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VAN GOGH ASSASSINADO! NA LOUCA 29 ANOS NUM ENLOUOUECEU? MÃTA! SEXO

van gogh assassinado! - Memórias Reveladas

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no Museu: a dra. Nise só oschama de co-terapeutas.trêsA hora do café, às dez damanhã, é uma festa no Museu: oscães invadem a sala da direção evão comer biscoitos na mesa dadiretora.quatroE as pacientes passam pela porta,enfiam a cabeça e gritam para adoutora: — como vai, queridinha?cincoUm dia, os cães da doutoraNise amanheceram mortos. Era avingança dos inimigos do Museu.Onde se viu tratar cão comogente? Onde se viu chamar loucode hóspede?seisA primeira exposição dos hóspedessaiu em 49. Um críticocarioca disse que a arte dosloucos não era arte. Outro críticodisse que era. Os criadores nuncasouberam de tal discussão.seteO pessoal do Museu sempreesquecia a porta da sala principalaberta. Até que um dia encarregaramCarlos, internado há milanos, "doente crônico, incurável",na voz da psiquiatria clássica, dezelar para que à noite a portafosse fechada. Nunca mais a portaficou aberta.oitoToda sexta-feira Carlos dá umpresente a doutora Nise: gramaque colhe com amor, para osgatos da casa da mestra. Na casada doutora Nise os gatos passeiame dançam nas mesas.noveUm crítico herege disse queEmygdio, pintor do Hospício PedroII, onde funciona o Museu,era o maior pintor do Brasil,maior que Portinari. O fantasmade Portinari, eu sei, bateu palmasde alegria; os seus camponeses depés grandes, também, as suascrianças de olhos fundos, também-porqueos loucos são criançase são pobres como estes camponesesmarrons das telas de Portinari.dezHenry Ey, Lopez Ibor, RamonSarró. Nomes de alguns grandespsiquiatras internacionais. Disseramque o Museu era fascinante,maravilhoso, hermoso, divino,muy rico. A maior coleção domundo de obras criadas pordoentes mentais. Vinte anos detrabalho. Aqui, ninguém conheceo Museu. Onde estará o homemque matou os cachorros e os gatos?Não estará escondido no banheiro— não sairá com seu veneno e seupunhal, dos fundos do hospício,agora que a doutora Nise vai seaposentar, ou vai ser aposentada —só porque sabe tudo, aos 71 anosde idade? A doutora Nise saltapara os dois lados da realidade eda irrealidade e entra na pelecurtida pelo sol do sofrimento,pula para o lado de lá, salta parao lado de cá, também oorqueesteve no lado de lá do muro, notempo do Estado Novo, na prisãoem que esteve Graciliano Ramos,e assim pulou para dentro daspalavras do escritor, e para dentrode seu coração, e para as palavrasdas "Memórias do Cárcere", vejasó, doutora Nise presidiária-psiquiatra-libertária,uma lágrima in rvisível correndo de seus olhosjunguianos, ao descobrir um mitoda Lua e do Sol, de um tempoperdido, uma evocação milenar,nas palavras, nas imagens doinconsciente de um operário brasileiro,de um hóspede do Hospício,ser multiplamente marginal;por que está no lado de avesso dasociedade dos ricos, porque estádo lado do avesso da sociedadedos racionais; porque é naturezano mundo "humano". DoutoraNise: operária da psiquiatria, rejeitandoa tentação da clínica rica,escolhendo o mundo do múltiplomarginal hóspede do hospital dopovo, e plantando com tijolos deimagens que outros colegas nemolham — ou consideram apenaspsicopatia — uma compreensãoque ainda está por vir, mas quevirá.Em 1949, correu no Hospital D.Pedro II, no Rio, que um dospacientes. Lúcio de tal, seria lobotomizado.A doutora Nise Magalhães daSilveira avisou que iam matar umartista. Porque Lúcio era um artista.Uma de suas esculturas lembra osmelhores trabalhos de civilizações perdidas— maias, incas, astecas -,soterradas por nossa civilização. Seusdesenhos tinham força e imaginação. .» \ ^Mas Lúcio era o ser mais sem direitosque se conhece, um loúco, e oslobotomizadores não pensaram no "artista".Lúcio foi um dos nove artistasplásticos que participaram da primeiraexposição de pintores e escultores doEngenho de Dentro. Depois suas obrasforam apresentadas no Museu de ArteModerna do Rio, e no MAM de SãoPaulo. Mesmo assim ele foi levado paraa sala de operações, onde foi destruído.A doutora Nise da Silveira organizouum dossier sobre o caso. Arespeito de Lúcio, escreveu: "produziu,antes da intervenção cirúrgica, modelagensde notável qualidade artística, queexprimiam sua concepção da luta entreas forças do bem e do mal. Pode-sesentir nos seus trabalhos forte tensãoemocional, contida dentro da rigidezde formas das figuras. Após a lobotomia,modelagens e desenhos revelamcatastrófica regressão, trazendo as marcasdo déficit características das alteraçõesorgânicas do cérebro: pobrezaimaginativa, puerilidade de concepção,inabilidade na execução". A lobotomiae outras experiências semelhantes foiuma das técnicas mais empregadas pelospsiquiatras da Alemanha nazista.Hoje, ela ainda é feita em SãoPaulo, em instituições aparentementeinsuspeitas e sérias. Está voltando amoda como técnica, na Itália e outrospaíses da Europa, e nos EstadosUnidos.Este texto, bem como o dasParábolas, é de Marcos Faerman.... DEPOIS.

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