VAN GOGH ASSASSINADO! NA LOUCA 29 ANOS NUM ENLOUOUECEU? MÃTA! SEXO

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ataque, põe as roupas mais extravagantes.queencontra.Entrevistador - Mas ela faz issoquando leva amigos jovens pra casa,por exemplo? Ela fica estranha, seveste de forma diferente?Mãe — Sim. Aconteceu assim umavez que ela teve um ataque. Mas issonão acontece há muito tempo.Entrevistador — E como ela sevestiu?Mãe — Bom ... ela estava de meiascoloridas; e colocou tudo o que nãovestiria numa situação normal.E necessário fazer algumas observaçõessobre as opiniões contraditóriasque os pais tinham a seu respeito. Amãe nos disse que, antes de ficar j"doente", Ruth tinha muitos amigos,ia a muitas festas e freqüentava clubes.Entrevistador - Ela não tem nenhumavida social?Mãe - Não . . . mas eu gostaria queela levasse uma vida normal e saíssemais. Ela parece ter perdido todos osamigos desde que ficou doente.Entrevistador — Ela não freqüentavagente da mesma idade?Mãe — Não. Conhece algumas pessoasmais velhas do que ela, tem umaamiga ... saem juntas.. .A pobreza de sua vida social e amania de fechar-se em si mesmaparecem ser uma invenção inconscientedos pais que nunca foi colocada emdúvida por ninguém.Ruth — Meus pais não gostam doslugares que freqüento.Mãe - Quais?Ruth - O Eddie's Club, porexemplo.Pai — Meu Deus! Voce não querdizer realmente ...Ruth - Claro ...Entrevistador — O que é esseEddie's Club?Mãe — É um lugar onde se bebe.Mas ela não vai lá para beber. Ela sóquer encontrar todo tipo de gente.Entrevistador — Parece que as pessoasque ela gosta de encontrar desagradamaos senhores. ..Mãe — Talvez seja verdade.Pai — Sim.Os pais repetiram diversas vezes queRuth não se dava conta do que lheacontecia ou do que fazia. Nós nuncapudemos estabelecer se tinham razãoou não. Entretanto, segundo a mãe,Ruth ...Entrevistador — Ela já chegou bêbadaem casa?Pai - Não.Mãe —... não gosta que lhelembrem tudo isso. Tentamos nãofalar.Entrevistador — Você se sentedoente nessas ocasiões?Ruth - Não.Mãe - Não, ela não se dá conta doque lhe acontece, nem que está doente.Ruth — Eu não acredito mesmo queesteja doente.Entrevistador - E o que você sentenessas ocasiões? Pode descrever seuestado? Que é que voce faz?Ruth — Bom, simplesmente . . .acho que meus pais inventam umatempestade em copo dágua ... se voua certos lugares, gosto de vestir asroupas que as pessoas que vao a esseslugares costumam vestir.Entrevistador - Pode dizer por quese veste desse jeito?Ruth - Sim ... eu acho estético.Entrevistador — Voce acha que esseestilo talvez seja mais artístico do queuma roupa convencional?Ruth — Sim. Há outras moças quetambém usam meias coloridas . . .Entrevistador - Voce se dá contade que seus gostos podem ser umafonte de tensão em casa?Mãe — Mas não existe tensão. Nãohá tensão porque assim que o ataquepassa, ela reencontra seu equilíbrio evolta a ser como antes. Mas ela semprefoi atraída pelo gênero artístico. Se vêalguém na rua desse tipo, alguém umpouco diferente do costume, diz: "—Olha, olha lá. Olha como está bonito".Pai — É.. . para quem é maistradicional... esses tipos e essas garotasque se vestem de um jeitoesquisito . . . bom, eles são bizarros.Mãe — Mas agradam a Ruth.Pai — Eles são diferentes.Entrevistador — Ruth leva pessoaspara casa?Mãe - Ela levou cada tipo emcasa . . . Quando está doente, 'convidapessoas que em tempo normal ela nemtoleraria . . . uma espécie de beatniks.Pai - Escritores e sabe Deus mais oquê .. .Entrevistador — Os senhores nãogostam de escritores?Mãe — Não, não é isso . . . não,não ... claro que nós gostamos deescritores.Pai — Naturalmente.SEU GRANDE MEDOÉ TER O MESMO NOMEDA TIA