanela:- E senhor não é daqui <strong>de</strong> Cassilândianão, né?- Como é que você sabe se nãoenxerga minha cara?- Oi, a gente está acostumado como mugido <strong>de</strong> cada boi da boiada.Quando um boi estranho chega na,boiada e muge, a gente reconheceque não é mugido da nossa boiada,né?


PROFISSÃO DE FÉ DE ELIFAS ANDREATO5ó tem sentido <strong>de</strong>senhar se você fizer disso o que faz com a palavra.Reclame! Grite!Quem <strong>de</strong>senha é a cabeça, a mão obe<strong>de</strong>ce or<strong>de</strong>ns superiores.Desenhar é uma atitu<strong>de</strong> como qualquer outra.A vida é importante.A arte o resultado.Se a vida tem um propósito digno, o que ela gera seguramente terá a mesmadignida<strong>de</strong>.O que vale no papel é o que você sente, o resto indica fraqueza <strong>de</strong> caráter.Tudo que você fizer po<strong>de</strong>rá ser usado contra você. Cuidado!Ninguém é importante por <strong>de</strong>senhar bem, mas pelo que <strong>de</strong>senha.A escola só ensina o oficio, como praticar você apren<strong>de</strong> na rua.Ou não apren<strong>de</strong>nunca, e aí não valeu, porque só vale muito, casocontrárioé pouco. E pouco você não precisa lazer. Objetos <strong>de</strong> uso doméstico; émelhor que cada um faça o seu como bem enten<strong>de</strong>r.Pinte você mesmo a sua pare<strong>de</strong>!A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se comunicar <strong>de</strong>pente <strong>de</strong> como e quanto você se parececom o outro lado. O que dá a isso gran<strong>de</strong> significado é a quantida<strong>de</strong> e aqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>la.O ato <strong>de</strong> pintar um quadro po<strong>de</strong> ser importante, mas fica invalidado pelaposse pela exclusivida<strong>de</strong> do uso, e isso invalida a pose.Quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> o que pintar é quem paga.A favor do pintor e contra os televisores "Philco".Mais importante que os grupos é o que os separa.Você precisa saber.Não confundir ascenção social com subir na vida. A primeira po<strong>de</strong> sernecessária. A segunda po<strong>de</strong> querer a sua cumplicida<strong>de</strong>.Você po<strong>de</strong> ganhar dinheiro pelo que faz, não po<strong>de</strong> é fazer pra ganhar.Pela gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> caráter.Contra a subserviência.Se a escola engana, o enganado é você. Você escolhe a escola e po<strong>de</strong> serautodidata. A responsabilida<strong>de</strong> é sua.Desenhar tem muita gente que sabe, o que não tem muito é quem <strong>de</strong>senhae sabe mais. isso <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> a escolha e a utilização dos temas.Use pra questionar as contradições do tempo e lugar que você vive.Use os meios.Os fins justificam qualquer atitu<strong>de</strong> que atenda honestamente as necessida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> transformar o que você não gceita.Se você não concorda. Desenhe!Ninguém sabe tudo. Pergunte sempre.Vale mais o que está associado a outros projetos <strong>de</strong> valor maior, que aju<strong>de</strong>na compreensão das idéias e estimule as sensações que correspondam aoslegítimos objetivos <strong>de</strong>ssa soma.Ter consciência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> limitar o indivíduo pelo bem social.Contra a pare<strong>de</strong>, a favor do cor<strong>de</strong>l.A unanimida<strong>de</strong> não tem discussão.Pela arte que a gente po<strong>de</strong> passar o <strong>de</strong>do.Contra a corrente que protege o cavalete dos imbecis.Eu nasci em Rolândía no tempo em que ainda era Caviúna. Norte do Paraná.Com 8 anos fui para uma fazenda, on<strong>de</strong> meu pai era colono. Não melembro <strong>de</strong> muita coisa e do que me lembro não gosto. Mas me lembro <strong>de</strong>um cara que esculpia em mármore as estatuetas pro cemitério que eu ficavaespiando. Ê daí talvez o gosto pelo que eu faço hoje.Vim para São Paulo com 13 anos. Morava perto da Sofunge, na Vila Anastácioe foi lá que aprendi a ler num curso <strong>de</strong> alfabetização para adultos.Comecei a transar arte esculpindo nos blocos <strong>de</strong> gesso que a Sofunge usavapara fundir motores e jogava na beira <strong>de</strong> um esgoto, em frente <strong>de</strong> casa.Durante o dia trabalhava como lustrador <strong>de</strong> móveis.Quando completei 14 anos fui pra fábrica, a Fiat Lux (fábrica <strong>de</strong> fósforoscujas caixas <strong>de</strong> luxo são ilustradas por Ziraldo - N.R.). Fui ser aprendiz <strong>de</strong>torneiro mecânico. E trabalhei lá até os 17 anos.Comecei mesmo a <strong>de</strong>senhar em 64, no <strong>jornal</strong>zinho da fábrica; fazia os<strong>de</strong>senhos no banheiro, escondido. Um dia apareceu um subgerente, achoque se chamava Paulo, a quem eu <strong>de</strong>vo basicamente esta mudança <strong>de</strong>carreira profissional. Esse cara me botou pra fazer cartazes e <strong>de</strong>corar o salão<strong>de</strong> festas da fábrica. Lá tive que apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong>senho e pintura e foi aí quecomecei à trabalhar nos meus quadros. Fui <strong>de</strong>scoberto como gênio: naocasião, o Diário da Noite (SP) <strong>de</strong>u página inteira: "o menino-prodígio",aquelas coisas...Quando fui dispensado do Exército, resolvi mudar minha vida ea partir daícomeçou a barra pesada.Sair <strong>de</strong> uma fábrica para ser artista não é exatamente o que dizem naqueleanúncio da Panamericana (escola <strong>de</strong> arte, em SP), que garante que vocêfazendo o milagroso curso, em 2 anos será um cara importante e terá carros,mulheres bonitas e até piscina.O preço <strong>de</strong>ssa mudança po<strong>de</strong> ser a volta atrás ou o resto da vida <strong>de</strong>slocado,porque, se você não consegue <strong>de</strong> fato assumir integralmente a nova ativida<strong>de</strong>,será um profissional medíocre. Ou volta e vai ser um mecânico frustradoe não apenas como profissional, mas principalmente como pessoa.Qualquer um que tente passa por essa coisa.Trabalhei muito e só saí por cima porque fui forte. Mas muita gente dançou.Tive- que trabalhar em agências <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, fui para alguns estúdiospequenos e fui assistente <strong>de</strong> cenógrafo na TV Record.Em 67 entrei na Editora Abril e trabalhei em 4 Rodas, Cláudia, Manequim efui <strong>de</strong>pois para a Abril Cultural. Em 70 voltei pra Editora Abril para fazer oprojeto <strong>de</strong> Placar. Voltei em seguida pra Cultural e fiz a coleção <strong>de</strong> MPB.Depois passei a diretor <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> toda a divisão <strong>de</strong> fascículos e livros. Em 73saí, já estava fazendo o <strong>jornal</strong> Opinião, e aí comecei a trabalhar como freelancer.Em 1974 <strong>de</strong>sènhei a revista Argumento e este ano transei com o Raimundoe Tonico a fundação do <strong>jornal</strong> Movimento. O resto está aí na rua eno coração. Gosto muito do que faço.


OSICAOELIFAS ANDREATOTrabalhos dos últimos 3 anos: capa <strong>de</strong> Paulinhoda Viola: capa <strong>de</strong> Opinião; pôster <strong>de</strong>peça teatral; <strong>de</strong>senho para o livro <strong>de</strong> RobertoDrummond, "A Morte <strong>de</strong> D. J. em Paris" (ed.Atica); duas capas <strong>de</strong> Argumento (revistaextinta); cartão <strong>de</strong> Natal (ed. Atica); postersjpara Martinho da Vila (RCA); outras duaspeças <strong>de</strong> teatro, e promoção da leitura (ed.Atica). Na outra pãgina: <strong>de</strong>senhos para o LPmais recente <strong>de</strong> Paulinho da Viola; e para onovo LP <strong>de</strong> Martinho da Vila; <strong>de</strong>pois, 4 <strong>de</strong>senhospara o livro "O Pirotécnico Zacarias", <strong>de</strong>Murilo Rubião (ed. Atica); e 4 <strong>de</strong>senhos do jácitado livro <strong>de</strong> Roberto Drummond.Pedro Casaldáliga: 0 BISPO DOS OPRIMIDOSAguinaldo Silva; OS AMANTES DE CANOASCelso Furtado: REFLEXÕES DE UM MARCIANOCom «.todoÍ'K! i l i n n üf-( \Mi>lNASda< Kl i \KI.\ Dl I l« < u. \< > | Ci. I I UR % cdoDEPARIAMENTO Dl (II M lTHEARfF.A PAZVISTA _DE HANOIPor Wiffred Burrhett.pnvi.ida especial<strong>de</strong> Opinião e The CuartiiiinHENRIQUECARDOSOJEAN-CIAUDEEERNAROETANTONIO CAUADO:INTONtO CÂNDIDO iCELSO FURTADOPAUlO EMIUOO futebol


Olá,Nono andar.Havia policial à paisana, grisalho e blusão fora da camisa na porta <strong>de</strong>entrada do edifício e com ele precisei <strong>de</strong>ixar tudo, embora fosse avisando,tinha hora marcada, 6 cia tar<strong>de</strong>, com o professor. O homemme pegou nome, ar, en<strong>de</strong>reço, barba por fazer, a que vinha e quantotempo ia <strong>de</strong>morar. Percebo. O professor está sendo sondado à risca,todos os movimentos. Então, abri o braço, como se já fosse <strong>de</strong>sguiar:- Meu senhor, se isso vai criar qualquer tipo <strong>de</strong> problema não visitoninguém. Não estou aqui porque quero, estou a trabalho. Não querogalho, até já estou querendo ir embora.O grisalho <strong>de</strong> blusão clâro fora da camisa, provavelmente julgouestar diante <strong>de</strong> um maluco. Acho, nessas ocasiões, melhor botar aboca no mundo ou fechar o bico <strong>de</strong> vez. Assim passo por pirado e metiram o olho <strong>de</strong> cima. O recurso, reconheço, não é tiro e queda. Já vipoliciais batendo em doente mental. E quando a polícia mata alguém,a cida<strong>de</strong> ifão põe luto.O policial garatujou, com esforço, errando duas vezes os meusdados num ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> anotações. Não era um homem habituado aescrever e <strong>de</strong>via tomar o registro <strong>de</strong> todas as, visitas ao professor.Peguei o elevador, pé atrás.O professor havia envelhecido pouco. Apesar <strong>de</strong> nunca tê-lo vistoera o mesmo homem das <strong>foto</strong>grafias, 11 anos antes, ministro, antes <strong>de</strong>o cassarem e <strong>de</strong> ir para o exilio. Lépido, miúdo, baixinho, rosto escanhoado,olhos firmes, vivos, alegria das pessoas dinâmicas, coisas quenão tenho.Com sotaque nosso, blusão fora da calça, me aten<strong>de</strong>u <strong>de</strong> pés nochão no seu apartamento do Posto Seis, em Copacabana. Aquele, ohomem. Eu lhe apertei a mão, duas vezes: a segunda, ele notou, paralhe olhar nos olnos.Tímido, pelo menos a princípio chamando <strong>de</strong> senhor um homem<strong>de</strong> pés no chão do apartamento amplo, ele percebendo que eu dissimulavamal a admiração. Leve, rápido, não fumando, foi pedir café à.empregada, ofereceu suco, preferimos café. Pedi para fumar. Grossura- claro que aquilo o incomodava.Aí, lhe peguei num lance, o tamanho e a personalida<strong>de</strong>. Concordoudiscordando, como se dissesse: "O, rapa;?!, eu já me esqueci <strong>de</strong>fumar e^você vem me lembrar-tenha jeito, dê-se ao respeito". Faloucomo um mais velho:— Fuma. Você po<strong>de</strong>.Professor,£S7/\ REPORTAGEM DE IOÃO ANTÔNIO, ESCRITA EM MARÇO PASSADO,Achou graça e começou a falar, engraçada, pitorescamente. Curiosoalguém se interessar em como ele havia vencido o câncer. Despejoutudo <strong>de</strong> vez, quase tudo. Ou: o trânsito ridículo <strong>de</strong> médicosestrangeiros que lhe escondiam a doença, dizendo tuberculose.Ridículos, principalmente em Paris, on<strong>de</strong> ele exigia ver e ouvir osresultados <strong>de</strong> todos os exames. As pessoas evitavam o nome da doençacomo se evitassem a morte. Era um câncer mortal. Havia percebidopela primeira vez que ele também era mortal e, como amassse a vida,sentiu que não iria ter nada para colocar no lugar. Afinal, câncer eracoisa que po<strong>de</strong>ria acontecer a um primo seu, a um parente ou contraparentedistante, ao vizinho <strong>de</strong> prédio, não a ele. Nunca havia pensado,sentido, amargado, que era mortal.Confessa que <strong>de</strong>u-lhe medo. E pressa. Urgente fazer as coisas, terminarum livro. Resolveu jogar franco com o médico parisiense:— "O senhor po<strong>de</strong> me dar 3 meses <strong>de</strong> vida lúcido?Nada. Tinha ae operar.— O senhor tem uma bomba no peito.A bomba iria explodir a qualquer momento, tomaria conta do corpotodo. Não havia ilusões, no entanto. Mesmo operando, um fato líquidoe certo, 95 por cento das pessoas operadas ae câncer pulmonarnão escapam. Não operasse, não ficaria nem entre os ralos 5 por centorestantes. Até lhe dizerem que era câncer, passou por vários driblesdos médicos franceses. Um <strong>de</strong>les dissimulou, com jeito, fazendo oexame clássico <strong>de</strong> tuberculose pulmonar e o professor teve <strong>de</strong> pronunciar,repetidamente, 33, em francês. Aí o médico cometeu umaingenuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bom tom, verificando-lhes os olhos: "O senhor estápálido". O espírito brasileiro do professor universitário cortou rentecom uma coisa que causa vexame ao espírito francês: "Não estoumuito pálido. Na verda<strong>de</strong> sou um mulato". Paris é o gran<strong>de</strong> centro<strong>de</strong>ssa medicina na Europa e já tinham tudo para, em 3 dias, operá-lo.Mas preferiu operar no Brasil. Os franceses torceram o nariz, escandalizados.Todos que o <strong>de</strong>ixaram entrar aqui, contavam com a sua morte infalível,inadiável, cancerígena. Por isso, exilado político <strong>de</strong> 64, foi <strong>de</strong>ixadovir. O apartamento ae sua proprieda<strong>de</strong>, na rua Sousa Lima, estavaocupado, alugado. Então, o permitiram num hotelzinho do Leme, soba vigia permanente. Ridículo, um homem tão miúdo e gran<strong>de</strong>, guardadopelos profissionais da Polícia, pequenos, broncos e patoludos.Miudinho, não se sabe tenha aprendido karatê, aikidô, Kun-fu oujudô lá no estrangeiro por on<strong>de</strong> andou, lecionou, trabalhou, sobreviveuestes anos todos, 11. Ele falando, procura tirar a prisão domiciliar<strong>de</strong> letra, cariocamente. Humorado, recebe e respon<strong>de</strong> à estupi<strong>de</strong>zque o vigia. Oficialmente, comunicam-lhe, está protegido contra atosterroristas. Olhos miúdos, cara limpa, aconselha:-Ótimo. Mas me protejam só a 5 metros <strong>de</strong> distância, pelo menos.Câncer maldito mesmo. As vezes, as pessoas que o cercavam, amigos,um irmão, parentes, amigas, botavam uma cara <strong>de</strong> pavor. Pareciaque tinham a doença e não ele, a um passo da operação <strong>de</strong>licadíssima.95 por cento morriam.A diferença entre ele e os outros, uma só, esta: os outros pensaramque 95% morrem; ele procurou encarar o outro lado - 5% se salvam.E tratou <strong>de</strong> se meter entre os 5%. Provavelmente todos, além doshomens que o vigiam, contavam com a sua morte. Os amigos, osadmiradores, o geral das criaturas. Todos a um.Ele está enrascado na poltrona e, neste momento, sou mais entrevistadoque ele. Um brilho nos olhos miúdos, notando os ritus daminha cara e imediatamente jogando na linguagem um palavrãoleve, uma <strong>de</strong>scida para a giria. Tem domínio da conversa, <strong>de</strong>tém opo<strong>de</strong>r da mudança <strong>de</strong> tom e rumo dos assuntos. Inteligente nessamanobra assume uma li<strong>de</strong>rança natural, o núcleo da conversa está emsuas mãos. Sempre.Revelou, sem modéstia. Não acreditava em suas habilida<strong>de</strong>s literáriasa ponto <strong>de</strong> produzir algo útil ou <strong>de</strong> exemplarida<strong>de</strong> sobre o capítulodo câncer, provavelmente o mais cavernoso (uma caverna no peito)<strong>de</strong> sua vida.— Mas se o senhor escrevesse como fala...As pessoas não escrevem como falam. Comportam-se, disciplinamseempostam-se. Há imposturas, a naturalida<strong>de</strong> vai embora, ninguém<strong>de</strong>ixa passar a chance <strong>de</strong> parecer inteligente, espirituoso, um homemque, <strong>de</strong> certo modo, está acima dos outros.— Por que você está me chamando <strong>de</strong> senhor?Falando, é colorido, vivo, direto, humorado. Tem o po<strong>de</strong>r da condução,o que iá foi dito. É lí<strong>de</strong>r, está em tudo e, se não mostrou estaqualida<strong>de</strong> ao longo dos anos, terá sido por outro motivo que não avocação.Veio uma amiga <strong>de</strong>pois da operação, lhe disse que ele nem supunhaquantos amigos o queriam bem e quantas pessoas, das mais diversasfaixas o admiravam. Naquela tar<strong>de</strong>, por exemplo, só se falava <strong>de</strong>lelá no cabeleireiro.— De mim ou do câncer?


Há QuantoTempolÉ A NOSSA CANDIDATA AO PRÊMIO ESSO DE JORNALISMO DE 1975.Está aí. Mas não havia ironia, hostilização, amargura na observação.Era o que era. Por mais que ele fosse assunto, ò câncer seria repercussãonacional maior que ele.Haviam mandado distribuir nota oficial, câncer. Indisfarçável, acruelda<strong>de</strong>seca da nota. Neste mundo todo, a doença querdizer morte.Certamente contavam fazer o seu enterro. Depois, iriam recolheruma boa imagem.Um policialo acompanha, aon<strong>de</strong> vá. Vai à praia, o protetor segue.Vai a um chopinho com amigos, no calçadão <strong>de</strong> Copacabana, ali peloslados do Posto Seis, atrás vai o policial. Atravessa o calçadão, ganha asareias, senta-se. O protetor fareja. Procura as águas, o protetor selevanta, avança na vigia. Lá no hotelzinho do Leme, uma vez, um <strong>de</strong>ssespoliciais que o guardam dia e noite, o per<strong>de</strong>. Quando volta aohotel, o policial está ver<strong>de</strong>:— Professor, eu pensei que tivesse perdido o senhor.— Sim? Mas eu estou vivo, olhe aqui, não está vendo?O policial cheio <strong>de</strong> pavor. Confessou aue se o professor sumisse,morresse ou lhe houvesse acontecido algo, certamente lhe iriambotar num pau <strong>de</strong> arara até que dissesse tudo o que sabia e também oque não sabia.O professor, sério, rosto crispado pela primeira vez em mais <strong>de</strong> umahora <strong>de</strong> conversa. Que história é essa? Os policiais também têmmedo <strong>de</strong> serem torturados?Sérios, os 2. De vez em quando olhávamos maquinalmente para aporta <strong>de</strong> entrada do apartamento. Devíamos falar naturalmenteaquelas coisas ou baixar o tom <strong>de</strong> voz?Faz menos <strong>de</strong> 10 dias, um advogado da rua Uruguaiana, indo a seuescritório, foi seqüestrado por homens que se disseram do DOPS.Levado ao Alto da Boa Vista, encapuçado, interrogado, torturado porpoliciais encapuçados. Não tinha nada a <strong>de</strong>clarar. Os torturadorespreferem, segundo o advogado, esse tipo <strong>de</strong> homem-o que não temnada a <strong>de</strong>clarar. Foi batido, surrado, submetido a choques, metido emcela que mal cabia homem. Ameaçavam o homem que não tinhanada a contar: trariam sua mulher e ele iria ver as coisas. Abobalhado,dizendo nada ter a <strong>de</strong>clarar, concordou. Trouxessem sua mulher,fizessem o que enten<strong>de</strong>ssem. Havia outros presos, gritos à noite ebarulhos <strong>de</strong> trambolhões pesados. Sofreu 3 dias. Aturdido ou inconscientemente,o fizeram assinar uma porção <strong>de</strong> papéis <strong>de</strong> que não selembra. A bestialida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser contada diante <strong>de</strong> mulheres oucrianças. Os encapuçados o soltaram <strong>de</strong>pois, com esta frase.- Passe bem, doutor,precisando <strong>de</strong> alguma coisa é só nos procurar.Depois <strong>de</strong> 3 dias <strong>de</strong>baixo da mesma pergunta:- Qual é o seu codinome?Saiu. Procurou a Or<strong>de</strong>m dos Advogados do Brasil, catou os jornais.Um único, "O Estado <strong>de</strong> São Paulo", publicou nota na edição <strong>de</strong>8/3/1975. Mas há outro advogado surniao, provavelmente seqüestrado,mesmas condições.O professor universitário me ouve, olhos baixos. Olhamos, quandoem quando, para a porta da entrada do apartamento. Lá fora, na França,ou Inglaterra, dizem quequandosevê um policial, imediatamentese tem a sensação <strong>de</strong> segurança e se fica mais à vonta<strong>de</strong>. Aqui, ontem,passando diante sa PMGB, da rua Toneleiros, procurei a outra calçadada rua, evitando olhar os fardados e an<strong>de</strong>i <strong>de</strong>pressa. Não estaremosficando frios, nós, um povo sentimentalói<strong>de</strong>, outrora vivendo numpaís cordial, on<strong>de</strong> havia, segundo um poeta, escola risonha e franca?O professor diversifica assuntos, passamos aos <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Poty,humor, <strong>jornal</strong>ismo, indianismo, vida universitária, futebol, polícia,sexo, violência, literatura, futebol <strong>de</strong> novo. Atiçadamente criativo,imaginoso, me sugere rápido, duas ou três idéias para a publicaçãonova em que trabalho. Baixinho, poucos cabelos brancos, rosto escanhoado,enrascado na poltrona, <strong>de</strong>scalço, falando simples e bem.Um homem que libera o espírito do interlocutor, embora o envolvacom li<strong>de</strong>rança. Literalmente, como diz, é um otimista.Idéias loucas tem e gosta, ainda mais dos efeitos. Tem carioquice aocontá-las, saboreia os efeitos. Narrador hábil, extrapola.Nunca pensava que pu<strong>de</strong>sse e teve <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o cigarro. Ê o melhordos vícios, nem é um vício.Chamar o cigarro <strong>de</strong> vício menor é outraimproprieda<strong>de</strong>. Quando vivermos numa socieda<strong>de</strong> realmente civilizada,teremos cigarro <strong>de</strong> tudo: <strong>de</strong> proteinas, vitaminas, <strong>de</strong> gustaçõesvariadas, leves e pesadas. Haverá uma geração <strong>de</strong> homens e mulheresincrivelmente elegantes, nenhuma barriga", ombros largos, nenhumacelulite. Pois cigarros alimentícios motivarão a chamada digestão semexcrementos. Veja, a princesinha da Inglaterra comendo chocolate.Todos sabem que ela comerá e <strong>de</strong>pois fará um cocô fedido na privadareal. Mas um vagabundo da Galeria Alaska fumará um cigarro e nãoproduzirá nenhum <strong>de</strong>jeto. Tomamos café, mas café é só boca <strong>de</strong> pito,para acen<strong>de</strong>r a vonta<strong>de</strong> do cigarro. O bom da comida fina e regalada éo cigarro que vem <strong>de</strong>pois. Como é bom o cigarro, <strong>de</strong>pois ae duashoras no cinema em que não se po<strong>de</strong> fumar. O cigarrro, como é bom.Amar também é bom, o melhor dos esportes o que exercita e mexediretamente com tudo, músculos, cabeça, tronco e membros.-Bobagem,essa história <strong>de</strong> agora se praticar judô, karatê, yoga. O exercíciosexual é mais completo. Voltando ao cigarro, ele não é um vício, é umcompanheiro, uma segurança psicológica. O professor fumava 3maços por dia, hoje lamenta que o cheiro do cigarro, lhe chegando,lhe faça mal. Até o beijo na boca das mulheres, naquele tempo, eramelhor. Não lhes sentia o gosto do cigarro.Amar é bom para a saú<strong>de</strong>. Mas O bem-bom é aquele espaço entreuma vez e outra, longamente, na hora neutra em que não se sabe secontinua ou não e, então, fuma-se um cigarro. Ah, entre uma e outra,o cigarro. O mal é que contém nicotina. Nas civilizações futuras, ohomem pensará em cigarros <strong>de</strong> proteínas, vitaminas e sais minerais.Serão todos fortes e limpos, espadaudos sem barriga, maravilhosos eenxutos. O cigarro não mais um vício e, sim, um companheiro <strong>de</strong>utilida<strong>de</strong>s.Pensavam que ele morrera. De repente, seu nome pula nos jornaise revistas, está escrevendo coisas. Estão longe <strong>de</strong> supor tudo sobre ohomem e seu <strong>de</strong>spojamento. Provávelmente alguém tenha medo <strong>de</strong>suas verda<strong>de</strong>s. E não <strong>de</strong>le, criatura miúda, naturalmente bem-humorada,ar fundamente brasileiro, cara limpa.Olha-me. Passei duas horas em seu apartamento e não ouvi umalamentação do homem cassado, perseguido, sofrido, um pulmãofora do peito, o câncer jogado fora, abriram-lhe todo o peito naoperação.Mais alegre, <strong>de</strong>scontraído e saudável que eu, o professor disse:- A gente não po<strong>de</strong> dartrela. Se não, os policiais sentam à mesa coma gente e tomam conta.Verbete da Enciclopédia Delta Larousse:Ribeiro (Darcy), antropólogo brasileiro (Montes Claros MG 1922).Bacharel em ciências sociais pela Escola <strong>de</strong> Sociologia e Política daUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (1946). Etnólogo do Serviço <strong>de</strong> Proteçãoaos Índios (1947), dirigiu a secção <strong>de</strong> estudos daquele órgão (1952 -1956) e criou o Museu do índio (1953). Foi diretor da divisão <strong>de</strong> pesquisassociais do Centro Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisas Educacionais (1957) efundador e diretor da revista Educação e Ciências Sociais. Em 1958 foiencarregado do setor <strong>de</strong> pesquisas sociais da Campanha Nacional <strong>de</strong>Erradicação do Analfabetismo e no ano seguinte planificou um programa<strong>de</strong> pesquisa interdisciplinares sob o tema "urbanização eindustrialização, seus efeitos sôbre a família e a escola". Ministro daEducação e Cultura (1961), organizou e instalou a Universida<strong>de</strong>Nacional da Brasília. Posteriormente reitor daquela universida<strong>de</strong>(1962 -1963), <strong>de</strong>ixou o cargo para assumir a chefia da casa civil da presidênciada república (1963 - 1964). No magistério, foi professor <strong>de</strong>antropologia da Escola Brasileira <strong>de</strong> Administração Pública da FundaçãoGetúlio Vargas (1953 - 1954), professor-regente <strong>de</strong> etnografiabrasileira e língua tupi da Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia da Universida<strong>de</strong>do Brasil (1956 -1961) e professor <strong>de</strong> antropologia da Faculda<strong>de</strong><strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>s e Ciências da Universida<strong>de</strong> aa República Orientaldo Uruguai (1964 - 1968). Realizou pesquisas <strong>de</strong> campo entre osindígenas Guarani, Terêna, Kadiwéu, Ofaié, Urubus-Kaapor, Kaigáng,Xokléng, Karajá, Borôro, Kamayurá e Kuikúro. Publicou, alémae artigos em revistas especializadas, os livros: Religião e MitologiaKadiwéu (1950); Linguas e Culturas Indígenas do Brasil (1957); ArtePlumária dos índios Kaapor (1957, em colaboração com sua mulher,Berta G. Ribeiro); A Política Indigenista Brasileira (1962); O ProcessoCivilizatório (1968) (edição em língua inglesa, publicada nos EUA nomesmo ano); A Universida<strong>de</strong> Necessária (1969). Teve seus direitospolíticos suspensos por 10 anos (1964).| PNNORAMAEm Brasília, a<strong>de</strong>cisão para a sojaDarci Ribeyro,Publicada em Panorama (PR) a 27/3. Republicada em Estampa, <strong>de</strong> Uma, Peru, a 24/8.


