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VAN GOGH ASSASSINADO! NA LOUCA 29 ANOS NUM ENLOUOUECEU? MÃTA! SEXO

van gogh assassinado! - Memórias Reveladas

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Jornal de texto,história em quadrinhos,ensaio fotográfico,loucos, Cortázar,Wilhelm Reich,Ronald Laing,Nise da Silveira,Antonin Artaud,Evita Perón,Qorpo Santoe outros:OUTUBRO. 1974 / <strong>NUM</strong>ERO 7 / 5 CRUZEIROS<strong>VAN</strong> <strong>GOGH</strong><strong>ASSASSI<strong>NA</strong>DO</strong>!POETA FRANCÊS ACUSA:PSIQUIATRA MATOU OGENIAL PINTOR(O POETA TAMBÉM SE SUICIDOU).PÁGI<strong>NA</strong> 32<strong>NA</strong><strong>LOUCA</strong>TRATAMENTO DFCHOQUE: PENSAMENTOSDE MAO, CONFORMEPRESCRIÇÃO MÉDICA.PÁGI<strong>NA</strong> 30<strong>29</strong> <strong>ANOS</strong> <strong>NUM</strong>REPÓRTER BÊBADODESCOBRE: DEIXARAMFILHO PRESO NO QUINTALTODO ESSE TEMPO.PÁGI<strong>NA</strong> 28Museu do Inconsciente:poemas e imagens de internosdo Hospital Pedro II, no Rio.Página 2Q.<strong>ENLOUOUECEU</strong>?<strong>MÃTA</strong>!PSIQUIATRA EHUMORISTA FAZ ESTAPROPOSTA: VAMOS MATARLOGO ESSA GENTE?PÁGI<strong>NA</strong> 15<strong>SEXO</strong>VELHO PENSADOR *AINDA LEMBRA: VPRECISAMOSFAZER MAIS.PÁGI<strong>NA</strong> 12


Sherlock Holmes,Hercule Poirot,Inspetor Maigret,Columbo e Cannonnão seriam capazesde descobrir quemcometeu este crime.Você seria?Detetive, o novo jogo daEstreia. Um mistério (ação! suspense!emoção!) para ser resolvidopor até 6 pessoas. E paraser assistido por quantas couberemna sua sala.Quem cometeu o crime?Onde? Com que arma? Ganhaquem acabar primeiro com o suspensa.Agora você pode receberas suas visitas com um bomprograma: um belo crime.Detetive. Um verdadeirocaso de polícia. Da Estrela.


CARTADE JOÃOCopacabana, 23 de setembro de 1974.Narciso Kalili, Hamilton Almeida,Mylton Severiano, amigos, companheiros,toda a equipe de EX-. PrincipalmenteHamiltinho.Hamiltinho e todo o resto dopessoal:leio aqui O Merduncho transformadoem conto-oral pelo talento doinquieto Hamiltinho. Ao lado da minhasurpresa (não grande porque conheço acoragem e o talento do amigo) umaafirmação, a de que vocês é que estãocertos. Estão enfrentando as coisas,não estão se deixando perder, castrar,enquadrar, aceitar a omissão comomeie vergonhoso de vida. Vocês estãoencarando e enfrentando. Parabéns! Ecoragem.O aproveitamento do material quefalei ao Hamiltinho demonstra claramente,sem faraismo e sem demagogia,sem laudatórios e salves-salves, queHamiltinho é um dos homens de maiorfibra e mais quente talento dessageração de massacrados, manipulados,moidos e calados à força. Como é umhomem de talento especial, será semprea mesma fera a dar trabalho para osdoutores de falsa fama, inveja para osmaus escribas, repórteres medíocres ebons fariseus do bundamoli°.mo nacional.Jamais será/para minha alegria e detoda a sua geração, um homem bemcomportado e sabe a que hora, seja aque for, nunca será dos mansos. Sembriga não tem amor e sem luta a vidanão tem graça. Nem sentido.A todos de EX-, ao querido Percivalde Souza (um dos poucos homens quefazem policia em jornal neste pais eainda não enriqueceu, o que poderia eimpunemente) e aos cçmpanheiros quenem conheço, desejo que mantenhamsevivos, como as matérias que produzem.Vocês representam uma verdadebrasileira. Gostaria, sem paposempostados, de que vocês contassemcomigo, dentro de minhas proporções,para o que desse e viesse. Afinal, comosabem, para mim escrever não podesignificar (como querem os atuaisdonos da verdade e do jornalês)produzir coisa para o escárnio e aindiferença dos leitores. João AntônioOS ANONÜHOSChamada Para Uma Próxima Matéria De Capa: Vamos Contar Juntos Essa História?O underground no Brasil é uma multidãode anônimos, de desconhecidos. A sua históriaé pós-68; e sendo pós-68 é mais exatamentepós-70, Pouquíssimas pessoas que já tinhamalgum nome pré-68 participaram dosmovimentos tidos como undergrounds noBrasil. Houve sim um preconceito enorme ebrutal de toda a intelectualidade brasileira, detodo o movimento cultural, contra qualquermovimentação, num momento em que,simplesmente, toda a cultura brasileira tavaaterrorizada; então teorizava a respeito de nãoparticipar de nada e os mais novos que seestrepassem, que fossem fazer experiênciassem contar com eles, porque não tavam nessa.Essa história é uma história de anônimos.£ uma história que está sendo vivida e não tápodendo ser contada. Imaginem o absurdo deuma história que você pode viver mas nãopode contar. E pra todos os efeitos essahistória não existe, então é uma brincadeira.É quando chega a hora do balanço. O balançoé uma forma de tentar contar a história. Omomento que a gente vive hoje é esse. É omomento onde a história fugiu totalmente doslivros, fugiu de tudo e tá arrumando suaúltima trincheira na imprensa. Mas ao mesmotempo que essa história refugia-se na imprensa,essa imprensa marginal ou underground éparte da história. Tem que continuar abatalha dela, que é não poder subsistir maspoder viver e fazer parte da história. Eu achoque o problema da imprensa underground noBrasil é esse.No meu balanço, eu só considerounderground o anônimo. Aos que ninguémtava ensinando nada e eles estavam resistindoou vivenciando a sua loucura. A imprensaunderground no Brasil não podia ser outracoisa senão um aborto. Fora do Brasil, .imprensa underground existe em dois níveis:militância, política ou partidária, oumilitância de costumes, de modo de vida,religião. Underground é isso.Num país em que a imprensa oficial chega aretroceder — vantagem já é estagnar econtinuar a ser um grande negócio. Aí, o quepode ser uma imprensa underground? Querdizer, ela pode inexistir. Então, a existênciade qualquer coisa publicada, impressa noBrasil, livre, passou a ser considerada imprensaunderground. E de fato. Com todo o direitode assim ser chamada, porque se a turminhado colégio tal imprime um jornalzinho e tádistribuindo, aquilo é que é imprensaunderground nesse país, nesse momento,nessa imprensa.E você vai encontrar uma imprensamarginal e uma imprensa underground.Marginal aquela que conseguiu margear osistema e underground aquela que é anônimamesmo. A imprensa underground brasileira dehoje, resultado de 4 ou 5 anos de vida, é tudoaquilo que eu talvez não conheça nessemomento. Alguma publicação feita emqualquer lugar nesse momento e com umcaminho maior para percorrer, pra semarginalizar. Será alguma coisa mais amadora,porque o Brasil é outro papo mesmo - vamoscitar o exemplo fora e aqui. Tudo que cai aquitoma outros contornos, enfrenta outrarealidade, bate em outras pedras. É digeridopor outros estômagos. A antropofagia dagente taí. O nosso 1984 é mais engraçado, éoutro.Mas lá fora, a imprensa underground tevede se profissionalizar para enfrentar o sistema.A imprensa underground fora do Brasilconseguiu inclusive o seu papel como bloco,como status. Mas a profissionalização daimprensa underground fora do Brasil foiviável exatamente porque a imprensa oficialtambém é viável. Aqui no Brasil não. Aequivalência pra imprensa undergroundbrasileira é uma imprensa oficial esfaceladapela censura, pela restrição que em 6 anos feza imprensa oficial parar — não há nada de novona imprensa oficial burguesa brasileira, emdesenvolvimento técnico, em pesquisa denovas formas de comunicação e linguagem.No Brasil, a imprensa underground não seexpande ao ritmo de se tornar marginalcoerente. O único órgão que teve condição deser um marginal coerente foi o Pasquim. E setornou incoerente. Ele se consumiu nelemesmo, na geração dele que é uma geraçãoanterior a 68. O Pasquim não teve objetivopolítico suficientemente forte que omantivesse numa linha marginal. Os outrosórgãos acabaram. Foram undergrounds ou não,ou já nasceram com certo approach marginal,porque aí é que tá, Flor do Mal pra mim nãoera underground, era uma coisa com approachmarginal, como O Bondinho, O Verbo. Eleseram undergrounds enquanto não conseguiamnem imprimir, não conseguiam chegar numarotativa e tavam querendo ser marginais. Sercomprado em bancas. Já contavam com asbeirolas do sistema, as margens.Quantas áreas se usou pra se tentarinformar nesses últimos tempos? Ainformação fugiu pras músicas, pra todo lado.Até o boca-a-boca, que é o maior centro deinformação dessa minoria — porque tem quehav


iEVITAáaw^r•HVJy»mWJ^fÇ- d•'-'iái"J&ÍW JK^B^^^' ' JBr . jjpjj\ À M'..A« 1K r j a MVIVA!^LTO! WM5Wir ^ÍJ4íV VfA »&#f1MIS QUERIDOS DESCAMISADOS DE AYER Y DE HOY, MA<strong>NA</strong><strong>NA</strong> Y DE SIEMPRE:Hace 4 anos, desde este mismobalcón, bajo este mismo pedazo decielo y frente a esta misma multitud depueblo, se consagro un hombre, nuestroquerido Coronel Perón.Desde estos mismos baicones, ellider asomaba como un sol, rescatadopor el pueblo y para el pueblo, sin másarmas que sus queridos descamisadosde la Patria, retemplados en el trabajo.Yo no deseo, no quiero para elperonismo a los ciudadanos sin místicarevolucionária. Que no se incorporen,que queden rezagados si no estánconvencidos. El que ingrese, que vuelquesu cabeza y su corazón sinretaceos para afrontar nuestras luchas,que siempre habrán de terminar en unglorioso 17 de Octubre.Y ahí está la justificación de larevolución histórica dei 17 de Octubre.•Fué determinada por causas sociales,políticas y economicas. En lo social, elabandono total de la justicia, con elconquistamiento de los privilégios y laexplotación dei trabajador. En lopolítico, con la sistematización deifraude en favor de los partidos que seturnaban en el Gobierno o se loquitaban mutuamente según el menoro mayor apoyo de los interesses enjuego y en lo economico, el entreguismoy la venta dei país, surgidos desus reyertas. (17 de Outubro de 1949)Nada de lo que yo tengo; nada de loque soy; ni nada de lo que pienso esmio; es de Perón. Yo no le diré lamentira acostumbrada; yo no le diréque no lo merezco; sí, lo merezco, migeneral. Lo merezco por una sola cosa,que vale más que todo el oro deimundo: lo merezco porque todo lohice por amor a este pueblo.Y les pido hoy, companeros, unasola cosa: que juremos todos, publicamente,defender a Perón y luchar porél hasta la muerte. Y nuestro juramentoserá gritar durante un minuto paraque nuestro grito llegue hasta el últimorincón dei mundo: La Vida por Perón.Siempre creí en mis queridos descamisadosporque nunca olvidé que, sinellos, el 17 de Octubre hubiese sidofecha de dolor y de amargura, porqueesa fecha estaba destinada a ser deignomínia y de traición. Pero el valorde este pueblo lo convirtió en un diade gloria y de felicidad. (17 deOutubro de 1951)i Ustedes creen que si el puesto devicepresidenta fuera un cargo y si yohubiera sido una solución, no habríacontestado ya que sí? (22 de agostode 1951)Nosotros no nos vamos a dejaraplastar más por la bota oligárquica ytraidora de los vendepatrias que hanexplotado a la clase trabajadora; porquenosotros no nos vamos a dejar explotarjamás por los. que, vendidos por 4monedas, sirven a sus amos de Iasmetropolis extranjeras y entregan alPueblo de su Patria con la mismatranquilidad con que han vendido elpaís y sus conciencias... (19 de maiode 1952)Quiero comunicar al pueblo argentinomi dec.isión irrevocable y definitivade renunciar al honor con que lostrabajadores y el pueblo de mi patriaquisieron honrarme en el históricoCabildo Abierto dei 22 de agosto. Yaen aquella misma tarde maravillosa,que nunca olvidarán mis ojos y micorazón, yo adverti que no debíacambiar mi puesto de lucha en el movimientoperonista por ningún otropuesto.Si este pueblo me pediese la vida, sela daria cantando, porque la felicidadde un solo descamisado vallemás quetoda mi vida.Porque el 17 de Octubre formulé mivoto permanente, ante mi propia conciencia:ponerrne integramente al servidode los descamisados, que son loshumildes y los trabajadores. Tehía unadeuda casi infinita que saldar con ellos.Yo creo haber hecho todo lo que estuvoen mis manos para cumplir con mivoto y con mi deuda. No teníaentonces, ni tengo en estes momentos,más que una sola ambición, una sola ygran ambición personal: que de mí sediga, cuando se escriba el capitulomaravilloso que la história seguramentededicará a Perón, que hubo al lado dePerón una mujer que se dedico a llevaral Presidente Ias esperanzas dei pueblo,y que, a esa mujer, el pueblo lallamaba carinosamente "Evita". Eso eslo que quiero ser. (31 de agosto de1951)Unos poços dias al ano, representoel papel de Eva Perón; y en ese papelcreo que me desempeno cada vezmejor, pues no me parece difícil nidesagradable.La inmensa mayoría de los dias soyen cambio Evita, puente tendido entreIas esperanzas dei pueblo y Ias manosrealizadoras de Perón, primera peronistaargentina, y éste sí que meresulta papel difícil, y en el que nuncaestoy totalmente contenta de mí.De Eva Perón no interesa quehablemos.Lo que ella hace aparece demasiadoprofusamente en los diários y revistasde todas Ias. partes.En cambio sí, interesa que hablemosde "Evita"; y no porque sienta ningunavanidad en serio sino porque quiencomprenda a "Evita" tal vez encuentreluego facilmente comprensible a sus"descamisados", el pueblo mismo, yése nunca se sentirá más de lo quees. .. i nunca se convertirá por lotanto en oligarca, que es lo peor quepuede sucederle a un peronista!Não importa que ladrem.Pior seria se oinimigo nos aplaudisse.Soy sectaria, sí. No lo niego; y yalo he dicho. i Pero podrá negarmealguien ese derecho? i Podrá negarse alos trabajadores el humilde privilegiode que yo esté más con ellos que consus patrones?6 Si cuando yo busqué amparo enmi amargo calvário de 1945, ellossolamente ellos, me abrieron Ias puertasy me tendieron una mano amiga?Mi sectarismo es además un desagravioy una reparación. Durante un siglolos privilegiados fueron los explotadoresde la clase obrera. i Hace faltaque eso sea equilibrado con otro siglo enque los privilegiados sean los trabajadores!1Cuando pase este siglo creo que reciénhabrá llegado el momento de tratarcon la misma medida a los obreros quea los patrones, aunque sospecho que yapara entonces el Justicialismo habráconseguido su ideal de una sola clasede hombres, los que trabajan.No importa que ladren.Cada vez que ellos ladran nosotrostriunfamos.i Lo maio seria que nos aplaudiesen!En esto muchas veces se vetodavia que algunos de los nuestrosconservan viejos prejuicios.Suelen decir por ejemplo:— i Hasta la "oposición" estuvo deacuerdo!No se dan cüenta de que aqui, ennuestro país, decir "oposición" significatodavia decir "oligarquia" . .. Y esovale como si dijésemos "enemigos deipueblo".Si ellos están de acuerdo, cuidado;con eso no debe estar de acuerdo elpueblo.