QUE SE MATOU0 senhor a a senhora Gold, apesardos julgamentos contraditórios sobre asações de Ruth, têm uma idéia relativamenteclara e persistente sobre apersonalidade da filha. Esse modo dever as coisas é um traço comum atodas as famílias entrevistadas. QuandoRuth é "realmente" ela mesma, quandoestá "bem", não se interessaseriamente por escritores e artes, nãousa meias coloridas, não vai escutarmúsica num boteco, não leva amigosem casa e não sai de noite. É só de vezem quando que Ruth tenta se afirmar,e nesse simples gesto destrói a imagemque os pais fazem dela; é só de vez emquando que procura agir segundo seupróprio juízo. Sua mãe então "sabe"que um ataque é iminente. Acusa Ruthde ser difícil, egoísta e grosseiraporque lhe causa preocupações. Maspai e mãe não a censuram, porque nãoa consideram responsável por. seus atos.Eles "sabem" que a moça é esquisita edoente. Assim, mistificada e colocadanuma situação intolerável, Ruth ficadesorientada e desesperada, lança "loucas"acusações, pretende que os paisnão querem que ela permaneça viva, efoge de casa. completamente desequilibrada.Esclarecidos pelo conflito que ospais pretendem ignorar, pudemos examinaro comportamento de Ruth, doqual ela mesma nos deu explicação, ecompreender sua dificuldade de viver.Ruth não consegue esquecer que lhederam o mesmo nome de uma irmã desua mãe, que se suicidou aos 19 anos,após um caso de amor "infeliz. Ruthficou doente aos 20 anos, e após umcaso semelhante. Qualquer que tenhasido o papel desempenhado pela mãede Ruth, na realidade ou na imaginação,quanto ao suicídio da irmã, ofato é que ela teve um papel dos maiscuriosos na história de amor da filha.A primeira Ruth morreu afogando-se.Entrevistador — Por que sua irmãpreferiu morrer?Mãe — Ela foi infeliz no amor.Rompeu um noivado. Era muito moçaquando conheceu o noivo, 10 anosmais velho. Tinha 16 quando o trouxeaté nossa casa — meu pai queriaconhecê-lo. Ele dizia á minha irmã queela era muito jovem, mas que seamavam, e continuaram se vendo, epapai permitiu o noivadd quando elafez 18 anos. No começo, o noivo eramuito ciumento, depois começou aganhar bastante dinheiro, e isso deveter-lhe subido à cabeça, porque elecomeçou a se divertir — jogando golfe— e começou a desprezar minha irmã,que sofreu muito. Romperam o noivadoe reataram umas duas ou trêsvezes, e cada vez ele vinha e pediaperdão, depois não voltou mais. Elachorou muito e eu pensei que falavaem matar-se para nos meter medo . . .eu não acredito que quisesse realmentese matar . .. não se deu conta do queestava fazendo . . . deixou um bilhetedizendo onde encontrar as roupas, ocolar e os brincos, mas não pensamosque queria realmente se matar. Provavelmentepensou em assustar um poucoo noivo ... sem dúvida, achou que issoo traria de volta, mas ela era muitojovem.Parece que o caso amoroso de Ruth(a filha) terminou mais ou menos damesma maneira. O rapaz demonstrouindiferença e não voltou para suplicaro reatamento.Entrevistador- A senhora sabe porque Ruth a acusa? sabe do que elaestá falando quando lhe faz acusações?Mãe — "É por causa dela que estoudoente", diz ela ... e ... eu tive umairmã que se matou com 19 anos, foiuma lembrança dela que nós demoseste nome à Ruth, e ela reclamasempre. Fala muito de minha irmã.Mas não chegou a conhecê-la. Faz 32anos que minha irmã morreu.Entrevistador - E o que a senhoraacha que ela quer dizer quando lhe fazestas acusações?Mãe - Talvez pense que é comominha irmã . . . ela pergunta:"Minha tiaera normal? Ou era louca? Eu soulouca como ela? Isso é uma doençamental?" Enfim, o senhor compreende.Ela não sabe a que . . . atribuir.Entrevistador - Mas ela parece quesubentende. Parece que