SALAZAR LEVARÁPORTUGAL A GUERRACIVIL?Por Samuel WainerQuase 30 anos <strong>de</strong>pois, continua <strong>de</strong> pé a pergunta<strong>de</strong> Samuel Wainer, fundador <strong>de</strong> Ultima Hora.O titulo acima é o mesmo <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> 7reportagens publicadas, entre 11 e 18 <strong>de</strong> março<strong>de</strong> 1946, pelo <strong>jornal</strong> Diretrizes, o V que Wainerfundou. A seguir, uma con<strong>de</strong>nsação das reportagens.Confesso que entrei em Portugal algo<strong>de</strong>primido e pessimista.Afinal <strong>de</strong> contas, pensava eu, umpovo não po<strong>de</strong> escapar à <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong>20 anos <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>presença da opressão.Poucas horas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> chegar a Lisboa,pedi ao chofer <strong>de</strong> um dos seuspequenos e pitorescos táxis que melevasse a alguns bairros pobres aa cida<strong>de</strong>.O chofer não pô<strong>de</strong> disfarçar um sorriso<strong>de</strong> satisfação.- Pois é isso que os estrangeiros <strong>de</strong>vemvir ver aqui. Venha, eu o levarei a conhecera Portugal que Esteves esqueceu.E antes mesmo que eu lhe perguntassea quem se referia/disse-me:- Este é o apelido que damos a Salazar.Leia os jornais e V. Ex.a verá que elessomente anunciam no passado ás ativida<strong>de</strong>sdo ditador. Esteve ontem com opresi<strong>de</strong>nte do Conselho fulano <strong>de</strong> tal...Ontem o presi<strong>de</strong>nte do Conselho esteveem tal lugar.. Nunca publicam estaráporque temem um atentado do povo.E as piadas, anedotas, sátiras mostraram-mecomo esse povo sabe utilizarcom a máxima eficiência a gran<strong>de</strong> armado rídiculo que tem sido um dos maiscorrosivos instrumentos <strong>de</strong> combate aosditadores.Padreca, Faraó, Monge, são outros doscaracterísticos apelidos populares <strong>de</strong>Samuel Wainer vai lançar, talvez aindaeste mês, mais uma publicação da EditoraTrês: o semanário "Aqui São Paulo".Salazar. 55, as iniciais <strong>de</strong> Gestapo <strong>de</strong>Hitler, é como o povo <strong>de</strong>nomina oSocorro Social, um aos temas predilatosda propaganda <strong>de</strong> Ferro (Antônio Ferro,o GeoDbels português).A MAIOR MISÉRIA DA EUROPAPortugal visto do Estoril é um paraíso;visto da Mouraria é um inferno.Lamentavelmente, porém, o Estorilrepresenta apenas alguns quilômetrosdo país, enquanto que a Mouraria,embora seus nomes sejam diferentes,cobre 4 quintos da nação.Um trabalhador disse-me com tristeza:-Aqui, na Mouraria, a miséria é tãogran<strong>de</strong> que um homem nem <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>morto po<strong>de</strong> sair <strong>de</strong> casa.E explicou, mostrando-me o alto <strong>de</strong>uma <strong>de</strong> suas casas <strong>de</strong> 5 pavimentos.- Os quartos são tão estreitos e as escadastão apertadas que os bombeiros<strong>de</strong>vem ser chamados para retirar o caixãopela janela.Suas ruas são tão estreitas que umhomem <strong>de</strong> braços abertos nao po<strong>de</strong> passarpor elas: suas casas parecem furnas,eu mesmo tive que encolher-me comcuidado para não bater com a cabeçanos vãos <strong>de</strong> suas portas.Subi por suas escadas, caminhei porentre suas teias <strong>de</strong> aranha, passei porsuas divisões sanifarias. Uma única privada,incrustada no canto nie uma escada,servindo edifícios <strong>de</strong> 4 a 5 andares.E <strong>de</strong> suas janelas, como tristes mastrossem ban<strong>de</strong>ira, saem longos pedaços <strong>de</strong>pau. È sobre eles que as roupas são penduradaspara secar ao vento, pois jamaisuma daquelas casas conheceu umbanheiro ou um quintal.Entretanto, ali vive a imensa maioriado povo português. Mouraria, Alfama,Casal Ventoso, Barredos, Campo d'Ourique,seus nomes são diferentes, mas suamiséria é igual.Ê nesses bairros que morrem 161 criançasentre cada 1.000.que nascem, o maisalto índice <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil daEuropa, <strong>de</strong>pois da Rumânia. È ali quemorre um português tuberculoso emcada quarto <strong>de</strong> hora. È dali que <strong>de</strong>scemas multidões <strong>de</strong> miúdos, garotos raquíticose miseráveis, que nos cercam às portasdas igrejas e dos teatros, aos gritos <strong>de</strong>uma esmolinha, meu benfeitor.Mas, subi mais além; vi os miseráveisbarracões <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira podre e pedaços<strong>de</strong> lata. O vento que <strong>de</strong>sce das 7 colinas<strong>de</strong> Lisboa, arrasta consigo, muitas vezes,esses sinistros barracões, on<strong>de</strong> se acumulamfamílias <strong>de</strong> 10 a 12 pessoas.Caminhei por suas tortuosas ruas,on<strong>de</strong> alguns porcos bem alimentadosgrunhem sobre a lama ao lado <strong>de</strong> mulheres<strong>de</strong> olhos tristes, mulheres cujas filhasacabarão sendo empurradas pela misériapara as largas calçadas da Avenida daLiberda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> a prostituição reina<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma hora da mannã, pois amoral <strong>de</strong> Salazar não admite que ela seostente sob a luz clara do dia.Parece-me que jamais um governoconfessou <strong>de</strong> tal forma a sua falênciacomo este que vi à minha frente apelandopara a carida<strong>de</strong> privada com o supremomeio <strong>de</strong> remediar a miséria do povo.Os jornais oficiaistle Salazar reclamamcontra a espantosa mendicida<strong>de</strong> quevem transformando o país num verda<strong>de</strong>iroPátio <strong>de</strong> Milagres. Mas não é amiséria que os parece impressionar. Elesfalam, isto sim. no espetáculo <strong>de</strong>sagradávelque aqueles milhares <strong>de</strong> crianças emulheres maltrapilhas oferecem aosolhos dos turistas.Mas, como preten<strong>de</strong> Salazar resolveresse problema?Por toda parte vi cartazes, artisticamente<strong>de</strong>senhados aconselhando opovo a contribuir com os seus donativospara que o ditador possa levar avante assuas 3 gran<strong>de</strong>s batalhas: mendicida<strong>de</strong>,habitaçao do pobre, assistência infantil.Procurei ver por mim mesmo como se'exerce essa barulhenta carida<strong>de</strong>.Bem ao pé da aburguesada rua dasQuintinhas, entrei na Cozinha Econômican? 7, on<strong>de</strong> estava sendo servida, paralonga fila <strong>de</strong> miseráveis, a Sopa da Carida<strong>de</strong>.Não pu<strong>de</strong> permanecer ali mas <strong>de</strong> 1minuto, tal o insuportável odor que seexalava daquela mistura <strong>de</strong> água negra,on<strong>de</strong> mergulhavam alguns feijões enadavam algumas folhas <strong>de</strong> couve.E este era o prato para um dia inteiro.


Um pequeno funcionário público,cujo salário não passa <strong>de</strong> 600$000 pormes, comentou para mim:- O verda<strong>de</strong>iro socorro social é umsalário compatível para todos. Que valeum almoço <strong>de</strong> carida<strong>de</strong> no Natal, umaenxerga uma vez por ano? O homemtem necessida<strong>de</strong>s todos os dias. Entretant


ESPANHA /1939- Esta é a síntese do livro OAno da Vitória. É assim que osfranquistas chamam 1939,quando esmagaram a repúblicaespanhola com a ajuda <strong>de</strong>Hitler. O autor Eduardo Guzmán,63, era nos anos 30 um<strong>jornal</strong>ista participante, <strong>de</strong> tendênciaanarquista. Durante aguerra civil dirigiu o CastillaLibre, órgão central sindicalUGT (União Geral dos Trabalhadores),que <strong>de</strong>senvolveugran<strong>de</strong> campanha antifascista.Após um período <strong>de</strong> inativida<strong>de</strong>forçada, Guzmán voltou atrabalhar em traduções, roteiros<strong>de</strong> filmes e reportagens. Elesobreviveu aos campos <strong>de</strong> concentraçãoda Espanha <strong>de</strong> Franco.A edição <strong>de</strong>sse livro emMadri foi uma surpresa: ostemas <strong>de</strong> que trata são malditosna Espanha. A saída <strong>de</strong> O Anoda Vitória foi uma das causas dasubstituição do ministro daInformação, Pio Canabillas, edo diretor-geril do MinistérioRicardo <strong>de</strong> La Cierba, emnovembro <strong>de</strong> 74. Em maio <strong>de</strong>steano,:o livro recebeu o PrêmioInternacional <strong>de</strong> Imprensa,em Nizza (Itália), concedidopelaÉ revistas L'Expresso, da Itália;Newsweek, dos EstadosUnidos; Nin, da Iugoslávia;Nouvel Observateur, da França;Tages-Anzeiger Magazin,da Suíça; The Observer, daInglaterra e Triunfo da própriaEspanha.Deixamos atrás, ao longo do porto, oscorpos daqueles que não souberam ounão pu<strong>de</strong>ram superar a dor da <strong>de</strong>rfota.Eles ficaram no porto, entre uma duplafila <strong>de</strong> soldados inimigos. Caminhamoslentamente, em silêncio. Cada um carregaconsigo o pouco que conseguiu salvarao naufrágio geral, aquilo que pô<strong>de</strong>carregar para começar nova vida emalguma distante terra estrangeira: umamala, um saco» cobertas, algum documento.Muitos estavam com as mãosvazias.Não posso esquecer as discussões <strong>de</strong>uma hora atrás entre os <strong>de</strong>fensores e osadversários do suicídio. Partindo daconstatação <strong>de</strong> que não restava maisnenhuma saída para nossa existência,que iria se reduzir a uma série infindávelae torturas, <strong>de</strong>víamos enfrentar este calváriocomo uma última e <strong>de</strong>finitiva contribuiçãoà causa que todos tínhamos<strong>de</strong>fendido.- Não quero poupar a eles nenhumcrime - dizia Manuel Amil.- Se eles me querem morto, terão <strong>de</strong>me matar.Era, ao menos aparentemente, umargumento <strong>de</strong>finitivo: um suicídio coletivoteria livrado o inimigo <strong>de</strong> muitosembaraços. Nosso sangue não pesaria naconsciência <strong>de</strong>les. Assim falava JuanOrtega, fechado no seu inflexível sentimento<strong>de</strong> sacrifício e <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> noenfrentar a morte, pronto a ser umexemplo para quantos, menos preparadosi<strong>de</strong>ologicamente, témessem ter amorrè ao seu lado; Ninguém podia negaro valor do raciocínio <strong>de</strong> muitos comoRubiera, Antona, Zabalza, MavoralMolina e Acero. Para eles a simples presençanos campos <strong>de</strong> concentração ouprisões era uma negação da propagandainimiga: os franquistas estavam dizendoque os nossos chefes militares tinhamfugido em massa, abandonando a tropa àprópria sorte. Até os militates <strong>de</strong> carreira,como Burillo, Fernan<strong>de</strong>z Navarro eOrtega sustentavam que um fuzilamentoem massa teria <strong>de</strong>monstrado ao mundoque o fascismo violava as leis <strong>de</strong> guerra,acomeçar pela famosa Convenção <strong>de</strong>Genebra, e que uma execução <strong>de</strong> prisioneirosteria uma excepcional repercussãona opinião pública mundial.Mas agora, <strong>de</strong>ixando o porto, eu meperguntava se aceitávamos este raciocínioapenas por instinto <strong>de</strong> sobrevivência,se tínhamos caído facilmente naarmadilha da esperança. E me volta àmemória o conto <strong>de</strong> Viliers <strong>de</strong> l'lsleAdam, que <strong>de</strong>screve a tortura que aInquisição aplicava às suas vítimas. Comsadismo, os inquisidores agiam como seestivessem convencidos <strong>de</strong> que às doresmateriais <strong>de</strong>veriam acrescentar as doresmorais, a morte da esperança. Na noiteda execução, os prisioneiros eram <strong>de</strong>ixadosjuntos, como se os carcereirosestivessem negligenciando no trabalho.Os carcereiros dormiam profundamentee os prisioneiros podiam conversarnos corredores e quartos. O <strong>de</strong>sgraçadoacredita-se salvo e, quando alcançaa estrada, <strong>de</strong>scobre a verda<strong>de</strong>: o fornoque o queimará vivo já está no ponto.Próximos à porta da prisão estão os assassinos,pacientes, espepando os homensque levarão à morte.Em um certo sentido, foi isso o queaconteceu a todos nós.Afundados na linha <strong>de</strong> frente entre o26 e o 28 <strong>de</strong> março (<strong>de</strong> 1939), pu<strong>de</strong>mosfugir <strong>de</strong> Madri, quando o inimigo játinha penetrado na cida<strong>de</strong>, porque tinha<strong>de</strong>ixado uma brecha para alimentar nossaesperança. Horas <strong>de</strong>pois, em Valença,assegurava-se que seria possível uma rápidaretirada. Nos encaminhamos paraAlicante porque um navio inglês ancoradoem Gandia podia nos salvar. Pouco<strong>de</strong>pois, no porto <strong>de</strong> Alicante, 20 mil pessoascomeçavam a viver uma aventuradantesca que duraria 3 intermináveisdias: sem po<strong>de</strong>r dormir nem comer, semquase po<strong>de</strong>r respirar, tremendo <strong>de</strong> friodurante a noite, molhados pela chuvadurante horas e horas, esperávamos,com os olhos no mar, que o navio chegasse.A cada momento, vinha alguémcom uma mentira.- Vocês não correm nenhum perigo, oporto foi <strong>de</strong>clarado zona internacional.Palavras, frases que nos tranqüilizassem,garantias solenes. Mas os naviosque vem e vão estão distantes do porto.Explo<strong>de</strong>m entre nós casos <strong>de</strong> loucura:incapazes <strong>de</strong> agüentar a tensão, muitossuicidam-se, jogam-se na água, estouramos miolos. Finalmente, e já estávamosno dia 31 <strong>de</strong> março, somos convencidosa largar as armas, incondicionalmente,para que os navios franceses possamentrar no porto. Mas é outro navioque chega, é o Vulcano, espanhol, comcanhões e metralhadoras apontadas parao cais. Desembarcam soldados. Olhamosquietos e silenciosos para os soldados <strong>de</strong>metralhadora na mão. E a triste procissãocomeça. Em algum lugar, mais à frente,os prisioneiros começam a ser interrogados.Ao longe, confusas, começam achegar palavras <strong>de</strong> comando ou <strong>de</strong>ameaça. De vez em quando se ouve umdisparo, um grito <strong>de</strong> agonia, lamentos <strong>de</strong>dor...O fim da coluna retoma a marcha. Émanhã <strong>de</strong> céu limpo. Passamos na frente<strong>de</strong> uma praia <strong>de</strong> Postiguet.- Olhem os russos! - grita alguém.- Os russos! Os russos! - fazem ecooutras vozes.Isto me surpreen<strong>de</strong>: "Mas on<strong>de</strong> estãoos russos?"- Os russos somos nós - respon<strong>de</strong>bem-humorado David Antona, quecaminha ao meu lado,Entendo. Dou <strong>de</strong> ombros. Daquelesmilhares <strong>de</strong> pessoas que tinham passadoa noite no cais, talvez 20 ou 30 não fossemespanhóis. Mas russo ninguém era.- Fora. Fora. Mulheres e crianças nãopo<strong>de</strong>m passar aqui - grita um soldado.A coluna aperta o passo <strong>de</strong> novo. Umgrupo <strong>de</strong> soldados esbarra em algumacoisa, a uns 20 metros. Gritam. Agitam osbraços. Os Iguardas ficam irritados.Famílias são separadas com violência<strong>de</strong>snecessária, três mulheres e duascrianças são levadas para um canto daestrada. As crianças choram, umamulher pergunta a um guarda:- Por favor, meu sennor, para on<strong>de</strong>levam meu marido?- É melhor que você não saiba.- Como? - grita a mulher - Vão matarmeu marido?- A forca é o mínimo que um vermelhomerece.- Mas ele não é criminoso, eu juro quenão, sempre foi um trabalhador honesto!- Quieta, Marga, não vê que nãoadianta nada? - grita o marido.- Ah, tu não cala o bico, hem? - grita oguarda, que pega a arma e enfia no capotedo preso. O outro empurra a arma. Oguarda dá com a arma na sua cabeça. Osprisioneiros atiram as malas e sacos nochão, avançam contra o solda<strong>de</strong>o. Elerecua, a arma na mão.- Parem! O primeiro que <strong>de</strong>r um passoé um homem morto:Metralhadora em punho, um tenenteque observa a cena <strong>de</strong> longe, aproximaserapidamente. Grita. Da or<strong>de</strong>ns. Ossoldados apontam os fuzis contra nós. Ovelho Juan Ortega, <strong>de</strong> cabelos brancos,toma à frente. Olha os oficiais na cara, elhes mostra as mãos <strong>de</strong>sarmadas.- Atenção, atenção tenente. Nós estamos<strong>de</strong>sarmados.Mandam o velho calar a boca. Sob amira da pistola e do fuzil, pegam as nossascoisas, recomeçamos a marcha.PRISÃO DE ALBATERA. MAIO DE 1939.-Vamos fuzilar dois caras. Tentativa <strong>de</strong>fuga!E a primeira notícia que chega. Nãoenten<strong>de</strong>mos nada. Muito'menos queuma execução possa se tornar espetáculopúblico. Mas qualquer dúvida logo<strong>de</strong>saparece, quando mais 35 homenschegam à prisão. O número <strong>de</strong> sentinelasé triplicado. A cada 50 metros, metralhadorasestão apontadas para nós,prontas para disparar.Não sabemos quantos serão fuziladosnem se haverá qualquer espécie <strong>de</strong> julgamento.Nos breves momentos em quecorre qualquer informação - instantesintermináveis - parece que há semprealguém mais bem informado do que nós.Cochicha-se: "são 3!"Um grupo está saindo <strong>de</strong> trás <strong>de</strong> umabarraca. È escoltado por vários soldados,por um padre e uns 4 ou 5 funcionáriosque os acompanham à distância.Os 3 con<strong>de</strong>nados, as mãos presas poralgemas, vestem calça simples, camisacáqui. A cara <strong>de</strong>les me parece conhecida.Acho que são 2 tenentes e 1 comissárioe que, alguma vez, falei com eles, aindaque não os conheça, nem saiba seusnomes. Mas os nomes não me interessam:o que conta é que são prisioneiroscomo nós. E serão fuzilados.Eles têm entre 30 e 35 anos. Um é loiroe magro; o outro careca e robusto, alturasemelhante à minha, o 3 9 é moreno, rosto<strong>de</strong> traços duros. Caminham lentamente,passo firme, cabeça levantada,olham os guardas com ar <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio.- Calma companheiros - grita o loiro -é uma provocação!Um dos soldados aperta seu braçopara que pare <strong>de</strong> falar, mas ele ffaz umgesto brusco, e grita:- Eles querem matar todos, todos.- Silêncio! - or<strong>de</strong>na um capitão.- Calma, calma companheiros - grita oloiro com voz firme - Não caiam naarmadilha.Soldados e oficiais o cercam correndo,para que pare <strong>de</strong> falar, mas ele já tinhadito o que queria. Suas palavras têm umefeito terrível sobre os milhares <strong>de</strong> prisioneirosreunidos no campo. As caras sefecham; eles apertam os punhos, enraivecidos.Muitos dão, institivamente, umpasso à frente. Os soldados metem o<strong>de</strong>do no gatilho das metralhadoras.- Calma companheiros, é uma provocação!O grito é o último aviso. Estamos diante<strong>de</strong> uma trágica realida<strong>de</strong>. Enten<strong>de</strong>mosque eles querem fuzilar 30 mil homens, enão 3.O grupo que cerca os con<strong>de</strong>nadosaperta o passo e chega rapidamente aolugar escolhido para a execução. Opadre se aproxima <strong>de</strong>les; repudiado semuma palavra, mas com gestos expressivos.Um sargento quer vendar os olhosdos prisioneiros. Nenhum dos 3 aceita.O padre e o sargento saem <strong>de</strong> perto.Muito nervoso, o tenente grita:- Via a... - A última palavra cios con<strong>de</strong>nadosse per<strong>de</strong> no rumor dos disparos.Pelo que gritavam naquela hora? Pelarevolução? Pela anarquia? Pela república?Jamais po<strong>de</strong>remos saber.Depois <strong>de</strong> uma breve pausa, o tenenteaproxima-se dos corpos caídos na terra.Tem uma pistola na mão. Está pálido,ligeiramente curvado. Aproxima-se edispara o tiro <strong>de</strong> misericórdia.A estes fuzilamentos oficiais e públicos<strong>de</strong> Albatera seguem-se outros nosdias seguintes. O motivo é sempre omesmo: tentativa <strong>de</strong> fuga. Os prisioneiros,em perfeita formação militar, <strong>de</strong>vemassistir a todas as execuções. Só os presosdas solitárias ficam livres do espetáculo.Mas <strong>de</strong>pois das execuções temos <strong>de</strong>marchar diante dos corpos dos companheiros.Aind aquando ficamos enajaulados,passamos horas amargas. Vemosos outros passando, ouvimos as vozes <strong>de</strong>comando, os disparos, os tiros <strong>de</strong> misericórdia.Mentalmente seguimos a cenaque não vemos. Os fuzilamentos repetidosprovocam uma grna<strong>de</strong> dor emtodos. Ninguém tem vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar.Por horas inteiras, especialmente <strong>de</strong>pois<strong>de</strong> cada fuzilamento, segue-se um silêncioimpressionanete. Mudos fechados,sentados na terra, cada um rumina seuspensamentos. Mas se pensam assustar osprisioneiros com o fuzilamento públicoe fazer que a gente <strong>de</strong>sista <strong>de</strong> fugir, oresultado é exatamente o contrário. O<strong>de</strong>sespero incita os prisioneiros a tentara fuga por todos os meios possíveis, aidnaque se perca a vida.Neste penodo se assiste a um episódioincrível. E o*caso <strong>de</strong> um homem muitoalto e muito margro, dominado, segundoseus companheiros, por um terrívelmedo. Uma manhã, ele vai pegar umacaneca que caiu fora da cela. Um sentinela<strong>de</strong> cor escura o imobiliza, sob aameaça da arma. enquanto chama o chefeaos berros e diz que o prisioneiro tentoufugir.Apesar dos protestos <strong>de</strong> inocência,«fuzilaram o prisioneiro no dia seguinte. •Já está mais morto do que vivo quando olevam para o lugar da execução. Cai <strong>de</strong>joelhos, porque suas pernas não conseguemaguentá-lo, chora, implora,.Quando o pelotão dispara, as balas raspamsua cabeça. Devem disparar <strong>de</strong>novo. Mas não o matam na mesma hora.Precisam disparar <strong>de</strong> novo. E não é ainda<strong>de</strong>sta vez que morre. Ferido e ensangüentado,o prisioneiro caído na terracontinua a gemer. Por fim, o oficial quedá o tiro <strong>de</strong> misericórdia erra o alvo etem <strong>de</strong> apertar o gatilho 3 vezes.- Por que não tentar fugir se a gentetermina mesmo como ele? - perguntamseos prisioneiros.Quando, dias <strong>de</strong>pois, continuávamospensando nesta história, chegou a Albaterraum fra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Prohuela, o padre Jesus.Ele falava num tom gandiloquente.Começou tocando em nossos crimes,