Desearía que cada peronista segrabase este concepto en lo más intimodei alma; porque eso es fundamentalpara el movimiento.i Nada de la oligarquia puede serbueno!No- digo que puede haber algún"oligarca" que haga alguna cosa buena...Es difícil que eso ocurra, pero siocurriera creo que seria por equivocación.Convendría avisarle que se estáhaciendo peronista!Y conste que cuando hablo deoligarquia me refiero a todos los queen 1946 se opusieron a Perón: conservadores,radicales, socialistas y comunistas.Todos votaron por la Argentinadei viejo régimen oligárquico, entregadory vendepatria.i De ese pecado no se redimiránjamás!Es que creo que solamente confanáticos triunfan los ideales, confanáticos que piensen y que tengan lavalentia de hablar en cualquier momentoy en cualquier circunstancia quese presente, porque el ideai valle másque la vida, y mientras no se ha dadotodo por un ideal, no se ha dado nada.Y todo es la vida misma.Demasiado intrascendente y medíocreseria vivir la vida si no se la viviesepor un ideal.Los hombres de nuestro tiempo,más que los de todos los tiempos de lahistória, necesitan quien les senale elcamino; pero exigen que quien losquiera conducir tenga algo más quebuenas y grandes ideas.Necesitan de un conductor extraordinário.Los hombres de este siglo, tal vezpor habérselos enganado tanto, necesitande gênios para creer, porqueentonces ellos verán por los ojos de suconductor y maestro, oirán por losoídos de él y hablarán por sus lábios.O natural na mulheré dar-se,entregar-se por amor.I Quê por ser peronista no puedoencabezar el movimiento femenino demi Patria? Esto sí merece una explicación.— 6 Cómo va usted — me decían —a dirigir um movimiento feminista siusted está fanaticarnente enamorada dela causa de un hombre? I No reconoceasí la superioridad total dei hombresobre la mujer? i No es esfo contradictório?No, no lo es. Ya lo "sentia". Ahoralo sé.La verdad, lo lógico, lo razonable esque el feminismo no se aparte de lanaturaleza misma de la mujer.Y lo natural en la mujer es darse,entregarse por amor, que en esaentrega está su gloria, su salvación, sueternidad.6 El mejor movimiento feminista deimundo no será tal vez entonces el quese entrega por amor a la causa y ladoctrina de um hombre que hademostrado serio en toda la extensiónde la palabra?Yo creo que el movimiento femeninoorganizado como fuerza en cada país yen todo el mundo debe hacerle y leharía un gran bien a toda la humanidad.No sé en dónde he leído alguna vezque en este mundo nuestro, el granausente es el amor.Yo, aunque sea un poco de plagio,diré más bien que el mundo actualpadece de una gran ausência: la de lamujer.Todo, absolutamente todo en estemundo contemporâneo, ha sido hechosegún la medida dei hombre.Nosotros estamos ausentes en losgobiernos.Estamos ausentes en los Parlamentos.No estamos ni en el Vaticano ni enel Kremlin.Ni en los Estados mayores de losimperialismos.Ni en Ias "comisiones de la energiaatômica".Ni en los grandes consórcios.Ni en la masoneria, ni en Iassociedades secretas.No estamos en ninguno de losgrandes centros que constituyen unpoder en el mundo.Y sin embargo estuvimos siempre enla hora de la agonia y en todas Iashoras amargas de la humanidad.Parece como si nuestra vocación nofuese sustan ciai mente la de crear sinola dei sacrifício.Nuestro símbolo debe ria ser el de lamadre de Cristo al pié de la Cruz.Y sin embargo nuestra más. altamisión no es sino crear.Yo no me explico-pues por qué noestamos allí donde se quiere crear lafelicidad dei hombre.Sempre vivi emdesordem. Acho quenasci para a revolução.Además yo he sido siempre desordenadaen mi manera de hacer Ias cosas;me gusta el "desorden" como si eldesorden fuese mi médio normal devida. Creo que nací para la Revolución.He vivido siempre en libertad. Comolos pájaros, siempre me gustó el airelibre dei bosque. Ni siquiera he podidotolerar esa cierta esclavitud que es lavida en la casa paterna, o la vida en elpueblo natal . .. Muy temprano en mivida dejé mi hogar y mi pueblo, ydesde entonces siempre he sido libre.He querido vivir por mi cuenta y hevivido por mi cuenta.Por eso no podré ser jamás funcionário,que es atarse a un sistema,encadenarse a la gran máquina deiEstado y cumplir allí todos los diasuna función determinada.No. /o quiero seguir siendo pájarosuelto en el bosque inmenso.Me gusta la libertad como le gustaal pueblo, y en eso como en ningunaotra cosa me reconozco pueblo.•Yo no sé que pensarán de esto loshistoriadores y los que comentan lahistória, pero creo firmemente — y deesta idea no me podrán sacar — que lacausa de todos los males de la históriade los pueblos, es, precisamente, elpredomínio dei espíritu oligarca sobreel espíritu dei pueblo.•El mundo tiene riqueza disponiblecomo para que todos los hombres seanricos.Cuando se haga justicia no habráningún pobre, por lo menos entrequienes no quieren serio .. .Con sangre o sin sangre la raza delos oligarcas explotadores dei hombremorirá en este siglo.Minha última vontade:viver com meu povoe Perón, eternamente.Quiero vivir eternamente con Peróny con mi pueblo.Esta es mi voluntad absoluta ypermanente, y es, por lo tanto, miúltima voluntad.•Quiero que sepan en ese momento,que lo quise y que lo quiero a Peróncon toda mi alma y que Perón es misol y mi cielo. Dios no me permitiráque mienta si yo repito en estemomento una vez más: "no concibo elcielo sin Perón".Mientras viva Perón, él podrá hacerlo que quiera de todos mis bien es:venderlos, regalarlos e incluso quemarlos,porque todo en mi vida lepertenecç, todo es de él, empezandopor mi propia vida que yo le entreguecon amor y para siempre, de unamanera absoluta.Pero después de Perón el únicoheredero de mis bienes debe ser elpueblo v pido a los trabajadores y Iasmujeres de mi pueblo que exijan, porcualquier médio, el cumplimiento inexorablede esta voluntad suprema demi corazón que tanto los quiso.•Quiero que todos mis bienes quedena disposición de Perón, como representantesoberano y único dei pueblo.•Mis joyas no me pertenecen. Lamayor parte fueron regalo de mipueblo. Pero aún Ias que recebi de misamigos o de países extranjeros, o "deiGeneral, quiero que vuelvan al pueblo.No quiero que caigan jamás enmanos de la oligarquia y por eso deseoque constituyan, en el museo deiperonismo, un valor permanente quesolo podrá ser utilizado en beneficiodirecto dei pueblo.Que así como el oro respalda lamoneda de algunos países, mis joyassean el respaldo de un crédito permanenteque abrirán los bancos dei país enbenefício dei Pueblo, a fin de queconstruyan viviendas para los trabajadoresde mi Pátria.Por fin quiero que todos sepan quesi he cometido errores los he cometidopor amor y espero que Dios, que havisto siempre en mi corazón, me juzgueno por mis errores, ni mis defectos, nimis culpas que fueron muchas, sinopor el amor que consume mi vida.o (Peronismo, ano 30: texto montadoá com trechos de discursos; dos livros La< Razon de Mi Vida e História dei Peronis-£ mo; e do Testamento de Eva Perón. Ela£2 morreu em 1952, antes de assistir aw mais uma festa do famoso 17 deo Outubro. Era a data em que Peróno tinha subido ao poder, em 1945.)


Demonstrando que as formigassão as verdadeiras rainhas dacriação (o leitor pode tomá-locomo uma hipótese ou umafantasia: de qualquer maneira lhefará bem um pouco de antropofugismo),eis aqui uma página desya geografia: (Pag. 84 do livro;assinalam-se entre parênteses ospossíveis equivalentes de determinadasexpressões, segundo a clássicainterpretação de GastonLoeb).".. . mares paralelos (rios? ). Aigua infinita (um mar?) cresceem certos momentos como umahera-hera-hera (idéia de uma paredealta, que expressaria a maré? ).Se a gente vai-vai-vai-vai (noçãoanáloga aplicada à distância) chegaà Grande Sombra Verde (umcampo semeado, um mato, umbosque? ) onde o Grande Deuseleva o celeiro contínuo para suasMelhores Operárias. Nesta regiãoabundam os Imensos Seres Horríveis(homens?) que destroemnossos caminhos. Do outro ladoda Grande Sombra Verde começao' Céu Duro (uma montanha? ). Etudo isso é nosso, mas comameaças'Juan Caizadilla, venezuelano, poeta eilustrados- ido livro Maios Modaies, Caracas, 1965)Essa geografia foi objeto dea um pequeno jardim da ruaLaprida, 628, Buenos Aires. Osmares paralelos são dois pequenoscanais de esgoto; a água infinita,uma banho para patos; a GrandeSombra Verde, um canteiro dealface. Os Imensos Seres Horríveisinsinuariam patos ou galinhas,embora não se deva descartara possibilidade de que realmentese tratem de homens. Arespeito do Céu Duro desenvolveu-seuma polêmica que nãoacabará tão cedo. A opinião deFry e Peterson, que vêem neleuma parede de tijolos, opõe-se àde Guillermo Sofovich, que presumeum bidê abandonado entreas alfaces. Júlio Cortázar4*4*4*OTERTODE MIMUm bicho é como outro qualquer,confunde-se no número ena igualdade. Na confusão, umdesigual aparece. No destaque,caminha.Havia pra mais de cinqüentasaqués no terreiro da fazenda. Aspeninhas preto-e-branco acinzentadas,bem estruturadas no corpo.Um xadrez redondo e andante.As cabeças dos bichinhos eramiguaizinhas, que semlhança:aquelas tantas carinhas de padre.Quando um gritava "tou-fraco"seguia-se um coro extensivo. Semelhantea um eco enorme, quemais escondia cada um no meioda multidão de saqués. Andavamsempre no seu grupo reunido.Trabalhando e comendo coletivamente.Ninguém sabia quandoum saqué botava ninho. Ela seescondia no mato, distante decasa, e tinha a cobertura de todose de seu corpo. Parecidíssimo.— Essas pestes não presta pracriar, não!Na sua cara, o saqué nada temde sertão. Mas difícil é a casadum alguém que não tenha saquéno terreiro, enfileirado. Ninguémsabe por que. "Essa desgraça veioda África".Nunca junto aos saqjés vivia aquantidade de galinhas: d'Angola— careca no pescoço, assemelhadaa um soldado real na sua postura,Leghom, um monte, um lote degalinha*s diferente na característica.Uma infinidade de poedeirasdivididas na raça, na cor, nocacarejo. Uma vermelha, pedrez,pintada. Uma branquinha pequena— danada no ninho — umasque eram sangue de todas. Embaralhavam-seno ciscar: pé-duro.As galinhas, ao contrário dossaqués, punham seus ovos emcasa. Eram deitadas por Darvino,ora numa cangai ha velha, oranum cesto estragado: domestica-zinhas. Os saqués cresciam aotempo, encostados à natureza. Asgalinhas, meio controladas. Noninho, no particular.O sol já deixando nuvensvermelhas, moldando círculo diário,e a gente não vendo maisdireito o que de manhã se viaclaro, se amontoavam no quintalvizinho ao curral, as cheinhas depenas, calmas. Um limoeiro grandeagarrado ao muro ficava cheiode galinhas cacarejando para seequilibrar nos galhos de espinhos.Essas eram as mais feias, isoladaspor natureza. Espalhados peloterreno os cavaletes feitos a facão— ao gosto dos bichos. Os saquésocupavam um cavalete na disputaigual de lugares. Ajeitavam tudono fim, pressão da noite escura,mistério pros animais. Outro^cavaletes ficavam com os perus,desequilibrados nos seus pés deave.Entre a aparência do saqué, dagalinha e do peru, estava um quenão era nenhum deles. Não eraoutro também. Um emio, intermediárioentre os tres sem sernenhum. Do peru tinha o tamanhoe o costume de explodir ocu. Também o modo de andardesconjuntado. A cada pedaçoandado um estampido nos fundos.Do saqué, a forma, ocontorno do ser. Uma partegrande meio oval, desprendendo-sedaí um pescoço característicoe a cara de padre, vinda nojeito do meio da África. 0 bichonão cantava uma coisa sua. Nãoera o gurguiejo do peru, nem o"tou-fraco" do saqué. Era mais ocó có có da galinha. Parecia.Sexo não devia de ter. Suaindiferença nos olhos contemplandoo nada pelas laterais nãoera jeito de macho, bicho fogoso,matreiro, necessitando de fêmea acada dia. Fêmea não era: semredondeza nos fundos, sem nuncater posto ovos, assim. Já tinhadois anos naquela vida de intermédio.De existir, ele tava ali:comia o milho espalhado, tinhaas suas penas. Andava sozinhodentro dos bichos. Sua naturezaera de solidão. Só batia um galo,pato ou saqué quando era atocha-,do. Em meio ao inverno de umano de chuva forte, ele tinhamatado um pato que tentouincubá-lo. Fim do dia apareciaalgumas vezes com uma cobraenrolada no bico — saculejandona luta de escape.Por não dizer o que era,trancado no silêncio de ave, naconfusão, sem por nem repor,comendo milho atoa, ele entrouna faca. Bicho indefinível erabom na panela.Quando mordi suas coxas gordas,redondinhas, chorei um pouquinho,Gustavo Faicon (jornalista, baiano,21 anos; conto escrito em 71)


MULHERj?QUE DIZTCHAULevo comigo um maço vazio eamarfanhado de cigarros "Republicana"e uma revista velha quevocê deixou aqui. Levo comigoos dois últimos bilhetes do tremde ferro. Levo comigo uma folhade papel com a cara minha quevocê desenhou, de minha boca saium balãozinho com palavras, aspalavras dizem coisas cômicas.Também levo comigo uma folhade acácia recolhida na rua aquelanoite, quando caminhávamos separadosde todo o mundo. Eoutra folha, petrificante, branca,que tem um furinho igual a umajanela, e a janela estava veladapela água e eu soprei e ví você eesse foi o dia em que a sortecomeçou.Levo comigo o gosto do vinhona boca. (Por todas as coisasboas, dizíamos, todas as coisascada vez melhores que vão acontecerconosco)^Não levo comigo nenhumagota de veneno. Levo os beijos dequando você ia embora (eu nãoestava nunca adormecida, nunca.)E um assombro por tudo isso quenenhuma carta, nenhuma explicação,podem contar para ninguémo que foi.Eduardo Galeano (escritor, uruguaio,esteve preso recentemente,jornalista na Argentina agora)4*4*4*TISAGRAFausto entrou peidando e chacoalhandoa barra da calça, masninguém ligou pra atitude deleporque ali estavam todos maispreocupados com não-sei-o-quê.Apenas Mariana ergueu meio braçoe fez assim com o dedoindicador e o pai de todos, emforma de vê, trazendo no vérticeum toco de cinza apagado. Oambiente era de uma simplicidadeatroz: no chão liso eu vi umjornal rasgado, um suspensório, emuita fumaça. Nas quatro paredesnada vi, nem sequer umajanela. Tinha um cigarro circulandoentre dentes e dois pintasestranhamente vestidos de terno,camisa de seda e gravata babavam-seum no outro e .aindadeixavam resíduos para os próximos.— Porra, putada, estamos aí.Disse Fausto sem a mínimaconvicção.Nisso rosnou a Honda naporta, lá embaixo, e uma saiaScrreu peios degraus e já subiu devolta empunhado aquele easy-ridercaboclo que não cabia dentrodo couro.Aconteceu algumas tragadasque com toda certeza foram atéas tripas e as figuras subiram asparedes e começaram a andarpelo teto.Foi nesse fotograma que aporta estourou e os homenscaíram em cima de cassetetes,coronhas, algemas e patas, e osviajantes enguliram pacificamenteo que tinham na boca e nadamais teria ocorrido se o peterfondados pobres não tivessepuxado o revólver.Aí eu só me lembro de umpolegar grosso baixando, as pálpebrassobre meus olhos e fechandoas cortinas para o espetáculo queeu fui nessa vida.Otoniei Santos Pereira (poeta,publicitário, cineasta, paulista, 33anos, casado, 3 filhos)4*4*4*TRÕCURADe poesia não se vive, dizem.Fazer poesia é loucura. A poesiadiz umas verdades que as pessoasnão querem ouvir. Recital depoesia numa época em que ohomem vive a crise da tecnologiatalvez seja um absurdo. A médiadas pessoas prefere receber umainformação imediata e mastigada,que não obrigue a refletir. Quemperde tempo em refletir podeperder seu lugar. E no entanto,cada vez mais, pessoas comuns eincomuns escrevem poesias, quasesempre para si mesmas, no máximopara quem ama . Mas o fatoé que se expressam, sabendo,evidentemente, que disso nãosairá seu pão; dificilmente verãoas poesias publicadas, dificilmenteelas chegarão ao público envenenadopela televisão, consumidordo que a televisão manda consumir.Essas pessoas não vêemoutra saída que não a de encontraruma profissão, um saláriofixo, um emprego bom, seguro. Enão são nada insensatas ao procederassim. É o caminho normalde todos nós.A poesia (como todas as expressõesartísticas) faz parte de nós,alguns de nós que esquecemosdela, abandonamos, outros de nósque a preservamos e fazemos delaum meio de vida, agora nosentido mais gerai de vida, poisde poesia se vive, sim. E a poesiapode ser lida e pode ser ouvida,não há nada de novo nisso. Nadade revolucionário. Embora o próprioato de criação seja revolucionário:plantar, dançar, cantar,representar. Se hoje tais atos sãomuitas vezes considerados anormais,e há uma nova normalidadenas ruas, devemos estar atentos.Algo vai mal.Um recital de poesia podemelhorar a situação? Pode, pelomenos, aproximar as pessoas, e osentimento de fraternidade, tambémesquecido, pode tocar levementeas pessoas, pois elas nãoestão sozinhas como às vezespensam. Ou como às vezes querem,e acham normal.Um recital de poesia não deveser obrigatoriamente uma coisachata, velha, como nos mostraramas festinhas cívicas ou infantis.Aquela obrigação de mostrarpras visitas uma poesia decoradanão é senão uma deformação do3to de falar poesia. E mais essepequeno detalhe de nossa educaçãonos afasta da poesia, comonos afasta da realidade.O poeta pode ser um louco; seuempresário e diretor pode ser oenfermeiro; e eles dois pulam omuro do hospício, chegam aoteatro e se apresentam. O poeta,por medida de segurança, metidonuma camisa-de-força. Assim começao espetáculo; esta é umadas possibilidades de transformarum recital de poesia num acontecimentoenvolvente, amplo, fornecedorde informações quetranscendem a própria poesia, embusca de um lugar para o homemno universo.O espetáculo chama-se PRO-CURA, tem três partes, e eumesmo digo as minhas poesiasdurante quase uma hora. Vai serno Teatro de Arena, 14, 21 e 28de outubro, três segundas-feiras.me declaro clarocomo o dia iacomo a nuvem vemtroco minha cabeça-de-ventopor um par de mãos fortesmeus olhos cheios de lágrimaspor um coração em festaminha vida formalpela morte sem formasestamos na terraestamos no céuestrela és tuestrela sou eua terceira guerra já começounavios combatem nos rios de suordos marinheirosgerentes de banco atacam clientescom bombas de dinheiroem todas as casas gritos de pavoros telhados desabam sob os pésdos engenheirosacordarei dentro de tua xícara decafé com leitee me tomarás ainda quente nobalcão do barda estrada que resolvermos tomarsabendo de suas mortes, de seutrajeto vitaleu café tu leite misturados por umacolher de latanuma xícara de metal no balcãode barda estrada que resolvermos tomaras palavras da cabeça ninguém tomavou juntando e só eu sei a somatemperando e só eu sei o aromaem momentos de emergência comoesse tudo servequalquer coisa escreve sobre asepidermesnessa hora é tão difícil seguir asleissó é fácil pra quem difíceis as fezou nem esses talvez lhes escapementre os dedosjá viu dedo? um por um?e as pálpebras recortadasem forma de coração?está bemestá bemAlexandre Solnik (24 anos)