implicitamenteela lhe faz uma acusação.Mãe - Absolutamente. Absolutamente.Entrevistador — E a senhora percebepor quê?Mãe — Ela talvez pense que se eunão lhe tivesse dado o nome de minhairmã, não teria ficado doente.Entrevistador — Hummm ... Ela lhedisse isto?Mãe — Não me disse assim, mas deua entender.Entrevistador - Ela lhe deu aentender outras coisas?Mãe — Não creio, não creio.Entrevistador — Por que lhe fazacusações? Ela nunca fez nenhumaalusão?Mãe — Não, não, não. Quando estádoente, não quer que eu cuide dela,tenta fazer tudo sozinha, mas não sabe.De alguma forma tenho de tomar asrédeas, fazer tudo o que é preciso.Talvez a tenha mimado um poucodemais depois que ficou doente, masela é tão doente, não é capaz nemmesmo de ficar limpa ... o senhorcompreende ... eu tenho que fazertudo, mas ela me diz: "Não se metanos meus assuntos, deixe-me em paz".Mas a gente não pode deixá-la sozinha.É impossível ter confiança.Entrevistador - Como foi que tudocomeçou?Mãe - Depois do caso de amor

infeliz. Saiu com um rapaz por doisanos, ela devia ter 18 ou 19 anos. Atéentão havia sido uma garota fácil deeducar . . . ahnn . . . não era muitoativa, nem voluntariosa, mas era inteligente,passou pelos exames escolaressem problemas, chegou no secundário.Estava sempre de bom humor, limpa,ordeira, enfim: um encanto. Realmen-_te, até o dia em que encontrou esserapaz. Ela teve muitas amigas, divertia-semuito, e quando começou atrabalhar ficou no emprego por doisanos, depois largou, o rapaz não queriaque ela ficasse no emprego ou coisaassim. Ela largou o emprego e ospatrões ficaram muito contrariados.Eles confiavam muito nela. Ela abria aloja de manhã, uma loja de modasonde era vendedora. Ruth queria serdesenhista de modas. Seu irmão éescritor e ela sempre o imitou, queriaser artista como ele, chegou até a fazerum curso, mas não continuou e setornou vendedora. Foi aí que encontrouo rapaz. Ela não estava tão ;apaixonada assim por ele; era muitociumento e praticamente vivia aqui emcasa. Estudava medicina e parece queseus pais não estavam muito satisfeitoscom o caso: achavam mais importanteele continuar o curso com seriedade.Ele repetiu duas vezes algumas matérias,e implorei para que rompesse comRuth. Falei assim: "Vocês são muitojovens, podem recomeçar mais tarde,quando já estiver formado". Mas elenão queria viver sem ela. Isso duroudois anos, e embora os pais do moçosoubessem que ele praticamente nãosaía daqui, jamais convidaram Ruthpara ir lá, e isso a humilhava muito.Ela tinha vergonha por nós e, depoisde dois anos, decidiu romper. Melembro do dia que entrou aqui dizendoque ia acabar. Eu disse: "Você pensoubem? " Ela respondeu: "Sim, eu penseimuito e não quero mais". Rompeu.Depois ficou muito deprimida e nuncamais foi a mesma. Não sabíamos o queera. Pensava que ela continuava infelizpor causa dele. Mas ela passeava comas amigas, depois saiu de férias. Passouo natal na casa de uma amiga e voltoudois dias depois. Semanas mais tarde,devia ir ao aniversário de-uma amiga,mas não foi. Estávámos muito preocupados,não sabíamos o que fazer. Umdia, voltou num táxi, chorando aossoluços, com os saltos dos sapatosquebrados. A partir daí, fomos a umpsiquiatra atrás de outro.ACABOU FICANDOCOM OS PAIS PARAESCAPAR AO HOSPITALA mãe admite que suplicou ao rapazl»ia acabar com Ruth. Mas nega issodiante de Ruth, e algumas vezes diantede nós. Ruth não sabe bem que partede responsabilidade atribuir à mãe norompimento do namoro. A mãe tambémnão sabe que parte de responsabilidadelhe cabe. Quando Ruth acusa amãe, esta diz que ela está doente.Mãe — Acho que lhe fez mal ver orapaz com outra moça, 15 dias depoisdo fim do caso. Isto feriu-a