ATE QUANDO?pelos quais <strong>de</strong>víamos implorar o perdãodo senhor. Devíamos nos arrepen<strong>de</strong>r <strong>de</strong>todo coração para <strong>de</strong>pois libertar nossasalmas do fogo eterno. Acrescentou, piedosamente,que nem toda a culpa eranossa, mas dos chefes, que nos enganaram,fugindo no momento crítir D.- Sois culpados - disse - mas aos olhosdo Senhor Todo Misericordioso vossosgraves pecados são <strong>de</strong>sculpados pela falta<strong>de</strong> luz, pela estreiteza mental na qualviveis, no vosso completo analfabetismo.Sois pecadores vilmente enganados.... Parece que ele ia continuar nessecaminho quando Rodriguez Vega, quenão agüentava mais, o interrompeu,com um tom doce:- Você acha que eu sou um <strong>de</strong>ssesanalfabetos enganados?- Mas por que pergunta? - exclamouo padre, surpreso.- Porque eu sou o secretário-geral daUnião Geral dos Trabalhadores.- Secretário da UGT?- Sim. Sou o sucessor <strong>de</strong> LargoCaballero. Serei um dos enganados?- Nem pensar nisso - exclamou opadre. - Tu és um dos culpados <strong>de</strong> queeu falava antes.- E vejajsó que não fugi carregado <strong>de</strong>lilhões. Ou acha que eu ten ino ui imamala cheia <strong>de</strong> dinheiro?Antes que o padre dissesse qualquercoisa, uns 20 <strong>de</strong> nós começamos a imitarRodriguez Vega e a perguntar ao padreJesus se tínhamos sido enganados:- Eu sou advogado e <strong>de</strong>putado socialista.- Eu sou médico e chefe <strong>de</strong> um corposanitário do exército.- Eu sou metalúrgico e comandante <strong>de</strong>uma divisão em Jarama.- Eu sou professor e governador civil.- eu sou <strong>jornal</strong>ista.O padre Jesus estava assustado. Comas mãos na portinhola que o separava <strong>de</strong>nós, a boca tremendo, não dizia o queestava pensando.- O, padre, ainda acha que a gente foienganado? - perguntou RodriguezVega.- Enganados? -reagiu o padre.- Não.não! Eu acho que eu estava enganado. Eque vocês <strong>de</strong>vem ir todos para as chamascio inferno.PRISÃO DE MADRI, JUNHO DE 1939.Nesta primeira hora da manhã <strong>de</strong> 16<strong>de</strong> junho, preso na rua Almagro (Madri),vejo <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> feridos, ouço lamentos.De repente, entram 2 guardas gritando:- Antonio Trigo Mairai. Venna logo!Trigo Mairal é um homem robusto, <strong>de</strong>uns 40 anos, foi governador civil <strong>de</strong>Madri, e se comportou no cargo semrancor, sem ódios. Ele se levantou sorri<strong>de</strong>nte,caminhou tranqüilo para a porta.Mairal merecia o respeito nao só do PartidoSocialista (ao qual pertencia) comodos outros antifascistas e até dos inimigos.Alguns, otimistas, achavam que eleia ser libertado.Mas ele <strong>de</strong>mora a voltar. Neste meiotempo, a porta se abre mais 3 vezes:outros 3 homens vão e não voltam. O diaavança lentamente e nós po<strong>de</strong>mos ver aluz que passa jpor uma janela com gra<strong>de</strong>s.Apoiado na pare<strong>de</strong>, cansado diante<strong>de</strong> todos os inci<strong>de</strong>ntes da penosa jornada,paro alguns instantes. Nisto, chegam4 tipos com revólveres na cintura eatiram Mairal no chão.- Este fica aí!O aspecto <strong>de</strong> Mairal é impressionante.O corpo é uma massa <strong>de</strong> sangue. Estásemi-consciente, vomita, tem convulsões.Os companheiros curvam-se sobreele, limpam o sangue <strong>de</strong> seu rosto. Elerespira còm dificuída<strong>de</strong>, ofegante. Temmuitas feridas na cara, geme, põe a mãona parte baixa do ventre, no fígado, nosrins.- Matem-se se chamarem vocês - dizcom voz apagada.- Matem-se, é melhor.Começa a vomitar sangue. Dá impressão<strong>de</strong> sufocamento.- Eles fizeram comigo coisas que nãopodia imaginar. Eles me fizeram comerum retrato <strong>de</strong> Pablo Iglesias... Chutaramminha cara... Estou <strong>de</strong>struído, <strong>de</strong>struído.Matem-se se chamarem vocês, matemse.Osgritos e lamentos <strong>de</strong> Trigo Mairalproduziram efeito profundo: Ficamosquietos.- Matem-se, matem-se antes <strong>de</strong> ir pra'í. lá,Abrem <strong>de</strong> novo a porta. Olhamos. São'P'• --•-os_4 tipos com as caíças escuras, fuzis namão. Uma nova chamada:- O diretor <strong>de</strong> Castilla Libre e do MundoObrero...Vacilo um instante. Tremo, enquantoolho a figura <strong>de</strong> Mairal. Os homens voltama gritar. A 15 passos move-se tambémNavarro Ballesteros. Um novo grito:- Saiam logo ou a gente tira vocês daí aponta-pés.Navarro vai na minha frente. A portabate às nossas costas.- Quem é o comunista? - pergunta um<strong>de</strong>les.Navarro volta-se para eles, olha serenamente,respon<strong>de</strong> com uma palavra:- Eu.- Que carinha, hem?,A mão fechada cai na cara <strong>de</strong> Navarro.Eu olho a cena, impotente e calado. Derepente, sinto uma dor nos rins enquantooutro sujeito grita:- E você, por que não ri?- Ele tinha batido.em mim com o fuzile eu fui jogado contra a pare<strong>de</strong>.- E só um aperitivo - diz um <strong>de</strong>les, semconter o riso. - Você vai ver o que teespera.São estes os <strong>jornal</strong>istas? Vamos embora.Caminhamospara um minúsculo jardim.Sentimos nos rins o cano dos fuzis.- Atenção, rapazes, eles po<strong>de</strong>mquerer fazer uma besteira.- Tomara - respon<strong>de</strong> um dos quecaminham atrás <strong>de</strong> nós. - Eu preciso voltara praticar tiro ao alvo.Estamos na rua Almagro. Atravessamosa rua para continuar pela calçada, os2 juntos. Ao chegar ao portão cia frente,lanço um rápido olhar para o prédio.Recordo, ainda, as árvores, o sol, a vida.O cano do fuzil nas minhas costas meleva para a frente, enquanto uma voz mediz: - Entra!.1975O garrote vil foi oficialmentereconhecido por <strong>de</strong>creto <strong>de</strong>"Fernando 7


O que os freqüentadores da Bienal vão dizer quando virem isto?FOTOS DE DILTON MASCARENHAS E VANDER PRATAMatil<strong>de</strong> Matos: No Brasil e na Bahiaparticularmente, a arte brasileira se limitaa uma cópia <strong>de</strong> segunda e terceira mãodos movimentos que se fazem na EuropaeEstados Unidos. Um pequeno grupo aeartistas faz uma arte regional e por isso seacham nacionais, apenas pela temática,que recebem <strong>de</strong> graça: na Bahia retratama baiana, o tabuleiro <strong>de</strong> acarajé, ocasario, mas à maneira européia ou àmaneira <strong>de</strong> um artista primitivo. No Brasil,os artistas não estão interessados nocon<strong>texto</strong> social, em fazer um estudoaprofundado da socieda<strong>de</strong> e dos víncu-.los culturais do povo, das tradições, dasorigens. Eles querem.fazer um trabalhobonito para ven<strong>de</strong>r. As vezes aparecemoutros que fazem uma vanguarda que éo oposto do bonito, fazem o "não-bonito",que já esteve na moda. Na Bahia, década<strong>de</strong> 60, quando começou o movimentoEtsedron, este quadro era claro:havia o grupo dos primitivos, sempremais numeroso,faziam o casario. Um grupomenor se limitava a repetir os artistasda geração <strong>de</strong> 45, que introduziram naBahia o movimento <strong>de</strong> 1922. Um outrogrupo pretendia ser mais avançado ecopiava uma vanguarda recente quechegava ao Brasil com pelo menos 10anos <strong>de</strong> atraso.O Etsedron começou exatamente pelarevolta <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> artistas a esteestado <strong>de</strong> coisas. Eles não se conformavamcom o fato <strong>de</strong> que brasileiros e sulamericanos,com todo manancial nasmãos, em circunstâncias especiais daAmérica Latina, que po<strong>de</strong>riam explorar,não fizessem isso. Lançaram uma espécie<strong>de</strong> manifesto: "Nós queremos rompercom a frouxidão da transparência dabeleza, do <strong>quadrinho</strong> na pare<strong>de</strong>"! OEtsedron sempre se revoltou contra estetipo <strong>de</strong> arte, já que era uma arte que nãodizia nada.Pretendiam e preten<strong>de</strong>m que o artistatem por obrigaçao não só fazer uma arteque fale, que tenha conteúdo mas principalmenteque fale <strong>de</strong> hoje, <strong>de</strong>stemomento, <strong>de</strong>ste lugar. Começaram aestudar o nor<strong>de</strong>ste rural brasileiro, queconheciam melhor.Viveram sem luz elétrica, rádio outelevisão.Sentiram e viveram o animismo daregião, atentos a tudo que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertarporque há uma força que leva oespectador a conseguir uma pedra, umaárvore, uma imagem que não po<strong>de</strong> serestereotipada. Ha 200 mil árvores e todasdiferentes, cada elemento representa aforça da região. O Etsedron quis transmitirisso. Por este aspecto e principalmentepelo fato <strong>de</strong> que o artista brasileiro,não po<strong>de</strong>ndo competir com artistasestrangeiros pela falta <strong>de</strong> recursos e técnicas,achavam que se <strong>de</strong>via fazer umaarte <strong>de</strong>ntro das limitações do brasileiro,do meio em que o brasileiro vive e queos próprios moradores da região reconhecessemo material e a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> transformá-lo, se quisessem.Depois <strong>de</strong> muita busca, encontraram ocipó e começaram a fazer figuras on<strong>de</strong>homem e anima^ se confundiam na<strong>de</strong>pendência total a natureza. O cipó foium achado importante, era um materialoferecido espontaneamente pela natureza.Esta ambientação foi levada à Bienal<strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> 73 e ganhou o prêmioGovernador do Estado.Sentiram que havia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sair do quadro <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>, sem cair naescultura como arte final, o que o movimentoEtsedron rejeitava.Assim, partirampara uma ambientação com várias figuras,um valor conjunto e complementaramo trabalho com música, dança, filmes,<strong>foto</strong>grafias, <strong>texto</strong>s, um trabalho <strong>de</strong>arte integrada. Foi mostrado um segmento<strong>de</strong> um trabalho contínuo, - nãoacabou na Bienal. Continuram a trabalhar.Mesmo quando estavam fazendogravuras ou pintura não era como antesaa ambientação. A gravura <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> serum <strong>de</strong>talhe e passou a ser segmento <strong>de</strong>um todo, um prolongamento do quefizeram na ambientação, passado aopapel ou à ma<strong>de</strong>ira. Olnando a ambientação,ninguém dirá: "isto é <strong>de</strong> fulano,aquilo é <strong>de</strong> fulano". O trabalho não estápreso a qualquer corrente especifica,apesar <strong>de</strong> que cada artista do Etsedron,tem sua marca pessoal facilmente reconhecida.Existe uma coisa que acontece sempreno mundo todo ao mesmo tempo -acontece em <strong>jornal</strong>ismo, com escritores,dançafinos - existe um fermento qualquerno ar que transmite e se pega emqualqlier lugar - há uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sairem do quadro e da escultura e entraremnum con<strong>texto</strong> muito mais amplo,fazer artes plásticas integrando outrasáreas <strong>de</strong> arte. Num segundo trabalho jáintegraram ciências (antropologia earqueologia) porque dariam informaçõesnecessárias. Se a ambientação preten<strong>de</strong>atingir o espectador coletivo,<strong>de</strong>ve ter um conteúdo muito forte,informações exatas.Fazer o trabalho sem conteúdo écomo <strong>de</strong>corar o Teatro Municipal para ovaile <strong>de</strong> Carnavah qualquer artista po<strong>de</strong>fazer isto masquanao acabar o carnavalacaba a <strong>de</strong>coração, não quer dizer maisnada!O principal do Etsedron é exatamenteesta linha nacional, não por ser brasileiramas acontece que os artistas nasceramaqui e que jamais po<strong>de</strong>riam estar fazendoa guerra do Vietnã ou o pop <strong>de</strong> AndyWarhol. O artista nacional tem tanta coisaa dizer, não é? É só querer ver, abrirum pouquinho os olhos.Mostrar uma realida<strong>de</strong> que não é anossa acho acho absolutamente ridículo,não entendo como o artista brasileiro serecusa a falar da nossa realida<strong>de</strong>! Escritorainda diz alguma coisa, teatro algumacoisa, mas não <strong>de</strong>ixam, prejudicam; oartista plástico não diz nada, fica olhandopara a infância, para o século XVI eXVII, para o barroco, para os renascentistas:sónão olha para o que está acontecendoaqui e agora!O movimento artístico revolucionáriobrasileiro marcou um pouco a literatura,nas artes plásticas havia apenas a imagem<strong>de</strong> um trabalho brasileiro à maneira <strong>de</strong>um Picasso, por exemplo; não estavaminovando.Falei sobre o Etsedron I e que o conteúdoé o Nor<strong>de</strong>ste rural brasileiro. Parao projeto II, viajaram à região Amazônica(Itaituba, Pará) e ficaram lá seis meses.A estrutura <strong>de</strong> cipó permaneceu, porém,recoberta <strong>de</strong> couro crú. Na região erajogado fora, aqui em Salvador, caríssimo!Edison da Luz: O couro era a atmosferada região, enten<strong>de</strong>u? Do primeiro parao segundo projeto queríamos agregarnovos materiais que i<strong>de</strong>ntificassem aregião e que não quebrassem a força dopróprio cipó. Couro é escudo, <strong>de</strong>fesa, aprópria pele do caboclo lá é aspera, sei<strong>de</strong>ntifica com o animal. O trabalhoi<strong>de</strong>ntifica o homem-animal, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sua metamorfose, circunstâncias emaue vivem.Matil<strong>de</strong>: o júri da Bienal <strong>de</strong> 73 haviacrítico chinês, chileno, norte-americano,belga e brasileiro. São culturas completamentediferentes, eles enten<strong>de</strong>ram otrabalho, gostaram e premiaram. Recentemente,na pré-bienal <strong>de</strong> 74, o impactofoi muito maior, foram críticos brasileirosque julgaram e escolheram, entreoutros trabalhos, o projeto Etsedronpara representar o Brasil nesta Bienal <strong>de</strong>75.O difícil foi manter a linha durantetodo este tempo, ninguém po<strong>de</strong> imaginaras dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um trabalho quenão está à venda e que absorve o artistaintegralmente. È preciso acreditar muito,ter gran<strong>de</strong> abnegação, estar ciente <strong>de</strong>que estão fazendo algo correto e necessário.Qualquer oscilação põe tudo águaabaixo. Edison é o único artista que ficoudo grupo inicial. A idéia base é <strong>de</strong>le e ogrupo se formou à sua volta. Entraram esairam muitos principalmente porquenão acreditaram no trabalho.Edison: Um artista bem acadêmico,por exemplo, que não está preocupadoem fazer arte social, não está preocupadocom o povo, não está preocupadocom arte coletiva nem nada disso, essecara não se encaixa direito <strong>de</strong>ntro do trabalhodo Etsedron, conflita. O Etsedronatinge não só o homem urbano, atingetambém o homem rural, que reonhece ocipó, transformado em arte. Prova dissoé que sempre tivemos gran<strong>de</strong> afluxo <strong>de</strong>pessoas em Arembepe ou no Pará.Matil<strong>de</strong>: Houve uma tentativa em 69


í/i Oíia32T3lotà mgiiv obnsup igxib oêv Ifinsia fcb 291 obfiln9up9il 20 9up Oquando fizeram a primeira manifestaçãoao Etsedron. Por coincidência havia umamostra "Salão do Jovem Artista Baiano",no museu <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna. Entraram,ingenuamente. Foram aceitos sem que odiretor visse os trabalhos, por que já <strong>de</strong>sfrutavam<strong>de</strong> alguma fama. Passaram nomuseu dois dias montando a ambientação.Quando o diretor Renato Ferrazviu, disse: "O que é isso? O que os fre;^quentadores vão dizer?lsto não é arte!"e mandou retirar tudo imediatamente,alegando que Edison não po<strong>de</strong>ria participarpor ser artista premiado. Aconteceque muitos dos outros participantesera.m artistas premiados. Pois é.Edson: Não foi só isso. O trabalhoficou escondido no museu. Pra ninguémver mesmo, sem tratamento o trabalhoapodreceu.Matil<strong>de</strong>: Temos a idéia <strong>de</strong> criar umCentro Cultural em Salvador, on<strong>de</strong> oartista possa <strong>de</strong>senvolver seu trabalhocom facilida<strong>de</strong>s. O local existe, basta quehaja um apoio.Edison: Nós quebramos o conceito doartista só ^estrela. Matil<strong>de</strong> Matos, porexemplo, e crítica, vive o trabalho, o processoEtsedron. E faz uma transcriçãoliterária. O crítico, o antropólogo, osociólogo po<strong>de</strong>m atuar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> ummesmo sentido. A atmosfera é a mesma,o sentido é o mesmo. O Etsedron integraáreas <strong>de</strong> manifestação que não tiveramoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aparecer. Um antropólogoque nunca po<strong>de</strong> publicar seu trabalho,um escritor que tenha um trabalhoque se i<strong>de</strong>ntifique com a da gente. Nãoprocuramçs manter uma linha temáticarígida corno o cubismo ou dadaísmo.Nossa linha é versátil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estaversatilida<strong>de</strong> vá ao encontro <strong>de</strong> nossaproposta, que seria i<strong>de</strong>ntificar não só oprocesso <strong>de</strong> arte brasileira como tambéma própria vida do brasileiro, o quefaz, como vive, qual a situação <strong>de</strong>le nestemomento. Praticamente, o Etsedron nãomarca o amanhã, como o surrealismo,nós queremos saber o que é hoje, o queestá se passando aqui.O artista que tem por finalida<strong>de</strong> fazerda arte comercio não encontrará condições<strong>de</strong> trabalhar para o Etsedron. Respeitadosno sul, fomos ignorados em Salvadore resolvemos sair, foi quase umafuga que acabou se revelando proveitosa,porque ampliou o sentido, a abrangênciasocial do Etsedron. No Ceará, noPiauí, a atmosfera é a mesma, a vivência éa mesma, o mesmo rio, o mesmo alimento,as mesmas dificulda<strong>de</strong>s. Começamosaqui porque conhecíamos mais, acabamossaindo e mesmo assim isolando Rioe São Paulo que para nós já estão checados.Para o sul o Etsedron po<strong>de</strong> ser o contrastedo que existe entre eles e nós. Osulista talvez fiqu« mais interessado noEtsedron que o nor<strong>de</strong>stino porque retrataa problemática daqui.Eu não veio condições <strong>de</strong> existir artepop no Brasil porque o próprio Brasil já épop!Estavamos interessados também emretratar o processo ecológico no Etsedron,mas isso é problema <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>gran<strong>de</strong>. Temos a idéia <strong>de</strong> que seria interessantenão se repetissem nqs cida<strong>de</strong>smenos favorecidas os crimes ecológicosocorridos nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s.A coisa vem aumentando <strong>de</strong> tal formaque o processo IV do Etsedron vai terque ser um negócio para acabar! O trabalhopassa a ter uma formação maispolítica; no início era a <strong>de</strong>scoberta dagente mesmo em querer provar o quetemos e também conseguir com nossospróprios recursos botar pra fora nossasmanifestações, nosso i<strong>de</strong>ais. Mas a partirdaí, quando já conseguimos checar oselementos já existentes, o trabalhar pe<strong>de</strong>uma nova dimensão. Talvez daqui prafrente o cipó não entre em mais nada,enten<strong>de</strong>u? Ele foi um marco mas a partirdaí tem que partir prá outra, vai ser umaluta, já intelectual entre nós mesmos,para <strong>de</strong>scobrir o que é que o Etsedronpo<strong>de</strong> continuar a dar, porque ele é efetivamentecontínuo, não po<strong>de</strong> ser uma. arte estática, no momento em que pararvira um objeto e morre. Tem que ser umprocesso <strong>de</strong> arte viva. A dança temacompanhado o processo Etsedron, éum elemento vivo representando a mesmaatmosfera <strong>de</strong> um elemento inanimado.O cipó nos <strong>de</strong>u uma escola escultóricae po<strong>de</strong> ser que a gente execute esculturas<strong>de</strong> ferro, com o mesmo sentido dorocesso Etsedron. O ferro liga-se tamémà preservação: não é apenas as pessoas<strong>de</strong> agora que <strong>de</strong>vem ver sentir oprocesso Etsedron. Preten<strong>de</strong>mos levar otrabalho a cida<strong>de</strong>s, estados, algo comouma manifestação <strong>de</strong> arte itinerante. Emcada lugar existe o cipó para trabalhar, acaveira <strong>de</strong> boi, o barro, ficamos seismeses no Piauí, por exemplo, trabalhandojunto com os artistas locais e <strong>de</strong>ixamoso trabalho lá, em exposição permanente.Isso se a gente tiver ajuda. Nós nãoqueremos que o próprio objeto do Etsedronse transforme em objeto <strong>de</strong> consumo,enten<strong>de</strong>? No momento em que issoacontecer, já está checado, não querdizer mais nada!O Governo <strong>de</strong> cada Estado <strong>de</strong>veria dartodo apoio para que pu<strong>de</strong>ssem <strong>de</strong>senvolverseu trabalho. O prêmio emdinheiro da Bienal - que noie parececoncurso <strong>de</strong> Miss Brasil, está <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte- quando o artista ganha, mal dá pra voltare aí recomeçam todos os horrores porque passou no início do trabalho, queacaba morrendo <strong>de</strong>ntro da bienal, não évisto em outro lugar. O artista é tratadocomo um marginal, às vezes acaba <strong>de</strong>sistindo<strong>de</strong> tudo que é seu, para fazer a arteque os críticos gostam e impõem aopúblico: fazer comércio, não arte.CRONOLOGIA1968 - Edison da Luz, José Cunha, PalmiroCruz, Lígia Milton, Vera Lima: "Queremosromper com a frouxidão da transparência dabeleza, do <strong>quadrinho</strong> na pare<strong>de</strong>!" Nasce omovimento artístico Etsedron, Nor<strong>de</strong>ste aoavesso, a busca das raízes,, a i<strong>de</strong>ntificação doprocesso <strong>de</strong> arte brasileira, da vida do brasileiro,do que faz, sua situação nesre momento.Surgem os Espantalhos, esculturas em ma<strong>de</strong>ira.1969 - O grupo é expulso da Mostra doJovem Artista Baiano, no Museu <strong>de</strong> ArteMo<strong>de</strong>rna, em Salvador. Renato Ferraz, Diretordo Museu:: 'O que é isso? O que vão dizer osfreqüentadores? Retirem esse trabalho imediatamente!Isto não é arte!"1971 - Os Espantalhos, <strong>de</strong> duplo sentido,ganham prêmio nacional na Bienal <strong>de</strong> SãoPaulo. Representavam a homem do campo eseu sofrimento e simultaneamente a configuraçãodo admirador <strong>de</strong> arte brasileira <strong>de</strong> idéiase materiais importados, o mimetismo cultural.Na Bahia, este trabalho ficou retido numa saletado Museu <strong>de</strong> Arte/Mo<strong>de</strong>rna, on<strong>de</strong> apodreceupor falta <strong>de</strong> cuidados.1972 - Encontro com o artesão popularBibi do Caçuá. Caçuá é cesto <strong>de</strong> carga paraburros. Bibi usava cipó trançado. Nasce a idéia<strong>de</strong> que o cipó po<strong>de</strong>ria substituir o ferro comoelemento estrutural <strong>de</strong> esculturas. Integravamo grupo: Lígia Milton, Jasmim e Edison da Luz.Os <strong>de</strong>mais se retiraram, entre outras razõespela falta <strong>de</strong> rentabilida<strong>de</strong> do trabalho. Matil<strong>de</strong>Matos participa fazendo transcrição literáriado processo Etsedron.1973 - Etsedron na Bienal <strong>de</strong> São Paulo.Espantalhos, terra, pedra, casa <strong>de</strong> taipas, dançarinos,som, <strong>foto</strong>s, <strong>texto</strong>s e filmes. Estavaintroduzido o conceito <strong>de</strong> ".arte viva". Os artistastrabalharam durante toda a bienal mostrandoo segmento <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> trabalhoartístico. Recebe o Prêmio Brasil. Integravam ogrupo: Palmiro Cruz, Joel Estácio Barbosa,Carlos Negreiro, Matil<strong>de</strong> Matos e Edison daLuz.1974 - Viagem à região Amazônica. Fixamseem Itaituba, Pará. Os habitantes perguntamse o artista plástico faz -copo plástico. Tentativa<strong>de</strong> ensinar artesanato, acabam dando aula <strong>de</strong>higiene rural. Contato çom índios e técnica <strong>de</strong>manuseio do barro. Descoberta <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>quantida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cipó. O couro,jogado • fora na i i região, passa arecobrir as esculturas, tm dois meses realizamonze figuras <strong>de</strong> até 3 metros à base <strong>de</strong> cipó ecouro. Luta para trazer o material a São Paulo,on<strong>de</strong> é selecionado para representar, ao lado<strong>de</strong> outros trabalhos <strong>de</strong> artistas nacionais, o Brasil.Retiraram-se do grupo Palmiro e Negreiros.Chico Diabo, escultor baiano radicado em SãoPauly, passa a integrar o Etsedron.LUÍSPONTUAL