QORASÃO ABERTOINa grafia que mais tarde inventaria,seu nome de batismo era Joze Joaqimde Qampos Leão. Nasceu em 18<strong>29</strong>, emTriunfo, pequena cidade às margens dorio Jacuí, no coração da Província deSão Pedro do Rio Grande, Em 1863,alcunhou-se "O Qorpo-Santo". Morreua 19 de maio de 1883 em PortoAlegre, deixando mulher, quatro filhosvivos, e a pequena fortuna de 40contos de réis em bens imóveis.Foi caixeiro-viajante, vereador, delegadode polícia. Tornou-se professor de"Língua Pátria" (Português). Dirigiurenomados estabelecimentos de ensino.Teve alunos ilustres. Destes, alguns chegarama acompanhar-lhe o enterro. Eramonarquista convicto, adversário incansáveldos rebeldes farroupilhas que proclamaram,em 1835, a República dePiratini. Na concepção mais legítimado termo, era um "cidadão do Império".Ao certo, ninguém sabe o quehouve. A lenda conta que, por volta de1862, dois assaltantes noturnos bateram-lhemuito na cabeça, e que estadesandou. Ele próprio escreveu que, a7 de junho de 1863, José de Leãosubiu ao céu e virou santo. Seu corpoficou morto por doze horas, até quenele se infiltrou um "outro" - OQorpo-Santo.A partir daí- Qorpo-Santo fez esofreu o diabo. Tentou implantar umanova ortografia, eliminando os K, Ç,PH, SS, RR e demais inutilidades.Escreveu peças absurdamente ousadaspara o teatro da época. Escreveupoemas agressivos, sem métrica, semrima, sobre formigas, aranhas, tinteirose quinquilharias, escandalizando asmentes parnasianas. Editou sua própriaobra, pomposamente chamada Ensiqlopédiaou Seis Mezes de Huma Enfermidade.De 1862 a 1868 Qorpo-Santo foi"réu" de um processo de interdição. A17 de agosto de 1868 foi oficialmentedeclarado louco, e incapaz de gerir seusbens, sua família e a si próprio. Nafase final do processo, Qorpo-Santo foiencarcerado e enviado ao Hospício D.Pedro, no Rio de Janeiro, para melhorexame. No Hospício tomoumuitas notas. E depois publicou-as sobo irônico título de Qinze dias naCorte.Na verdade, foram quatro meses de"Corte", embora depois ele conseguissetransferência para uma casa de saúdeparticular. O que segue é um extratodessas notas, redigidas em forma dediário. O depoimento de um encarcerado.Flávio AguiarConversação com um surdo nohospícioEste (arrancando os cabelos e batendoas mãos): Que é feito dos meusbahús.l onde estão? ... tenho nelesroupa.l estou descalço ... com os pésfora das botinas (virando estes) e já haoito diasl... e não me aparecem.l?irra.l irra.l irra.l — é muito aturar.l émuito sofrer.l(Em tom mais moderado): Mas eleshão de aparecer.lEu (depois de haver conversado comalgumas Irmãs, e com o Secretário dohospício): Não se aflija, (batendolhe nohombro) não se aflija.l já se deram asprovidencias necessarias, ja se oficiou àpolicia afim de os fazer vir para esteestabelecimento. É portanto de supor-seque hoje mesmo aqui os tenha.Tranquilize-se pois.Ele: Mas os meus bahús.l a minharoupa.l os documentos e mais papeisque nele tenho ... - documentos novalor de tantos contos de reis.l Em? .isto é o diabo 1 (meneando o corpo e acabeça) Estão na policia, mandou-sebuscar, vem hoje, amanhã, depois, e haoito dias, e eu - sujo, e rôto, e nadade bahús, e estes não aparecem.lJá se vio - que diabo.l... já se vioque msrtyrio.l.. . (passeia em umlongo corredor).Eu (encostando-me a ele): Então jáestá mais tranqüilo? gosta de lêr?quer esgrever alguma couza?Ele: Não: o que preciso unicamenteé dos meus bahús para mudar (pegandono peito de um paletó preto de alpaca,e algum tanto estragado) roupa, botinas,(torcendo os pés) e para que senão perca a minha resalva, e outrospapeis.lEu: Perguntei para, se gostasseobter-lhe algum livro em que seestretenha algum tempo, ou até quelhe chegasse o que deseja.Ele (gritando): Qual entreter.lNém livro, nem penna me entretem.lSou cavalheiro da Roza, fidalgo decasa Imperial, estava em um hotel, equando menos esperava — recebi ordemdo chefe de policia para vir paraesta casa.lE então não heide estar iiidgnado.l?Eu: — tem razão, tem muita razão.Mas nada consegue indignando-se, maisque amofinar-se: é melhor esperar compaciência — que o respeitem, e cumprampara com V.S. seus deveres.Conversação com os médicos queme vião.Hum delles: - Então como passa, 1Eu: — Estou muito sentido paracom V.Sa. por não haver ainda queridodeterminar que se me dê nesta caza otratamento a que estou acostumado, eque tantas vezes lhe hei pedido.lElle: — isso é estabelecido emtabella. nós não temos culpa.Eu: — pois não deve haver tabellapara sãos, e para doentes grão de suaenfermidade e compleição?Elle: — Só se reformarmos ourriscarmos a tabella.lEu: - Se não posso ter o tratamentoque precizo, continuarei a sofreralgumas horas de incommodo quandome sento á mezapara comer, e quando sefeixa a porta do meu quarto antes dahora em que costumo deitar-me.lElle: - Adeos.l hade melhorar detratamento e de quarto.Eu: - Ficarei muito grato a V.Sa.Hospício Abril 10 de 1868.QUINZE DIAS <strong>NA</strong> CORTEUm descrente innocente.Meu Deos! todos converssam e(passeam!Só eu - não posso de triste -(passear.lPorque, meu Deos! assim me(aheeiamNeste viver — que não posso(gozar!?A todos dá gosto — o pão queE a mim ó meu Deus! - só(alimenta:(atormenta.lPorque, Senhor meu — matas-(me a vidaNesta enfadonha e horrível lida!?Todos dançam, alegres, conten(tes.Passam parece - em vida feliz.lSo eu separado destes viventes,Sinto das magoas, o toque infeliz/ATiora aprazada, trancam-me(a porta:A' mais avançada - julgo que(é morta— Aquela a quem amo no maior(extremo;A quem jurei — fé — pelo(Ente Supremo.lSenhor! Senhor/ SenhorlAcudi a — um desgraçado 1Morre, morre -- desesperado,!Se lhe não toca - o teu favor:Distração no hospícioFaz-me saudade,Saudade extrema.1Deos sabe o que.lUm tal problemaNão se resolve.l?De branca vagaQue docementeA' praia bate;Eu sinto embateEm meu coração.1Abril 12 de 1868Meigos sorrizosMe vem à menté.lDe tantas candurasDoces temurasSonhando eu gozo.lAmores meus.lMulheres minhas.lPorque azinhasDe mim fugis?Ingratas sois.l?Acaso perdi-vos.l?HOSPÍCIO, ABRIL 19 DE 1868E hoje o dia em que para mim pelaprimeira vez raiou a luz clara e pura,que nos faz ver e conhecer as brilhantese admiráveis maravilhas,• ou portentozasobras do Omnipotente.l tendo amaquina do tempo feito-me viajar nopelago- insondavel da vida trinta e seis emais tres annos.lEstamos porem com quanto muitorespeitado e estimado em um estabelecimentodo qual se nos ha permittidosahir de hoje a quatro dias; não direicomo preso em cadeia, doente emhospital; mas como alumno interno emcolegio.lPai de seis filhos, professor publico— posso dizer de duas cadeiras, com 39annos de idade, cazado, fundador deum colégio, e director de ois, proprietário,e litterato/ - Dêdeqe horrorozoscrimes contra minha pessoa, familia ebens perpetrados, que me pozerão emtal condição.! 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Carta aos diretoresdos asilos de loucosSenhores:As leis, os costumes, concedem lheso direito de medir o espírito. Estalurisdição soberana e terrível, vocêsa exercem com sou raciocínio.Não nos façam rir. A credulidade dospovos civilizados, dos especialistasdos governantes, atribui àpsiquiatria estranhas luzessobrenaturais. Antes de julgada, aprofissão de vocês já tem ganho decausa. IMão pensamos discutir aqui ovalor dessa ciência, nem a duvidosaexistência das doenças mentais. Maspara cada cem pretendidas patogenias,onde se desencadeia a confusão damatéria e do espírito, para cadacem classificações onde as mais vagassão também ns únicas utilizáveis,quantas tentativas nobres se contampara conseguir melhor compreensão domundo irreal onde vivem aqueles quevocês encarceraram?Quantos de vocês,por exemplo, consideram o sonho dodemente precoce ou as imagens que oacossam como algo mais que uma saladade palavras?Não nos surpreende ver até que pontovocês estão abaixo de uma tarefa paraa qual só há poucos predestinados.Mas protestamos contra o direitoconcedido a certos homens -incapazesou não - de dar por terminadas suiis jinvestigações no campo do espíritocom um veredito de encarceramentoperpétuo.E que encarceramento! Sabe se -nunca se saberá o suficiente -que osasilos, longe de ser "asilos", sãocárceres horrendos onde os recluscjfornecem mão de obra gratuita ecômoda, onde a brutalidade é norma.F. vocês toleram tudo isso. O hospíciode alienados, sob o amparo da ciênciae da justiça, é comparável à prisão,aos trabalhos forçados.Não nos referimos aqui às internaçõesarbitrárias, para lhes evitar oincômodo de um fácil desmentido.Afirmamos que grande parte de seusinternados — completamente loucossegundo a definição oficial — estãotambém reclusos arbitrariamente. Enão podemos admitir que se impeça oiivre desenvolvimento de um delírio,tão legítimo e lógico como qualqueroutra série de idéias e atos humanos.A repressão das reações anti-sociais,em princípio, é tão quimérica comoinaceitável. Todos os atosindividuais são anti-sociais. Osloucos são as vitimas individuaispor excelência da ditadura social.E em nome dessa individualidade, queé patrimônio do homem, reclamamos aliberdade desses condenados dasensibilidade, já que não estádentro das faculdades da lei condenarao desterro a todos aqueles quepensam e trabalham.Sem insistir 110 caráterverdadeiramente genial dasmanifestações de certos loucos, namedida de nossa capacidade paraestimá-las, afirmamos a legitimidadeabsoluta de sua concepcão darealidade e de todos os atos quedela derivam.Esperamos que amanhãde manhã, nahora da visita médica, recordem isto,quando começarem a conversar semdicionário com esses homens sobre osquais — reconheçamsuperioridade da força.só têm aAntonin Artaud


Nestas duas páginas, falam, escreveme desenham vários internosde três hospícios de Buenos Aires.O material todo — textos, conversasgravadas, desenhos — foirecolhido durante cinco anos porVicente Zito Lema, poeta e advogadoargentino. Uma parte de seutrabalho foi publicada pela revistaCrisis, também de Buenos Aires,de onde extraímos os textos edesenhos aqui apresentados.— Que castigos?— São vários, diferentes. Porexemplo te pegam no banho comum cobertor, vários enferemeiros,e até com ajuda de outrosinternos, e te cobrem de porrada,no estômago, isso tudo ...— Continuam usando camisade força?— Sim, e molham as camisaspara amarrar os doentes . . .— Alguma vez lhe aplicaramchoque?— Sim . . . como esquecer. . .É uma barbaridade, o castigo quelhe dão aqui é uma barbaridade.Te pegam aí, te amarram ... ospróprios doentes mandados pelosenfermeiros, quando vêem quealguém se rebela ou porque nãovão com a cara . . .— Antes da internação, vocêtrabalhava em quê?— Pedreiro, servente de pedreiro.— Que cuidados tomam comvocê?— Praticamente nenhum. Ointerno fica abandonado aqui,não há tratamento, não ... Comopoderia dizer... não ajudamo interno, precisavam cuidardele ...A MORTEMas para que querem, entender?...A morte me mostrou a língua aolado de uma árvore, enquanto meupai preparava o assado e eu decidiase dava ou não um tiro em mim,com a pistola Tala. Entendeu bem?Te ponto a ponto ele ponto a ponto.Dei-me conta de que a Tala podiaficar talado e via o buraco brancoe a morte mostrando-me a línguae isso me excitava e para não memasturbar pus-me a caminhar e umespinho me entrou e começou adoer a doer mas continuei caminhandoe então apareceu o Anjo e coma espada cortou a língua da morte eeu aproveitei e passei-lhe a mão' nabunda e voltei correndo para juntode meu pai que continuava fazendoo assado e quando me viu disse: vocêparece São Pedro, e começou arir.CASIMIROCom apenas 10 anos, CasimiroDomingo - nascido em 1882 numpovoadozinho espanhol - foi paraMadri e começou a trabalhar de sapateiro:seria sua profissão pelo restoda vida. Com 31 anos, Casimiro veiopara a América Latina e instalou-sena Argentina. Sapateiro, sempre.Em 1935, teve o primeiro "chamadoobsessivo" de que "os espíritoso reclamavam como intermediário entreeles e o mundo". E assim, obedecendoa "forças alheias", começoua desenhar, sem ter a menor noçãodo que fazia nem ter nunca tentadosequer traçar um risco. A mesma vozinterior guiava seus textos, cheios desabedoria e inocência.Casimiro Domingo, após uma longainternação, morreu no hospícioem 1969. Seu valor não está apenasem suas formas de expressão, capazesde despertar beleza, emoção, a infinitaânsia do maravilhoso; mas tambémem ter sido, apesar de sua inocênciaou por causa dela, o donooriginal de conhecimentos profundosque escapam daqueles que o prenderamdeclarando-o "incapaz".Com a palavra— Você acha que agora, sobum governo popular, podemmelhorar as condições destehospital?— Poderia ser se mudassem asautoridades daqui, porque hojecontinua sendo tudo igual, nãomudou nada.—Quanto tempo faz que vocêestá aqui?— Tenho seis anos aqui esempre estão os mesmos. Jáestavam aqui antes de Lanusse.— E como vê a vida nessasituação?— Eu lhe digo: espero ficarbom, cair fora e trabalhar, paraser útil à sociedade.— O que é pior aqui, alémde estar preso?— Tudo é mau, não apenas acomida. Afora isso, maltratam agente brutalmente, que seieu . . . te fazem de tudo,aqui ... os médicos, os enfermeiros. .. Sem contar que osenfermeiros tomam o pecúliodos internos, então não podemoscomprar nada, nem cigarros. . .— E vocês não têm jeito dedefender-se?— Que jeito? se vão e dizemao médico e nos metem umainjeção ou choque elétrico! Nosmaltratam, nos maltratam.Quando não amarram a gentenuma cama, de castigo. E daí agente vai reclamar pra quem?Contudo não os odeio. Fazemo que podem.O terrível é que nos trazempara que a gente não morra pelasruas. Ê logo todos nós morremosaqui.— E choque elétrico, continuamaplicando?— Continuam.— Mesmo contra a vontadedo interno?— Claro. Mesmo assim aplicam.Alguém reclama mais duramente,outro se rebela, vocêbriga por alguma coisinha,enfim ...— É uma forma de castigo...— É como a "congesta" dapolícia.— Como acha que se poderiamelhorar a situação geral dohospital?— Eu a primeira coisa quefaria seria tirar o diretor e asdemais autoridades que estãocom ele, porque são pessoasque não se tocam. Pelo menos deviampercorrer os pavilhões ondeestão torturando os internos,onde estão amarrados com lençóis,e o diretor não toma nenhumamedida, não tem nenhumaresponsabilidade. E tambémtem a negociata da carne; acarne que entra aqui, eles tiramcom um caminhão pelo outrolado, pela porta de ferro quedá para a avenida Brandsen, epor ali tiram tudo — assim queentra, levam de novo ...— E quem é responsável porisso?— E quem mais séria... asautoridades, não?CARTA A MINHA MUIÉ "SOLEÁ'Estas longe muié! Estás longe!Deus benditif te ampare, madona.Como pashas? Eu estou como Deusmanda.Às vezes, às vez pensso. Puderiamosestá jontosh. Mas se Deus oquero. Que sheja u que Deu queira.Bendita a mãe que te pariu. Benditasheja. Deste-me uns anos bons.Que mais? Madona: lembra-se demim às vezes? Sabes que existo?Que lindo guisadus fazias! Que olé!Que Ele te tenha. Tu mereches.Eu esto facendo meu calvário paranão deixá de esta cuntigo. Porqueestarás muito pertinha dos quirubins,serafins e arcanjos.Se às vezes tenho uma fraquez,me perdoas. São coisas que sau. MasSoleá, como sempre me faz acumpanhadu,shei que voltarás.Devo confessar-te uma coisha. Perdão.Tenho outra muié. Me perdoas?Se chama, também, SOLEÁ.Teu marido