profundamente.De qualquer maneira, tinhaperdido dois anos com ele, e ele nemsequer tinha tentado revê-la, paraperguntar se as coisas podiam searranjar. Tinha repetido tanto que aamava! Éramos contra o namoro, maseu não queria que ela acabasse paraevitar que me acusasse.Entrevistador — Por que vocês eramcontra?Mãe — Não gostávamos do caráterdele. Era muito mimado, não trabalhavacomo devia.Entrevistador — De que vocês nãogostavam nele?Mãe - Ele era polido mas pareceque não levava as coisas a sério, mesmosendo ciumento, e não ficava preocupadode não convidar minha filha parair à casa de seus pais, não tinhanenhuma vergonha disso.Entrevistador — Ele nunca disse porquê?Mãe - Não.Entrevistador — Vocês lhe perguntaram?Mãe — Tínhamos vontade. Pedimosque ele terminasse com Ruth.Entrevistador — Em suma, vocês lhepediram abertamente que rompesse.Mãe — Suplicamos.O pai e a mãe de Ruth conversaramcom o rapaz contra a vontade da filha.Ao mesmo tempo, pressionaram a ifilha. Mas se lamentaram quando eles jromperam.Mesmo agora, Ruth não compreendebem o que se passou, e não poderiamesmo compreender, pois sempre tevepoucos detalhes sobre o caso.Ruth — Tudo isto me parece iestranho. Encontrei-o em vários luga- jres, mas ele nunca falou comigo. Um ;dia, desmaiei quando saía de umprédio e freqüentemente passava mal.Mas não sei por que meus pais melevaram ao hospital para ver ummédico.Entrevistador — Aí você começou a :pensar que tinha perdido alguma coisaimportante para você?Ruth - Sim.Entrevistador — Era Richard?Ruth — Sim. Mas era completamenteinconsciente. Conscientemente, nãosentia que era ele. Certa vez, quandotive uma entrevista com um médico,chorei e falei de Richard. Há dois anosque não pensava mais nele, e foi derepente que as coisas jorraram.Entrevistador — Como se vocêtivesse reprimido seus sentimentos?Ruth — Sim. Tinha enterrado tudono fundo de mim mesma. Por isso tivea depressão.Mesmo hoje, Ruth não sabe o quese passou, o que "realmente" sepassou. Ela vive agora com os pais, queestão contentes com o arranjo dascoisas.Mãe — Nos entendemos muito bem.Ela já não fica fechada o dia todo.Quero dizer que agora nossa vida estáorientada em função da vida dela.Pai — Completamente.Entrevistador — Vocês querem dizerque não fariam as coisas que fazem seestivessem sós?Mãe - É isso. Mas estamos muitofelizes de fazer o que fazemos.Ruth também se sente "melhor"Ela abandonou as roupas, os clubes, osamigos que os pais não gostavam.Entendeu agora que eles a amam.Mas às vezes tem dúvidas.Ruth — Estou um pouco perdida.Não para tudo.,Mas a este respeito mecoloco muitas perguntas, porque amaioria das pessoas tem má opiniãosobre os beatniks, não é? Minhamelhor amiga nunca poderia sair comum deles.Entrevistador — Mas você acha quedeve estar de acordo com o que amaioria das pessoas pensa?Ruth — E que, quando não estou deacordo, encontro-me sempre no hos-Considero a família tal como aconhecemos - o núcleo familiar urbanoocidental, >duas gerações, pais efilhos - com uma forma social muitopouco comum, que se desenvolveurecentemente em formas sócio-econômicasparticulares e que, sem dúvida, éuma das muitas formas de vida socialque vão e vêm segundo circunstâncias.Através da antropologia comparada eem termos da história das culturas, peloque li e pelo que vários antropólogosme contaram pessoalmente, nosso núcleofamiliar nunca havia existido nahistória da raça humana, até não fazmais que 100 anos na Europa. E nãoexiste em nenhuma outra parte fora docomplexo industrial. Que eu saiba, sóhá uma história detalhada de comoeram as famílias na Europa até uns200 anos (Philip Aries: Centuries ofChildhood). Este livro assinala que émuito