òir O C/GWQO£E PODE TEfKeseunrwl/A/ D/.Y1COM I/M cÂucezUOWlMflOOVl/A4 ATAQUEZVÚO&IÇSÍQ,COMO É QUETOCO MÊSSôceCajTiVEu--mc-K/ós.FUMAMOSlOMWÕeSve maços?Cowé QUESOMFÍFJCOCoutwwi^L,HOLLYWOOD EMWISTBG, UÊ-SeQue /> Mm semiLe/Go SEV/)/S PS(/MCSTSWEO FCEP/fi ?é o f&pg? ty> FV.mm ~ a a s mEx-15na Terra doMarlboroPor JAVME LEÃOe MYLTON SEVERIANOvê 6ms'cai?os.WLHees Dè iVI/ETBfonns;«KW TV77*eetmns^mccê cwp&t, é o/u covsvwwe.SE&UUOO A ÉT7M SA PXOM&WM. C?UL/ZE P/>&J_ cousutí/E : AO ÈIEEEEMABLBOBD, E&ÉC&ÜW O P/^E/TD DÉP/ZBE/M A MW/3TS/Q, M/TTEAS/VM,M/sru/?/) r/K//) FP fSESm P/} c/aqe/34/M.Ws OJDE r/e/) sua SrfOPFt/ESSe Exsecfc/o&poe Mow&um Mo mccwajci; Âo»ee»epi? fvu^e,Foeac/e, cweo, vewuu WKJO PE owveeo é TROUXAve nuAva/ve es7s Agsvgwy'ZOA/os üe j^/uf/e//eo.wcessisOMEtfCAPO 8£/}S/íetW£ SAO A//OU) sC&?â/>P£r60Z p/9 F0fVM


A sala <strong>de</strong> reuniões daagência DPZ, no conjunto <strong>de</strong>casas <strong>de</strong> esquina da Av. BrasilcomAv. Colombia, SP,já estavaarmada, às 19 horas ao dia 22último. Luz total, indireta, agran<strong>de</strong> mesa <strong>de</strong> centro totalmentearrumada, no melhorestilo "brain storm": copinhoscom vários lápis apontados,canetas e blocos <strong>de</strong> papel, emfrente a cada ca<strong>de</strong>ira. No fundo,sobre um armário baixo,vários pratos <strong>de</strong> bufê com salgadinhos- castanhas <strong>de</strong> caju,batata frita, amendoin, biscoitos-, copos <strong>de</strong> uísque e umagarrafa ae 100 Pipers, selada.Roberto Dualibi e Ivan Pinto,os publicitários convidadospara o <strong>de</strong>bate (o terceiro, EnioMainardi, não pô<strong>de</strong> comparecer),já estavam e receberam aequipe <strong>de</strong> EX. Depois dos cumprimentos,ao entrarmos nasala, diante <strong>de</strong> nossas exclamações,Roberto Dualibi fez graça:- Não pensem que é sempreassim. Uísque só quandorecebemos <strong>jornal</strong>istas <strong>de</strong>esquerda.- Mas tem algum aqui?,O cenário estava armadopara mais um <strong>de</strong>bate sobre apublicida<strong>de</strong> e a consciênciados homens que fazem publicida<strong>de</strong>- preocupação cio EX,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seus primeiros números.Debatemos até às 23,30horas, quando Dualibi se recusoua continuar. Mas ao final,Paulo Patarra, Hamilton Almeida,Luis Pontual (do EX) Q IvanPinto convenceram RobertoDualibi que o bate-boca <strong>de</strong>viacontinuar. E para esta continuação,todos os <strong>jornal</strong>istas etodos os publicitários estãoconvocados. Apareçam, vamosmarcar hora e local.PP-Seria bom a gente começar com cada umcolocando a sua posição, dizendo quem é etomando posição da publicida<strong>de</strong>.HAF - Seria mais ou menos um quem vistopor vocês mesmos.Ivan - Bom... E muito abrangente isso. Olha,eu sou publicitário há 20 anos. Sou publicitáriopor opção, muito consciente. Eu fui estudanteae direito - não por opção, mas pos circunstância.No último ano eu arrumei minhas malas efui fazer propaganda. Exatamente porque eufui fazer isso, e muito difícil. Existem váriasrazões. Des<strong>de</strong> um primo que trabalhava empropaganda até o fato que era uma excelentemistura <strong>de</strong> técnicos com generalida<strong>de</strong> que medava a oportunida<strong>de</strong>, entre outras coisas, <strong>de</strong>ganhar um bom salário. Continuo achando aprofissão útil, válida na medida em que o sistemaem que a gente vive precisa <strong>de</strong> alguém queaju<strong>de</strong> a ven<strong>de</strong>r caramelos, guaraná, sabão, coisas<strong>de</strong>sse tipo... E acho que me <strong>de</strong>sempenhobem nessa função.HAF - Voce está há quanto tempo na profissão}Ivan - 20 anos. Com uma passagem longa poruma área paralela, o marketing. Ai eu vireicliente <strong>de</strong> agência durante 10 anos.PP - O que é que você faz na Lintas}Ivan - Direção <strong>de</strong> atendimento, que vem aser a pessoa operacionalmente responsávelpor todo o contato com o cliente.HAF - Roberto}Dualibi - Olha, eu sou um redatorzinho quetem a sorte <strong>de</strong> ser sócio do Petit e Zaraeoza há 7anos. Era um cara que estava <strong>de</strong>stinado a estudarmedicina. Abandonei para trabalhar empropaganda na Colgate-Palmolive, <strong>de</strong> tristememória. Nem tão triste: afinal, era vizinho lá<strong>de</strong> casa, dava pra ir a pé, foi on<strong>de</strong> conheciminha mulher. Fui atraído pela propagandapelo <strong>de</strong>senho. Eu <strong>de</strong>senhava, toda a minha vidaali, principalmente história em <strong>quadrinho</strong>,conheço o nome <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>senhistas.Então eu estava encaminhado mais ou menospra isso, e acabei escrevendo porque eu venho<strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> leitores compulsivos, todomundo Ha e escrevia muito, se correspondia,era isso.HAF - Quanto tempo voce tem <strong>de</strong> propaganda^e quanto tempo você esteve sem serresponsável por uma agência, no sentido <strong>de</strong>proprieda<strong>de</strong>}Duailibi - Eu estou na propaganda há 20anos, a DPZ tem 7, o que significa que por 13anos participei ativamente aa luta ae...LP - 13 anos você ganhou salário e 7 anosque você ganhou dinheiro, é isso}Duailibi - Não. Eu diria que eu sempre tivemuita iniciativa, eu sempre fiz free-lancer. Porquese vai pra propaganda, se faz isso ou se fazaquilo, realmente é um conjunto <strong>de</strong> circunstâncias.Eu nasci numa loja comercial. Pra mim,negociar, comprar, ven<strong>de</strong>r, montar vitrine,mostrar pano, etc., sempre foi parte da minhavida.HAF - A profissão <strong>de</strong> vocês é nova na realida<strong>de</strong>brasileira. Como vocês estão...Duailibi - Nós já somos a 3* geração -né Ivan?-<strong>de</strong> publicitários. Talvez nos tenhamos tido asorte <strong>de</strong> participar da industrialização do país. Apropaganda realmente começou com a indústriaautomobilística.Duailibi - Já temos associações, sindicatos,tudo direitinho. Existe muito exercício ilegal daprofissão. Existem agências que abrem noje,mandam buscar nos Estados Unidos, na Austrália,caras que não têm registro nem nada, e largamo pau. Por enquanto acho que o mercadopermite que isso seja feito sem que haja traumas...Mais po<strong>de</strong> cnegar o momento em queisso será olhado...PP - Está havendo uma invasão <strong>de</strong> especialistasestrangeiros} como é que é issoí até on<strong>de</strong> éverda<strong>de</strong>}Ivan - Eu trabalho numa multinacional, eessa multinacional tem hoje empregados noBrasil, salvo traição da memória, 2 estrangeiros.Outro dia eu consegui, <strong>de</strong> memória, melembrar <strong>de</strong> uns 30 nomes <strong>de</strong> estrangeiros trabalhandoem propaganda no Brasil, quandocomecei, numa época em que o mercado eramuito menor. Eu não sei se eu consigo melembrar, hoje, <strong>de</strong> 30 nomes estrangeiros trabalhandoem propaganda no Brasil, quando essemelhor do que a das gran<strong>de</strong>s agências estrangeiras.LP - Mesmo <strong>de</strong>scontando as contas dogovernoiDuailibi - Mesmo <strong>de</strong>scontando as contas dogoverno. Elas fazem parte do negócio.LP - Eu acho que você tem razao. A agênciabrasileira tem mais flexibilida<strong>de</strong>...Duailibi - Irrita muito o profissional brasileiroquando se manda um cara do Quênia, pensandoque o Brasil é a mesma coisa. O caracomete muita gafe, dá muito fora. E aindaobtém um certo favorecimento...PP - Isso é problema específico das multinacionais}Duailibi - Problema específico das multinacionaise <strong>de</strong> uma mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, oue é um negócio pior ainda. Você po<strong>de</strong> ser3epen<strong>de</strong>nte economicamente, mas ser <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntetambém mentalmente, sabe, é uma coisaque não é legal.HAF - Vocês passaram uma informação queeu queria checar: as contas do governo sãoentregues às agências estrangeiras} Há algumalei}Ivan - Não, claro que não existe nenhuma leiescrita.HAF - Mas há uma orientação}Ivan - Eu diria o seguinte: o governo talvezfaça muito bem em não entregar contas aagências estrangeiras, da mesma forma quenão entrega petróleo a empresas estrangeiras.A auantiaa<strong>de</strong> <strong>de</strong> verbas governamentais aplicadasem propaganda, so através <strong>de</strong> agênciasnacionais, se excluídas do cômputo geral,mudam essa afirmação <strong>de</strong> que as agênciasestrangeiras não estão tendo tanto sucessoquanto as brasileiras.LP - De que or<strong>de</strong>m é esse investimento dogoverno}Ivan - Isso o Duailibi po<strong>de</strong> dizer melhor do queeu.Duailibi - Não é tão significativo.HAF - Não chega a ser o maior anunciantebrasileiro}Ivan - No mundo inteiro, verba do governo éuma das gran<strong>de</strong>s fontes <strong>de</strong> receita das agências<strong>de</strong> propaganda. Nossa agência tem contasimportantes <strong>de</strong> diversos governos em diversosDüailib i: mandam um carado Quênia pensando queo Brasil é a mesma coisaFotos ae TLVIRA ALEGREaue países. Isso é consi<strong>de</strong>rado fonte importante <strong>de</strong>em torno <strong>de</strong> 30, 35 mil pessoas. Eu acho < que a receita, para agora e para o futuro.invasão houve realmente muito mais na década<strong>de</strong> 50: inclusive o Petit e o Zaragòza. Eu diria que os redatores são escritores frustrados eLP - Dentro ae agências, às vezes se comentaque proporcionalmente o número <strong>de</strong> estrangeiros,hoje, é muito menor. Se você pega uma dos. Como as possibilida<strong>de</strong>s econômicas sãoque os diretores <strong>de</strong> arte são pintores frustra-multinacional que está entre as 10 maiores boas...agências do Brasil, como a nossa, e só tem 2 <strong>de</strong>Duailibi - Eram muito boas, mais do quefora, eu acho isso... Nenhum <strong>de</strong>les é presi<strong>de</strong>nteda empresa. Não é nem o n" 1, nem o n" 2.hoje.LP - A remuneração é alta...Duailibi - Eu concordo com o Ivan. Não há, arigor, uma invasão. O que há realmente é umDuailibi - Não, isso é lenda!Ivan - Já foram melhores.preencher vazios que, às vezes, tem alguns LP - Mas, e em termos comparativos}efeitos colaterais <strong>de</strong>sagradáveis. Por exemplo,quando existe um favorecimento dos anunciantesIvan - Ganha-se bem. Eu ganho bem. Eutenho bom salário. Eu não me queixo disso.por certas agências, só porque elas são LP - Então, no momento <strong>de</strong> escolha da pro-estrangeiras. Aí, realmente, é um troço que fissão, uma pessoa que gosta <strong>de</strong> escrever seirrita muito o profissional brasileiro. Evi<strong>de</strong>ntemente,sentiria tentado a entrar na propaganda emna medida em que po<strong>de</strong> parecer que <strong>de</strong>trimento, talvez, <strong>de</strong> um talento <strong>de</strong> escritor...chegam profissionais para compensar o Ivan - Olha, <strong>de</strong>ixa eu comentar, mais do que<strong>de</strong>semprego que existe em certos países, criando<strong>de</strong>semprego no Brasil, isso é outra coisa usa os Imesmos instrumentos que os comuni-respon<strong>de</strong>r.O chamado homem <strong>de</strong> propagandamuito chata.cadores não-comerciais. Só que os propósitossão completamente diferentes.Eu não diriaLP - Mas você acha que o número <strong>de</strong> estrángeirosevi<strong>de</strong>ncia o fato <strong>de</strong> que multinacionaisestão <strong>de</strong>spejando estrangeiros aqui pra compensar<strong>de</strong>semprego?Duailibi -Nao,euacho que não.Despejandoestrangeiro, não. Está ocupando certos níveis<strong>de</strong> direção que não ajudam a melhorar a propagandabrasileira,porque eles são homenscomandados por telex, são homens sem <strong>de</strong>cisão,afinal <strong>de</strong> contas. Tanto é verda<strong>de</strong> que aperformance das empresas brasileiras tem sido3ue o artista <strong>de</strong> propaganda é um frustrado,es<strong>de</strong> que ele saiba que entre 9 e meia darnanhã e 7 da noite, ele está utilizando seusconhecimentos dos meios <strong>de</strong> comunicaçãopara ven<strong>de</strong>r guaraná. E antes das 9 e meia damanhã, ou ate às 4 da manhã, ele escreva o seuromance ou pinte o seu quadro. Eu não acho as2 coisas incompatíveis.Duailibi - Eu tenho uma opinião sobre isso:em 1? lugar, eu acho que o homem <strong>de</strong> arte e oredator da geração atual já não são mais frustrados.Eles nasceram ouvindo jingles, vendocomerciais, lendo anúncios, compreen<strong>de</strong>? Demaneira que a opção pela propaganda é umaopção muito mais consciente, do que foi nanossa época. Eu acho até aue ná uma tendênciaexagerada, em favor da propaganda, porum <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> estrutura brasileira, no que serefere à indústria cultural. Indústria cultural nosentido mais amplo, enten<strong>de</strong>? No seguintesentido: nós temos ae um lado os caras queproduzem cultura, o proletariado da cultura -nós, os maquiadores, os iluminadores, o câmera,o pintor <strong>de</strong> cenário, o tipógrafo, todo mundoque está do lado da proaução <strong>de</strong> cultura.No sentido mais amplo, estou encarando <strong>de</strong>ntroda indústria cultural todos os que produzemalguma coisa que <strong>de</strong>ve ser vista, lida ououvida. Do outro lado nós temos o mercadoconsumidor <strong>de</strong> cultura. Os caras que compramrevistas, jornais, que assistem televisão, quevão ao teatro, ao cinema, enten<strong>de</strong>? Entre oprodutor <strong>de</strong> cultura e o consumidor <strong>de</strong> cultura,nós temos os canais <strong>de</strong> distribuição, os veículos.Para os veículos, hoje em dia, é muitomais fácil não comprar cultura aqui, mas trazer<strong>de</strong> fora. Então você pega revistas <strong>de</strong> amor,revistas <strong>de</strong> <strong>foto</strong>novelas, histórias em <strong>quadrinho</strong>s,reportagens sobre assuntos variados, aprogramação da televisão todinha, programação<strong>de</strong> rádio, toda a programação <strong>de</strong> cinema,toda a programação <strong>de</strong> teatro, toda a programaçãoeditorial, publicação <strong>de</strong> livros, etc. £muito mais fácil pra eles comprar fora do queestimular a produção local. Enten<strong>de</strong>? Produzircultura no Brasil ainda é um subemprego. Por<strong>de</strong>feito <strong>de</strong> estrutura legislativa nossa. Querdizer, vocês pegam revistas <strong>de</strong> amor com 100%<strong>de</strong> contos estrangeiros, Histórias em <strong>quadrinho</strong>s...Bom, se <strong>de</strong>r 8% <strong>de</strong> <strong>quadrinho</strong>s brasileirosé muito! ilustrações <strong>de</strong> contos, <strong>de</strong> reportagens,quanto por cento é brasileiro? E charges?Por exemplo: os jornais hoje estão em másituação no mundo inteiro, principalmente noBrasil, porque <strong>de</strong> todos os veículos, o <strong>jornal</strong> é oque mais precisa <strong>de</strong> produção local. Então, oque acontece? Você tem que escrever muitopra conseguir escrever bem. Não adianta dizerque as escolas não estão formando gente boa.Não é esse o problema. Ou dizer que não interessa<strong>de</strong>senhista <strong>de</strong> história em <strong>quadrinho</strong>sbrasileira porque são todos ruins. São ruinsporque não têm a recompensa e não têm aoportunida<strong>de</strong>, em 1' lugar. Este sim é umproblema sério. Tem que naver uma modificaçãona maneira <strong>de</strong> se encarar a produção cultural.Porque é só da quantida<strong>de</strong> da produçãoque nós vamos tirar a qualida<strong>de</strong>.HAF - Gostei muito quando você colocou oproletariado da cultura...Duailibi A indústria cultural, hoje no Brasil,só tem um emprego regular, o <strong>de</strong> tradutor. Oresto é tudo subemprego. Um mercado apiplo<strong>de</strong> consumo e pequeno <strong>de</strong> produção local.Ivan - Você acna que o apadrinhamentolegal é saída pra isso?Duailibi - Acho que sim. Eu acho que é precisoforçar, fazer uma lei, enforce the law,enten<strong>de</strong>?PP - Nós estamos sendo colonizados}Djjailibi - Totalmente. Cada vez mais! E àsvezes até com orgulho, enten<strong>de</strong>?HAF - Na medida em que os órgãos governamentaissão os encarregados <strong>de</strong> regulamentar,eles impõem faculda<strong>de</strong>, diploma, mas nãoatentam pras exigências <strong>de</strong> mercado, vale apena voltar a recorrer a eles}Duailibi - Eu acho çue vale a pena'sempre,sempre. É preciso insistir, é preciso encher osaco, é preciso exigir o cumprimento da lei, épreciso recorrer a quem você pu<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>que você esteja i<strong>de</strong>ologicamente apoiado pornúmeros, enten<strong>de</strong>? Acno que não adianta discutiro problema da cultura sem ver a coisa sobo ponto <strong>de</strong> vista da criação <strong>de</strong> um mercado <strong>de</strong>trabalho.HAF - Vou te dar um dado próximo da gente.Nós achamos que piorou muito a qualida<strong>de</strong> domaterial humano ae <strong>imprensa</strong> a partir <strong>de</strong> certasexigências...Ivan - Que tipo <strong>de</strong> exigências?HAF - A exigência da faculda<strong>de</strong> gerou na<strong>imprensa</strong>,por exemplo, distorção brutal nossalários, na qualida<strong>de</strong>...Ivan - Você não acha que isso tem mais quever com padrões <strong>de</strong> ensino do que propriamentecom a idéia <strong>de</strong> ensino em si?_PP - í aquilo que o Roberto Duailibi já falou:a coisa se forma muito é na prática. E tem umalei que diz que toda a empresa <strong>jornal</strong>ística precisater 2/3 <strong>de</strong> <strong>jornal</strong>istas formados. Você estábloqueando a entrada <strong>de</strong> gente...Ivan - Eu tenho impressão que tudõlsso temmuito mais a ver com a existência, ou <strong>de</strong> mercado,com o surgimento <strong>de</strong> um mercado <strong>de</strong>cultura, que aqui ainda é embrionário.Duailibi - O mercado existe. Assiste-se a 4horas <strong>de</strong> televisão por dia em São Paulo!Ivan - Mas veja: você está falando <strong>de</strong> cultura,eu voiu falar <strong>de</strong> novela. Novela hoje éRoque Santeiro, embora não tenha ido ao ar.Duailibi - Mas estou falando em indústriacultural incluindo a novela, segundo o conceitodo Adorno: tudo o que seja produção <strong>de</strong>alguma coisa.Ivan - A novela é um fenômeno que se abrasileiroucontra os peyton-places da vida. E leunão estou vendo o cinema nacional ir um furoadiante...Duailibi - Ah, vai! ah, vai! não tenha dúvida.£ da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pornochanchadas que vaise obter a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um, <strong>de</strong> algum... Porqueem arte é sempre preciso ter muita coisa pra setirar uma ou outra. Você precisa ter quantida<strong>de</strong>pra ter qualida<strong>de</strong>, não aidnata