AMos oprimidos— Você se sente abandonado?- Naturalmente, porque nãohá quem me ajude. E sem contarque os médicos pegam gente ebotam para trabalhar, porque nãotêm pessoal, não têm nada, eentão os próprios internos têmque distribuir medicamentos, darinjeção, os próprios doentes. .. porque há um enfermeiropara cada quatro ou cinco andares,então os internos têm aschaves dos consultórios, eles dãoinjeções, comprimidos... enfim. . . e são doentes mentais quenão têm responsabilidade! Imagine,se vão e lhe dão umremédio errado, porque não sabem. . .ASPIRALNada sou nada posso senti paimeu . mas siétua dibina bontade algoeu poderei espricar algo poderei dizerconcernente com esta aspirai que sejapintado que sejadesenhado nadamais para irmanifestando algo destesfenômenos naturais que nosvassendo dado compreender para iranalisando aque causas ou efeitosobedecem estes fenômenos que seestãodesenvolvendo em nosso redor sem poderesf®ar-nos quesão e que poderãoser esta agromeração de raias e pontosem cores dirijidos a distintas direçõespara ir-se cordenando um cosoutros e poder conbinar uma massadeconjunto de cores e podê-la lebara formar uma mole como é esta aspiraique neste quadro avemos pintado avemos desenhado para poder sentitizaralgo do ultra tereno e poder-nosentroduzir nesse mundo astral espiritualonde todos os seres nos mobemosnos ajitamos em distintas formasdebida a manifestar por suascombinações de bida abiber nestemundo em quebimos a nós e emque bibem os outros mas tendo relaçãouns cos outros isso quer dizerDeus meu isso quero traçar do que estaaspirai ou significa em sua birtualidadeosiniftcado que ensi tem oupode ter este gran conjunto de manifestaçõesde estados de alma mais oumenos ebolucionadas umas se dirijempor um lado outras por outro mascada uma tem ensi um coloridoquesedesprede amedida que vaebolucionandoamedida que seu pensamento bamodificando-separaser uma força deconjunto de colorido ouexpressão de estadode alma que é dirijir-se auns fins demodificaçãodeste gran conjunto de expressãoque ensiemos tido até que a nósoutros outro maior chegou em outra ordemde coisas decores bistas sob um estadode alma em uma ordem mais superiorquese dirije paraunlado parao outro e por último forma uma— Em geral, a maioria dosinternos veste uma espécie deuniforme e bem gasto, muitoroto. Não dão roupa a vocês?— Roupa? Tem um depósitoonde precisa ir comprar; eu,por exemplo, comprei estas calças,porque aqui não me davamroupa. É a mesma roupa que ogoverno manda para agente, masacontece que aqui eles pegam evendem.— E com a comida, o queacontece?— Também: você dá uma gorgetaao cozinheiro, e ele dá umpedaço de carne. Se não, vocênunca recebe ...— Você é casado?— Não, solteiro.— Você acha que aqui existeinjustiça social?— Naturalmente, todos percebemos.— E quais são as evidênciasdesta situação?— Pra mim, o castigo que dãoaos doentes.Casimiro Domingocurba entre estas duas raias ou sejaentre estes dois estados de alma ouseja entre estes dois caminhos quesejam aberto asegir neste granconjunto de colorido adifiniouirdifinindoamedida que bamos traçandoalguns destes rasgos destas raias decor ou deexpressão desta cor desta afinidácorelatiba um com outro epoder for mar uma cubra nesta cubraum triângulo neste triângulo umaraia e desta taia for maremos umacadeia e com esta cadeia e elos quepodemos ir unindo nos irá conduzindoaos uns eaos outros a estagran mole de aspirai a este espaçoinfinito e este tempo inter minável aesta bida em que bibemos todos unidosbamos conduzindo-nos em redordesta aspirai desta causa sem fimnemlimiíes desta gran vida unibersalmanifestada nesta gran mole aspiraique nos baconduzindo por meios derotatibos copi suas curbas com suasraias air for mando distintas de novascadeias de união debida mas quesempre é uma avida universal quesempre jira sobre esta mole sobreesta aspirai de bida infinita que sempreem redor nos ba fazendo jirar paraque asigamos em seus estados derotaçãoa manifestação de expressão desteestado de alma em ordem manifestatibasuper ebolucional anteriorque espresso e se manifestou porsegir esta curba que nos bai traçandouma raia para que podamos formarum novo triângulo nesta bida progressibaque bamos tendo todas asalmas que nela bamos ebolucionando"bamos progressando quer dizer bamosper feccionando-nos nós mesmos nestasde rotatibos debida asegir sobreesta curba sobre esta raia destagran mole de aspirai que nos bailevandoque nos baiconduzindo cadavez mais aque nos harmonizemosabiber nesta ordem ebolutiva e derotativa.Quais são para você as causas econseqüências da reclusão noshospícios?Acho que a maioria das pessoaspadece de transtornos mentais,inclusive os próprios médicos.Ou por acaso a maioria dosque estão nos armazéns e naslojas é gente de razão? Nenhuma!E os médicos, por exemplo,uns mais, outros menos, padecemde psicoses. E será que alguémsabe o que é alma, o que é ointelecto?Me aplicaram choque elétrico.Vê-se que queriam arrancar-me adoença do corpo. Mas não mequeixo. Do que teria que mequeixar? Os médicos são bons.Fazem o que podem. Receitam,dão conselhos...E mais, se saísse daqui,aonde iria? Não tenho nada. Nãotenho ninguém.No fundo os médicos nãoentendem dessas coisas da mente,do espírito. Portam-se bem, masnão podem ser o que não são.Simplesmente tomam a temperatura;dão comprimidos, injeções,como se se tratasse de umarmazém. E esquecem que nofundo é uma questão moral. Enão conheço ninguém que possaentender a mente.O que é poesia para você?Criar poesia determina emmim um compromisso enquantodevo expressar, o mais fielmentepossível, aquilo que nos fazvibrar, cotidianamente. Tento expressaro gesto, a dor, o rosto, detodo este microcosmo que estáem volta.Acho que é ver além do papel;da correta forma do verso.É récriar nossa vivência, nosdemais, com toda intensidadepossível. Não é fácil, pressupõepassado onde bronca, frustração epenas são os componentes essenciais,a maioria das vezes.Quero lembrar isto ao leitor,transmitir o que sente "nossohomem da rua''. E como setransforma ao deixar de sê-lo,quando ingressa num "lugar paradoentes mentais".Ali aparece uma faceta poucoconhecida da poesia. Quase diria,temida pelo homem. Faz sofrermuito. Ele não agüenta.Deve-se romper o mito. Aqueleque escreve viajou com o leitorem ônibus, come, troca a camisa,vê através dê seus mesmos olhos,quer dizer, é sobretudo HU-MANO.Este é o compromisso com^os demais.TÃO POUQUINHOSó de ilusões vivemos.Quantas promessas nos fizeram equão poucas foram cumpridas...Uma delas, foi um trator que passariadiariamente recolhendo o restode comidas, pois é até ridículo quetenhamos de ir todos os dias, ospacientes dos pavilhões, jogar fora osdesperdícios. Se lêem isto, que oleiam como uma lembrança do prometido, do tão pouquinho que foiprometido mas igualmente negado oupor acaso esquecido.


Até para explicar por que escolhemos os governantes errados, Wilhelm Reichrecorre a suas teses de repressão sexual. Ele só pensa nisso (felizmente).Em outubro de 1935, trezentospsiquiatras, entre os maisconhecidos, .chamaram o mundoà reflexão. A Itália havia iniciadoseu ataque contra a Abissínia.Num instante, milhares deseres humanos, e entre eles mulheres,velhos e crianças, tinhamperecido sem poder se defender.Podia-se prever as dimensões queassumiria o assassinato coletivo,no caso de nova guerra mundial.Que uma nação como a Itália,cujas massas estavam famintas,respondesse com tanto entusiasmoe sem rebeliões, ao chamadoguerreiro, alguém podia esperar,sem dúvida; mas no entanto éincompreensível. Este fato fortaleciaa impressão geral de que oinundo não só se deixa governaraqui e ali por homens nos quaisos psiquiatras reconhecem sinaisde doença mental, mas tambémque os homens de todos oscontinentes são de fato doentesmentais; suas reações intelectuaissão anormais e estão em contradiçãocom seus próprios desejos esuas capacidades reais.Constitui um sintoma de reaçãopsíquica anormal estar famintoem meio à abundância, ficarexposto ao frio e à chuva tendoquantidade suficiente de carvão,de máquinas de construção, dispondode milhões de quilômetrosquadrados de terra, etc;acreditar que uma potênciadivina de larga barba brancadirige tudo, e que se está submetidoa esta potência pela morte epela perdição;entusiasmar-se com o massacrede pessoas que não fizeram mal aninguém e acreditar que é precisoconquistar um país do qualnunca se ouviu falar;ir vestido com farrapos esentir-se representante da "Grandezada Nação'-' à qual se pertence;desejar a sociedade sem classese confundí-la com a "comunidadedo povo" e seus caçadoresde benefícios;esquecer o que prometia umChefe de Estado antes de converter-seem guia da nação;ou ainda simplesmente depositarem indivíduos, inclusive emhomens de Estado, tanto poderiosobre a própria vida e destino;não poder refletir que mesmoaqueles que a gente elege comograndes dirigentes do Estado e da,.Economia são seres que dormem,comem, têm pertubações sexuais,defecam, estão dominados por impulsosinconscientes, incontrolados,como o mais comum dos mortais;proibir aos jovens na flor daidade a felicidade da união amorosa.Poderíamos continuar até oinfinito.O chamado de trezentos psiquiatrasera uma ação, umapolitização oficial desta ciênciaaté agora não alheia ao mundo epretensamente apolítica. Mas estaação era incompleta. Não seaprofundava nos fatos que poroutro lado expunha com grandeclareza. Não passava, da realidadeda doença mental, geralmentemuito difundida entre os homensde hoje em dia. Não se perguntavapor que o povo está tãodesmedidamente disposto a sacrificar-sepelo interesse de alguns.Não se percebia a oposição entreuma verdadeira satisfação dasnecessidades e uma satisfaçãoilusória no delírio do nacionalismo,absolutamente semelhanteaos estados de êxtase dos fanáticospor uma religião. A fome ea miséria do povo, em uma épocade progresso e de produtividadeda economia, tiveram como resultado— em lugar da economia davida, racional, planificada — oreforço da fome e o empobrecimento.0 movimento socialista sehavia eclipsado. O problema nãoé a psicologia dos homens deestado, mas sim a das massas.Atualmente os homens de Estadosão amigos, irmãos, primosou cunhados dos grandes empresários.Em troca, a massa dehomens pensantes, parcialmentecultos e instruídos, não vê isto enão atua; este é um problemaque não poderia resolver-se atravésde exames de "psico-diagnose-individual".As doenças psíquicas,como as perturbações doentendimento, a resignação, oservilismo, o masoquismo, a crençacega em um guia, etc., reduzidasa sua forma mais simples, nãopassam da expressão de umaperturbação na harmonia da vidavegetativa; e, em particular, davida sexual, sobre a base dasociedade dividida.Na ciência oficial, o capítuloda sexualidade ainda não foiescrito. E já não se pode duvidarque as reações psíquicas anormaistêm "sua origem na orientaçãodoentia da energia sexual insatisfeita.Tocamos, pois, a raiz da intoxicaçãopsíquica dos povos, quandoatacamos a questão da ordemsocial da vida sexual. A energiasexual é a energia construtiva doaparato psíquico. É ela que formaa estrutura sentimental e intelectualdos homens. A sexualidade(em linguagem fisiológica, a funçãosexual) é a energia vitalprodutiva por excelência. Reprimi-laseria alterar, não apenas noterreno médico, mas também demaneira geral, as funções vitaisfundamentais; encontramos a expressãomais essencial, sob oponto de vista social, no comportamentoirracional dos homens,em sua loucura, seu misticismo,sua religiosidade, em seu consentimentopara a guerra, etc.Disto conclui-se que a políticasexual deve partir desse problema:por que motivo se reprime avida amorosa dos homens?A necessidade deprazer nos agrupaTentaremos expor brevementede que forma a economia sexualconcebe a relação entre a vidapsíquica dos homens e o estadoeconômico da sociedade, quemodela as necessidades humanas,transforma-as, e particularmenteas reprime: eis como nasce aestrutura psíquica dos homens.Não. é inata, mas se desenvolveem cada indivíduo, durante ocombate perpétuo entre necessidadese sociedade. Não existeestrutura inata dos instintos; estaestrutura se adquire nos primeirosanos de vida. 0 inato é umamedida mais ou menos grande deenergia vegetativa. Pela ação dasociedade dividida nasce a estruturado "sujeito", dócil e rebeldeao mesmo tempo. A sociedade dofuturo quer o homem livre; deveconhecer não só a estrutura dohomem burguês, mas tambémconceber como quer estruturar oshomens e que forças deve empregar.O núcleo da psicologia práticae política é a política sexual, poiso funcionamento da alma é afunção sexual. Isso já foi demonstradopelo caráter da literatura eda produção cinematográfica; 90por cento de todas as novelas(romances), de toda a poesialírica, 99 por cento de todos osfilmes e espetáculos, etc., sãoproduções para as necessidadessexuais.As necessidades biológicas, nutriçãoe prazer sexual, fundamentama necessidade geral doshomens de agrupar-se em sociedade.As "relações de produção"que assim nascem, alteram asnecessidades fundamentais massem conseguir extingui-las, ecriam a partir delas novas exigências.As exigências humanas, alteradase renascidas, determinampor sua vez a continuação dodesenvolvimento da produção,dos meios de produção (ferramentase máquinas), e ao mesmotempo das relações de produção,se desenvolvem determinadas concepçõesspbre a vida, a moral, afilosofia, etc. Correspondem geralmenteao estado geral datécnica, portanto à capacidade decaptar a existência dominá-laA ideologia social assim nascidadetermina por sua vez a estruturados homens. Transforma-se dessamaneira numa força material e seconserva na estrutura dos homens.Todo o resto está ligado auma alternativa: ou todo o conjunto da sociedade participa daelaboração da ideologia social, ouapenas uma minoria o faz. Nasociedade do futuro onde nãoexistirão interesses de poder deuma minoria, a ideologia socialdeverá corresponder aos interessesvitais de todos os membros dasociedade.A vida sexual dos homens,pequena, miserável, pretensamente"apolítica", deve ser exploradae dominada, fundamentalmenteem relação às questões levantadas


