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VAN GOGH ASSASSINADO! NA LOUCA 29 ANOS NUM ENLOUOUECEU? MÃTA! SEXO

van gogh assassinado! - Memórias Reveladas

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Demonstrando que as formigassão as verdadeiras rainhas dacriação (o leitor pode tomá-locomo uma hipótese ou umafantasia: de qualquer maneira lhefará bem um pouco de antropofugismo),eis aqui uma página desya geografia: (Pag. 84 do livro;assinalam-se entre parênteses ospossíveis equivalentes de determinadasexpressões, segundo a clássicainterpretação de GastonLoeb).".. . mares paralelos (rios? ). Aigua infinita (um mar?) cresceem certos momentos como umahera-hera-hera (idéia de uma paredealta, que expressaria a maré? ).Se a gente vai-vai-vai-vai (noçãoanáloga aplicada à distância) chegaà Grande Sombra Verde (umcampo semeado, um mato, umbosque? ) onde o Grande Deuseleva o celeiro contínuo para suasMelhores Operárias. Nesta regiãoabundam os Imensos Seres Horríveis(homens?) que destroemnossos caminhos. Do outro ladoda Grande Sombra Verde começao' Céu Duro (uma montanha? ). Etudo isso é nosso, mas comameaças'Juan Caizadilla, venezuelano, poeta eilustrados- ido livro Maios Modaies, Caracas, 1965)Essa geografia foi objeto dea um pequeno jardim da ruaLaprida, 628, Buenos Aires. Osmares paralelos são dois pequenoscanais de esgoto; a água infinita,uma banho para patos; a GrandeSombra Verde, um canteiro dealface. Os Imensos Seres Horríveisinsinuariam patos ou galinhas,embora não se deva descartara possibilidade de que realmentese tratem de homens. Arespeito do Céu Duro desenvolveu-seuma polêmica que nãoacabará tão cedo. A opinião deFry e Peterson, que vêem neleuma parede de tijolos, opõe-se àde Guillermo Sofovich, que presumeum bidê abandonado entreas alfaces. Júlio Cortázar4*4*4*OTERTODE MIMUm bicho é como outro qualquer,confunde-se no número ena igualdade. Na confusão, umdesigual aparece. No destaque,caminha.Havia pra mais de cinqüentasaqués no terreiro da fazenda. Aspeninhas preto-e-branco acinzentadas,bem estruturadas no corpo.Um xadrez redondo e andante.As cabeças dos bichinhos eramiguaizinhas, que semlhança:aquelas tantas carinhas de padre.Quando um gritava "tou-fraco"seguia-se um coro extensivo. Semelhantea um eco enorme, quemais escondia cada um no meioda multidão de saqués. Andavamsempre no seu grupo reunido.Trabalhando e comendo coletivamente.Ninguém sabia quandoum saqué botava ninho. Ela seescondia no mato, distante decasa, e tinha a cobertura de todose de seu corpo. Parecidíssimo.— Essas pestes não presta pracriar, não!Na sua cara, o saqué nada temde sertão. Mas difícil é a casadum alguém que não tenha saquéno terreiro, enfileirado. Ninguémsabe por que. "Essa desgraça veioda África".Nunca junto aos saqjés vivia aquantidade de galinhas: d'Angola— careca no pescoço, assemelhadaa um soldado real na sua postura,Leghom, um monte, um lote degalinha*s diferente na característica.Uma infinidade de poedeirasdivididas na raça, na cor, nocacarejo. Uma vermelha, pedrez,pintada. Uma branquinha pequena— danada no ninho — umasque eram sangue de todas. Embaralhavam-seno ciscar: pé-duro.As galinhas, ao contrário dossaqués, punham seus ovos emcasa. Eram deitadas por Darvino,ora numa cangai ha velha, oranum cesto estragado: domestica-zinhas. Os saqués cresciam aotempo, encostados à natureza. Asgalinhas, meio controladas. Noninho, no particular.O sol já deixando nuvensvermelhas, moldando círculo diário,e a gente não vendo maisdireito o que de manhã se viaclaro, se amontoavam no quintalvizinho ao curral, as cheinhas depenas, calmas. Um limoeiro grandeagarrado ao muro ficava cheiode galinhas cacarejando para seequilibrar nos galhos de espinhos.Essas eram as mais feias, isoladaspor natureza. Espalhados peloterreno os cavaletes feitos a facão— ao gosto dos bichos. Os saquésocupavam um cavalete na disputaigual de lugares. Ajeitavam tudono fim, pressão da noite escura,mistério pros animais. Outro^cavaletes ficavam com os perus,desequilibrados nos seus pés deave.Entre a aparência do saqué, dagalinha e do peru, estava um quenão era nenhum deles. Não eraoutro também. Um emio, intermediárioentre os tres sem sernenhum. Do peru tinha o tamanhoe o costume de explodir ocu. Também o modo de andardesconjuntado. A cada pedaçoandado um estampido nos fundos.Do saqué, a forma, ocontorno do ser. Uma partegrande meio oval, desprendendo-sedaí um pescoço característicoe a cara de padre, vinda nojeito do meio da África. 0 bichonão cantava uma coisa sua. Nãoera o gurguiejo do peru, nem o"tou-fraco" do saqué. Era mais ocó có có da galinha. Parecia.Sexo não devia de ter. Suaindiferença nos olhos contemplandoo nada pelas laterais nãoera jeito de macho, bicho fogoso,matreiro, necessitando de fêmea acada dia. Fêmea não era: semredondeza nos fundos, sem nuncater posto ovos, assim. Já tinhadois anos naquela vida de intermédio.De existir, ele tava ali:comia o milho espalhado, tinhaas suas penas. Andava sozinhodentro dos bichos. Sua naturezaera de solidão. Só batia um galo,pato ou saqué quando era atocha-,do. Em meio ao inverno de umano de chuva forte, ele tinhamatado um pato que tentouincubá-lo. Fim do dia apareciaalgumas vezes com uma cobraenrolada no bico — saculejandona luta de escape.Por não dizer o que era,trancado no silêncio de ave, naconfusão, sem por nem repor,comendo milho atoa, ele entrouna faca. Bicho indefinível erabom na panela.Quando mordi suas coxas gordas,redondinhas, chorei um pouquinho,Gustavo Faicon (jornalista, baiano,21 anos; conto escrito em 71)

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