Ivan - £ uma questão <strong>de</strong> grau. Eu sou muitomais a favor do incentivo fiscal do que da proteçãolegal.Duailibi - O incentivo <strong>de</strong>ve ser colocado praestimular os canais <strong>de</strong> distribuição a darempregos. Porque não adianta só produzir cultura,so dar o incentivo na área <strong>de</strong> cultura.Incentivo maior é ter emprego e ver seu trabalhopublicado. Se você criar incentivo para osveículos, prós canais <strong>de</strong> distribuição da cultura...Eu também acho que é na área <strong>de</strong> incentivo.Ivan - Mesmo que você esteja obrigando amassa a absorver fixo durante certo tempo.Duailibi - Mas ela já absorve lixo. Só que éum lixo traduzido, dublado.H AF - £ u gostaria que a gente chegasse noutroponto. O losé Celso Martinez Corrêa, noinício do Ex, fez um <strong>de</strong>bate parecido com oOtto Scherb, da Escola <strong>de</strong> Propaganda. E o ZéCelso chamou a publicida<strong>de</strong> ae a única cultura;no momento, da realida<strong>de</strong> brasileira. Porqueela estava, dado o seu crescimento, amassando,não <strong>de</strong>ixando aparecer nenhuma outra.Ê verda<strong>de</strong> que há um esmagamento <strong>de</strong> todosos outros "<strong>de</strong>partamentos" da cultura, a partirdo crescimento da publicida<strong>de</strong>}LP - Tenho uma pergunta bem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssetema. Houve uma campanha que eu acheimemorável, a respeito <strong>de</strong> meningite. E aí euquestiono a função social da propaganda...Duailibi - Tivemos a honra <strong>de</strong> participar <strong>de</strong>ssacampanha, como membros do ConselhoNacional <strong>de</strong> Propaganda.LP - ...Um dos anúncios tinha uma <strong>foto</strong> <strong>de</strong>uma mãe segurando o filho, e um título maisou menos assim:evite que essa catástrofe serepita.HAF - Mão <strong>de</strong>ixe que o inverno...Duailibi - ... <strong>de</strong> 74 se repita.LP - Acho que esta campanha <strong>de</strong>u a enten<strong>de</strong>rao público o que ele seria o único responsável,se houvesse a repetição. E sabemos queas causas da meningite são um certo <strong>de</strong>samparosocial, a subnutrição, a falta <strong>de</strong> condições <strong>de</strong>higiene...Duailibi - Não, pera ai! Você está se referindoa uma peça da campanha, o anúncio em jornais.Ao mesmo tempo havia muito esforço emtelevisão, havia muito esforço em rádio, enten<strong>de</strong>?E no Brasil foi a primeira experiência realdo que estrá se chamando, hoje, <strong>de</strong> marketingsocial. Isso é, você cria uma estrutura pra resolverum problema e usa a propaganda comocomplemento. Sabe que foram vacinadas 11milhões <strong>de</strong> pessoas?Ivan - O problema era mobilizar a população,porque não havia outra maneira <strong>de</strong> vocêfazer chegar a vacina até o braço da pessoa.Duailibi - A campanha foi feita aqui, estoubem por <strong>de</strong>ntro disso.Ivan - Jamais me ocorreu que essa campanhapreten<strong>de</strong>sse estar jogando culpa na população.Duailibi - Não, nem <strong>de</strong> longe. Tanto que 11milhões <strong>de</strong> pessoas respon<strong>de</strong>ram ao estímulo.HAF - Eu quero voltar pra essa forma <strong>de</strong> culturaque é acusada <strong>de</strong> esmagar as outras. Eperguntaria:ela tem uma consciência} ela reflete}ela sabe <strong>de</strong>ssa sua responsabilida<strong>de</strong>}Ivan - Olha, essas discussões em torno dapropaganda, como se ela fosse uma pessoajurídica, me incomoda um pouco, eu gosto <strong>de</strong>botar pingo nos is.Duailibi - Olha, eu preciso ver um documentário,<strong>de</strong>ve <strong>de</strong>morar meia hora. Eu volto, tábom?(Os outros concordam)Ivan - O que eu vou dizer está baseado numacerta tecnologia que eu gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir.Uma <strong>de</strong>las é que propaganda, pra mim, é umatécnica como outra qualquer. Quando vocêpergunta se a propaganda tem consciência, euprefiro dizer o publicitário. Ou, mais ainda, oanunciante - <strong>de</strong> quem o publicitário é meroinstrumento. Quando você fala em esmagamentodas outras culturas pela cultura da propaganda,eu diria o seguinte: a minha visão é a<strong>de</strong> um mercado industrializado ou em industrializaçãorápida, gerando uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo, que precisam seescoar e portanto ser anunciados. Então, a propagandanão é algo que tenha uma vida própria,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, e que tenha algumaopção. O publicitário não tem uma opção,inclusive. O publicitário é instrumento doanunciante, que por sua vez, é instrumento <strong>de</strong>um sistema sócio-econômico, que exige queele vá buscar consumidores. Com esse tipo <strong>de</strong>equacionamento pragmático, eu acho que aresposta está quase dada. Se existe um esmagamento- e eu não sei se eu concordo com o termo,porque ele tem sentido pejorativo - euacho que isso é mero resultado, inevitável, daindustrialização. Se isso é bom ou mau, euacho que é meio inútil discutir, porque vocêteria que pegar o sistema e fazer outro, baseadono não-consumo, na não-compra, na nãoindustrialização.Mesmo que você parta paraum sistema centralmente planificado, em quea incumbência <strong>de</strong> jogar bens materiais no mercadoseja exclusivamente do Estado, aindaassim este Estado começa a anunciar. Então,daqui a pouco nós vamos estar falando doesmagamento da cultura popular russa pelapropaganda. Eles já estão no caminho...HAF - Você não aceita a propaganda comoinstituição}Ivan - Não.Haf - Então se chega no publicitário...Ivan - Ah, isso sim! Ok!HAF - A gente está num nível <strong>de</strong> papo polido,até muito polido pro meu gosto...Ivan - Eu estou estranhando que vocês nãotenham chegado lá...HAF - O exército nazista era aquela forçanazista! Agora, <strong>de</strong> ser humano pra ser humano,um soldado <strong>de</strong>sse exército não po<strong>de</strong> dizereu matei porque mandaram, certo}Ivan - A não ser na medida em que fosse umaquestão <strong>de</strong> sobrevivência. Ai, minha vida contraa <strong>de</strong>le... vamos pensar um pouco. Aindaassim, estatisticamente consi<strong>de</strong>rando, é difícilaceitar.HAF- Então, quando eu falei <strong>de</strong> consciência,eu procurava a consciência do publicitário. Ocara que faz um filme <strong>de</strong> propaganda sabe queele está influenciando, servindo a socieda<strong>de</strong><strong>de</strong> consumo} Digamos, por exemplo, que oJean Manzon adote um estilo <strong>de</strong> propagandaquando mostra um produto, etc. e tal. Artisticamente,ele está se formando naquela escola.Será que ele pensa que po<strong>de</strong> influenciar profundamente,dando padrões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>estética}.- Eu vou quase que <strong>de</strong>volver pro cineastajean-mazônico o problema, dizendo o segujnte:1', eu não sei o que os outros publicitáriosacham; eu tenho muita consciência <strong>de</strong> queestou é ven<strong>de</strong>ndo guaraná e não preciso oferecernenhuma <strong>de</strong>sculpa pra isso. Segundo: meirrita um pouco a posição dos publicitários. Eutive um explosão recente num congresso quehouve no Rio. Fiquei uma arara, disse que quenós parecíamos um bando <strong>de</strong> pessoas numdivã, vomitando complexos <strong>de</strong> culpa. Foi nocongresso <strong>de</strong> anunciantes. Era um mea culpa, eeu disse: "O que diabo, então vamos mudar <strong>de</strong>profissão!" Quando solicitei um comercial aalguém, que me venda o que for, eu não achoque ele seja obrigado a aceitar. Por isso, euestou <strong>de</strong>volvendo a opção.HAI- - Eu concordo com algumas das suasteses, mas eu procuraria é a posição do publicitário,a função social da publicida<strong>de</strong>.Ivan - E muito simples. A função da propagandacomercial é anunciar visando ven<strong>de</strong>rmais, ganhar mais dinheiro, mobilizar consumidores.A função social que ele tem é a que<strong>de</strong>corre do sistema sócio-econômico, chamado<strong>de</strong> livre-empresa, se você quiser, ou capitalista.Isso po<strong>de</strong> chocar algumas pessoas, mas éuma função social extremamente relevante, namedida em que você está solidificando, fortificandoe <strong>de</strong>senvolvendo a economia...LP - Aí é que está! Eu queria que você <strong>de</strong>finissefunção social. Me parece que a propagandanão se volta, no sentido social amplo,vamos dizer, pra toda a população, mesmo queseja a população que consome...Ivan - Eu vejo 2 sentidos quando você falaem função social. 1 9 , você está ajudando asocieda<strong>de</strong> a se <strong>de</strong>senvolver. Outro sentidoseria melhorar as condições <strong>de</strong> vida das populaçõespobres. Quando eu digo que a propagandatem uma função social, eu estou me referendoà função que ela tem como instrumentodo sistema sócio-econômico <strong>de</strong> livre-empresa,<strong>de</strong> economia.<strong>de</strong> mercado. Essa economia<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> empresários que mobilizem consumidorespara suas marcas. E para isso é precisoque eles se comuniquem com os consumidorespotenciais... A propaganda é apenas umadas técnicas utilizada pra isso. Outras são avenda pessoa a pessoa, a promoção <strong>de</strong> vendas,o uso que se faz da embalagem, os preços, etc.O sistema espera que a geração <strong>de</strong> ílucros contribua,por uma série ae <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amentos,para o enriquecimento das populações.LP - Você concorda com isso}Ivan - Pera aí, vambs chegar lá. Nós sabemosque historicamente essa <strong>de</strong>finição do sistemajá está meio <strong>de</strong>sacreditada, já se passou muitotempo, já se passou por Keynes, já se passoupor uma porção <strong>de</strong> gente. Você sabe que afera precisa ser um pouco domada, você iá precisa<strong>de</strong> certos controles centrais que diluamum pouco as barreiras que impeçam o livrefuncionamento da economia <strong>de</strong> mercado.Todo mundo sabe que na sua forma pura, naforma Adam Smith ou Benjamin Franklin, sevocê quiser, esse não é um sistema que vaf conseguir- pelo menos nos prazos que interessamàs pessoas que estão vivendo noje e para osseus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes diretos - que nós vamoschegar a algum lugar. As iniigualida<strong>de</strong>s, mesmonum país mais essencialmente livreempresaque é os Estados Unidos, estão aí paraprovar isso. Precisa <strong>de</strong> lei <strong>de</strong> truste, precisa <strong>de</strong>uma porção <strong>de</strong> outras coisas, e talvez aindaprecise <strong>de</strong> muito mais. Mas <strong>de</strong> qualquer forma,enquanto houver um sistema que <strong>de</strong>penda damobilização <strong>de</strong> consumidores pra uma empresagerar lucro, a propaganda cumpre essafunção social. Você não po<strong>de</strong> ter esse sistema enão ter a propaganda.HAF - Como você está colocando, eu concordoaté o ponto em que você está. Mas eugostaria <strong>de</strong> chegar ao ponto que me interessa:o homem atrás aa profissão. A propaganda nãofoi criada pela socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo. Se agente estudar a história da humanida<strong>de</strong>, vailocalizar a propaganda na hora em que o maçadose levantou e disse pro outro: veja eu <strong>de</strong> pé,eu ando!Ivan - Perfeito. No momento em que alguéitipô<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r alguma coisa, nasceu a propaganda.HAF - Mesmo que venda uma idéia. O temame apaixona, é muito próximo <strong>de</strong> mim. Opublicitário lida com a informação tanto quantoeu, <strong>jornal</strong>ista. Mas toda a vez que a genteconversa, tenta ir mais pro fundo, as pessoas docampo publicitário se colocam do lado emque a profissão é posta a serviço <strong>de</strong> um objetivo.Assim ela adquire uma coerência bastanteampla. Vou usar o Zé Celso <strong>de</strong> novo pra tequestionar com uma acusação violenta: vocênão se consi<strong>de</strong>ra um "filho <strong>de</strong> Coebells"}Capaz <strong>de</strong> se comunicar e persuadir a serviço<strong>de</strong> coisas anti-humanida<strong>de</strong>}Ivan - Olha, não sei... Eu só posso respon<strong>de</strong>rpor mim. Não, eu não me consi<strong>de</strong>ro um filho<strong>de</strong> Goebells, por duas razões: 1? porque oGoebells estava ven<strong>de</strong>ndo algo que para mimPaulo: você nunca« •anunciou as porcariasque um produto temnão era uma proposta, era uma não-proposta.Eu acho o nazismo uma não-proposta. Em 2'lugar porque eu não estou ven<strong>de</strong>ndo, como <strong>de</strong>certa forma o Goebells estava ven<strong>de</strong>ndo, prumbando <strong>de</strong> ovelhas. Estou ven<strong>de</strong>ndo pra pessoasque têm tanta capacida<strong>de</strong> quanto eu. O serhumano é ativo, nao um absorvedor mecânico<strong>de</strong> mensagens. Portanto com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>aceitar ou rejeitar aquilo que estou dizendo.Eu tenho uma tese, que não exclui uma possívelresponsabilida<strong>de</strong> minha: a propaganda.comercial não tem a capacida<strong>de</strong> que muitagente pensa e que muito publicitário querfazer crer. Na realida<strong>de</strong> tem umpo<strong>de</strong>r ridiculamentepequeno diante do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um professor,ae um <strong>jornal</strong>ista, <strong>de</strong> um cineasta, <strong>de</strong> umpadre no púlpito, <strong>de</strong> um pai, <strong>de</strong> um amigo, <strong>de</strong>uma vizinha. Mas só pra argumentar, admitindoque os po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> persuasão fossem iguais,ainaa assim não me consi<strong>de</strong>ro um Goebellsporque não vendo nada que me envergonhe.Se você disser no entanto, que a minha vida serealiza quando eu consigo ven<strong>de</strong>r mais algumastoneladas <strong>de</strong> sabão em pó, aí não, minhavida não se realiza nisso. Eu tenho outros propósitos.Mas isso é outro problema.Eu admito que alguns produtos sejam inclusivesupérfluos.HAF Mas também sem consi<strong>de</strong>rar o supérfluo.Por exemplo: quando sai na <strong>imprensa</strong> noexterior um anúncio brasileiro dizendo: "Levaa sua poluição pro Brasil", eu acho que a genteentra num problema fundamental da propaganda...Ivan - Eu acho esse um péssimo anúncio.Uma burrice. Do publicitário e do patrocinadorque fez isso. Eu não vi esse negócio. Ficariamorrendo <strong>de</strong> vergonha se estivesse no exteriore topasse com um anúncio <strong>de</strong>sses. Jamais meocorreria fazer um anúncio <strong>de</strong>sse tipo.HAF - Claro. Mas eu queria progredir no'tema, gostaria <strong>de</strong> cobrar mais: é a consciência<strong>de</strong> quem faz anúncio} E um enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong>responsabilida<strong>de</strong>, não}LP - Aí eu coloco um a<strong>de</strong>ndo: o publicitário<strong>de</strong>ve ter consciência do processo que está conduzindoseu trabalho. Se não ele será um babaca.Eu acho que é impossível isolar uma profissãoda participação que ela tem na socieda<strong>de</strong>...Ivan - Concordo. Concordo.LP - Eu não faço gran<strong>de</strong> diferença entre ouso social - como se aisse no casomeningite- eo uso puramente comercial da propaganda.Acho que eles se misturam e a responsabilida<strong>de</strong>no fundo acaba sendo a mesma. Queriainsistir: quando você anuncia sabão ou automóvel,você mostra a verda<strong>de</strong>ira utilida<strong>de</strong> ounecessida<strong>de</strong> aue esses produtos possam terpro consumidor}Ivan - Repito: só posso respon<strong>de</strong>r por mimmesmo e eu não consigo dissociar... Se euestou ven<strong>de</strong>ndo sabão em po ou se eu tou ven<strong>de</strong>ndoum produto, eu não me isento <strong>de</strong> qualquerresponsabilida<strong>de</strong>. Eu assumo a responsabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> originar anúncios que vendam atéprodutos que possam ser encarados comosupérfluos. Eu não aceito publicitários queconsi<strong>de</strong>rem o anúncio como algo <strong>de</strong>sligado davida, o anúncio <strong>de</strong>sligado do produto. O anúncioestá lá para ven<strong>de</strong>r um produto e esse produtovai ter <strong>de</strong>terminado efeito na vida <strong>de</strong> umapessoa, <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>. Então ele é corresponsávelpelo que está fazendo. Po<strong>de</strong> çobrarque ele é.PP - Então, como é que fica a cabeça dopublicitário, como é que ele dorme, anunciandocoisas que não po<strong>de</strong>m ser compradas atépela maioria das pessoas que estão sendo cutucadaspela propaganda} Por exemplo, a campanhado "tome 2 copos <strong>de</strong> leite por dia".Como se não se tomasse leite porque não sequer. Acho isso mais grave do que tudo que foidito. É aí que a coisa me atrapalha.Ivan - Ok. A resposta fácil é você dizer quevocê procura dirigir a veiculação pras pessoasque po<strong>de</strong>m consumir. Inclusive, se você nãoestá fazendo isso você é mau publicitário. £simplista <strong>de</strong>mais você acharquequem tá vendoum televisor não po<strong>de</strong> comprar um isqueiro,por exemplo. Vamos...HAF - Mas já existe uma ação anterior, dapublicida<strong>de</strong>, que e fazer o cara comprar umtelevisor, coisa também supérflua.Ivan - Mas quem faz comprar a televisão nãoé o publicitário! São vocês, veículos <strong>de</strong> comunicaçãoem massa. Você po<strong>de</strong> botar o RobertoMarinho e o Roberto Civita aqui nessa mesa ecobrar isso <strong>de</strong>les. Mas isso é a resposta fácil:você procurar dirigir a propaganda. A outraresposta não é tão fácil, porque aí nós vamoscair no plano da filosofia e da i<strong>de</strong>ologia. Quandovocê aceita uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mercado,você está partindo do pressuposto <strong>de</strong> que aaceleração da venda dos bens <strong>de</strong> consumo ébenéfica pro <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong>.Isso levando a tese a um extremo simplista.Mas essa é a tese que está em vigor. E é <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong>sse con<strong>texto</strong> que eu não me sinto com aconsciência culpada. Se isso po<strong>de</strong> ser aperfeiçoado,é um outro problema. Eu acho que issopo<strong>de</strong> ser aperfeiçoado. Você tem que cobrar éa posição das pessoas...PP - Então, como é que você se coloca, vocêcomo ser humano. Esse país tem em potencial,45 milhões <strong>de</strong> telespectadores. E brasileiro estácomprando televisão na frente da máquina <strong>de</strong>lavar, da gela<strong>de</strong>ira. E na hora em que compratelevisão o cidadão é ganho, atraído para oconsumeirismo. F/ca lá espiando andncio <strong>de</strong>Maverick, anúncio <strong>de</strong> não-sei-o-que. Será queo publicitário pensa no castigo que po<strong>de</strong> serpublicida<strong>de</strong>-intimação,com parte dos envolvidospor ela nem tendo como se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r daânsia <strong>de</strong> comprar, possuir} O mesmo vale nocaso das ca<strong>de</strong>rnetas <strong>de</strong> poupança. Afinal - emmuitos casos - poupar como}Ivan - Pera aí, mas existem pessoas, talveznão porcentualmente em relação ao total dapopulação brasileira, que têm o que poupar. .PP - Mas a maioria tem}Ivan - A maioria não tem.PP - Eu diria que a maioria do pessoal que vêtelevisão não tem condições <strong>de</strong>...Ivan - Então você vai escon<strong>de</strong>r o que existe<strong>de</strong>ssas pessoas?PP - Você não fica castigado, como eu ficocastigado, vendo esse tipo <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>}Ivan - Não, não fico. As pessoas não são marionetes.Eu não estou obrigando as pessoas afazer, estou propondo que elas façam. As quepo<strong>de</strong>m fazer, fazem; as que não po<strong>de</strong>m, nãofazem.PP - As que não po<strong>de</strong>m são castigadas...HAF - £ elas não têm canal <strong>de</strong> retorno. Elasnão po<strong>de</strong>m dizer pra você: "Olha Ivan, pára <strong>de</strong>me mandar dizer isso porque não adianta".Ivan - Elas têm um canaí-<strong>de</strong> retorno importantíssimo,que é a negativa <strong>de</strong> fazer. Tá certo?A não-compra. A não-compra é um canal <strong>de</strong>retorno do dia-a-dia da empresa. E nenhumaempresa se atreve a propor alguma coisa quenão seja quantitativamente viável pra ela. Eutenho um po<strong>de</strong>r extremamente limitado <strong>de</strong>tentar persuadir alguém a fazer alguma coisa.Enquanto conjunto eu sei que tenno a capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> mobilizar um <strong>de</strong>terminado número<strong>de</strong> pessoas. £ claro que tenho, se não, fecha apropaganda. Eu não creio que ela tenha capa-


cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilizar alguém que não estejadisposto a fazer isso ou aquilo.PP - E o ser humano sofre lá atrás, por minhaculpa}Ivan - Mas vem cá. Isso não é um problemada propaganda. Aí eu vou passar a bola. Isso éum problema da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo inteiro.Se você não utilizar a propaganda pra isso,você vai precisar ter ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> porta emporta.PP - Eu vou tentar outra colocação. Eu estoutrabalhando no O Estado <strong>de</strong> S. Paulo. Se memandarem fazer uma matéria, eu vou fazer aminha matéria. Se o copi<strong>de</strong>sque mexer, é maisfácil pra mim, do que pra você, tirar o corpofora. Não é mais minha matéria.HAF - Não assina mais!PP - Eu diria que o comunicador, na área do<strong>jornal</strong>ismo tem mais vantagem que vocês, doponto <strong>de</strong> vista do posso dormir. Nós temosmais meios <strong>de</strong> dizer não, nós po<strong>de</strong>mos fugirmais às tarefas que nos machucam. O redator<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, diante <strong>de</strong> uma conta que elenão gosta, só tem 2 caminhos: aceita ou vaiembora.Ivan - Ele tem o limite da sobrevivência <strong>de</strong>le.HAF - Não sei, talvez na propaganda a regrado jogo seja mais violenta, mais dura.PP - Porque o publicitário está ligado mesmoà livre-iniciativa. Ê o lubrificante do sistema...Ivan - É, eu acho que é. O que me irrita équando você encontra um publicitário...fiessoas que não têm consciência do que estãoazendo. Deve haver muitos publicitários nessecaso. Eu tenho consciência do que faço.Você vai dizer: você é um apologista do sistema?Eu sou um apologista do sistema até umcerto ponto. Agora eu durmo tranqüilo porqueeu acho que esse sistema é um sistema.Você vai dizer: é um sistema perfeito? Não, eunão conheço sistema perfeito. Aliás, por favor,me indiquem um sistema perfeito, que eu vouficar muito satisfeito.PP - Sabe, conversando com publicitários, àsvezes esbarro num não-vamos-tocar-nisso...Ivan - Po<strong>de</strong> tocar. Eu estou assumindo, eunão sei o que vai sair nesse <strong>jornal</strong>...HAF - Você po<strong>de</strong> ter certeza que vai sair oque a gente falou.Ivan - Eu estou sabendo o que vocês vão perguntar.Eu sei que vocês não estão interessadosem quanto a propaganda vai faturar esse ano,quantas agências existem no Brasil. Não é essa alinha <strong>de</strong> vocês. Des<strong>de</strong> o início, eu marqueibem, vocês querem é marcar a responsabilida<strong>de</strong>do publicitário.HAF - Nós estamos procurando seres humanosatrás da propaganda. Eu gostaria <strong>de</strong> dar umtema pra gente discutir. No meio <strong>de</strong>sse mesmoEx vai sair uma matéria minha (v. ca<strong>de</strong>rno central)sobre prisão, sobre ca<strong>de</strong>ia, sobre a violênciapolicial a que eu fui submetido há 1 ano. Foiuma prisão comum, on<strong>de</strong> um rapaz <strong>de</strong> 24 anos,preso há 4, durante uma noite tentou <strong>de</strong>batercomigo se ele ia sair pra ser um sujeito útil isocieda<strong>de</strong> ou não. Ele dizia: "Eu sou <strong>de</strong> Jundiaí,vou sair, volto pra jundiaí, quais são as minhasalternativas: me empregar na Cica, arrumar umtrabalho do meu nível, ganhar 800 contos pormês. Aí chego em casa, e na TV tem o caraanunciando Maverick, Campari, whisky, cigarro,mulher bonita e eu sem a menor possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> ter nada daquilo. Como é que você meconvence a não botar a mão nas maquinas (máquinaé revólver) e ir buscar o meu carro, aminha loura}" Eu sei que esse é um caso extremo<strong>de</strong> <strong>de</strong>formação, certo} Por outro lado, euvou jogar outro tipo <strong>de</strong> agressão: o ex-ministroDelfim Neto, em 71, disse o seguinte: "Setomarmos o risco <strong>de</strong> construir uma economiaem cima <strong>de</strong> uma bicicleta e pararmos <strong>de</strong> pedalar,vamos ao chão.Temos que encontrar ummecanismo que mantenha o consumo permanentementeexcitado. Temos que encontrarum mecanismo que amplie o repertório <strong>de</strong>bens e serviços que cada homem quer a cadainstante e que amplie <strong>de</strong> forma violenta. Nãoimporta muito se essa ampliação crie problemassociais. Os prçblemas sociais são necessáriospara a ralização do próprio <strong>de</strong>senvolvimento.O que é importante é que cada umqueira mais. Cada vez mais, mais coisas." Aí euquestiono: como é que eu fico? Tanto aquelepreso como esse ministro são 2 aberrrações, euacho.Ivan - Eu acho que você só po<strong>de</strong> questionaro camarada que participa disso sem concordarcom isso. Portanto voce não po<strong>de</strong> me questionar.Eu acredito, com todas as imperfeições,nesse sistema. Vá questionar o hipocritazinhoque fica fazendo discurso político <strong>de</strong>ntro dasagências. Esse você po<strong>de</strong> questionar. Eu gostariamuito que o Duailibi estivesse aqui, porqueeu não sei qual é a posição <strong>de</strong>le. Agora vocêsvão fazer o favor <strong>de</strong> perguntar tudo, exatamentetudo isso aqui pra ele. Eu já disse: eu durmotranqüilo na medida em que qualquer serhumano po<strong>de</strong> hoje dormir tranqüilo. Nóssomos parte <strong>de</strong> um monstro <strong>de</strong> 4 bilhões <strong>de</strong>habitantes. E eu acho que nenhum <strong>de</strong>les, individualmenteou em conjunto, está realmentepreparado para administrar esse negócio.Acho que o mundo precisa <strong>de</strong> um gerente <strong>de</strong>marketing. O mundo está precisando <strong>de</strong>gerentes., E não tem havido muitos gerentes.(Roberto Duailibi volta e retoma o seu lugar)Ivan - Eu concordo basicamente com essesistema. Vocês <strong>de</strong>vem ter escolhido o caraerrad:- para entrevistar...HAF -Eu prefiro que seja você o entrevistado.Eu prefiro as pessoas que assumem asimperfeições até da própria geração, da suacategoria <strong>de</strong> trabalho...Duailibi - Eu assumo a minha imperfeiçãolutando contra as imperfeições maiores.Ivan - Eu acho que você não sabe o que oespera...(risos)Duailibi - Lutando pela maior profissionalizaçãona realização da propaganda. Então, porexemplo, eu acho que é importante que todosnós estejamos conscientes ae que a gigantescamaioria do que aparece como propaganda émal feita. Mal feita porque existe uma instituiçãochamada anunciante direto que é o amadormetido a besta, tipo Hemo Virtus, tipoFábrica <strong>de</strong> Móveis Brasil, tipo Viennatone,PP - (cortando) - Então a coisa fica assim: temque ven<strong>de</strong>r tudo mesmo}Ivar - Não, um momentinho. Tem limites,calma! Você está transformando a vida embranco e preto. No momento em que vocêencontra um publicitário que diz que não concordacom o sistema, ele e um joguete ou vaienten<strong>de</strong>? Todos aqueles que acham quepo<strong>de</strong>m fazer propaganda sozinhos e <strong>de</strong>gradamtoda a ativida<strong>de</strong> publicitária. Porque elesembora.usam as mesmas ferramentas, porém usam mal.PP - E só tem essa alternativa...Ivan - Ou então continua ganhando o salário Ivan - A coisa estava mais em baixo, viu?<strong>de</strong>le...HAF - A gente teria que fazer uma retomada.PP - Fazendo o anúncio}Duailibi - Faz uma retomada pra mim.Ivan - Fazendo o anúncio. O que eu nãoadmito, partir <strong>de</strong> alguém que tenha feito ocolegial, que tenha um Ql acima <strong>de</strong>_ 110, ouque Teia pelo menos um <strong>jornal</strong> por dia, é queIvan - Vocês foram caminhando, empurrando,empurrando, até me jogar contra a pare<strong>de</strong>no problema da responsabilida<strong>de</strong> individual.Comece pelo fim.ele não tenha consciência <strong>de</strong> que o que eleestá fazendo é servir o sistema econômico <strong>de</strong>ntrodo qual ele vive. Se ele dorme é oorque eleacha que está fazendo algo que é válido. Ouentão ele é um amorfo, que nao tem consciênciado que faz. Pra mim, tem muita gente quenão tem consciência. Vocês estão num extremointelectual das pessoas que têm consciênciado que estão fazendo. Existe o extremo dasHAF - Ai nós ji chegamos. A minha paixão,pelo <strong>de</strong>bate em torno da propaganda nasce<strong>de</strong>la ter uma fundão semelhante a do <strong>jornal</strong>ismo.Vocês também podiam <strong>de</strong>bater <strong>imprensa</strong>comigo. Eu estou na mesma posição quevocês: ser responsável pelas distorções da<strong>imprensa</strong>.Duailibi - Na minha opinião, na raiz <strong>de</strong>sseponto <strong>de</strong> vista, existe um pensamento fascista<strong>de</strong> ódio à informação, qualquer que seja ela.HAF - Eu <strong>de</strong>fendo a mformaçao, qualquerque seja ela.Duailibi - Qualquer que seja ela!HAF - Então localizamos a raiz da propagandana informação}Duailibi - Exatamente.Ivan - Uma das teses discutidas aqui. é quevocê agri<strong>de</strong> uma pessoa mostrando a ela coisaque ela não po<strong>de</strong> ter.Duailibi - Que elas po<strong>de</strong>m ter. Você estápartindo <strong>de</strong> uma falta <strong>de</strong> fé fundamental nacriatura humana. É uma atitu<strong>de</strong> cruel. Maspera um pouquinho. O processo <strong>de</strong> interaçãosocial não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar primeiro a competição.Os inimigos se conhecem, duascriaturasque estão se vendo pela primeira vez.Depois vem o conflito, on<strong>de</strong> a competição seresolve; <strong>de</strong>pois a acomodação e <strong>de</strong>pois a assimilação.Isso acontece entre duas criaturashumanas, entre 2 grupos humanos, entre oproduto e uma pessoa. Logo, o conflito ou aagressão faz obrigatoriamente parte da informação.Se não hoüver agressão não há quebra<strong>de</strong> estrutura, não ha informação.HAF - Eu não sei, mas acho que a informaçãonão precisava ser necessariamente agressiva.Duailibi - Ela precisa ser necessariamenteagressiva. Se não, ela não é informação.HAF - Então você consi<strong>de</strong>ra alfabetizar umaagressão}Duailibi - Ê uma agressão, sem dúvida! Aeducação é frustação.HAF - Só po<strong>de</strong> ser feita por agressão}Ivan - Não é que só po<strong>de</strong> ser, ela é. Você estámudando o status quo.Duailibi - Ah! a cultura é uma agressão!Ivan - Qualquer coisa que fuja à tradição éuma agressão. No sentido sociológico...Hamilton: vou usar o Zé Celso,você se consi<strong>de</strong>ra um"filho <strong>de</strong> Goebells"?PP - Roberto, nós estamos tentando chegarno publicitário como homem. Quem é esseprofissional} Como é que ele age no nossomundo}Duailibi - Olha, eu assumo totalmente essaativida<strong>de</strong>. Eu assumo essa ativida<strong>de</strong> com o mesmosentimento <strong>de</strong> estar realizando um trabalhocomo o que meu avô tinha, quando pegousua maíinha e saiu pelo interior a fora, mascateando.Quer dizer, ele cumpriu uma funçãoque significou mudanças sociais das maisimportantes. Porque ele, com sua .malinha, iaquebrar uma estrutura que era fundamentalmenteinjusta, baseada no isolamento geográfico,no isolamento cultural. No momento queele abriu a malinha e colocava na frente docolono uma roupinha diferente, uma propostadiferente qualquer, ele estava quebrandouma estrutura, enten<strong>de</strong>? Estrutura que precisasempre ser quebrada, porque na medidaque ela permanece ela faz que também permaneçamas injustiças e as verda<strong>de</strong>iras distorçõesque são oriundas da inativida<strong>de</strong>, enten<strong>de</strong>?Então, na hora que você oferece pra criaturashumanas o produto do cérebro e do trabalhomanual <strong>de</strong> outras criaturas humanas, você estácumprindo um papel importante. Você estáestabelecendo metas pra essas pessoas. Evi<strong>de</strong>ntemente,se po<strong>de</strong> dizer: mas isso po<strong>de</strong>gerar insatisfações que vão gerar criminalida-HAF - Ou até graves distorções sociais...Duailibi - Mas serão sempre menores que oisolamento cultural.HAF - Não sei... a tradição cultural <strong>de</strong> umpovo po<strong>de</strong> ser mudada em nome da agressão}Duailibi - Voce só consegue agressivida<strong>de</strong>pra modificar, agredindo.HAF - Então, por exemplo, os Villas Boas e oParque Nacional do Xingu iam pro nada! Porqueeles tentam uma aculturação pacífica, sistemática,<strong>de</strong>vagar. Mas veja bem, Duailibi: nósjá estávamos num ponto mais corpo-a-corpo evocê entrou em tese. E claro, existe agressão.Duailibi - Aqui na DPZ, a gente sempre diz oseguinte: a'boa propaganda é a propagandacontroversa. Eu acho que o bom <strong>jornal</strong>ismo é o<strong>jornal</strong>ismo controverso também.HAF - Mas e ai} E você nisso}Duailibi - Eu acho que eu estou contribuindo,através da informação, exatamente para vira corrigir distorções. Mas distorção muitomaior é você tentar impedir que as pessoasvanham a saber... Isso é um pensamento católico.A origem do seu pensamento é... totalmentecatólica.HAF - Não é. Talvez seja Coisa <strong>de</strong> ateu. Masvamos <strong>de</strong>ixar pra <strong>de</strong>pois.LP - Você afirma que seria injusto que, emfavor <strong>de</strong> uma maioria...Duailibi - Em favor <strong>de</strong> uma minoria, <strong>de</strong> umaminoria neurotizada, vamos dizer assim...LP - Sim... então eu coloco pra você que essaminoria <strong>de</strong> fato é a maioria, porque para apublicida<strong>de</strong> quem vale, em termos sociais, sãoaqueles que consomem. E particularmentequem consome aquilo que vocês anunciam.Então é fácil ver que a maioria, em termosabsolutos, não vai consumir. Ê uma faixa queconsome.Duailibi - Não vai consumir tudo!Ivan - Não vai consumir hoje!Duailibi - E. Não vai consumir tudo e nãoconsumir hoje. Mas certamente vai lutar pra vira po<strong>de</strong>r consumir..,.PP - A energia que você põe, a agressão quevocê põe é <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m, Roberto, que eu achoaue o cara do lado <strong>de</strong> lá po<strong>de</strong> até respon<strong>de</strong>r noberro, pegar a "máquina".Duailibi - Olha, tranca isso aí (o gravador),que eu...HAF - Não! não tranca não!(o gravador é <strong>de</strong>sligado por uns 2 minutos)HAF - Eu quero saber é o quê que ele faz.Qual a reaçã o imediata <strong>de</strong>lerDuailibi - Ele almeja o aburguesamento.PP - £ como é que fica a cabeça do publicitário}Duailibi - Ele almeja ter seu emprego, po<strong>de</strong>rcomprar seu terninho lá em São Miguel e construirsua casa. Que é o que a gigantesca maioriafaz.HAF - Eu queria frizar que nós chegamoscom o Ivan, a um ponto claro: você não po<strong>de</strong>questionar a publicida<strong>de</strong> como entida<strong>de</strong>. Masvocê po<strong>de</strong> chegar ao questionamento do indivíduo,do que ele faz. tü quero saber é o queacontece em quem faz propaganda, nomomento em que transmite uma informaçãopro outro. Eu não sou contra os avanços e asconquistas da humanida<strong>de</strong>. Mas eu querosaber até que ponto a gente se situa como propagadorda informação, das conquistas dahumanida<strong>de</strong> pro outro homem, sem que issocause, fundamentalmente, distorções gravíssimasno <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sse homem}Duailibi - Eu acho que a ausência da informaçãocausa distorções muito mais graves.Ivan - Em outras palavras, eu acho que vocêacredita, como eu acredito, que esse sistema -com todas as imperfeições - seja melhor doque um outro.Duailibi - Ah, sim.HAF - Aí eu não sei. Nós vamos pra históriada humanida<strong>de</strong>: você vai me dizer que o mercantilismoinglês era pior do que o capitalismoamericano} E eu não sei. O capitalismo americanogerou uma guerra da Indochina...Duailibi - O exemplo que você pegou émau, porque ele é meramente contemporâneo.Você tem que pegar um exemplo maishistórico: os caminhos aa caravana e os caminhosdo comércio. Quer dizer, quais eramaquelas civilizações que se <strong>de</strong>senvolverammais, senão aquelas que estavam exatamenteno caminho entre 2 pontos <strong>de</strong> comércio? Foiaquela região do Oriente Médio, numa <strong>de</strong>terminadaépoca, o sul da Europa, noutra. Querdizer: na hora que você compara civilizaçõesque se <strong>de</strong>senvolveram ali com as civilizaçõesisoladas: inca, maia, etc, que podiam ser muitoboas! Mais que fazia sacrifício humano também.O outro já tinha superado essa fase. Elepreferia fazer guerra, eventualmente, mas nãosacrifício humano.HAF - Mas venha cá, Roberto, eu acho que agente está fugindo do problema central: aconsciência ao homem que participa disso.Bom, vem cá, eu queria dizer o seguinte emcima da sua resposta: quando os europeuschegaram ao continente americano, chegaramna região on<strong>de</strong> hoje se situa o México. Propovo asteca o ouro não tinha o valor que proeuropeu tinha. Você arrasou a cultura astecano momento em que você <strong>de</strong>u um valor "X"áoouro, valor que pra eles não existia. Você nãointroduziu só uma informação. Com umainformação, você arrebentou uma série <strong>de</strong>outras informações.Duailibi - Tá legal!HAF - Então, eu tou querendo chegar é naconsciência da gente no momento em que, talvez,a gente possa estar fazendo isso.Duailibi - Você tá refletindo exatamente umpbnto <strong>de</strong> vista rural.HAF - Talvez... Mas você veja que o Brasiltem 108 milhões <strong>de</strong> habitantes e uma al<strong>de</strong>iaglobalque é apenas 30 milhões. Quem émaior}Duailibi -Tá legal. Se não existisse essa comunicação,objetivada, provavelmente seria <strong>de</strong> 5milhões ou menos. Enten<strong>de</strong>? Há 40 anos atrás,2% da população brasileira escovava os <strong>de</strong>ntes,porra! E maravilhoso ter cárie, ter a boca dés<strong>de</strong>ntada,né?HAF - Não sei. índio não tem cárie.Duailibi - Quem falou que não?HAF - £u falo pra você : índio não tem cárie.Duailibi - Desculpe, mas aí você tá falandocom um matogrossense que, porra, ganhava...HAF - Só tem cárie se você <strong>de</strong>r doce pra ele.Se você <strong>de</strong>r açúcar pra ele.Duailibi - O índio tá podre, meu filho, emmatéria <strong>de</strong> cárie. Que papo é esse? Em matéria<strong>de</strong> índio...HAF - Vamos ficar no asteca? Você não estárespeitando uma série <strong>de</strong> informações e <strong>de</strong>formações que ele tem, quando voce introduzuma informação fundamental que <strong>de</strong>stróitodas as outras. Quer dizer, se voce introduzirno Brasil, hoje, a cultura da televisão - emnome <strong>de</strong> 30 milhões <strong>de</strong> telespectadores - seráque você não está fazendo um crime contra 70outros milhões <strong>de</strong> habitantes que não têm acultura da televisão}Duailibi - E que anseiam por ela.HAF - Não sei. Mas você tá respeitando oque ela tem <strong>de</strong> valor real e justo}