pela sociétlade do futuro. A altapolítica não se joga, em verdade,nos almoços dos diplomatas, massim nesta minúscula existência.Por tudo isso é impossível deixarde lado a politização da chamadavida pessoal dos homens. Se os 4milhões de habitantes da terracompreendessem a atividade decem diplomatas dirigentes, entãotudo andaria bem; já não seorientaria a sociedade, não seorganizaria a satisfação das necessidadeshumanas com base eminteresses armamentistas ou emprincípios de ordem do dia. Porémesses 4 milhões de habitantes daterra não poderão ser donos deseu destino enquanto tomaremconsciência de sua modesta vidaparticular. E as potências internasque impedem isto chamam moralsexual e religião.A ordem econômica dos últimos200 anos modificou enormementea estrutura humana. Masesta modificação é pouco importante,comparada com a devastaçãoque a humanidade conheceu,desde que há milhares de anosentrou em vigor a repressão davida natural, e em primeiro lugar,da vida sexual. A subjugação,várias vezes milenária da vidainstintiva, criou primeiro o terrenopara a psicologia das massas:medo de autoridade, servilismo,incrível modéstia por um lado,brutalidade sádica por outro, religiãoe satisfação ilusória; sobreesta base consegue tundamentar-see manter-se uma economiade lucros bicentenária.Porém, não nos esqueçamos deque eram os processos sociais eeconômicos que haviam dadolugar, há milhares de anos, àmodificação da estrutura humana.Não se trata mais do problema deum maquinismo bicentenário,mas sim de uma estrutura humanade 6 000 anos de antigüidade,que até agora se mostrou incapazde colocar as máquinas a seuserviço. Por mais grandioso erevolucionário que tenha sido odescobrimento das leis da sociedadecapitalista, não seria suficiente,só isso, para resolver oproblema do servilismo e dopróprio envilecimento. É certoque em todas as partes haviagrupos humanos, setores oprimidos,lutando por "pão e liberdade";mas o grosso da massa semantém afastada, ou então lutapor liberdade ... ao lado de seusopressores! Que essa massapadeça desastres incríveis, elapercebe a todas as horas, dia adia, às próprias custas. Que lhedêem apenas pão e não todos osgosos da vida, isto reforça a suamodéstia. É que a liberdade — oque ela pode ser ou será — nãofoi mostrado até agora às massasde forma compreensível e concreta.Não se colocou em evidênciaas possibilidades de uma felicidadegeral na vida. Onde setentou agir nesse sentido, para"ganhar" as massas, apenas lhesmostraram as satisfações malsãs,miseráveis, deformadas pelo sentimentode culpa das "Noites"mesquinhas para pequenos-burgueses,do campo e das férias.Quando, na realidade, o núcleode uma vida ditosa é a felicidadesexual. No entanto nenhum políticoinfluente se animou a tocarnesse ponto. Sexo é um assuntoparticular, e não tem nada a vercom a política. A reação políticanão pensa de outro modo.A moral vai alémda sexualidadeObjetivamente — a crise sexualé uma manifestação da oposiçãode classes; mas como se representaobjetivamente este antagonismo?Que significa a "nova moralproletária"? É a moral capitalistaque se opõe à sexualidade, eportanto é ela que está na origemda contradição e da miséria; omovimento proletário supera estacontradição primeiramente atravésde uma ideologia favorável àsatisfação das necessidades sexuais,e de uma nova ordemna vida sexual. De modo queestas duas coisas vêm semprejuntas. Por um lado o capitalismoe a repressão da sexualidade nasociedade, por outro a novamoral e a satisfação das necessidadessexuais.Quando falamos de uma "novamoral" não dizemos nada; osentido concreto desta nova moralestá unicamente no conteúdoda satisfação racional das necessidades,e isto em outros âmbitosalém da sexualidade. Se a ideologiaproletária não reconhece queé nisto — entre outras coisas —que consiste seu sentido concreto,então, não pode falar de novamoral e ficará amarrada a fatossuperados.A nova moral consiste exatamenteem tornar supérflua aregulamentação e em produzir aregência automática da vida social.Tomemos o exemplo doroubo e o da moral que se opõeao roubo: que não tem fome nãotem necessidade de roubar, eportanto não precisa de umamoral que o impeça. A mesma leifundamental vale para a sexualidade;nenhuma pessoa satisfeitatem necessidade de violar e édesnecessário, portanto, proibi-ladisso.Outro erro seria crer que háuma sexualidade absoluta, queentra em conflito com a sociedadeatual. É por exemplo, umerro fundamental da psicanáliseoficial conceber os instintos comoum fato biológico absoluto;isso porém não pertence à essênciada psicanálise, que é especificamentedialética, mas ao mecanismode pensamento dos analistas,que por outro lado sempre é^completado por teses metafísicas.Pois bem, os instintos, tambémeles, nascem, evoluem e passam.Mas o lapso sobre o qual seestendem as modificações biológicasé tão grande, que se estasúltimas nos são impostas comofatos absolutos, os instintos pelocontrário são flutuantes e relativos.Para estudar os processossociais concretos, estritamente limitados,no tempo, é suficientecomprovar o conflito entre uminstinto biológico qualquer e amaneira como a ordem social o recebee trata. Para as leis biológicasda evolução sexual, com suas etapasdivididas em séculos, isto nãoacontece de maneira alguma; aquié preciso trabalhar para estabelecercom clareza a relatividade, ainstabilidade do sistema instintivo.Se devemos entender o processovital dos indivíduos como acondição preliminar de todoacontecimento social, significa admitirque a vida existe com suasnecessidades. Mas esta vida, emsi, não é absoluta; nasce e passapela troca de gerações, mas seconserva inalterada sob a formade células sexuais que se perpetuamde geração em geração.A vida em seu conjunto — porpouco que se tenha em conta osespaços cósmicos — é um produtomineral, e desaparecerá umdia, se acreditarmos na teoria dainstabilidade dos astros, quer dizer,um dia voltará ao mineral:hipótese necessária ao pensamentodialético. Nenhum outro pontode vista deixa entrever commaior clareza como são minúsculase insignificantes as ilusões doshomens sobre o seu "dever espiritual","transcendental".Podia-se concluir disto que aslutas sociais parecem absurdas,diante do processo cósmico, ondeo homem constitui apenas umapequena parcela; como é ridículo,poderia dizer-se, que os homensse matem uns aos outros para tero que fazer, ou para levar umHitler ao poder, organizando procissõesnacionalistas, quando noespaço as estrelas continuam girando.Não seria melhor gozarmosa natureza?Uma interpretação assim seriaextremamente falsa, já que justamenteo ponto de vista científicofala contra a reação e a favor deuma nova concepção do mundo;a primeira tenta encerrar o cosmo,infinito e o sentimento da natureza,no marco da idéia infinitamentereduzida da penitênciasexual e do sacrifício co'm finspatrióticos, coisa que a abstinênciasexual jamais conseguirá; estanova sociedade, pelo contrário,tenta pôr no devido lugar a vidainfinitamente pequena do indivíduoe da sociedade, no marcopoderoso de toda a evolução danatureza, e eliminar a contradiçãoprovocada por um "desarranjonovo" da natureza — seis milanos de exploração, de religião ede repressões sexuais — por mais"necessário" que isto fosse. Emsíntese: toma posição pela sexualidadecontra a ética sexual-antinatural,pela economia internacionalplanificada, contra a exploraçãoe pela superação das fronteirasnacionais. w. Reich (ife!


AIRTONl[SOARESCONTRAUM PAPELDERESPONSABILIDADEA SELECTA responsabiliza-se pelopapel que vende: só tem doimportado. E pelo preço que cobra:40% menos que as outras lojas.Por isso, pessoas de muitaresponsabilidade dirigem-se áSELECTA: publicitários,arquitetos, engenheiros,estudantes..V você é contra o Ai 5, o decreto 47",o arrocho salarial, a censura,as eleições indiretas,você também é oposição.Você está com o MDB,o partido da oposição.VOTE NELEdep. federal n° 336Milimetrado, onion-skin (blocos),parassol, opaline, carmen, cartõesde desenho Schoeller, em todosos tamanhos, folhas cortadas oumargeadas, todos os tipos deblocos de desenho numerados.SELECTAMarquês de Itú 134, (esq. Bento Freitas) fone 52-6556 (recados)PSICOLOGIA<strong>NA</strong> SOCIEDADE DE CONSUMOO CEPA - Centro de Estudos de PropagandaAplicada estará promovendo para outubro,o curso de Psicologia do^Consumidor:INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO COMPORTAMENTOE ATITUDES DO CONSUMIDOREste curso visa dar uma visãoexata do comportamento,motivação e atitudes doconsumidor frente à Sociedade deConsumo com suas mais avançadastécnicas de Marketing e o grandevolume de apelos publicitários doquotidiano.EM COLABORAÇÃO COM OCENTRO DE PESQUISAS : ESTUDOS COMPORTAMENTAIS( m o DE ESTUDOS DE PROPAGANDA APUICADANão perca: sai no mês denovembro o primeiro livro Ex-:poemas de Otoniel Santos Pereira,inclusive os premiados emconcurso continental, realizadosetembro passado pela Casa LatinoAmérica de Buenos Aires.estadodecoisasUm lançamento da Ex Editora Ltda.Nas grandes bancas e livrarias detodo o país.Aguarde.


POR QUE NÃOMATAMOS LOGOESSA GENTE?"Eu juro que, se amanhã sefalasse na França em liquidar,por meios brandos, 50 a 80 mildoentes mentais e alienados (háum número bem maior em hospitaisoutras instituições, porém nãopodemos reduzir à inatividade asmilhares de pessoas que trabalhamem saúde, e, além do mais, há os.sindicatos), milhões de pessoasconsiderariam tal idéia justa, efalariam de sua realização comode uma obra humanitária, e haveriaquem seria condecorado por isso,legião de honra e tudo mais.Afirmo que haveria psiquiatrasdispostos a organizar a relaçãodas doenças passíveis deeutanásia, e a selecionar pessoassegundo esses critérios; poderiamser catalogadas, haveriacomunicados às sociedadescientíficas. E entre enfermeiros,administradores, assistentessociais, todos aqueles que tratamdia a dia dos doentes mentais,muitos deles topariam desembaraçaros hospitais psiquiátricos de umgrande número de doentes crônicos,ditos incuráveis, mesmo que issopermitisse apenas que se tratassemelhor dos restantes e fosse dadaa eles a chance de cura.Eu insisto sobre as vantagensreais de tal projeto, sobre asintenções muito louváveis quepoderiam justificá-lo, sobre osexcelentes sentimentos, a sinceracompaixão pelos doentes que oacompanhariam. Sejam quais foremos escrúpulos que nos assaltemquando encaramos frente a frente,sem estarmos preparados, a idéiade aplicar tal golpe aos doentesmentais, não devemos crer que aexecução de tal projeto sejaverdadeiramente dolorosa paraqualquer um de nós após certoamadurecimento e conseqüentepreparo técnico - nessas ocasiõesnão se improvisa.Estou certo de que cada um lhedará razão, e mesmo muitasfamílias ficarão agradecidas, semcontar que uma parte nãodesprezível do déficit da SegurançaSocial seria absorvido; que apsiquiatria ficaria aliviada, queisso poderia ser o início de umanova era terapêutica cheia depromessas - é sempre permitidosonhar... Enfim, os doentes quesobrassem, quer quisessem quer não,seriam mais bem tratadose por menor preço.Como objetar a isso? O quemais aflige nesse projeto, creioeu, o que cria o preconceito naspessoas é o fato de Hitler jáhavê-lo feito, e sua detestávelreputação deixada na Europa élembrada por alguns até hoje. (Emoutros lugares, isso se deu maissimplesmente, não sendo nem mesmonecessária a aplicação de medidasparticulares: na França, porexemplo, durante a ocupação, afome, por si só, matou muitosmilhares de doentes nos hospitaispsiquiátricos.) Se Hitler tivesseagido com menos precipitação emais sutileza, não estaríamoshoje onde estamos em relação aesse problema. E a "eutanásiajusta" dos doentes mentais - damesma maneira como se fala em"bomba justa " - teria podidoaliviar nossa sociedade de umfardo dia a dia mais pesado.Eu desafio todo diretor dehospital psiquiátrico, todoadministrador da Segurança Social,se ele é verdadeiramente sinceroconsigo mesmo, a negar que taisidéias tenham alguma vezatravessado seu espirito.Se, de resto, no século XIX e noinício do nosso, não se examinoua possibilidade de recorrer àliquidação física dos doentesmentais, foi indubitavelmenteporque o problema não tinha maiorexpressão econômica. Além do mais,o sistema ainda não estava tãocorrompido. Mas, acima de tudo,não havia de fato necessidade dematá-los; era bastante não vê-los.


PACIENTEAPARECIDOReuniu-se a polícia, a soldadesca, ebotou-se em marcha para o arraial doProfeta. Santa Fé inteira ftíi para ajanela espiar o evento. Era primeiro deoutubro de quatro anos atrás. O poderdo Prdíeta ia ser destruído à força daforça.Enquanto isso, o Profeta rezava comos seus seguidores, no templo, e otemplo era sua casa, pequeno salãoquadrado, paredes baixas, dois janelõesque jogam um pouco de luz nasparedes de barro. O sol da terra quentede Rubinéia, terra paulista, para oslados de Mato Grosso, reflete-se noenorme crucifixo que traz no peito, enos santinhos de sua invenção.Por força de seus milagres, aliestavam quinze fiéis. Cantava-se, rezavam-sePais-Nossos, porque era à forçade oração que o Exército do Profeta —de fardas azuis e verdes copiadas dafarda que o Profeta vestiu quando erasoldado do capitão Pimpão — iria parao céu.E a terra, dizia o Profeta, estavacondenada à morte no Fogo Eterno.Era isto que ele, ruivo e barbudo,cabelos e barba pela barriga, dizia, osolhos parados, a mão fixa. Fogo quetudo devoraria, gente e terra, terra ebicho. Ai de quem não entrasse para oexército do Profeta, armado comoração e um rebenque.Até criar este exército, alguns mesesantes, Aparecidão era respeitado edesprezado como se respeita oudespreza um benzedor. Muitos o piocuravatn,fala-se em 200 pessoas por dia— embora a elite da cidade preferissetratá-lo como um louco ou um bobo:então iria Deus dar confiança a umbo iadeiro?Começa a correr que Aparecidão eseu bando preparavam uma passeatapor Rubinéia e até pela cidade maiorvizinha, Santa Fé do Sul, e que orebenque iria cantar em cima dosinfiéis.E a tudo isto somava-se a históriadas coisas que Aparecidão estava dizendo,e que cheiravam a pregaçãoilegal; coisas em torno da terra: "aterra não é propriedade de ninguém,pois foi deixada por Deus para que oshomens a tratassem e plantassem parasobreviver, e ninguém é dono dela". Etambém aos impostos: "Ninguém deve•pagar impostos porque o terreno épropriedade comum". E ainda à construçãoda barragem de Ilha Solteira:"não é certo impedir todo o percursodo rio . . . porque os homens nãopodem subir e descer livremente o rio,bem como os peixes que têm essedireito".IIQuando moço, Aparecido Galdinolutou nas tropas de certo CapitãoPimpão, no Paraná, célebre pela crueldade.Nestas histórias ele aparece comoo soldado Galdino, decidido no gatilho,impondo lei mais pelo fogo do quepela palavra. Aos 22 anos, vamosencontrá-lo em lombo de burro seguindopelo Mato Grosso e Goiás umadestinação de boiadeiro, por trilhasmínimas que se perdem nas matas,fugindo de onça, dormindo em árvore,comendo quando possível, e até, talvezexercendo o ofício de jagunço. Mas,por volta de 62, se dá o nascimento deProfeta, e começa a paixão e adesgraça de Aparecido Galdino Jachinto,por força dos mistérios tornadoAparecidão, o boiadeiro que sonhouchefiar um Exército Divino — e queterminou no pior dos hospícios.IIIComeçou a ficar ensimesmado, e abarba cresceu. Passava os dias em casa,e orava. E disse aos filhos que securasse certo cavalo, era sinal certo que4Deus lhe dera uma missão. Falavacoisas vagas em torno de urra Voz, etambém de uma Missão. A famílianada entendia, nem podia entender.Podemos imaginar o caboclo àfrente do cavalo, seus gostos, e o trotedo animal sarado. Ele não era maissimples peão, era o Predestinado.Fama que começa a correr botequins,se uns riem, outros arregalam osolhos. E lá começa a aparecer naquelaterra pobre uma romaria de peão eboiadeiro, empregadinhas, gente desenganadapelos médicos, atrás dos passesdo curador, e que achava que Deuspodia estar tanto na boca de umanalfabeto como eles, quanto na bocacheia de latim. A fama se espalha pormais léguas ainda, e até automóvelaparece no arraial do Profeta.IVMas, certo dia, a Voz que oencaminhara ao reino do Mistério lhediz que ele deveria formar um exército.... .. Porque o mundo ... o mundoterminaria antes do ano 2.000, aidaquele que não estivesse preparadopara receber o fogo eterno que tudodevoraria. Antes deste desfecho, oshomens se devorariam como lobos, emguerras civis, e uma guerra mundialirromperia entre as nações. No meio douniverso de luto e morte, o exército doboiadeiro Aparecidão esperaria o fim,orando. Rebenques carregariam apenaspara se defender das agressões, etambém dos demônios.VNaquele dia ... primeiro de outubro... esperava-se o Exército do Senhorno arraial do Profeta. Mas quemchega é a suada, a esbaforida polícia deSanta Fé. Dizem os policiais que oProfeta ergueu a mão e mandou osfiéis atacarem; dizem os fiéis que apolícia nada falou. Foi entrando,batendo, quebrando. Foi um corpo-a-corpode meia-hora dos vintepoliciais contra os quinze fiéis. Osderrotados foram levados num caminhãopara Estrela do Oeste. Os maisinfelizes foram montados como sefossem cavalos.Acusado de formar um exército, ede pregação ilegal, chegou à JustiçaMilitar. Não foi julgado, porque certospsiquiatras disseram que era um loucopor ouvir vozes. Por isso, está preso háquatro anos em um lugar que é piorque o Presídio de São Paulo, pior queo Juqueri (onde os pacientes ao menostêm uma amplidão de terra paracaminhar ou trabalhar): o ManicômioJudiciário.Os filhos que o visitam dizem queele continua calmo, porque a vida deum boiadeiro ensina paciência. Mas oboiadeiro que pregava o bem e ajustiça só sairá do Manicômio Judiciáriono dia que um homem — o seupsiquiatra —, sobre o qual não hánenhum controle possível, nem da lei,nem dos homens, nem de um possívelDeus — disser que ele está "bom". Istoé, que não ouve "vozes". Neste dia,então, talvez seja julgado — mas não épreferível o julgamento à prisão semjulgamento? O primeiro delegado queinvadiu o seu templo-casa está preso,por corrupção. O segundo delegado,Geraldo Antônio Galante Ferreira, chefeda operação final, morreu numdesastre de automóvel. O mesmo fimdo escrivão do processo, Eurico LuísCustódio. A dez minutos do lugar emque ficava o templo, hoje imerso naságuas da represa, existe uma estrada, enesta estrada existe uma árvore. Aárvore foi plantada pelo boiadeiro, quedisse aos seus filhos: "ela viverá maisdo que eu e vocês; todas as vezes quevocês passarem por esta estrada, averão, e se lembrarão de mim. Assimeu sempre viverei." (MF)


