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VAN GOGH ASSASSINADO! NA LOUCA 29 ANOS NUM ENLOUOUECEU? MÃTA! SEXO

van gogh assassinado! - Memórias Reveladas

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Durante muito tempo me apaixonoua pintura linear pura até que descobriVan Gogh, que pintava, em lugar delinhas e formas, coisas da naturezamorta como que agitadas por convulsões.E morta.Como sob o terrível embate dessaforça de inércia a que todos se referemcom meias palavras, e que nunca foitão obscura como desde que a totalidadeda terra e da vida presente secombinaram para esclarecê-la.Bem, são cacetadas, realmente cacetadaso que Van Gogh aplica sem parara todas as formas da natureza e aosobjetos.Desenredadas pelo punção de VanGogh,as paisagens exibem sua carne hostil,o rancor de - suas entranhas rebentadas,que não se sabe, além do mais, queforça insólita está metamorfoseando.Uma exposição de quadros de VanGogh é sempre uma data culminantena história,não na história das coisas pintadas,mas na própria história histórica.Pois não há fome, epidemia, erupçãovulcânica, terremoto, guerra, queseparem as mônadas do ar, que retorçamo pescoço da cara turva de famafatum, o destino neurótico das coisas,como uma pintura de Van Gogh, —exposta à luz do dia,colocada diretamente ante a vista,o ouvido, o tato,o aroma,nos muros de uma exposição —,lançada por fim como nova naatualidade cotidiana, posta outra vezem circulação.Em pinceladas vibrantes como as de seu biografado, Antonin Artaud revolve aalma atormentada de Van Gogh; traduz para a palavra escrita alguns de seusquadros geniais; e chega à conclusão de que o pintor de uma orelha só, não sesuicidou coisa nenhuma: foi "suicidado" por seu psiquiatra.Os corvos pintados dois dias antesde sua morte não lhe abriram, maisque suas outras telas, a porta de certaglória póstuma, mas abrem à pintura pintada,ou melhor, à natureza não pintada,a porta oculta de um mais além possível,através da porta aberta por Van Goghpara um enigmático e pavoroso maisalém.Não é freqüente que um homem,com um balaço no ventre do fuzil queo matou, ponha numa tela corvosnegros, e debaixo uma espécie deplanície, possivelmente lívida, de qualquermodo vazia, em que a cor deborra de vinho da terra se enfrentamloucamente com o amarelo sujo dotrigo.Mas nenhum outro pintor, fora VanGogh, foi capaz de descobrir, parapintar seus corvos, esse negro de trufa,esse negro de comilona fastuosa e aomesmo tempo como de excremento,das asas dos corvos surpreendidos pelosresplendores declinantes do crepúsculo.E de que se queixa a terra ali, sobas asas dos faustos corvos, faustos só,sem dúvida, para Van Gogh e, ademais,fastuoso augúrio de um mal que já nãolhe diz respeito?Pois até então ninguém como elehavia convertido a terra nesse traposujo empapado em sangue e retorcidoaté escorrer vinho.No quadro há um céu muito baixo,achatado,violáceo como as margens do raio.A insólita franja tenebrosa do vaziose eleva em relâmpago.A poucos centímetros do alto ecomo proveniente do baixo da tela,Van Gogh soltou os corvos como sesoltasse os micróbios negros de seubaço suicida,seguindo o talho negro da linhaonde o bater de sua soberba plumagemfaz pesar sobre os preparativos datormenta terrestre a ameaça de umasufocação vinda do alto.E, no entanto, todo o quadro ésoberbo.Quadro soberbo, suntuoso e sereno.Digno acompanhamento para a mortedaquele que, em vida, fez girartantos sóis ébrios sobre tantas parvasrebeldes ao exílio e que, desesperado,com um balaço no ventre, não pôdedeixar de inundar com sangue e vinhouma paisagem, empapando a terra comuma última emulsão, radiante e tenebrosaao mesmo tempo, que sabe avinho acre e a vinagre picado.O que mais me surpreende em VanGogh, o maior pintor de todos ospintores, é que, sem sair do que sedenomina e é pintura, sem se separardo tubo, do pincel, do enquadramentodo motivo e da tela, sem recorrer àanedota, ao relato, ao drama, à açãosem imagens, à beleza intrínseca dotema e do objeto, chegou a infundirpaixão à natureza e aos objetos em talmedida que qualquer conto fabulosode Edgar Poe, de Herman Melville, deNathaniel Hawthorne, de Gerard deNerval, de Achim d'Arnim ou deHoffman, não superam em nada, dentrodo plano psicológico e dramático, asuas telas de dois centavos,suas telas, por outro lado, quasetodas de moderadas dimensões, comorespondendo a um propósito deliberado.Penso que Gauguin acreditava que oartista devia buscar o símbolo, o mito,agigantar as coisas da vida até adimensão do mito,enquanto Van Gogh acreditava queé preciso aprender a deduzir o mitodas coisas mais rasteiras da vida,e segundo eu penso, caramba queestava certo.Pois a realidade é extraordinariamentesuperior a qualquer relato, aqualquer fábula, a qualquer divindade,a qualquer super-realidade.Não se necessita mais que o gêniode saber interpretá-la.O que nenhum pintor, antes que opobre Van Gogh, havia feito,o que nenhum pintor voltará a fazerdepois dele.Não preciso interrogar a GrandeCeifadeira para que me diga com quaissupremas obras-primas teria sido enriquecidaa pintura se Van Gogh nãotivesse morrido com 37 anos,porque, depois de "Os Corvos", nãoposso crer que Van Gogh chegasse apintar mais um quadro.Creio que morreu com 37 anosporque já tinha chegado ao termo desua fúnebre e lamentável história depossuído por um espírito maligno.Porque não foi por si mesmo, emconseqüência de sua própria loucura,que Van Gogh abandonou a vida.Foi sob a pressão, dois dias antes desua morte, desse espírito maligno quese chamava doutor Gachet, psiquiatraimprovisado, causa direta, eficaz esuficiente dessa morte.Lendo as cartas de Van Gogh a seuirmão cheguei à firme e sincera convicçãode que o doutor Gachet,"psiquiatra", na realidade , detestavaVan Gogh, pintor, e que o detestavacomo pintor, mas acima de tudo comogênio.É quase impossível alguém ser aomesmo tempo médico e homem hon-

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