recente a célula de duas gerações,em que os filhos são "internos" ena qual só duas pessoas têm responsabilidade"normal", econômica e educativasobre eles. É justo dizer, a respeitodos pais, que é difícil esperar tanto deduas pessoas, e que eles esperem tantoum do outro e de si mesmos. Estasduas pessoas vêm encontrando suasatisfação total em alguma forma deintimidade, e a maior parte do consoloe apoio e recompensa e alegria edesfrute da vida um no outro, e emninguém mais.Fala-se de neo-tribatismo; sem dúvidaas velhas formas estão desaparecendoe surgem novas, não só entre osjovens. Sem dúvida, ultimamente, muitagente convencional de classe médiavem organizando associações de moradia,e habitam unidades familiaresmúltiplas. Ninguém sabe como vãofuncionar. As regras que regem quem--tem-relaçóes-com-quem, acho que serãocruciais. Não posso imaginar nenhumsistema social sem regras, quaisquerque sejam, aplicadas a quaisrelações físicas são permitidas, prescritase proscritas; quem está autorizado,e para quê tipo de relações íntimascom o corpo de quem, e com oscorpos de quem mais. Absolutamentefundamental. E não há dúvida que istoestá mudando muito. E está mudandono terreno imaginativo; quero dizer, agente imagina coisas que eram extravagantesfaz uns poucos anos.0 paranóico mais célebre da literaturamédica é Schreber, um juiz queescreveu suas memórias; sobre estasmemórias, Freud baseou seu estudomais importante da paranóia. Schrebersitua o começo de sua "enfermidade"quando, deitado na cama certa manhã,cruzou por sua mente o pensamento,que não podia vir dele, de que "seriaagradável ser uma mulher sucumbindoao coito sexual". Tal pensamento era,para Schreber, "contrário à ordem domundo". Pois bem, para um juizalemão, pensar em como seria sermulher era uma monstruosidade até 60anos atrás, mas não creio que fosseagora.As mudanças nas formas sociais vêmpressagiadas por mudanças em tudo oque podemos imaginar, conceber.Acontece que quando a gente começaa imaginar coisas nas quais nunca haviapensado, começa a imaginar que já nãoé tão profundamente perverso e degenerado,nem símbolo de algo fora doslimites do natural, e começa a conceberrelações de uns com os outros,partes do corpo em que se supõe quenão se deve pensar em conjunção comoutras, relacionando-se entre si.Ronald Laing,

infeliz. Saiu com um rapaz por doisanos, ela devia ter 18 ou 19 anos. Atéentão havia sido uma garota fácil deeducar . . . ahnn . . . não era muitoativa, nem voluntariosa, mas era inteligente,passou pelos exames escolaressem problemas, chegou no secundário.Estava sempre de bom humor, limpa,ordeira, enfim: um encanto. Realmen-_te, até o dia em que encontrou esserapaz. Ela teve muitas amigas, divertia-semuito, e quando começou atrabalhar ficou no emprego por doisanos, depois largou, o rapaz não queriaque ela ficasse no emprego ou coisaassim. Ela largou o emprego e ospatrões ficaram muito contrariados.Eles confiavam muito nela. Ela abria aloja de manhã, uma loja de modasonde era vendedora. Ruth queria serdesenhista de modas. Seu irmão éescritor e ela sempre o imitou, queriaser artista como ele, chegou até a fazerum curso, mas não continuou e setornou vendedora. Foi aí que encontrouo rapaz. Ela não estava tão ;apaixonada assim por ele; era muitociumento e praticamente vivia aqui emcasa. Estudava medicina e parece queseus pais não estavam muito satisfeitoscom o caso: achavam mais importanteele continuar o curso com seriedade.Ele repetiu duas vezes algumas matérias,e implorei para que rompesse comRuth. Falei assim: "Vocês são muitojovens, podem recomeçar mais tarde,quando já estiver formado". Mas elenão queria viver sem ela. Isso duroudois