CONVOCATORIA GERALPARA UM JULGAMENTO(POR DENTRO) DO PROFETAQuem faz a convocatória é o romancista nordestino Paiilo Dantas, estudioso dasquestões da alma mística do nosso povo, autor, entre outros livros, de CapitãoJagunço, Sertão do Boi Santo, Quem foi Antônio Conselheiro e O Livro deDaniel.Convocados: psiquiatras, sociólogos, escritores, poetas, educadores, autoridades.Local: nossa redação.Agarro, com certa e carinhosa fúria,a máquina de escrever. Penso naprimavera que chegou lá fora econvoco todos os puros de coração, emmeio de impurezas tantas, inclusive doar que respiramos na cidade grande,para uma bela e nobre tarefa: realizar,na redação do jornal Ex -, umamesa-redonda sobre o caso do Aparecidão,aquele ex-boiadeiro e profeta queandou nos jornais através dos belos ecorajosos textos de Marcos Faermann(Jornal da Tarde, 2-9-74) e daqueleíndio vago, Edilson (Jornal do Brasil,sucursal paulista).0 jornal Ex-, na sua destinação de"ex-tudo", quixotescamente, comproua questão e quer mesmo fazer amesa-redonda do ex-boiadeiro, ex-curandeiro,ex-santo, ex-revolucionário,agora preso nas grades do ManicômioJudiciário.O tema alcança várias áreas sociais eemotivas: a alienação e o sofrimentodo povo brasileiro, o misticismo e aangústia popular, os direitos da Justiçae os domínios da fé ou da religiosidade,da qual brotam santos e heróis,profetas ou incompreendidos justiceiros,curandeiros e feiticeiros.Não queremos fazer movimento decontracultura, nem de antipsiquiatria,mas apenas revolver as camadas profundasde uma matéria que interessa atodos - legisladores, sociólogos, educadores,artistas, escritores, psiquiatras eautoridades, já que a causa'posta emquestão transcende, pela sua importância,a área da simples reportagem oudo jornalismo de danaçãó, espraiando-se em outros domínios dasciências sociais.Lembro-me das palavras de ThomasMann: "o povo alemão era uma espéciede São Sebastião trespassado de flechaspor todos os lados". E o que dizer,então, do atual e sofrido povo brasileiro,que, em meio a tantos malefícios,nem sequer tem o direito de ter o, seusanto ou o seu herói, o seu profeta,acima das suas ditas desditas ou dosseus enredos malditos?Queremos saber mais coisas da vidadesse personagem, não o deixandosoçobrar entre as grades de um ManicômioJudiciário, pois não é todo o diaque surge ou aparece um homem tãoacobertado de .espantos e de arrancos,falando e ouvindo "vozes místicas"qfíe o convocam para uma dura einocente missão social nas terras de umbóia-fria, na fronteira de três Estados— São Paulo, Mato Grosso e Paraná.Desde que li sobre o assunto, a dolorosafigura desse cavaleiro me preocupa eatormenta. Isto simplesmente porque,em meio de tantas acomodações gerais,ainda nos resta um pouco daquelacorajosa sensibilidade para não ficarmosausentes ou indiferentes aos sofrimentose às pregações evangélicas deum homem ou de um ex-homem(expressão de sabor gorkiano) que, tidocomo alienado, padece num hospital-prisão,depois de ter sonhado elutado, numa área de geografia deserdada,por uma causa de melhoria socialpara os entes viventes dos abandonosdo Oeste.Porque, como bem argumentou oadvogado não de Deus, nem do Diabo,mas simplesmente da causa em questão,dr. Alcides Silva, lá do interior,neste caso de Aparecidão estão vislumbrando"delitos onde meramente ocorremfatos psico-sociais alheios ao campopenal".Em torno dessa nova versão de umnovo Antônio Conselheiro do Oeste,precisamos realizar uma tribuna livredos sentimentos machucados, revolvendopor dentro, causas e efeitos,,delírios e fantasias, sonhos e frustrações,matéria de uma espantologiasofrida que não pertence mais aoslaudos de um processo penal, feito aosabor de cartórios provincianos, natomada de depoimentos obscuros, conduzidospela burocracia de uma justiçagasta e insensível. Agora, não cabem adelegados, soldados, fazendeiros, osdepoimentos para a formação de umdiagnóstico social mais válido e aprofundadode urn caso, como o desteboiadeiro mineiro ou goiano, queousou ser profeta em sua terra, contrariandovaticínios sagrados ou profanos.Novas iluminações do seu "infernoprivado" ou de seu "paraíso prometido"precisam ser feitas por homensque entendem ou que procuram entender,além do bem e do mal, o seu casotipicamente social ou paranormal.Aparecidão deve ser estudado pornós, membros dessa insatisfeita famíliaque — segundo as quentes dicasdaquele genial escritor nórdico, ParLagerkvist — um ser carregado dedesespero, mas cheio de esperança, nãocessa de atormentar-se, "por causa dajustiça e da injustiça, da verdade ou doerro, do bem ou do mal, por causa dasalvação, da graça e da condenaçãoeterna, por causa do diabo e de deus esuas estúpidas contendas".Feito na colônia agrícola de Porto Alegre,onde ficam os loucos-loucos, "irrecuperáveis".Tem uma seção lá, e que é a dasfotos, que se chama de Pavilhão dosSórdidos. É uma barra, com 50 homens, 1funcionário, merda, sujeira, 1 cara que élouco-surdo-mudo-cego (tudo ao mesmotempo). A maioria deles é gente feliz, istoeu notei (mas lá, só sendo louco...). Aprisão da insanidade, a liberdade da loucura.Personagens errantes, silenciosos, seminus,sem papel, sem nome, sem passado esem futuro. Comendo comida com as mãos;de pé no corredor, completamente sozinhos;o dia inteiro com a cabeça abaixada;personagens do cinema búlgaro; sem sentiremfrio nem calor; também personagens doteatro brechtiano; iluminados por raios desol/itário. Fiquei dois dias lá e não batimais que 187 fotos. Não sei mais o queC *' Zer "Leonid Streliaev(25 anos)


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O título é um poema do poetaCarlos, que você vai conhecer já.É o poema preferido de Nise daSilveira, diretora da Terapia Ocupacionaldo hospital Pedro II, noRio, que assina o 19 texto destaspáginas: ela fala sobre o artistaque todos nós somos. E apresentaalguns trabalhos de seus hóspedes— expostos no Museu das Imagensdo Inconsciente, por ela fundadohá 28 anos.O diretor do Museu de ArteModerna de S. Paulo visitou o estúdiode pintura e escultura do CentroPsiquia'trico do Rio e não teve dúvidaem atribuir valor artístico verdadeiro amuitas das obras realizadas por homense mulheres ali internados. Talvez estaopinião de um conhecedor de artedeixe muita gente surpreendida eperturbada. É que os loucos sãoconsiderados comumente seresembrutecidos e absurdos. Custaráadmitir que indivíduos assim rotuladosem hospícios sejam capazes de realizaralguma coisa comparável às criações delegítimos artistas — que se afirmemjusto no domínio da arte, a mais altaatividade humana.Examinemos de perto se de fatoloucos e normais s-ãofundamentalmente diferentes.Todos temos a experiência dosonho. Nos seus breves instantespodem ser vividos os mais recônditos eimpossíveis desejos, encontram meio deexpressão nossas tendências maisprofundas. Através do sonhomanifesta-se o inconsciente, usando avelha língua das imagens em estranhasfiguras, umas servem de máscara aoutras, representam muitas de maneiraconstante os mesmos pensamentoscomo nos hieróglifos. Mas apenas seabrem os olhos voltam todas para seumundo subterrâneo. Os delírios, se osestudamos atentamente, são de certomodo sonhos prolongando-se pelaEU NÃO PERGUNTARIA VIDA?EU LEMBRARIA A VIDA...vigília. Na sua trama de idéias ilógicas,encaradas do ponto de vista do adultocivilizado desperto, descobriremos osentido da realização de desejos talqual no sonho, sob o disfarce dosmesmos mecanismos psicológicos.Os adeptos de certas religiões dooriente costumam concentrar-se emlongas meditações durante as quaisacontece não raro que os pensamentosse tornam visíveis, adquiram forma ecor. Se estes fenômenos se firmassemnuma condição permanente seria difícildistingui-los de sintomas psicóticos.Entretanto, o adepto foi instruído deque essas formas e cores são vaziasainda quando representem deuses ouancestrais. Após as intensasexperiências das horas de meditação,ele retoma suas ocupações diárias semque ninguém conheça os segredos desua vida interior. Por tudo quanto dizou faz é um homem sensato e sábio.O artista é certamente um serextraordinário. Seus fortes impulsosinstintivos não se amoldam aoprincípio da realictede. Insatisfeito erebelde foge para o mundo da fantasia,onde lhe é dado viver seus desejoslivremente. Mas vínculos de amor,exigente necessidade de comunicaçãocom seus semelhantes, o atraem denovo ao mundo. E ele retorna,trazendo-nos a dádiva de suas aventurassubjetivas, que apresenta ora quasenuas ora complicadamente veladas.Parece mesmo encontrar prazer emexibi-las; alegra-se quando os outros osntendem e o aplaudem. A atividadeartística seria pois "caminho de voltaque conduz da fantasia a realidade"(Freud).Outros seres igualmente entram emconflito com o mundo exterior e seevadem para reinos imaginários. Mas aíse perdem. Neles, as produções dafantasia tornam-se mais vivas, maispoderosas que as coisas objetivas.Invadem a esfera da consciência comtanta força que o indivíduo já não asdistingue das experiências reais. Perturbam-seassim suas relações com o meiosocial — passam a ser chamados loucos.Outra prova de que apenas questãode grau, de permanência ou transitoriedadeem estados semelhantes diferenciamnormais de psicóticos é estaprópria exposição. Por que vos emocionaiscontemplando estes desenhos,estas pinturas e esculturas? Decerto,entre os motivos de vossa emoção, estáque eles despertam • ressonâncias, quefazem vibrar em cada um cordas afins.Este é um dos caminhos pelos quais asobras de arte nos atingem. Se Hamletcontinua através dos séculos abalandoprofundamepte os públicos do mundointeiro, explica a psicanálise, é que oforte sopro dessa tragédia toca emcheio o complexo de incesto comum atodos os seres humanos. Os poetasouvem as vozes abafadas do inconscientee exprimem para os demais seusoprimidos desejos. Parecem mesmohaver herdado de Homero o privilégiode descer aos infernos e voltar à luz dosol contando aos mortais o que viramnaquelas regiões tenebrosas. AssimFausto, ansioso de evocar Helena,mergulha no mais profundo dos abismos,onde habitam as figuras primígenasdas mães. E o estremecimento demedo que sente ante essas deusaspoderosas ao redor de quem se movemas imagens da vida comunica-se aoleitor do drama imortal. Estes mesmosarquétipos que do inconsciente coletivoemergem como relâmpagos nas visõesde poetas, de pintores, vêm constituiro conteúdo avassalador de neuroses epsicoses.Talvez muitas das obras aqui apresentadascausem a impressão de estranhezainquietante que acompanha amanifestação de coisas conhecidas nopassado, porém que jaziam ocultas(conceito do sinistro segundo Schellinge Freud). Presumimos obscuramentepossuir no fundo de nós mesmosimagens semelhantes. Exemplos destetipo são os desenhos evocadores defiguras místicas que acreditávamos superadasou os que representam desdobramentosda personalidade, reveladoresde épocas psíquicas primitivas, nasquais o ego ainda não se havianitidamente delimitado em relação aomundo exterior. Se certas figurasangustiam, a beleza de outras formasfascina. Ressaltam estruturas concêntricas,círculos ou anéis mágicos, denominadosem sânscrito mandalas, imagensprimordias da totalidade psíquica.Místicos, hindus e chineses utilizammãndalas de rico valor artístico comoinstrumento de contemplação. Imagensde idêntica configuração surgem nasmind pictures de jovens e sadiasinglesas, que as vêm de olhos fechados.


num estado de repouso próximo aoque precede o sono, em experiênciasfeitas nas aulas de pintura de umaescola secundária feminina (HerbertHead). Símbolos eternos de humanidade,aparecem também pintad;: pordoentes mentais europeus (Jung) o poresquizofrênicos brasileiros completamentedesconhecedores ao símbolo religiosooriental. Os que se debruçamsobre si próprios estarão sempre sujeitosa encontrar imagens dessa categoria,depositárias de inumeráveis vivênciasindividuais através de milênios. Daías analogias inevitáveis entre a pinturados artistas que preferem os modelosdo reino do sonho e da fantasia e apintura daqueles que se desgarrarampelos desfiladeiros de tais mundos.Surpreende o número de doentesmentais que buscam expressão gráfica.E freqüente desenharem sobre as paredesou em qualquer pequeno pedaçode papel que lhes caia nas mãos.Mesmo os mais inacessíveis, de contatomais difícil, raramente deixam dedesenhar se lhes entregamos o materialnecessário. Este fato curioso explica-sequando nos colocamos no> ponto devista da psicopatologia genética, admitindoocorrerem nas psicoses processosregressivos, que reconduzem o indivíduoa fases anteriores do seu própriodesenvolvimento ou mesmo da evoluçãoda humanidade. O pensamentoabstrato, aquisição mais recente , cedelugar na doença ao pensamento concreto,isto é, as idéias passam a apresentar-sesob a forma de imagens (aliás, omesmo acontece no sonho e nosestados intermediários entre sono evigília). Uma vez cindido e submerso opensamento lógico, fic% simultaneamenteprejudicada a linguagem verbal que éo seu instrumento de expressão. Desdeque seu pensamento flue agora emimagens, o indivíduo muito naturalmenteusará exprimir-se reproduzindo-as.Pode projetá-las, entretanto, semnenhum intento de comunicar-se comoutro, impulsionado por mera tendênciafisiológica à exteriorização. Nestecaso os desenhos nascem inteiros deum só jato, multiplicam-se em númeroespantoso e suas cores são quasesempre muito vivas. Mas apenas o egocomeça a lançar frágeis pontes para omundo real, aos modelos interioresvêm juntar-se objetos do mundo exteriorrecordados ou vistos no presente, aprodução diminue e faz-se atravéstrabalho mais demorado, o colorido seenriquece de nuances. Esses sinaisindicam que passos começam a serdados no caminho de volta à realidade,desenho ou pintura estão se tornandolinguagem emocional. A atividade artísticapoderá mesmo adquirir o sentidode um verdadeiro processo curativo.Compreende-se pois, a importânciada instalação de estúdios de pintura ede escultura nos hospitais psiquiátricos,tanto para meio de estudo de obscurosmecanismos psicopatológicos que setornam patentes nas produções plásticas,quanto pela função terapeuticade que a própria atividade artísticamuitas vezes se reveste.Levantar-se-á talvez a pergunta: senascem no inconsciente as fontes detoda a inspiração e o louco é aqueleque foi invadido pelas torrentes subterrâneas,então estaria ele mais queninguém em condições de criar obrasde arte? Decerto não basta sonharacordado, ter contato íntimo comimagens primígenas, falar a linguagemios símbolos, sofrer a tensãode intensos conflitos. Trate-se de artistassadios ou de artistas doentes,permanece misterioso o dom de captaras qualidades essencialmente significativasseja dos modelos interiores sejados modelos do mundo exterior. Haverádoentes artistas e não artistas, assimcomo entre os indivíduos que semantêm dentro das imprecisas fronteirasda normalidade só alguns possuema força de criar formas dotadas dopoder de suscitar emoções naquelesque as contemplam.Voltemos a acentuar o fato fundamental:os mais estranhos fenômenosencontrados nas doenças do espíritoem nada diferem qualitativamente demecanismos que também podem sersurpreendidos na vida psíquica normal.Nessas doenças são mudanças na estruturapsíquica que ocorrem. Estágiospretéritos da evolução emergem eimpõem suas maneiras correspondentesde sentir, perceber e pensar. Osindivíduos assim atingidos tornam-seinaptos para o nosso tipo de vida sociale por isso são segregados. Antes que seprocurasse entendê-los, concluiu-se quetinham a afetividade embotada e ainteligência em ruínas. Estariam, portanto,muito bem habitando edifícios--prisões chamados hospitais, abrigadose alimentados. Nas melhores dessascasas vêem-se leitos forrados de colchasmuito brancas e corredores de soalholustrosissimo. Mas que se procure sabercomo correm para seus habitantes aslongas horas dos dias, durantes meses eanos a fio. Venha-se vê-los vagando nospátios murados, tais fantasmas. Pois averdade é que as .tentativas depsicoterapia e ocupação terapêuticafeitas nos nossos hospitais têm apenas ovalor de amostras do que poderá serrealizado, não chegando ainda a adquirirsignificação, dado o reduzido númerode beneficiados em face da imensamaioria desatendida.Esta situação decorre de se haveradmitido arbitrariamente que nos doentesmentais se tenham extinguido asmúltiplas necessidades humanas alémde dormir, comer e quando muitotrabalhar em ofícios rudimentares.Entretanto, só os poderes da inérciafavorecem a aceitação conformista• 1Àdesse estado de coisas. Ninguém ignoraa extraordinária renovação da psiquiatriarealizada por Freud e Bleuler desdeos primeiros anos do século. Até entãose aceitava que a demência precoce(esquizofrenia) conduzisse inexoravelmenteà demência e ao apagamento daafetividade. Hoje está demonstrado quemesmo após longos anos de doença ainteligência pode conservar-se intata e asensibilidade vivíssima. E aqui estãopara prova os nossos artistas: Emigdio,internado há 25 anos, e Raphael,doente desde os 15 anos, ambos sob odiagnóstico de esquizofrenia.Os hospitais, porém, continuam seguindorotina de raízes em concepçõesjá superadas, muito distantes da culturaatual de seus médicos. Cumpre reformá-los.Sejam os trabalhos apresentadosuma mensagem de apelo neste sentido,dirigida a todos os que participaramintimamente do encantamento de formase de cores criadas por sereshumanos encerrados nos tristes lugaresque são os hospitais para alienados.(Nise da Silveira)Borboletas Negras doloridasQue vejo sempre na mata voarFantas de mel ha ProcuraBorboletas hei de sempre amarEu sou ha Borboleta queitaQue me ves sempre pousadaDeixa-me em Paz doradoraPorque Oh Deus do incerto amorCe um dia de mim lembrasahirei ha Procura e ha PensarEncontrei quem de mim se lembresou eu Venho agrader e ProsarEras que deixar saudadesDos tempos que la ce vãoDo meigo abraçar apertarDe uma lavadeira Precisa e amarVenha ou anoitecerDos dias de amargorVida sonha meditarDos anjos acalentarDeixe eu ser carbodas floresDe um Perfume entenecedorPensando estas em amargorOh mel de mim VaidadeOh cachopa cem contarDe dias e longos annoscem percentir ou caçohare esqritor a trabalharNegruras ha dor orfeãoDe tremidos vandavaessimbilante ha PerguntarAmando sou seu amarEu sou oh cagado da cascataQue vivo sempre ha rodarNo ceiro da verde grammaem sopapo PensadorPedrinha dos meus olharesSerás por deus inquecivelOh Deus deixa-me viverPorque outra ha de nacer