Duailibi - Tá legal. Você passou prum campo,que me parece que é o campo do colonialismo.HAF - Total. Colonialismo total. Sem amenor ban<strong>de</strong>ira vermelha, preta ou branca.Total.Duailibi - Existem duas teses quanto ao colonialismo.Uma <strong>de</strong>las explica isso pela contraposiçãoentre os chamaaos povos ru<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> umlado, e povos gentis, <strong>de</strong> um outro. O povo gentilera o asteca que ia lá e dava o ouro. E chegavao espanhol, ru<strong>de</strong>, e confundia gentilezacom franqueza e matava o outro. Era o indianoque recebeu o inglês...HAF - Mas você po<strong>de</strong> pegar um cara comoum gran<strong>de</strong> indianista - o Francisco Meireiies,pai do Apoena Meireiies - que me disse:"Bem, eu sou um cara que tem um problemafundamental na vida, eu civilizo índios. Agora,eu sei que quando eu civilizo índios é pra colocá-losà margem da socieda<strong>de</strong> do branco. Euvou morrer com esse problema. Eu coloqueitodos os cinta-larga e todos os xavantes do Xingue todos os cinta-iargas <strong>de</strong> Rondônia à margemda socieda<strong>de</strong> do branco. "Porque índioem Rondônia é traficante <strong>de</strong> maconha, traficante<strong>de</strong> uasca e a índia está na zona <strong>de</strong> garimpeiros".Duailibi - Mas pera aí, em Rondônia, meufilho, o branco também está assim. Não vamosi<strong>de</strong>alizar a imagem do branco.HAF - Então vamos i<strong>de</strong>alizar a imagemdos 30 milhões que estão <strong>de</strong>ntro e dos 70milhões que estão fora.Duailibi - A filha do seringueiro brancotambém vai pra zona. Quer dizer, é umproblema muito mais amplo...HAF - Sei, é que a gente ainda não resolveuo problema do branco. Aí, vamos voltar aoproblema do branco e do índio. Ao cara-pálidae ao índio. Nós não resolvemos o problema docara-pálida e tamos absorvendo o índio. Namedida que cada canal <strong>de</strong> televisão chega coma mensagem da comunicação em cima ae cadaum <strong>de</strong>sses 70 milhões que estão <strong>de</strong> fora, nósestamos colocando aon<strong>de</strong>? <strong>de</strong>ntro ou na margem}Duailibi - Pra entrar você tem que passarpela margem. Mantê-los fora, conscientemente,é que eu acho criminoso.Ivan - Você tá propondo uma segregação.HAF - Não. Não tou propondo.Duailibi - Tá sim.HAF - Estou propondo uma intregaçãonão-agressiva.Duailibi - Você na África do Sul ia fazer omaior sucesso: Ia dizer assim: Ah! vamos <strong>de</strong>ixaros negros pobres e manter a sua cultura.HAF - Não ia, não ia porque se eu pregassea integração do negro paulatinamente, pra queele chegasse ao centro, sem nenhuma agressãoa ele, nenhuma discriminação, eu tava fuzilado...(silêncio)HAF - ... porque a discriminação na Áfricado Sul é justamente essa que começa da margem.Duailibi - Se você ouvir a gravação do quevocê disse e colocar isso na boca <strong>de</strong> um "bôer"é exatamente o que eles dizem: "preservar acultura do nativo..."HAF - Não! Eu sou contra zoológico,inclusive o do Parque Nacional do Xingu. OuLP - Eu queria ver se vocês <strong>de</strong>ixavam claro quequem interressa à propaganda - e daí vai essaamplitu<strong>de</strong> do que seja o sentido social - sãoapenas as pessoas que po<strong>de</strong>m consumir nomomento ou aquelas que venham consumir,pela continuida<strong>de</strong> do processo social instalado.Eu acho que é nessa idéia que surgiu a pergundado Paulo: muitas pessoas são atingidasin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente...Elas são agredidas, né}LP - Então eu queria que vocês me respon<strong>de</strong>ssem<strong>de</strong> maneira clara se vocês admitem ou nãoque a parcela que consome é pequena, se agente tomar a população em termos maiores}Duailibi - A minha opinião é a seguinte: euacho que esse tipo <strong>de</strong> conclusão não po<strong>de</strong> nosbloquear no aireito <strong>de</strong> dar a informaçãocomercial para a parcela não consumidora,mas latentemente consumidora.LP - Aí eu abro um parêntese. Esse latente nãoHAF - Mandava-lhe é pólvora! Que é umagran<strong>de</strong> informação.Duailibi É...£ o indiano que recebia o inglês,dando as boas vindas e o inglês que é reconhecidamenteum povo ru<strong>de</strong>, o inglês é <strong>de</strong> umagrossura fora do comum, matava. Era o índioque recebia o português aqui e era morto.Então, os povos gentis eram sempre esmagadospelos povos ru<strong>de</strong>s. Essa é uma das teses. A outradiz o seguinte: os 'exércitos coloniais foramsempre chamados pólos colonizados. Haviauma vonta<strong>de</strong> latente <strong>de</strong> ser colonizado. É amesma tese mais ou menos da vítima do assassinatoque provoca o assassínio - que é umatese mais ou menos recente.HAF - £ bem furada, né?Duailibi - Não. Essa tese <strong>de</strong> que o povovai representar sequer a maioria.colonizado é que buscou o colonizador, pordólares.admirá-lo, por achar que ia melhorar <strong>de</strong> vida,HAF - São socieda<strong>de</strong>s perfeitasfé a velha história do sapoprocurando um rei...LP - São socieda<strong>de</strong>s diferentes...Duailibi - Pera aí, Pontual. Eu acho por exemploque, enquanto que no Brasil nós aplicamos5 dólares per capita por ano em propaganda...LP - Quando se aplica em educação...}HAF - £ em saú<strong>de</strong>}Duailibi - Essa é uma boa pergunta. Mas empropaganda a gente se aplica 5 dólares percapita, enquanto que nos EUA aplica-se 140dólares per capita. Quando no Japão se aplica100 dólares. Quando na Argentina se aplica 60Duailibi - Completamente diferentes, masvocê não po<strong>de</strong> negar ao brasileiro o direito <strong>de</strong>ser atingido pela publicida<strong>de</strong>. Você não po<strong>de</strong>recusar às criaturas humanas o direito <strong>de</strong> serematingidas pela publicida<strong>de</strong>. E um ponto <strong>de</strong> vistamuito bloqueante. Na origem aisso está umaputa vocação fascista <strong>de</strong> vocês.HAF - Não sei...Eu te pergunto, Duailibi, umasocieda<strong>de</strong> como a americana, que produzguerra, que produz guerras colonialistas aindara nível <strong>de</strong> um século atrás. Que produz osmais altos índices <strong>de</strong> neurose do mundo...Duailibi - 4 crianças mortas por mil habitantes,enquanto que nós temos 90.HAF - Temos 95 em São Paulo! O índice <strong>de</strong>mortalida<strong>de</strong> infantil <strong>de</strong> São Paulo é maior queo do Nor<strong>de</strong>ste, Duailibi. Gerado por quê} poruma propaganda que atrai o povo do Nor<strong>de</strong>stepra São Paulo, pra se matar!Duailibi - O cacete!HAF - O cacete, o que}Duailibi - gerado por uma socieda<strong>de</strong> rural queexpulsa da sua terra os caras do Nor<strong>de</strong>ste.HAF - Gerado por uma socieda<strong>de</strong> rural queestá sendo bombar<strong>de</strong>ada por uma alternativa<strong>de</strong> propaganda que não lhe oferece realmentealternativa!Duailibi - O calso! A socieda<strong>de</strong> rural não recebenem 50 centavos <strong>de</strong> comunicação per capita.O que a mantém no isoladamente cultural!0 que a mantém na ignorância! O que a mantémna <strong>de</strong>sesperança total!(batidas na mesa, a cada frase)HAF - Não, porque a gente procura emcada homem a consciência <strong>de</strong> cada homem. Ea gente não acha que seu lado nazista se justificapor dizer: eu matei porque cumpri or<strong>de</strong>ns.PP - Ó Roberto! O que eu quero saber écomo funciona a mente ao publicitário, quandoele põe no ar, ou põe na página do <strong>jornal</strong>ou da revista, coisas que ele sabe que partedaqueles caras que vão ver aquilo e nao conseguecomprar. Não falo do Maverick! tstoufalando ao "tome 2 copos <strong>de</strong> leite por dia".Como fica o publicitário com a cabeça <strong>de</strong>lediante dos 2 copos <strong>de</strong> leite por dia}HAF - E eu sou bóia-fria, ganho 25 cruzeirospor dia.LP - E represento 70% da população...HAF - £ represento 70 milhões que nãovêem televisão, ou se viu, viu por aci<strong>de</strong>nte.LP - £ majs: você diz que nós somosromânticos, sonhadores. Eu acho que acusar asocieda<strong>de</strong> capitalista <strong>de</strong> materialista é erroincrível! Por que é a mais sonhadora...HAF - O, Duailibi, você que é romântico esonhador! Você é um fabricante <strong>de</strong> sonhos!Duailibi - Absolutamente! A minha posiçãoé <strong>de</strong> oposição a todo bloqueio da informação.HAF - Então informa o índio <strong>de</strong> que existeum botão, em algum lugar <strong>de</strong>sse planeta,agora, que po<strong>de</strong> explodir com ele. E <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong>ser romântico!. Ou seja um puta romântico aoinformar prós Krenhacarore que é fora da DPZ,é fora da redação do Ex, é fora do Palácio daAlvorada, que existe um botão que acaba coma existência da raça <strong>de</strong>le pra sempre!Duailibi - Você é do ponto <strong>de</strong> vista que oselvagem é feliz.PP - O que eu compreendi é o seguinte: seentrar na sua agência qualquer conta, pra ven<strong>de</strong>rqualquer coisa, você topa!Duailibi - Não. Nós temos uma atitu<strong>de</strong> ética...HAF - Mas não é pra informar}PP - Que ética} Não precisa informar}Você fala em informação muito facilmente,Roberto. Você nunca me informou, numanúncio seu, as porcarias que um produtoHAF - Eu nunca vi um anúncio dizendoque a Komby é um suicídio coletivo, em qualqueraci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trânsito. Eu nunca vi uma ressalva...Duailibi - Vocês estão partindo do princípio<strong>de</strong> que público é imbecil. Que é precisotutelá-lo.PP - Vocês só falam bem dos produtos.Não tem...Ivan - Claro, só se fala bem do produto...LP - A propaganda existe pra isso, é natural.PP - Quero ver um anúncio seu que faleaverda<strong>de</strong> sobre um produto. Dos 2 lados. Nãotem, não existe.HAF - Eu nunca vi a indústria dizer que ocarro brasileiro é o mais caro do mundo. E queo consumidor <strong>de</strong> carros brasileiros é o menosatendido por garantias, por revisões, por segurança,por uma série <strong>de</strong> coisas. A publicida<strong>de</strong>dá a informação global, correta}PP - Não tem saída. Só po<strong>de</strong> dar a incorreta...Ivan - Você pelo menos fornece a opção<strong>de</strong> escolha para o cidadão que está comprando...„ . iPP - Que opção <strong>de</strong> escolha e essa se vocesó fala que este lápis é bom}Ivan - Quem vai dar a opção é o sistema...Duailibi - Se você tivesse uma marca só <strong>de</strong>lápis, tá legal. Mas tem 20 marcas <strong>de</strong> lápis. Cadavez que ele diz sim a um lápis, ele está dizendonão a 19 marcas.Ivan - A marca boa vai expulsar a marcaruim.HAF - Não, porque existe uma pressãoeconômica que se exerce pela própria publicida<strong>de</strong>...Ivan - Vocês subestimam o organismo domercado...HAF - Não, não é verda<strong>de</strong>. Eu faço um jor-Ivan - Deus quisesse que fosse. É um epouco por cento. Eu estava rico se fosse 2%.HAF - £ numa socieda<strong>de</strong> como a sueca,consi<strong>de</strong>rada perfeita por comunistas e capitalistas,a verba é igual a do Brasil: 2% do PNB.Ivan - Você está consi<strong>de</strong>rando que ven<strong>de</strong>ré um produto exclusivo da propaganda. E nãoé. É uma conjugação <strong>de</strong> fatores...HAF - Então o meu <strong>jornal</strong> é tão importantequanto o Estadão!Ivan - Isso é o aue você pensa...HAF - Você disse que é igual. Você disseque é tudo igual.Ivan - Você tem uma visão altamenteimo<strong>de</strong>sta do seu produto.HAF - Você disse que as coisas são iguais,que as condições são iguais.Ivan - O que eu quero dizer é o seguinte:não é só a propaganda que vai fazer o produto.E a qualida<strong>de</strong> ao produto, é a qualida<strong>de</strong> dadistribuição...HAF - Ah, tá legal. Então a qualida<strong>de</strong> doproduto conta quantos por cento}Ivan - Eu sei lá quanto conta.HAF - Depen<strong>de</strong> inclusive da categoria dopo<strong>de</strong>r econômico do produto...Duailibi - Você esta atribuindo ã publicida<strong>de</strong>...HAF - ... Um gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mistificação.Ela está me obrigando a comprar Colorado RQ.Ivan - (ao mesmo tempo que Duailibi) -Você comprou}HAF - £ você testou}HAF- Você como publicitário, dono da conta,testou} Ele é o televisor do Rei Pelé}Duailibi - Ê um televisor tão bom quanto osoutros.HAF - £ mentira a partir da primeira afirmação:o rei Pelé não tem RQ em casa. O rei Pelénem vê televisão. Eu freqüentei a casa <strong>de</strong> Pelécomo <strong>jornal</strong>ista e nunca vi um RQ.Duailibi - Tá vendo} É mais um pensamentocatólico que confun<strong>de</strong> a realida<strong>de</strong> com a ficção.Quer dizer: pensar no pecado pra ele épecado.HAF - Se a gente quiser, a gente vai sofismarquantas fitas a gente quiser. Masse a gente quiserentrar no jogo da consciência e tentar ver oque está havendo entre a propaganda e a informação,é outra coisa.Duailibi - Não, um momento...Duailibi - Eu gostaria <strong>de</strong> interromper nesseinstante a entrevista...HAF - Entrou abertamente sofismandoDuailibi -... e me recusar a respon<strong>de</strong>r a qualqueroutra pergunta...HAF - Você não tentou nem saber o que oIvan já tinha dito. Olha você foi...Duailibi - Porque o negócio já está com -pletamente...HAF - Você foi publicitário até na entrada.Você foi o protótipo do publicitário. Des<strong>de</strong> ahora que você entrou, você só fez sofisma emtorno do tema propaganda e-nós estávamosnum problema muito mais fundamental, <strong>de</strong>ser humano, pra ser humano.Duailibi - A entrevista <strong>de</strong>gringolou. OHamilton está <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo pontos ae vista enão está entrevistando porra nenhuma.Duailibi - Nem <strong>de</strong>batendo. Porra, é a primeiraentrevista que já vem totalmente carregada<strong>de</strong> preconceitos e <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista...HAF - Não, estou <strong>de</strong>batendo!Duailibi - Nem <strong>de</strong>batendo. Porra, é a primeiraentrevista que já vem totalmente carregada<strong>de</strong> preconceitos e <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista...PP - A coisa partiu <strong>de</strong> mim, o ataque diretofoi meu porque você veio com ataques diretos.HAF - Você nem procurou saber o que foidiscutido na hora que você ficou fora daqui. Euvolto a fazer a mesma pergunta que eu fiz aoHAF - Você não está reconhecendo nenhumvalor na socieda<strong>de</strong> rural...Duailibi - Porra! não tou mesmo!HAF - A família nessa socieda<strong>de</strong> rural...Duai libi - A família vai pra zona, velho!HAF - Não vai! Não vai não! O garoto<strong>de</strong> 7anos é força <strong>de</strong> trabalho pra famifía. Em SãoPaulo ele vai ser trombadmha, Duailibi!Duailibi - E a menina vai ser uma força <strong>de</strong>trabalho pra família. Vai acabar na zona!HAF - Não! Isso é uma visão sua! Isso éuma visão que você <strong>de</strong>ve assumir. Porque éuma visão sua! A minha visão é que uma famíliana socieda<strong>de</strong> rural está mais integrada do quena socieda<strong>de</strong> urbana.Duailibi - Isso é apartheid. Você ainda estána África do Sul!HAF - Eu sou contra a <strong>de</strong>generescênciaque o progresso causa!Duailibi - Esse tipo <strong>de</strong> pensamento isolacionista,segregacionista, preconceituoso,católico, eu o<strong>de</strong>io!1 HAF - Eu o<strong>de</strong>io o <strong>de</strong>spotismo!Duailibi - Ele é o que tem mantido essepaís na merda total!HAF - Mas que merda maior do que vocêver um Maverick Anunciado e você não tem oque comer! E você foi obrigado, pelo seu pro-Ivan, consi<strong>de</strong>rando que a publicida<strong>de</strong> é realmentea •gran<strong>de</strong> cultura aa minha época. Euperguntei ao Ivan se os publicitários po<strong>de</strong>m seracusados <strong>de</strong> filhos <strong>de</strong> Góebells} E ai nós começamostoda uma discussão. Quando vocêentrou, foi <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo conceitos.Ivan - Evi<strong>de</strong>ntemente, no fim <strong>de</strong> tudo, vocênal que eu acho que, corretamente, ele é mais tem uma posição i<strong>de</strong>ológica, consciente ouhonesto que O Estado <strong>de</strong> S. Paulo, mas a não. Eu assumi isso.regra...HAF - Mas você entrou...Ivan - É o que você acha...Ivan - Realmente, você...HAF - E o que eu acho. Ê o que 30 mil caras HAF - ... <strong>de</strong>spejando conceitos, você <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ua <strong>de</strong>turpação da informação. Você se situaque lêem o Ex acham.você cria condições para que os brancos se gresso, a comprar uma televisão ao invés <strong>de</strong> Ivan - E 150 mil acham que o Estado é um ao lado da censura, Roberto}absorvam por inteiro, e aí absorvam os índios, vacinar os filhos!<strong>jornal</strong> mais digerivel que o seu.Duailibi - Eu me recuso a continuar dandoou você vai misturar tudo! Não é pelo ato <strong>de</strong> Duailibi - Se você não dá o instrumento <strong>de</strong> HAF - Não. O po<strong>de</strong>r da sua socieda<strong>de</strong>... qualquer resposta, porque acho que a entrevistaestá carregada <strong>de</strong> preconceitos.civilizar que você integra o selvagem na civilização.saber nem que existe vacina.HAF - Não, não é igualitária!HAF - Eu acho uma atitu<strong>de</strong> válida.comunicação que é a televisão, ele não vai Ivan - Olha aí a visão totalitária.Ivan - Você acha necessário integrar o selvagemte,quando você <strong>de</strong>sligou o gravador!HAi- - Não é igualitária também. Ponha os monólogo...HAF - Vou voltar à campanha da meningi-Ivan - Foi totalitária que eu falei...Duailibi - A entrevista se transformou numH AF - Eu acho necessário na medida que a Duailibi - Bom, porque em vez <strong>de</strong> dizer 2 em igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> disputa. Por que é que você, HAF - O Roberto está brigando comigo.civilização toma o campo do selvagem. pro operário comer pão! pro pedreiro comer como ser humano, não pensa na igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Eu não faço...Ivan - Mas você acna que ela <strong>de</strong>via tomar pão! eles preferem comprar um transistor... disputa} A Danone tem "x" para lançar um Duailibi - Não, absolutamente. O problemanão é esse. Eu acho que a entrevista ficouo campo do selvagem?Porra! È porque é informação! E tão importantequanto o pão em certos momentos. A briga da Lapa não tem. E você apoia a Danone. Pelo cansativa e completamente inócua...produto no mercado e a Leite-<strong>de</strong>Vaca-doAlto-HAF - Não sei, basicamente eu acho irreversível.Na medida em que a maioria não ê virou totalmente i<strong>de</strong>ológica.potencial econômico da Danone. Você apoia Ivan - Não querendo botar palavras naselvagem e a minoria é selvagem, (silêncio) Eu HAF - O fundamento que você dá é i<strong>de</strong>ológico!que cada cliente seu tem para persuadir. Se que aconteceu é que nessa prescrutação dae persua<strong>de</strong> na medida do po<strong>de</strong>r econômico boca do Roberto, eu tenho impressão <strong>de</strong> que onão vou adotar nunca a posição do Hitler: se aminoria é judia, a gente fuzila. Eu não tenho Duailibi - Você está adotando uma posiçãodo... infantilismo socialista (risos) que o Lê-iogurte melhor que o Danone, ele vai se estre-momento em que você chega a uma barreiravocê pegar o cliente do Alto da Lapa, com um imagem da alma do publicitário, há umuma posição simplesmente utópica. Eu estoutentando colocar o i<strong>de</strong>al como um posição nin já... porra! pera aí!par no mercado ou não} Quero que você me chamada i<strong>de</strong>ologia. Não vamos falar em i<strong>de</strong>ologiapolítica. Vamos falar em i<strong>de</strong>ologia...concreta.HAF - Mas não é verda<strong>de</strong>.prove o contrário...Ivan - Transportando isso pra o que você Duailibi - Ai é um ponto <strong>de</strong> vista muito Ivan - Não sei se ele vai.HAF - Como sistema <strong>de</strong> idéias.chamou dos milhões à margem da socieda<strong>de</strong> trotskista, enten<strong>de</strong>? que realmente não é (mais HAF - Me prove o contrário. Um tem 20 Ivan - Como visão do mundo... Então, eu<strong>de</strong> consumo, você acha que é irreversível, o risos) O... Juro por Deus! Vocês perceberam? mil cruzeiros pra lançar em publicida<strong>de</strong>, o não conheço profundamente o pensamento<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong> e que a HAF - juro por Deus, porra. Estamos misturandomuita coisa na panela. Você me cha-Ivan - Mas aí você está dando um valor à parece que você está diante <strong>de</strong> 2 pessoas queoutro tem 2...do Roberto; conheço o meu mais ou menos,conseqüência é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integrar osque estão à margem?mou <strong>de</strong> cristão e me consi<strong>de</strong>ra ateu. E engraçado...(gritando) Vai ver que a máxima da minha Duilioi - que ela não tem.ecõnômico envolve esse tipo <strong>de</strong> atritos. O queverba <strong>de</strong> propaganda...acreditam que a solução do problema sócio-LP -Alô! Alô! Alô!fIvan -Alô do Pontual.vó é que tá certa. Os extremos se tocam}Ivan - ... que a verba conjuga...eu não concordo é que por isso eu seja tachadoLP -Nós estamos discutindo filosofias há uns 40 Duailibi - Bom. eu acho que é uma posiçãodo . típico infantilismo, essa... E quase Brasil, chega aos 2% do Produto Nacional Bru-HAF - Bem, mas é informaçãoHAF - A verba <strong>de</strong> propaganda, hoje no <strong>de</strong> monstro.minutos. Filosofia...Ivan e LP -...ifeologias...romântica a posição <strong>de</strong> vocês...to.raça ariana é superior}dizer que a


EX-15Ivan - Eu não concordo com o Robertonesse ponto.PP - A informação é tudo...HAF - £, a informação é tudo pro bichohomem.PP - Precisamos da informação. Eu ficoconfuso quando se coloca a propagandacomercial, como o Roberto colocou, comoinformação normal, válida.Ivan - O Roberto é o 1» a concordar quecertos anunciantes, produtos e comerciaisestariam melhor no lixo.HAF - Não estamos aqui pra julgar o sistema...Duailibi - Eu gravei o seu ponto <strong>de</strong> vista.HAF - í muito fácil manipular a informação.Nós que trabalhamos com <strong>jornal</strong>ismo ecom publicida<strong>de</strong> sabemos disso. Você po<strong>de</strong>dizer que sabão em pó é bom, mas evita dizerque estraga a mão, certo? E a omissão <strong>de</strong> vocêdizer que a Komby é um veículo perigoso, seconduzido a mais ae 80 por hora? Essa omissãoé grave, ou não é? Vamos cair na ética?PP - Nos países que têm código <strong>de</strong> éticapra publicida<strong>de</strong>. Como é que é?Ivan - Eu acabei <strong>de</strong> receber um pacote,com tudo que existe <strong>de</strong> importante sobre oproblema <strong>de</strong> ética, <strong>de</strong> legislação <strong>de</strong> todos osprincipais países europeus, mais alguma coisados EUA. Eu <strong>de</strong>i uma oliiada, mas já conheçomuita coisa porque trabalho numa multinacional,viajo constantemente pra Europa. O queeu tenho notado é que nesses países, na medidaem que a consciência <strong>de</strong>sses problemas sedifun<strong>de</strong>, os códigos têm criado condições, ouiara que certos produtos não possam mais serfabricados ou para que certos anúncios nãopossam mais ser feitos. Eu não acho que vocêresolva o problema impedindo que certosanúncios que certos produtos sejam fabricados.Porque se não você tem uma empresaque não consegue sobreviver. E nesse tipo <strong>de</strong>sistema^a empresa é o que faz o sistema funcionar.Agora, eu me recuso a ver a coisa <strong>foto</strong>graficamente.Eu gosto <strong>de</strong> ver dinamicamente.E eu noto uma evolução! Quando nós vamoschegar na perfeição, eu não sei, provavelmentejamais vamos chegar.HAF - Ah, tá legal. Então a qualida<strong>de</strong> doproduto conta quantos por cento?Ivan - Eu sei lá quanto conta.HAF - Entre economia, po<strong>de</strong>r econômico,qualida<strong>de</strong> do produto e difusão do produto.Quanto conta o que?Ivan-De repente inclusive da categoria doproduto, porra.HAF - Depen<strong>de</strong> da categoria do produto,do po<strong>de</strong>r econômico do produto...Duailibi - Você está atribuindo à publicida<strong>de</strong>...H A F -... Um gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mistificação.Ela está me obrigando a comprar Colorado RQ.Ivan - (ao mesmo tempo que Duailibi) -Você comprou?HAF - E você testou?Ivan - Você comprou?HAF - Você como publicitário, dono daconta, testou? Ele é o televisor do Rei Pelé?Duailibi - E um televisor tão bom quantoos outros.HAF - £ mentira a partir da primeira afirmação:o rei Pelé não tem RQ em casa. O reiPelé nem vê televisão. Eu freqüentei a casa doPelé como <strong>jornal</strong>ista e nunca vi um RQ.Duailibi - Tá vendo? E mais um pensamentocatólico que confun<strong>de</strong> a realida<strong>de</strong> com a ficção.Quer dizer: pensar no pecado pra ele épecado.HAF -Se agente quiser, a gente vai sofismarquantas fitas a gente quiser. Masse agentequiser entrar ano jogo da consciência e tentarver o que está havendo entre a propaganda e ainformação, é outra coisa.Duailibi - Não, um momento...HAF - Você entrou sofismando, Roberto.Duailibi - Eu gostaria <strong>de</strong> interromper nesseinstante a entrevista...HAF - Entrou abertamente sofismando.Duailibi - ... e me recusar a respon<strong>de</strong>r aqualquer outra pergunta...HAF - Você não tentou nem saber o que oIvan já tinha dito. Olha você foi...Duailibi - Porque o negócio já está completamente...HAF - Você foi publicitário até na entrada.Você foi o protótipo do publicitário. Des<strong>de</strong> ahora que você entrou, você só fez sofisma emtorno do tema propaganda e nós estávamosnum problema muito mais fundamental, <strong>de</strong> serhumano, pra ser humano.Duailibi - A entrevista <strong>de</strong>gringolou. OHamilton está <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo pontos <strong>de</strong> vista enão está entrevistando porra nenhuma.HAF - Não, estou <strong>de</strong>batendo!Duailibi - Nem <strong>de</strong>batendo. Porra; é a primeiraentrevista que já vem totalmente carregada<strong>de</strong> preconceitos e <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista...PP-A coisa partiu <strong>de</strong> mim, o ataque diretofoi meu porque você veio com ataques diretos.HAF - Você nem proçurou saber o que foidiscutido na hora que você ficou fora daqui.Eu volto a fazer a mesma pergunta que eu fizao Ivan, consi<strong>de</strong>rando que a publicida<strong>de</strong> érealmente a gran<strong>de</strong> cultura da minha época.Eu perguntei ao Ivan se os publicitários po<strong>de</strong>mser acusados <strong>de</strong> filhos <strong>de</strong> Goebells? E ai nóscomeçamos toda uma discussão. Quandovocê entrou, foi <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo conceitos.Ivan - Evi<strong>de</strong>ntemente, no fim <strong>de</strong> tudo,você tem uma posição i<strong>de</strong>ológica, conscienteou não. Eu assumi isso.HAF - Mas você entrou...Ivan - Realmente, você...HAF - ... <strong>de</strong>spejando conceitos, você<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a <strong>de</strong>turpaçao da informação. Vocêse situa ao lado aa censura, Roberto?Duailibi - Eu me recuso a continuar dandoqualquer resposta, porque acho que a entrevistaestá carregada <strong>de</strong> preconceitos.HAF - Eu acho uma atitu<strong>de</strong> válida.Duailibi - A entrevista se transformou nummonólogo...HAF - Mas, a publicida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong><strong>de</strong> consumo e diante das regras da socieda<strong>de</strong><strong>de</strong> consumo é educativa ou agressiva?Ivan - Eu acho que ela é necessária.HAF - Bem... há muitos males necessários.Ivan - Eu repito que ela é uma conseqüênciainevitável <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> sistema.HAF - Mas ela é mais educativa ou maisagressiva, <strong>de</strong>sagregadora?Ivan - Eu acho que na medida em que osistema é mais positivo do que negativo, ela -como conseqüência - é mais positiva do quenegativa. Agora, presume-se, o sistema todovive da crença que - volta a i<strong>de</strong>ologia - queessa insatisfação ó um impulso a uma ação. Vejabem que a meta, a meta toda que o sistemaapresenta é que é muito bom o sujeito enriquecer,ganhar dinheiro, ter uma vida <strong>de</strong> confortomaterial. No tempo em que o Marxescreveu sobre a condição <strong>de</strong> vida dos operáriosem Londres, as crianças trabalhavam 14horas por dia. E hoje os adultos trabalham 6.HAF - Aon<strong>de</strong>?Ivan - Em alguns países.HAF - Não aqui, né?Ivan - Não, aqui não! Claro!HAF - Agora eu vou te perguntar uma coisa:os conceitos que vocês adotam, que sãoconceitos <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s muito mais <strong>de</strong>senvolvidasdoqur a brasileira, são plenamente aplicáveisnuma socieda<strong>de</strong> como a brasileira?Ivan - Os conceitos sim. Alguns produtostalvez não.HAF - Mas quando você fala em 6 horas,você está na socieda<strong>de</strong> americana.Ivan - Eu acho que o próprio sistema seencarrega <strong>de</strong> eliminar isso. Faz parte do sistemaum certo tipo <strong>de</strong> contestação - eu não digosó contestação política - eu digo contestaçaodo consumidor, a tomada <strong>de</strong> consciência dopróprio publicitário. Há 5 anos ninguém estavase preocupando com código <strong>de</strong>*etica!HAF - Mas não é muita violência? E aconsciência on<strong>de</strong> fica?Ivan - Por isso que o Roberto não quis maisfalar. Porque você chega num momento emque você tem 2 opções i<strong>de</strong>ológicas...HAF - Não, mas eu não quero 2, eu queromais. Eu quero 4, 5, 6.Ivan - Ah, bom. Então eu não consigoenxergar... Você está colocando a coisa assim:tenha consciência. Eu tenho consciência, logoeu mudo.HAF - Claro, eu tenho consciência, logoeu mudo. Se eu sou um soldado nazista, numpelotão <strong>de</strong> fuzilamento, eu não atiro. Pera aí,pera aí. Não vai mudar nada na hora em que agente <strong>de</strong>sligar o gravador. Mas a consciênciaque diz para não se gravar isso é muito estúpido,ne? Vamos gravar isso, vamos brigar! Porquese não a gente faz nada. £ o imobilismoque você falou.Duailibi - E, agora eu fico preocupadoinclusive com a manipulação da informação noseguinte sentido: eu gostaria <strong>de</strong> ver, ahn... seas minhas palavras não serão <strong>de</strong>turpadas, ouusadas a partir dos preconceitos <strong>de</strong> vocês.HAF - Não, nunca serão. Há um princípio<strong>de</strong> honestida<strong>de</strong> da <strong>imprensa</strong> marginal, quenão é respeitada pela <strong>imprensa</strong> oficial. Nósvamos tirar o que tiver na fita e não vamosmanipular.PP - f até chato você pensar nisso...Duailibi - Não, eu não acho chato. Achoaté realista pensar nisso.HAF - Pra sua realida<strong>de</strong>, não pra minha.Duailibi - Olha, até prova em contrário eupenso assim.HAF - Então você espera. Seja um cara otimista.Duailibi - Muito bom, ok. Olha, queridosamigos, são 11 e 15 da noite. E começamospelas 7...Ivan - Eu vou dormir tranqüilo.(risos)H AF - Eu acho que a gente <strong>de</strong>via chegar acoisas mais importantes no tocante à publicida<strong>de</strong>,no tocante à socieda<strong>de</strong>, no tocante àinformação, no tocante ao papel do <strong>jornal</strong>ista.Vocês <strong>de</strong>viam ter questionado <strong>de</strong> volta... Euacho importante até vocês questionarem avalida<strong>de</strong> da gente estar fazendo um <strong>de</strong>bate. Eque terceiros tirassem uma quarta posição.Duailibi - Todo o <strong>de</strong>bate, cujas conclusãoser manipuladas por um dos...HAF - Não, nós po<strong>de</strong>mos manipular conjuntamente.Vamos combinar aqui, agora, porqueé jogo aberto!DuaNibi - Isso é uma boa. Eu gostaria...vamos marcar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já.HAF - Vamos copi<strong>de</strong>scar junto, mas vamosprosseguir o <strong>de</strong>bate. Vamos aprofundar o<strong>de</strong>bate. E vamos assinar: aqui está o resultado<strong>de</strong>ste encontro.Duailibi - Tá legal.HAF - Sabe, isso é muito romântico. Masnuma socieda<strong>de</strong> como a nossa, com os problemasque nós temos, realmente a acusação <strong>de</strong>romantismo pesa mais que a <strong>de</strong> fascista. Porqueo romântico é aquele que não quer que acoisa vá pro diabo. E o fascista é aquele queacha que não tem outro jeito.Lncjuanío isso, &rr\ Nova %rk..."Viver bem é amelhor vingança!Vista uma roupa do Jeans Storee fique muito à vonta<strong>de</strong>para interpretar a frase como quiser.(G. Murphy.)Sao Pauto: Alameda Lorena, 718 - Rua Iguatemi, 455 - Alameda Jaú, 1423 - Rua Maria Antônia, 116 - Rua Princesa Isabel, 235 (Brooklin) - Shopping Center Continental (Osasco).Rio: Rua Santa Clara, 50 (Copacabana) - Rua Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pirajá, 82 (Ipanema)