anos, e embora os pais do moçosoubessem que ele praticamente nãosaía daqui, jamais convidaram Ruthpara ir lá, e isso a humilhava muito.Ela tinha vergonha por nós e, depoisde dois anos, decidiu romper. Melembro do dia que entrou aqui dizendoque ia acabar. Eu disse: "Você pensoubem? " Ela respondeu: "Sim, eu penseimuito e não quero mais". Rompeu.Depois ficou muito deprimida e nuncamais foi a mesma. Não sabíamos o queera. Pensava que ela continuava infelizpor causa dele. Mas ela passeava comas amigas, depois saiu de férias. Passouo natal na casa de uma amiga e voltoudois dias depois. Semanas mais tarde,devia ir ao aniversário de-uma amiga,mas não foi. Estávámos muito preocupados,não sabíamos o que fazer. Umdia, voltou num táxi, chorando aossoluços, com os saltos dos sapatosquebrados. A partir daí, fomos a umpsiquiatra atrás de outro.ACABOU FICANDOCOM OS PAIS PARAESCAPAR AO HOSPITALA mãe admite que suplicou ao rapazl»ia acabar com Ruth. Mas nega issodiante de Ruth, e algumas vezes diantede nós. Ruth não sabe bem que partede responsabilidade atribuir à mãe norompimento do namoro. A mãe tambémnão sabe que parte de responsabilidadelhe cabe. Quando Ruth acusa amãe, esta diz que ela está doente.Mãe — Acho que lhe fez mal ver orapaz com outra moça, 15 dias depoisdo fim do caso. Isto feriu-a profundamente.De qualquer maneira, tinhaperdido dois anos com ele, e ele nemsequer tinha tentado revê-la, paraperguntar se as coisas podiam searranjar. Tinha repetido tanto que aamava! Éramos contra o namoro, maseu não queria que ela acabasse paraevitar que me acusasse.Entrevistador — Por que vocês eramcontra?Mãe — Não gostávamos do caráterdele. Era muito mimado, não trabalhavacomo devia.Entrevistador — De que vocês nãogostavam nele?Mãe - Ele era polido mas pareceque não levava as coisas a sério, mesmosendo ciumento, e não ficava preocupadode não convidar minha filha parair à casa de seus pais, não tinhanenhuma vergonha disso.Entrevistador — Ele nunca disse porquê?Mãe - Não.Entrevistador — Vocês lhe perguntaram?Mãe — Tínhamos vontade. Pedimosque ele terminasse com Ruth.Entrevistador — Em suma, vocês lhepediram abertamente que rompesse.Mãe — Suplicamos.O pai e a mãe de Ruth conversaramcom o rapaz contra a vontade da filha.Ao mesmo tempo, pressionaram a ifilha. Mas se lamentaram quando eles jromperam.Mesmo agora, Ruth não compreendebem o que se passou, e não poderiamesmo compreender, pois sempre tevepoucos detalhes sobre o caso.Ruth — Tudo isto me parece iestranho. Encontrei-o em vários luga- jres, mas ele nunca falou comigo. Um ;dia, desmaiei quando saía de umprédio e freqüentemente passava mal.Mas não sei por que meus pais melevaram ao hospital para ver ummédico.Entrevistador — Aí você começou a :pensar que tinha perdido alguma coisaimportante para você?Ruth - Sim.Entrevistador — Era Richard?Ruth — Sim. Mas era completamenteinconsciente. Conscientemente, nãosentia que era ele. Certa vez, quandotive uma entrevista com um médico,chorei e falei de Richard. Há dois anosque não pensava mais nele, e foi derepente que as coisas jorraram.Entrevistador — Como se vocêtivesse reprimido seus sentimentos?Ruth — Sim. Tinha enterrado tudono fundo de mim mesma. Por isso tivea depressão.Mesmo hoje, Ruth não sabe o quese passou, o que "realmente" sepassou. Ela vive agora com os pais, queestão contentes com o arranjo dascoisas.Mãe — Nos entendemos muito bem.Ela já não fica fechada o dia todo.Quero dizer que agora nossa vida estáorientada em função da vida dela.Pai — Completamente.Entrevistador — Vocês querem dizerque não fariam as coisas que fazem seestivessem sós?Mãe - É isso. Mas estamos muitofelizes de fazer o que fazemos.Ruth