MAIS POEMADE CARLOSQuantas maldades enfimso ha me lembra de mimsera que não tenho outracompanheira da mesma dorDeus vos dei Por immençaimencidade Florida incarnecidadas Pedra que não murchouQue controe palacios de amorVivo em concolo da luaSubistuição do coraçãoDeixo falar oh ceu centirCe um dia a luta trahirVejo a luz dos teus olhosOu que queros os teus roseraissão Para mim oh começarDe Primaveril ha emcostarOh Deus dos seus PecarDisceste em Perjuro amarPensando Vivias morrerDe uma serpente ha morderQuem es, Sou oh solCom meus flecos ha QueimaDe luses ha te iluminarOh Deus hei de te adoraQue culpa tenho euDe ojerer a luz da sombraSou ou Deus inesquecívelAtenção do coraçãoDuello são cem espadasDo mundo das sombras negraPensando no enganecerPorque? ha sombra também morrerI PARABOLASDO MUSEU DASIMAGENS DOOPERAÇÃOLÚCIO:umE estava certa vez Carlos merguhadoem uma lata de lixo. Amestra Nise da Silveira aproximase,e pergunta: Mas Carlos, o quefaz você aí? Você está sujandotodas as suas mãos. Carlos não éde falar, mas naquele dia falou:"sementes não foram feitas paraserem plantadas em latas de lixo.Sementes foram feitas para aterra". Ergue-se, então, com assementes que colhera na lata doiixo. E foi plantá-las no pátio dohospício.doisEstavam os pacientes trabalhandonum campo de futebol, quandoviram um cãozinho perdido. Começaa chover. O amor dosloucos leva o cãozinho para umteto. A dra. Nise observando.Então, a mestra concluiu queaqueles homens internados hátantos vinte anos eram sensíveis aeste amor. E começou a povoar ohospital com seus cães. Há muitosanos, os cães não são mais cães,Caminheiro enternecidoCa minha ha tu estradaVido sois em cruz de amorQue cruza ha mesma dorOh Oedras de deus esquecidahadimiradas do encergar cegoPorque meu Pãe CelestialDeste fantasias e não verdadesRema Oh fada silvestreinesquecível do ceu amargorDe um mar tracoeiroEm chama de multicorOh mascarado ha almentarDises oh que Pode cerUma mascara ha esconderDe rotos lábios aparecerVivas ou meu amorMores ce não conhecerDo Panno ha cahirDe uma mascara te cobrirMar com fim distanteDeixae caminhar olharSois horizonte e nacerPoente ha ce entederQuando vires não encotrarDe retalhos sonhadorFoi ha brisa que PagouDo amor que ce PassouLÚCIO, ANTES


no Museu: a dra. Nise só oschama de co-terapeutas.trêsA hora do café, às dez damanhã, é uma festa no Museu: oscães invadem a sala da direção evão comer biscoitos na mesa dadiretora.quatroE as pacientes passam pela porta,enfiam a cabeça e gritam para adoutora: — como vai, queridinha?cincoUm dia, os cães da doutoraNise amanheceram mortos. Era avingança dos inimigos do Museu.Onde se viu tratar cão comogente? Onde se viu chamar loucode hóspede?seisA primeira exposição dos hóspedessaiu em 49. Um críticocarioca disse que a arte dosloucos não era arte. Outro críticodisse que era. Os criadores nuncasouberam de tal discussão.seteO pessoal do Museu sempreesquecia a porta da sala principalaberta. Até que um dia encarregaramCarlos, internado há milanos, "doente crônico, incurável",na voz da psiquiatria clássica, dezelar para que à noite a portafosse fechada. Nunca mais a portaficou aberta.oitoToda sexta-feira Carlos dá umpresente a doutora Nise: gramaque colhe com amor, para osgatos da casa da mestra. Na casada doutora Nise os gatos passeiame dançam nas mesas.noveUm crítico herege disse queEmygdio, pintor do Hospício PedroII, onde funciona o Museu,era o maior pintor do Brasil,maior que Portinari. O fantasmade Portinari, eu sei, bateu palmasde alegria; os seus camponeses depés grandes, também, as suascrianças de olhos fundos, também-porqueos loucos são criançase são pobres como estes camponesesmarrons das telas de Portinari.dezHenry Ey, Lopez Ibor, RamonSarró. Nomes de alguns grandespsiquiatras internacionais. Disseramque o Museu era fascinante,maravilhoso, hermoso, divino,muy rico. A maior coleção domundo de obras criadas pordoentes mentais. Vinte anos detrabalho. Aqui, ninguém conheceo Museu. Onde estará o homemque matou os cachorros e os gatos?Não estará escondido no banheiro— não sairá com seu veneno e seupunhal, dos fundos do hospício,agora que a doutora Nise vai seaposentar, ou vai ser aposentada —só porque sabe tudo, aos 71 anosde idade? A doutora Nise saltapara os dois lados da realidade eda irrealidade e entra na pelecurtida pelo sol do sofrimento,pula para o lado de lá, salta parao lado de cá, também oorqueesteve no lado de lá do muro, notempo do Estado Novo, na prisãoem que esteve Graciliano Ramos,e assim pulou para dentro daspalavras do escritor, e para dentrode seu coração, e para as palavrasdas "Memórias do Cárcere", vejasó, doutora Nise presidiária-psiquiatra-libertária,uma lágrima in rvisível correndo de seus olhosjunguianos, ao descobrir um mitoda Lua e do Sol, de um tempoperdido, uma evocação milenar,nas palavras, nas imagens doinconsciente de um operário brasileiro,de um hóspede do Hospício,ser multiplamente marginal;por que está no lado de avesso dasociedade dos ricos, porque estádo lado do avesso da sociedadedos racionais; porque é naturezano mundo "humano". DoutoraNise: operária da psiquiatria, rejeitandoa tentação da clínica rica,escolhendo o mundo do múltiplomarginal hóspede do hospital dopovo, e plantando com tijolos deimagens que outros colegas nemolham — ou consideram apenaspsicopatia — uma compreensãoque ainda está por vir, mas quevirá.Em 1949, correu no Hospital D.Pedro II, no Rio, que um dospacientes. Lúcio de tal, seria lobotomizado.A doutora Nise Magalhães daSilveira avisou que iam matar umartista. Porque Lúcio era um artista.Uma de suas esculturas lembra osmelhores trabalhos de civilizações perdidas— maias, incas, astecas -,soterradas por nossa civilização. Seusdesenhos tinham força e imaginação. .» \ ^Mas Lúcio era o ser mais sem direitosque se conhece, um loúco, e oslobotomizadores não pensaram no "artista".Lúcio foi um dos nove artistasplásticos que participaram da primeiraexposição de pintores e escultores doEngenho de Dentro. Depois suas obrasforam apresentadas no Museu de ArteModerna do Rio, e no MAM de SãoPaulo. Mesmo assim ele foi levado paraa sala de operações, onde foi destruído.A doutora Nise da Silveira organizouum dossier sobre o caso. Arespeito de Lúcio, escreveu: "produziu,antes da intervenção cirúrgica, modelagensde notável qualidade artística, queexprimiam sua concepção da luta entreas forças do bem e do mal. Pode-sesentir nos seus trabalhos forte tensãoemocional, contida dentro da rigidezde formas das figuras. Após a lobotomia,modelagens e desenhos revelamcatastrófica regressão, trazendo as marcasdo déficit características das alteraçõesorgânicas do cérebro: pobrezaimaginativa, puerilidade de concepção,inabilidade na execução". A lobotomiae outras experiências semelhantes foiuma das técnicas mais empregadas pelospsiquiatras da Alemanha nazista.Hoje, ela ainda é feita em SãoPaulo, em instituições aparentementeinsuspeitas e sérias. Está voltando amoda como técnica, na Itália e outrospaíses da Europa, e nos EstadosUnidos.Este texto, bem como o dasParábolas, é de Marcos Faerman.... DEPOIS.


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A primeira se matou com 19 anos.Nasce a segunda, a mãe lhe dá omesmo nome (a mãe é a irmã da quese matou). Quando a segunda tambémfaz 19 anos, entra em crise. Mas não ésó por causa do suicídio da tia. RonaldLaing, anti-psiquiatra inglês, entrevistoütoda a família da segunda Ruth; e oresultado são os diálogos adiante reproduzidos.Parece teatro.Mãe — Bom... o senhor entende,ela está doente há muito tempo, eantigamente dizia quç a culpa eranossa, que queríamos prendê-la numhospital; e as vezes queria nos bater;mas agora se queixa menos.Entrevistador*— Como explicam asacusações e queixas?Mãe — Bom... não, eu não meexplico, aoenas compreendo, perceboque ela está doente e não sabe o quediz.Entrevistador — Sabe o que ela querdizer quando,...Mãe - Porque, veja o senhor... elatenta nos bater e depois, no minutoseguinte, se desculpa ... — "Ah, mamãe,estou desolada, não quis fazerisso de verdade, não quis ..."Em oito anos de tratamento, nãosomente a família atribuiu à doençaseu "mau humor e ressentimento",bem como sua conduta incontrolâvel;os psiquiatras também, e parece queninguém, até onde pudemos saber,pensou em colocar isso em dúvida.Quando tinha uma "recaída", Ruthse vestia "de modo estranho" e tentava"imitar" o irmão, que era escritor.Entrevistador — A senhora diria quehabitualmente Ruth se comportavabem?Mãe — Sim, sim.Entrevistador - Em resumo, não hánenhum problema nesse sentido?Mãe: — Não, nenhum. É só duranteseus períodos de crise, o senhor entende.TEVE UM "ATAQUE"E SAIUDE MEIAS COLORIDASO irmão de Ruth tinha consciênciade que seus pais eram "pessoas limitadas".E "se mandou de casa". Os pais aceitaramaté certo ponto que ele tivesse ambições"artísticas", mas não poderiamadmitir que a filha também tivesse. Suaatitude em relação a coisas "artísticas"— literárias, musicais e plásticas — estáclaramente revelada na seguinte passagem:Quando esta entrevista foi feita,Ruth tinha 28 anos. Desde os 20 játinha sido hospitalizada seis vezes, edurante os últimos oito anos quase nãosaiu de hospital. Nos primeiros 18meses de sua primeira internação,diagnosticaram uma situação entre ahisteria e a esquizofrenia. Mais tarde,diversos psiquiatras de diversas tendênciasconcordaram em declará-la esquizofrênica.Os sintomas variaram, mas durantetodo esse tempo ela manteve umcomportamento paranóide, sujeito ailusões e a uma desordem de pensamentodo tipo esquizofrênico. Àsvêzes, tinha idéias suicidas ligadas a umestado depressivo ou a momentos deagitação.Antes de entrar pela primeira veznum hospital, Ruth vivia com os pais;e tinha um irmão de 32 anos que haviasaído de casa quando ela fez 14. Seupai somente aceitou ser entrevistado napresença da mulher; e informou queestaria de acordo com tudo o aue eladissesse. Fizemos 16 horas de entrevista,sendo 13 gravadas. EntrevistamosRuth; a mãe; o irmão; Ruth e a mãe; amãe e o pai; a mãe, o pai e Ruth.ERA UMA MENI<strong>NA</strong>TÃO BOA; DE REPENTE,QUERIA BATER <strong>NA</strong> MÃEO Sr. Gold e a mulher tinham asmesmas opiniões sobre a história dafilha. Segundo eles, a "depressão" deRuth foi um acontecimento súbito einesperado; ela teria sido uma criançanormal, fácil de educar, muito afetuosa,respeitosa, prevenida, muito chegadaà mãe, e que, às vêzes davapequenas demonstrações de irritação,rapidamente esquecidas. Ela se "conformava"inteiramente com a vontadedos pais, e isto os deixava muitosatisfeitos.Então, já com 20 anos, de modoinexplicável, ela começou a se sentirdeprimidae a se queixar de "irrealidade".Seu comportamento tornou-se"incontrolâvel" e depois disso, não fezmais do que ser doente o tempo todo,embora às vezes, nos intervalos entreos "ataques", voltasse a ser a mesmaboa menina de anteís, muito obediente,muito cordata, muito sensata etc.Examinaremos a seguir o que seuspais chamavam de "doença"-. Tantopara a mãe como para o pai, e tambémpara o irmão, os sinais mais evidentesda "doença" de Ruth eram o ressentimentoe o mau humor em relação aospais, da mesma forma que seu comportamento"incontrolâvel".Mãe — Ela é às vezes muitodesagradável; outras, menos — nãodemonstra agora tanto ressentimentoquanto no início da doença.Entrevistador — Quando foi que istoaconteceu?Mãe — Me ensinaram piano ... meforçaram a aprender, e eu tinha horror;tive que estudar anos, e tinha costumede ir a concertos com meu professor demúsica ... e durante todo tempo eudetestava música.Pai — Eu acho que uma pessoa podegostar de tocar algum instrumento — écomo um homem que aprende um trabalho.Agora ... ser artista, isso é muitoabstrato.Desse modo, Ruth é "doente", seveste "de maneira estranha" e "macaqueia"o irmão.Entrevistador — O que é que, pelaspalavras e atos, faz a senhora pensar queela está doente?Mãe — Eu sempre posso dizer quandoé que ela vai ter um ataque .. . quandoo ataque vai começar.Entrevistador — O que é que ela falaou faz nesses momentos? E em que suaconduta é diferente?Mãe — Ah, bom ... ela ficou estranha,ela não é normal. Além disso, nãose veste corretamente Quando tem um


ataque, põe as roupas mais extravagantes.queencontra.Entrevistador - Mas ela faz issoquando leva amigos jovens pra casa,por exemplo? Ela fica estranha, seveste de forma diferente?Mãe — Sim. Aconteceu assim umavez que ela teve um ataque. Mas issonão acontece há muito tempo.Entrevistador — E como ela sevestiu?Mãe — Bom ... ela estava de meiascoloridas; e colocou tudo o que nãovestiria numa situação normal.E necessário fazer algumas observaçõessobre as opiniões contraditóriasque os pais tinham a seu respeito. Amãe nos disse que, antes de ficar j"doente", Ruth tinha muitos amigos,ia a muitas festas e freqüentava clubes.Entrevistador - Ela não tem nenhumavida social?Mãe - Não . . . mas eu gostaria queela levasse uma vida normal e saíssemais. Ela parece ter perdido todos osamigos desde que ficou doente.Entrevistador — Ela não freqüentavagente da mesma idade?Mãe — Não. Conhece algumas pessoasmais velhas do que ela, tem umaamiga ... saem juntas.. .A pobreza de sua vida social e amania de fechar-se em si mesmaparecem ser uma invenção inconscientedos pais que nunca foi colocada emdúvida por ninguém.Ruth — Meus pais não gostam doslugares que freqüento.Mãe - Quais?Ruth - O Eddie's Club, porexemplo.Pai — Meu Deus! Voce não querdizer realmente ...Ruth - Claro ...Entrevistador — O que é esseEddie's Club?Mãe — É um lugar onde se bebe.Mas ela não vai lá para beber. Ela sóquer encontrar todo tipo de gente.Entrevistador — Parece que as pessoasque ela gosta de encontrar desagradamaos senhores. ..Mãe — Talvez seja verdade.Pai — Sim.Os pais repetiram diversas vezes queRuth não se dava conta do que lheacontecia ou do que fazia. Nós nuncapudemos estabelecer se tinham razãoou não. Entretanto, segundo a mãe,Ruth ...Entrevistador — Ela já chegou bêbadaem casa?Pai - Não.Mãe —... não gosta que lhelembrem tudo isso. Tentamos nãofalar.Entrevistador — Você se sentedoente nessas ocasiões?Ruth - Não.Mãe - Não, ela não se dá conta doque lhe acontece, nem que está doente.Ruth — Eu não acredito mesmo queesteja doente.Entrevistador - E o que você sentenessas ocasiões? Pode descrever seuestado? Que é que voce faz?Ruth — Bom, simplesmente . . .acho que meus pais inventam umatempestade em copo dágua ... se voua certos lugares, gosto de vestir asroupas que as pessoas que vao a esseslugares costumam vestir.Entrevistador - Pode dizer por quese veste desse jeito?Ruth - Sim ... eu acho estético.Entrevistador — Voce acha que esseestilo talvez seja mais artístico do queuma roupa convencional?Ruth — Sim. Há outras moças quetambém usam meias coloridas . . .Entrevistador - Voce se dá contade que seus gostos podem ser umafonte de tensão em casa?Mãe — Mas não existe tensão. Nãohá tensão porque assim que o ataquepassa, ela reencontra seu equilíbrio evolta a ser como antes. Mas ela semprefoi atraída pelo gênero artístico. Se vêalguém na rua desse tipo, alguém umpouco diferente do costume, diz: "—Olha, olha lá. Olha como está bonito".Pai — É.. . para quem é maistradicional... esses tipos e essas garotasque se vestem de um jeitoesquisito . . . bom, eles são bizarros.Mãe — Mas agradam a Ruth.Pai — Eles são diferentes.Entrevistador — Ruth leva pessoaspara casa?Mãe - Ela levou cada tipo emcasa . . . Quando está doente, 'convidapessoas que em tempo normal ela nemtoleraria . . . uma espécie de beatniks.Pai - Escritores e sabe Deus mais oquê .. .Entrevistador — Os senhores nãogostam de escritores?Mãe — Não, não é isso . . . não,não ... claro que nós gostamos deescritores.Pai — Naturalmente.SEU GRANDE MEDOÉ TER O MESMO NOMEDA TIA QUE SE MATOU0 senhor a a senhora Gold, apesardos julgamentos contraditórios sobre asações de Ruth, têm uma idéia relativamenteclara e persistente sobre apersonalidade da filha. Esse modo dever as coisas é um traço comum atodas as famílias entrevistadas. QuandoRuth é "realmente" ela mesma, quandoestá "bem", não se interessaseriamente por escritores e artes, nãousa meias coloridas, não vai escutarmúsica num boteco, não leva amigosem casa e não sai de noite. É só de vezem quando que Ruth tenta se afirmar,e nesse simples gesto destrói a imagemque os pais fazem dela; é só de vez emquando que procura agir segundo seupróprio juízo. Sua mãe então "sabe"que um ataque é iminente. Acusa Ruthde ser difícil, egoísta e grosseiraporque lhe causa preocupações. Maspai e mãe não a censuram, porque nãoa consideram responsável por. seus atos.Eles "sabem" que a moça é esquisita edoente. Assim, mistificada e colocadanuma situação intolerável, Ruth ficadesorientada e desesperada, lança "loucas"acusações, pretende que os paisnão querem que ela permaneça viva, efoge de casa. completamente desequilibrada.Esclarecidos pelo conflito que ospais pretendem ignorar, pudemos examinaro comportamento de Ruth, doqual ela mesma nos deu explicação, ecompreender sua dificuldade de viver.Ruth não consegue esquecer que lhederam o mesmo nome de uma irmã desua mãe, que se suicidou aos 19 anos,após um caso de amor "infeliz. Ruthficou doente aos 20 anos, e após umcaso semelhante. Qualquer que tenhasido o papel desempenhado pela mãede Ruth, na realidade ou na imaginação,quanto ao suicídio da irmã, ofato é que ela teve um papel dos maiscuriosos na história de amor da filha.A primeira Ruth morreu afogando-se.Entrevistador — Por que sua irmãpreferiu morrer?Mãe — Ela foi infeliz no amor.Rompeu um noivado. Era muito moçaquando conheceu o noivo, 10 anosmais velho. Tinha 16 quando o trouxeaté nossa casa — meu pai queriaconhecê-lo. Ele dizia á minha irmã queela era muito jovem, mas que seamavam, e continuaram se vendo, epapai permitiu o noivadd quando elafez 18 anos. No começo, o noivo eramuito ciumento, depois começou aganhar bastante dinheiro, e isso deveter-lhe subido à cabeça, porque elecomeçou a se divertir — jogando golfe— e começou a desprezar minha irmã,que sofreu muito. Romperam o noivadoe reataram umas duas ou trêsvezes, e cada vez ele vinha e pediaperdão, depois não voltou mais. Elachorou muito e eu pensei que falavaem matar-se para nos meter medo . . .eu não acredito que quisesse realmentese matar . .. não se deu conta do queestava fazendo . . . deixou um bilhetedizendo onde encontrar as roupas, ocolar e os brincos, mas não pensamosque queria realmente se matar. Provavelmentepensou em assustar um poucoo noivo ... sem dúvida, achou que issoo traria de volta, mas ela era muitojovem.Parece que o caso amoroso de Ruth(a filha) terminou mais ou menos damesma maneira. O rapaz demonstrouindiferença e não voltou para suplicaro reatamento.Entrevistador- A senhora sabe porque Ruth a acusa? sabe do que elaestá falando quando lhe faz acusações?Mãe — "É por causa dela que estoudoente", diz ela ... e ... eu tive umairmã que se matou com 19 anos, foiuma lembrança dela que nós demoseste nome à Ruth, e ela reclamasempre. Fala muito de minha irmã.Mas não chegou a conhecê-la. Faz 32anos que minha irmã morreu.Entrevistador - E o que a senhoraacha que ela quer dizer quando lhe fazestas acusações?Mãe - Talvez pense que é comominha irmã . . . ela pergunta:"Minha tiaera normal? Ou era louca? Eu soulouca como ela? Isso é uma doençamental?" Enfim, o senhor compreende.Ela não sabe a que . . . atribuir.Entrevistador - Mas ela parece quesubentende. Parece que implicitamenteela lhe faz uma acusação.Mãe - Absolutamente. Absolutamente.Entrevistador — E a senhora percebepor quê?Mãe — Ela talvez pense que se eunão lhe tivesse dado o nome de minhairmã, não teria ficado doente.Entrevistador — Hummm ... Ela lhedisse isto?Mãe — Não me disse assim, mas deua entender.Entrevistador - Ela lhe deu aentender outras coisas?Mãe — Não creio, não creio.Entrevistador — Por que lhe fazacusações? Ela nunca fez nenhumaalusão?Mãe — Não, não, não. Quando estádoente, não quer que eu cuide dela,tenta fazer tudo sozinha, mas não sabe.De alguma forma tenho de tomar asrédeas, fazer tudo o que é preciso.Talvez a tenha mimado um poucodemais depois que ficou doente, masela é tão doente, não é capaz nemmesmo de ficar limpa ... o senhorcompreende ... eu tenho que fazertudo, mas ela me diz: "Não se metanos meus assuntos, deixe-me em paz".Mas a gente não pode deixá-la sozinha.É impossível ter confiança.Entrevistador - Como foi que tudocomeçou?Mãe - Depois do caso de amor