JPTJBSwos swftes agérrfev, &'//•£ 3 nossa Mhs/g), "ias vossae*tsage*n es/áe^ /sP/é&ses-•w ZSiík^PI®!^^ViS^-^W^MkkTvjtV t --í^ijiiamlmmíL ^/^JÉfÁ^y^M m3W ê É & ^ â M m mmmímMWwkàr " ' ( S W i s a pwup Mo/ee/s e&9 fi'vmêfy^otôaeeetm pos èon, »rêIA/UÇAP o MKLBoeo- aôoca s$ esm'4-mÁs Mjwe/e/ow Togaro. vo AW p/isaAcv i/eupev/3o B/ovoesj&câAeeos, 32 PAPA sgeHl/MAVO!U/350, rATVeOO OSf 3B/LHÕÉS, QVASe :3/20 Ps/í£//?A c/u, pb SAO mow. ; sgsjiliBSA) /A/re/u(tfO P/i í£0 Bü/PVarr gza /yWÇAZ MMÍSO&>l°eM COtf/r/B/). rAFA (SMP/?é-TE$7E 3Meses. MASo eemevo wep/Ajyo xc^r/m. "e/e* rt/w/}Me*mc' F^A


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"br\$iKês <strong>de</strong> 7 iumsncbComo se tiiMSsem 8. "-possé CavacahumoristabKitiiejrok3Ba*?»LEXTRfiJ"Temos que evcontv&r um mecanismo que amplie o repertório <strong>de</strong> oer>se sen-ícos Que cõda home/m quer a cada instante, e que amplie <strong>de</strong>forma violente" P'?'* ^Í-T/MTJEP EM 1^1. UM VERWICFÍO: "Não importamuito se essa ampliação cria problemas sociais... ^^— os problemas sociais sao.necessários para a realizaçãodo próprio <strong>de</strong>-."ebnvohimeriiv. Importanfeé que cada umQu&ra mais, cada vez maii,mais ftjisssi.11rô^f' .peroio ÜSÍ$* ! .wâm4kmm


DEPOIMENTO-REPORTAGJEM"A gente precisa ser artista pra ver o tempo passar".(Frase <strong>de</strong> Azul, pintor do pavilhão 2)"Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer!"(De Aparício Briqueroff Torely, "Barão <strong>de</strong> Itataré".fundador do <strong>jornal</strong> "A Manha", 1926.)Vou lhes falar da manha, da arteda dissimulação e do <strong>de</strong>sacato alegre,barato, da catimba e da instigação.Tudo como uma imensa dança, um ritualinventado pelo oprimido para sobreviver,ser mais criativo que o opressor.Como se a realida<strong>de</strong> fosse um imenso jogo <strong>de</strong>capoeira, on<strong>de</strong> também quem <strong>de</strong>sloca recebee quem pe<strong>de</strong> tem preferência.Quantos somos? Somos muitos os presosnesse jogo. Irmãozinhos presos.Vou lhes prestar um <strong>de</strong>poimento espontâneosobre a manha, os ratos, a prisão, a ca<strong>de</strong>ia,a vida, enfim. Vou reportar histórias porqueestive lá e quero falar sobre o que aconteceu.Se ainda sou um número preso no Arquivo Mortoda Casa <strong>de</strong> Detenção <strong>de</strong> São Paulo, o meu papel <strong>de</strong>preso terminou. Todos os 5 presos do TeatroOficina (em 20/04/74) foram absolvidos. )á voltarama cena, em toda parte.Somos todos literatores!Chega mais. Um gesto, um passar <strong>de</strong> mãopela testa, a mão estendida vai se fechando,<strong>de</strong> lá pra cá, da esquerda pra direita.a mímica pra se conversar em silêncio!Vamos trocar-idéia? Tudo num convite <strong>de</strong> mão.Manha, <strong>de</strong> quem não chora não mama.Somos todòs manhosos. Brasileiros, inteiros.Na mistura da raça, no fato do indio ter-se negadoa ser escravo. De novo Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> - "Tupi ornot tupi?" Os tupis lutaram em duas frentes, semisturando no sangue dos novos habitantese guerreando sabendo que iam per<strong>de</strong>r.Foi preciso irj>uscar o negro na África para serescravo, vir ensinar a sobrevivência <strong>de</strong>baixo da opressão.O negro, último e <strong>de</strong>finitivo elemento <strong>de</strong> composição daraça, dita brasileira. Mestiços. Eu e você. Os que virão.Em qualquer campo. Mas principalmente em campo.Uma seleção brasileira do Brasil todo. A bola presa.O futebol <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia. Como quando a linha direta dopovo baixa em campo para mostrar à massa <strong>de</strong> agora,atordoada, que apanha da vida sem saber <strong>de</strong> quem, agran<strong>de</strong>za da arte do oprimido: artistas, valentes,dançarinos, maliciosos, manhosos,finos e implacáveis. Somos todos presos comuns.Bunda, Bola, Buxixo! Pá, pá e pá!A gíria, a língua da baixa socieda<strong>de</strong>, amalícia, o segredo. O falar com os <strong>de</strong>dos e a mão,num alfabeto próprio (não o do surdo-mudo).Quando preciso, falar até com as duas mãos aomesmo tempo, sem olhar na direção da mensagem.£ muita manha!Quando a vida se torna um jogo <strong>de</strong> xadrez:"Não há segredo, tudo se sabe. O boca-a-boca maisinfernal que eu já vi. Ninguém confia em ninguém.A gente tem que ter um álibi para uma situaçãoque ainda não foi criada; e uma resposta para umapergunta que ainda não foi feita".Você é só, mas nunca estará sozinho, combinado?Pra mim, tortura foi o simples fato <strong>de</strong> ficarpreso 93 dias para ser julgado inocente!Se sente o cheiro dos ratos no ar, na vida dagente. Os ratos estavam rondando. Todo mundo sabia,sentia. Somos todos jovens criados sob o medoda policia. Ódio e medo.Exatamente no sábado anterior, 8 dias antes, eles tinhamprendido o Henricão (Henrique Numbrinç, ator, "GraciasSenor", "As Três Irmãs"), no Teatro Muncipal, SP.Ele-estava ven<strong>de</strong>ndo alguns posters (do tamanho <strong>de</strong>ste)on<strong>de</strong> Richard Nixon aparecia vestido <strong>de</strong> prisioneiro(uma montagem brasileira, produção gráfica da Comunida<strong>de</strong>Oficina-Samba, hoje em Portugal), durante o espetáculo<strong>de</strong> criação coletiva do inglês Bob Wilson.Henricão ficou guardado 3 dias. Quando um data-vênia,um advogado amigo antigo do Teatro Oficina, tomou 2,5mil para soltá-lo do DOPS.Sujeira! Pintou sujeira, vagabundo passa a mãocom os <strong>de</strong>dos virados para <strong>de</strong>ntro na altura do peito,na camisa, assim como que polindo as unhas. Querdizer: sujeira! Tem <strong>de</strong>do-duro na parada, entregação.Sai todo mundo <strong>de</strong>sbaratinando <strong>de</strong>vagar, como no sambado Cláudio Vieira, ex-Bandido Mascarado, puxando 10anos secos, irmãozinho do 302, na "Casa da Banha".Esse samba, "Cabo Veí<strong>de</strong>", tá gravado pelo Cláudio,em filme sonoro da TV Cultura, documentário sobre aCasa <strong>de</strong> Detenção, feito pela repórter Ana MariaCavalcanti. Cabo Ver<strong>de</strong> era um traficante, vitimado Esquadrão da Morte. Sua morte estánarrada no livro "Mil Mortes", <strong>de</strong> Percival <strong>de</strong> Souza:"Dia 29/12/69: João Aniceto, o Cabo Ver<strong>de</strong>, éassassinado às margens da estrada (...)Seu corpo apresentava 16 perfurações à bala".É muita manha ouvir o Cláudio cantar:"Boca calada não entra formigaBoca calada não entra formigaFui saindo do localDesbaratinando e <strong>de</strong>vagar", (bis)Cláudio, o Mascarado, quem é quem?Preto, inteligente, malandro, Cláudio é"cobra criada", que pegou mais <strong>de</strong> 70 anos<strong>de</strong> sentenças, por ter assaltado e barbarizadoalgumas vitimas, sexo, saca? Mas que sozinho,lá <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, em 10 anos apren<strong>de</strong>u a manha,sabe viver sua vida. De revisão em revisão,já fez a pena cair para menos da meta<strong>de</strong> e tána bica para pegar uma "Colônia" - irtirar o resto aa ca<strong>de</strong>ia num Instituto PenalAgrícola (Bauru ou S. José do Rio Preto).Um dia, num papo, o Cláudio me ofereceu umcigarro, <strong>de</strong>scansou o violão na jega (seu belicheera o <strong>de</strong>baixo) e me perguntou:- Como é que vai ser lá fora?FOTO CHOQUEAssaltante preso no dia 6 <strong>de</strong> abril. Com fome, <strong>de</strong>u azar: tentou roubarum investigador <strong>de</strong> policia. Levou um tiro e apanhou. No 23*Distrito PoliciaRSão Paulo), foi obrigado a fjcar com o braço feridolevantado enquanto prestava <strong>de</strong>poimento.Eu respondi pra ele:- Prá qualquer lado que você se virar e andarem linria reta, você será um estranho?Não sei, não sei não? É <strong>de</strong> novo aquele história<strong>de</strong> Crime e Castigo. O que é que marca, que ficana pente, não nas ruas, na vida da gente?É difícil não encarar o tempo comoum adversário, embora tenha sido a sua regularida<strong>de</strong>,o nascer do sol, das estrelas, as diferentesestações do ano, que levaram o homem aoconceito <strong>de</strong> lei e or<strong>de</strong>m e fizeram com aue produzisseo que <strong>de</strong> mais belo existe em arte, gran<strong>de</strong> parte<strong>de</strong> sua religião e toda a sua ciência".Quem disse isso foi Arthur Clarke, esse humanistaincorrigivel <strong>de</strong> "2001", no livro "Perfil do Futuro",que li durante as minhas funções <strong>de</strong> - como dissePercival <strong>de</strong> Souza - "estagiário da baixa socieda<strong>de</strong>".Antes <strong>de</strong> ser preso, eu morava numa casa na Lapa,éramos uns 8 incluindo flutuantes, eventuais, bo<strong>de</strong>s.As pare<strong>de</strong>s rabiscadas, as pessoas marcadas.Tô prá ver ainda coisa pior do que a paranóiada segunda meta<strong>de</strong> do Governo Mediei. O beco semsaída era total. Tudo <strong>de</strong>struído, tudo arrasado práfalar culturalmente apenas. Até a Copa do Mundoviveu seu ciclo <strong>de</strong> glória e fracasso. Que zebra!O pouco que se fez em teatro, <strong>imprensa</strong>, música,comunicação, quase que se po<strong>de</strong> resumir na posição<strong>de</strong> alguns remanescentes que se julgam mártiresequipes <strong>de</strong> jornais divididas, idas e voltas <strong>de</strong>diretores ao teatro, a TV e a <strong>de</strong>finitiva tomada dopo<strong>de</strong>r pelo "Cinema Novo". Via Glauber e Embratel,é claro. Via satélite porque ninguém é <strong>de</strong> ferro!Tudo se resume <strong>de</strong> Roma, mais ou menos assim:"Ora, Roberto Faria está na Embrafilmes por causado cinema novo e a distensão entre o cinema novoe o governo começou com minhas <strong>de</strong>clarações em Visão<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1974: se o Ford po<strong>de</strong> disten<strong>de</strong>r com oBreznev porque eu não posso disten<strong>de</strong>r com o Geisel,ainda mais que ele não é Ford e eu nãó sou Breznev?"Li na Crítica) número 55, agosto <strong>de</strong>sse ano.De Médici a Glauber Rocha foi uma viagem!Eu assisti a entrada do Governo Médici<strong>de</strong> camarote, da Amazônia. Fazendo Realida<strong>de</strong>-Amazônia(Outubro <strong>de</strong> 71), e vivendo o clima <strong>de</strong> <strong>de</strong>lírio:futebol e <strong>de</strong>senvolvimento, em todos os momentos."Foi a nossa mais longa e apaixonantereportagem", como escreveu o editor da edição especial,Raimundo Pereira, na carta que abre a revista eque o Sr. Vítor Civita assinou. Palavra da Abril.A Realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>u um lucro <strong>de</strong> 2,5 milhões <strong>de</strong>cruzeiros, a tiragem <strong>de</strong> 250 mil exemplares esgotouem 10 dias. Uma gran<strong>de</strong> aventura da <strong>imprensa</strong> oficial,censurada já fazia 3 anos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 68.Só eu, como editor-assistente, fiquei 6 meses naAmazônia Oriental, <strong>de</strong> Manaus prá lá, prá cima e prábaixo. Fiz também uma capa <strong>de</strong> Veja ("Os Dias da Criação"),on<strong>de</strong> a imagem <strong>de</strong>ssa Amazônia abandonada <strong>de</strong> hoje, émostrada sem qualquer <strong>de</strong>lírio mentiroso daquela época.Entrevistei o Coronel Aloysio Weber, ex-comandante do5? BEC (Batalhão <strong>de</strong> Engenharia e Construção), <strong>de</strong> PortoVelho - hoje ele está na Re<strong>de</strong> Ferroviária Fe<strong>de</strong>ral,a chamado do Presi<strong>de</strong>nte Geisel.Estive com o Coronel Moraes Rego, ex-comandante daFronteira do Solimões enconstado em Tabatinga. On<strong>de</strong> oBrasil se encontra com o Peru e a Colombia, aolado da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letícia. Uma verda<strong>de</strong>ira Macondo<strong>de</strong> Garcia Marquez. Lá mora Mikje Tisalikis, um gregoamericano, contrabandista triplo-multinacional,exportador <strong>de</strong> peles e animais da Amazônia.Por 3 dias visitei o Coronel Moraes Rego, conversamossobre a fronteira, a Amazônia brasileira, Amazôniainternacional, Peru e Colômbia, Brasil, enfim.No ano <strong>de</strong> 71, o Coronel Moraes Rego já falava commuita firmeza sobre tudo isso. Hoje ele é secretárioparticular do Presi<strong>de</strong>nte Geisel.Uma viagem até aqui!Confieci Zé Celso, o Oficina, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> voltar daAmazônia. Era editor da revista "Bondinho", junto comSérgio <strong>de</strong> Souza, Narciso Kalili, Gabriel Romeiro,George Love, Cláudia Andujar, Mylton Severino,Amâncio Chiodi, um monte <strong>de</strong> gente. Todos <strong>jornal</strong>istasque não acreditavam na profissão <strong>de</strong>ntro da <strong>imprensa</strong>oficial, hoje batizada por Samuel Wainer como"andrógina, hermafrodita". Naquela época só tinha oPasquim e nós, disso tudo que se po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong>"Imprensa Nanica". Bondinho, Jornalivro, Grilo,Revista <strong>de</strong> Fotografia. Até Ex-Grilo!Foi uma fase difícil prá rapaziada.O Glauber está por fora <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 71,quando saiu do Brasil.Tempo bom, tempo ruim! Os mais velhos foram<strong>de</strong>golados no negros <strong>de</strong> 68/72. Ou se omitiram.Os mudaram <strong>de</strong> lado. Até o centro ficou muitomais à esquerda. Vi<strong>de</strong> Camões no Estadão.Mas a maioria alugou mesmo a consciência.Se doparam <strong>de</strong> grana. Vinhos finos, cristais.Como num samba <strong>de</strong> Paulinho da Viola e Campinam.Foram poucos os que ficaram mantendo osprincípios. E a mocida<strong>de</strong>, o estudante, essebrasileiro anônimo? Sobrou o beco sem saída:pau <strong>de</strong> um lado, enganação do outro. Tudo repressão.Assim, da contestação estilo "Maio <strong>de</strong> 68, Paris",fomos jogados no speed artificial dos anos 70.Ma<strong>de</strong> in USA. O bicho tupiniquim viveu oartificialmente dourado. A droga chegou até aclasse média urbana. Logo a droga que sempreesteve nos dois extremos: com os muito ricos oucom os marginais da pobreza.Antropofagia, <strong>de</strong> novo! Quando o cara tem quese proletarizar para ser bicho, ele <strong>de</strong>ixa<strong>de</strong> ser diferente. Fica igual à maioria!O sonho brasileiro não é que acabou,ficou foi ridículo com aquela fantasia.Morreu <strong>de</strong> ridículo o nosso íransbun<strong>de</strong>!O Teatro Oficina, a "cultura e a civilização",já foi um templo. De Gorki, Srecht, da DonaMaria do Carmo do Abreu Sodré, como patronesse,até que o "Rei da Vela" esculhambou com tudo.Depois a "Roda Viva", a prmieira explosão do "bommenino" Chico Buarque, e o Living Theatre não<strong>de</strong>ixaria mais o Oficina ser c.mesmo. Filho <strong>de</strong>ex-estudantes <strong>de</strong> Direito do targo <strong>de</strong> São Francisco, SP.Zé Celso, Renato Borghi, ítala Nandi, FernandoPeixoto, Queiroz Telles, Of^on Bastos, etc.Esse Oficina aí eu só conheci como platéia.O Oficina-Samba eu conheci por <strong>de</strong>ntro, como<strong>jornal</strong>ista, como amigo do Zé, literator!Zé Celso procurou o pessoal do "Bondinho" quandonascia <strong>de</strong> uma viagem pelo Brasil o novo grupoOficina-Samba, Oficina Brasil! Naquela épocatodo mundo queria prestar seu <strong>de</strong>poimento espontâneoa nós. Chico Buarque, Gilberto Gil, Campinam,Caetano Veloso, Walmor Chagas, Maria Bethania,Gal Costa. Milton Nascimento, José Ângelo Gaiarsa,e José Celso Martinez Correia, o José Celso, o Zé Celso,ou Zé, um brasileiro atoa na Revolução do Te-Ato.Daí até o sábado da minha prisão, fizemos muitacoisa juntos. E muito mais ainda separados.No início <strong>de</strong> 74, fui^ convidá -lo para fazer um <strong>de</strong>batesobre publicida<strong>de</strong>, já como matéria para o EX. Paraa seção "Mano-a-Mano", EX-2. Otto Scherb da EscolaSuperior <strong>de</strong> Propaganda e Arte SP, seria o outro lado. Nósescolhemos o Zé Celso por^causa da sua <strong>de</strong>finição, aose referir à classe publicitária brasileira:"Filhos <strong>de</strong> Goebbels!:"Acho a propaganda uma coisa <strong>de</strong> uma agressivida<strong>de</strong>muito gran<strong>de</strong> e na configuração exata <strong>de</strong>ste momentono Brasil, um país que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algum tempo estárecebendo um gran<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> capitalismo, está setornando uma potência média capitalista, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> umregime muito autoritário, a propaganda é agran<strong>de</strong> cultura do momento. E é mais ou menos parecidacom o que aconteceu na Alemanha no tempo <strong>de</strong>Goebbels, praticamente o homem que <strong>de</strong>senvolveuum tipo <strong>de</strong> propaganda em que a própria indústriaprivada e o próprio Estado compuseram um tipo<strong>de</strong> cultura. Mais primária do que a nossa, que ésofisticada, mas eu sinto o mesmo peso vendo ascoisas <strong>de</strong> Goebbels. Inclusive, acredito, foio gran<strong>de</strong> revolucionário da propaganda, que inventouO Dia das Mães, a Volkswagen, aquela série <strong>de</strong>táticas <strong>de</strong>stinadas a transformar o povo alemão,que se encontrava numa miséria muito gran<strong>de</strong>".Ao fazer esse trabalho, Zé Celso se reaproximoudo pessoal do EX; Quando o Henricão foi presoven<strong>de</strong>ndo posters, eu estava no Rio montando ofilme "Rei da Vela", com o Zé Celso. E tentandotirar um resumo do trabalho da Comunida<strong>de</strong>Oficina Samba para o EX. A notícia da prisão doHenricão me trouxe a São Paulo.Tudo bem! Essa expressão virou uma forma <strong>de</strong>cumprimento na linguagem da gente., Tudo bem!Henricão solto, numa segunda; no sábado seguinte,antes <strong>de</strong> voitar ao Rio, fui aõ Teatro Oficina,Rua Jaceguai, 520 - Bexiga, SP. Ver se haviaalgum recado do Zé, se tinha alguém.De novo o medo e o ódio! Já somos quantos, milhares,<strong>de</strong>zena <strong>de</strong> milhares, nas cida<strong>de</strong>s gran<strong>de</strong>s, comoSão Paulo, que tivemos um amigo, um conhecido,colega, irmão, parente, nas mãos da polícia,presos. Todos comuns. Vizinhos. Quando a violência cheganum ponto xis, voce- para perceber que sofreu alguma,precisa quase ser mátir. O resto é comum!"Só reconheço a existência <strong>de</strong> uma droga, um doping:o dinheiro. E só me julgo culpado pela autoria <strong>de</strong>um crime: a morte <strong>de</strong> Deus. O resto eu <strong>de</strong>ixo prá serresolvido pelas feras que virão, os seus, osmeus filhos. E qüe tudo o que foi escrito se transformena imensa salada das palavras não entendidas ousimplesmente numa forma <strong>de</strong> sair daqui, livreno pensamento, prá dizer aos amigos e aos inimigos,um ensinamento da minha avó:- Ca<strong>de</strong>ia não foi feita prá cachorro!.Isso é um <strong>de</strong>poimento. Eu sei que tudo o que estáaqui po<strong>de</strong>rá ser usado contra mim. Ou a favorO sonho é viver. Logo, o teatro é a vida!Muitas pessoas pensavam em morar no teatro,viver da produção coletiva da Comunida<strong>de</strong> OficinaSamba. Algumas já tinham levado suas coisaspara lá. Um enorme casarão da Bela Vista, on<strong>de</strong>atrás do palco se tem um enorme salão, doisquartos, uma varanda com escada para o porão:uma outra casa, cozinha, tanque, entradas,entrâncias e reentrâncias. O teatro havia sidorecuperado pelo grupo Oficina há pouco. Umempresário-rato tinha tentado uma jogada legalem cima do aluguel. Havia até quem queriafazer do local uma "Universida<strong>de</strong> Aberta", comoa professora <strong>de</strong> teatro Maria Alice Vergueiro.Que espetáculo! 25 ou mais jovens, todos menores<strong>de</strong> 30 anos, reprimidos, auto-reprimidos, acuados,atomizados, querendo produzir. Inovar. Reformara partir <strong>de</strong> suas vidas, já um tanto esbu<strong>de</strong>gadas.Nao chegaram a morar mesmo no teatro. Tudo nãopassou <strong>de</strong> um ensaio. Limparam a casa, pintaramtudo <strong>de</strong> novo, levaram fogão, colocaram aparelho <strong>de</strong>som numa salinha do porão, revestida <strong>de</strong> caixa<strong>de</strong> ovos, restos do Ceasa. Ven<strong>de</strong>ram as ca<strong>de</strong>iras,chegaram a produzir um pôster que ia ser vendido aS 15 e <strong>de</strong>ram um espetáculo no dia 30 <strong>de</strong> março,data <strong>de</strong> aniversário do Zé Celso. Foram uns200 convidados assistir "As Criadas", <strong>de</strong> Genet,O Zé Celso, coitado!, assistiu as duas apresentaço

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