também se sente "melhor"Ela abandonou as roupas, os clubes, osamigos que os pais não gostavam.Entendeu agora que eles a amam.Mas às vezes tem dúvidas.Ruth — Estou um pouco perdida.Não para tudo.,Mas a este respeito mecoloco muitas perguntas, porque amaioria das pessoas tem má opiniãosobre os beatniks, não é? Minhamelhor amiga nunca poderia sair comum deles.Entrevistador — Mas você acha quedeve estar de acordo com o que amaioria das pessoas pensa?Ruth — E que, quando não estou deacordo, encontro-me sempre no hos-Considero a família tal como aconhecemos - o núcleo familiar urbanoocidental, >duas gerações, pais efilhos - com uma forma social muitopouco comum, que se desenvolveurecentemente em formas sócio-econômicasparticulares e que, sem dúvida, éuma das muitas formas de vida socialque vão e vêm segundo circunstâncias.Através da antropologia comparada eem termos da história das culturas, peloque li e pelo que vários antropólogosme contaram pessoalmente, nosso núcleofamiliar nunca havia existido nahistória da raça humana, até não fazmais que 100 anos na Europa. E nãoexiste em nenhuma outra parte fora docomplexo industrial. Que eu saiba, sóhá uma história detalhada de comoeram as famílias na Europa até uns200 anos (Philip Aries: Centuries ofChildhood). Este livro assinala que émuito recente a célula de duas gerações,em que os filhos são "internos" ena qual só duas pessoas têm responsabilidade"normal", econômica e educativasobre eles. É justo dizer, a respeitodos pais, que é difícil esperar tanto deduas pessoas, e que eles esperem tantoum do outro e de si mesmos. Estasduas pessoas vêm encontrando suasatisfação total em alguma forma deintimidade, e a maior parte do consoloe apoio e recompensa e alegria edesfrute da vida um no outro, e emninguém mais.Fala-se de neo-tribatismo; sem dúvidaas velhas formas estão desaparecendoe surgem novas, não só entre osjovens. Sem dúvida, ultimamente, muitagente convencional de classe médiavem organizando associações de moradia,e habitam unidades familiaresmúltiplas. Ninguém sabe como vãofuncionar. As regras que regem quem--tem-relaçóes-com-quem, acho que serãocruciais. Não posso imaginar nenhumsistema social sem regras, quaisquerque sejam, aplicadas a quaisrelações físicas são permitidas, prescritase proscritas; quem está autorizado,e para quê tipo de relações íntimascom o corpo de quem, e com oscorpos de quem mais. Absolutamentefundamental. E não há dúvida que istoestá mudando muito. E está mudandono terreno imaginativo; quero dizer, agente imagina coisas que eram extravagantesfaz uns poucos anos.0 paranóico mais célebre da literaturamédica é Schreber, um juiz queescreveu suas memórias; sobre estasmemórias, Freud baseou seu estudomais importante da paranóia. Schrebersitua o começo de sua "enfermidade"quando, deitado na cama certa manhã,cruzou por sua mente o pensamento,que não podia vir dele, de que "seriaagradável ser uma mulher sucumbindoao coito sexual". Tal pensamento era,para Schreber, "contrário à ordem domundo". Pois bem, para um juizalemão, pensar em como seria sermulher era uma monstruosidade até 60anos atrás, mas não creio que fosseagora.As mudanças nas formas sociais vêmpressagiadas por mudanças em tudo oque podemos imaginar, conceber.Acontece que quando a gente começaa imaginar coisas nas quais nunca haviapensado, começa a imaginar que já nãoé tão profundamente perverso e degenerado,nem símbolo de algo fora doslimites do natural, e começa a conceberrelações de uns com os outros,partes do corpo em que se supõe quenão se deve pensar em conjunção comoutras, relacionando-se entre si.Ronald Laing,

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