infeliz. Saiu com um rapaz por doisanos, ela devia ter 18 ou 19 anos. Atéentão havia sido uma garota fácil deeducar . . . ahnn . . . não era muitoativa, nem voluntariosa, mas era inteligente,passou pelos exames escolaressem problemas, chegou no secundário.Estava sempre de bom humor, limpa,ordeira, enfim: um encanto. Realmen-_te, até o dia em que encontrou esserapaz. Ela teve muitas amigas, divertia-semuito, e quando começou atrabalhar ficou no emprego por doisanos, depois largou, o rapaz não queriaque ela ficasse no emprego ou coisaassim. Ela largou o emprego e ospatrões ficaram muito contrariados.Eles confiavam muito nela. Ela abria aloja de manhã, uma loja de modasonde era vendedora. Ruth queria serdesenhista de modas. Seu irmão éescritor e ela sempre o imitou, queriaser artista como ele, chegou até a fazerum curso, mas não continuou e setornou vendedora. Foi aí que encontrouo rapaz. Ela não estava tão ;apaixonada assim por ele; era muitociumento e praticamente vivia aqui emcasa. Estudava medicina e parece queseus pais não estavam muito satisfeitoscom o caso: achavam mais importanteele continuar o curso com seriedade.Ele repetiu duas vezes algumas matérias,e implorei para que rompesse comRuth. Falei assim: "Vocês são muitojovens, podem recomeçar mais tarde,quando já estiver formado". Mas elenão queria viver sem ela. Isso duroudois anos, e embora os pais do moçosoubessem que ele praticamente nãosaía daqui, jamais convidaram Ruthpara ir lá, e isso a humilhava muito.Ela tinha vergonha por nós e, depoisde dois anos, decidiu romper. Melembro do dia que entrou aqui dizendoque ia acabar. Eu disse: "Você pensoubem? " Ela respondeu: "Sim, eu penseimuito e não quero mais". Rompeu.Depois ficou muito deprimida e nuncamais foi a mesma. Não sabíamos o queera. Pensava que ela continuava infelizpor causa dele. Mas ela passeava comas amigas, depois saiu de férias. Passouo natal na casa de uma amiga e voltoudois dias depois. Semanas mais tarde,devia ir ao aniversário de-uma amiga,mas não foi. Estávámos muito preocupados,não sabíamos o que fazer. Umdia, voltou num táxi, chorando aossoluços, com os saltos dos sapatosquebrados. A partir daí, fomos a umpsiquiatra atrás de outro.ACABOU FICANDOCOM OS PAIS PARAESCAPAR AO HOSPITALA mãe admite que suplicou ao rapazl»ia acabar com Ruth. Mas nega issodiante de Ruth, e algumas vezes diantede nós. Ruth não sabe bem que partede responsabilidade atribuir à mãe norompimento do namoro. A mãe tambémnão sabe que parte de responsabilidadelhe cabe. Quando Ruth acusa amãe, esta diz que ela está doente.Mãe — Acho que lhe fez mal ver orapaz com outra moça, 15 dias depoisdo fim do caso. Isto feriu-a profundamente.De qualquer maneira, tinhaperdido dois anos com ele, e ele nemsequer tinha tentado revê-la, paraperguntar se as coisas podiam searranjar. Tinha repetido tanto que aamava! Éramos contra o namoro, maseu não queria que ela acabasse paraevitar que me acusasse.Entrevistador — Por que vocês eramcontra?Mãe — Não gostávamos do caráterdele. Era muito mimado, não trabalhavacomo devia.Entrevistador — De que vocês nãogostavam nele?Mãe - Ele era polido mas pareceque não levava as coisas a sério, mesmosendo ciumento, e não ficava preocupadode não convidar minha filha parair à casa de seus pais, não tinhanenhuma vergonha disso.Entrevistador — Ele nunca disse porquê?Mãe - Não.Entrevistador — Vocês lhe perguntaram?Mãe — Tínhamos vontade. Pedimosque ele terminasse com Ruth.Entrevistador — Em suma, vocês lhepediram abertamente que rompesse.Mãe — Suplicamos.O pai e a mãe de Ruth conversaramcom o rapaz contra a vontade da filha.Ao mesmo tempo, pressionaram a ifilha. Mas se lamentaram quando eles jromperam.Mesmo agora, Ruth não compreendebem o que se passou, e não poderiamesmo compreender, pois sempre tevepoucos detalhes sobre o caso.Ruth — Tudo isto me parece iestranho. Encontrei-o em vários luga- jres, mas ele nunca falou comigo. Um ;dia, desmaiei quando saía de umprédio e freqüentemente passava mal.Mas não sei por que meus pais melevaram ao hospital para ver ummédico.Entrevistador — Aí você começou a :pensar que tinha perdido alguma coisaimportante para você?Ruth - Sim.Entrevistador — Era Richard?Ruth — Sim. Mas era completamenteinconsciente. Conscientemente, nãosentia que era ele. Certa vez, quandotive uma entrevista com um médico,chorei e falei de Richard. Há dois anosque não pensava mais nele, e foi derepente que as coisas jorraram.Entrevistador — Como se vocêtivesse reprimido seus sentimentos?Ruth — Sim. Tinha enterrado tudono fundo de mim mesma. Por isso tivea depressão.Mesmo hoje, Ruth não sabe o quese passou, o que "realmente" sepassou. Ela vive agora com os pais, queestão contentes com o arranjo dascoisas.Mãe — Nos entendemos muito bem.Ela já não fica fechada o dia todo.Quero dizer que agora nossa vida estáorientada em função da vida dela.Pai — Completamente.Entrevistador — Vocês querem dizerque não fariam as coisas que fazem seestivessem sós?Mãe - É isso. Mas estamos muitofelizes de fazer o que fazemos.Ruth também se sente "melhor"Ela abandonou as roupas, os clubes, osamigos que os pais não gostavam.Entendeu agora que eles a amam.Mas às vezes tem dúvidas.Ruth — Estou um pouco perdida.Não para tudo.,Mas a este respeito mecoloco muitas perguntas, porque amaioria das pessoas tem má opiniãosobre os beatniks, não é? Minhamelhor amiga nunca poderia sair comum deles.Entrevistador — Mas você acha quedeve estar de acordo com o que amaioria das pessoas pensa?Ruth — E que, quando não estou deacordo, encontro-me sempre no hos-Considero a família tal como aconhecemos - o núcleo familiar urbanoocidental, >duas gerações, pais efilhos - com uma forma social muitopouco comum, que se desenvolveurecentemente em formas sócio-econômicasparticulares e que, sem dúvida, éuma das muitas formas de vida socialque vão e vêm segundo circunstâncias.Através da antropologia comparada eem termos da história das culturas, peloque li e pelo que vários antropólogosme contaram pessoalmente, nosso núcleofamiliar nunca havia existido nahistória da raça humana, até não fazmais que 100 anos na Europa. E nãoexiste em nenhuma outra parte fora docomplexo industrial. Que eu saiba, sóhá uma história detalhada de comoeram as famílias na Europa até uns200 anos (Philip Aries: Centuries ofChildhood). Este livro assinala que émuito recente a célula de duas gerações,em que os filhos são "internos" ena qual só duas pessoas têm responsabilidade"normal", econômica e educativasobre eles. É justo dizer, a respeitodos pais, que é difícil esperar tanto deduas pessoas, e que eles esperem tantoum do outro e de si mesmos. Estasduas pessoas vêm encontrando suasatisfação total em alguma forma deintimidade, e a maior parte do consoloe apoio e recompensa e alegria edesfrute da vida um no outro, e emninguém mais.Fala-se de neo-tribatismo; sem dúvidaas velhas formas estão desaparecendoe surgem novas, não só entre osjovens. Sem dúvida, ultimamente, muitagente convencional de classe médiavem organizando associações de moradia,e habitam unidades familiaresmúltiplas. Ninguém sabe como vãofuncionar. As regras que regem quem--tem-relaçóes-com-quem, acho que serãocruciais. Não posso imaginar nenhumsistema social sem regras, quaisquerque sejam, aplicadas a quaisrelações físicas são permitidas, prescritase proscritas; quem está autorizado,e para quê tipo de relações íntimascom o corpo de quem, e com oscorpos de quem mais. Absolutamentefundamental. E não há dúvida que istoestá mudando muito. E está mudandono terreno imaginativo; quero dizer, agente imagina coisas que eram extravagantesfaz uns poucos anos.0 paranóico mais célebre da literaturamédica é Schreber, um juiz queescreveu suas memórias; sobre estasmemórias, Freud baseou seu estudomais importante da paranóia. Schrebersitua o começo de sua "enfermidade"quando, deitado na cama certa manhã,cruzou por sua mente o pensamento,que não podia vir dele, de que "seriaagradável ser uma mulher sucumbindoao coito sexual". Tal pensamento era,para Schreber, "contrário à ordem domundo". Pois bem, para um juizalemão, pensar em como seria sermulher era uma monstruosidade até 60anos atrás, mas não creio que fosseagora.As mudanças nas formas sociais vêmpressagiadas por mudanças em tudo oque podemos imaginar, conceber.Acontece que quando a gente começaa imaginar coisas nas quais nunca haviapensado, começa a imaginar que já nãoé tão profundamente perverso e degenerado,nem símbolo de algo fora doslimites do natural, e começa a conceberrelações de uns com os outros,partes do corpo em que se supõe quenão se deve pensar em conjunção comoutras, relacionando-se entre si.Ronald Laing,


Reportagem de Patinhas (João) / Fotos de Juvenal SilvaOs donos do mundo e do destino deSecundo: Antônio José dos Santos, seupai; Petronílio José dos Santos, seuirmão - Tenente Mota, delegado deJequié em 1943.O CHIQUEIRO:Dois metros quadrados, toros demadeira, formiga e bosta. No seuinterior um bolo de carne uivante:Secundo, ex-louco furioso, apodrecendosua loucura. Vinte e nove anosde espinha dobrada, uivos e masturbação.Esta história tem começo masninguém sabe o fim, apenas umapassagem de um chiqueiro para outro.Em outubro de 1972, Secundo foitransferido para um depósito de loucosna capital.— Quem é que manda em sua casa,homem? Faça um chiqueiro e boteeste homem lá dentro! Lugar de louco éno chiqueiro!(Tenente Mota em 1943, falando aopai de Secundo.)" . ..CONTAR O TEMPONÃO CARECE . .."(Secundo, unhas de lobisomem, dedoscomidos por bicho de porco, navéspera de sua viagem para o "JulianoMoreira", em Salvador, outubro de 1972).UM SA<strong>NA</strong>TÓRIO SERTANEJOUm chiqueiro é um pequeno cercadofeito de toros de madeira e cobertode palha. Pouco espaço porque agordura do porco depende do poucomovimento que ele faz dentro dochiqueiro. 0 chiqueiro é um lugar deengorda, de inchação.Já foi também lugar onde seguardava o medo e se aplicava justiça.A justiça da normalidade contra aloucura.Secundo José dos Santos foi umlouco justiçado num chiqueiro. Ficouapodrecendo na gaiola de 1943 a 1972,quando um jornal de Salvador denunciouo fato. Até então poucos sabiamque um homem, sentenciado pelomedo dè sua família, lutava contrauma prisão absurda encravada na caatingae guarnecida pela lei primitivado temor ao desconhecido. Do medodo louco, do cachorro doido, da raposaazeda.SE O CACHORRO ROMPE ACORRENTE A CULPA É DO DONOEm 1943, um raio rachava a famíliade Antônio José dos Santos. 0 mesmoraio que desagregou a mente de seufilho Secundo ameaçava a segurançaregional. Todos temiam o louco Secundoque começava a cometer desatinos.Surge na história o senhor inquisidor.-Um homem sem capa preta mascoberto com a farda da polícia militar.Tenente Mota, delegado de Jequié, ohomem que tinha a chave da cidadepública e idéias para criar pequenoschiqueirinhos, sanatórios domiciliares.A família do Secundo ouviu asordens do tenente. Construíram ochiqueiro e enjaularam o filho misterioso.Mas a jaula era fraca para olouco moço. Um, dois, três. Secundoteve forças de destruir três chiqueirospara se render no quarto. De torosmais grossos e pedras bem pesadas.PETRONÍLIO, IRMÃO E GUARDAO chiqueiro foi construído na rocinhade Petronílio José dos Santos,irmão do louco. A oito quilômetros dochiqueiro de Secundo surgiu a faixaescura da Rio-Bahia, para carregar seusloucos em gaiolinhas de ferro e rodasde borracha.Em frente do chiqueiro de Secundo,guardada a distância para apagar seusuivos e diminuir o fedor da bosta,ficava a casa do seu irmão Petronílio.Petronílio, preto brilhante, analfabeto,ingênuo, covarde, pai de uma rinha desecundinhos barrigudos, famintos, nus.Casa de taipa, chão batido, fedor debosta de menino. Menos azeda quebosta de doido. A voz de Petronílio,guardião do irmão bicho:— O que a gente podia fazer? ladeixar ele fazendo desatinos no mato,acabando as feiras, capaz de matar umapessoa? Dinheiro a gente não tinhapara mandar ele para um asilo. E tinhaque ficar alguém tomando conta,dando de comer a ele .. .Estranho, louco não engorda emchiqueiro!


Secundo não engordou nos <strong>29</strong> anosde cativeiro. Não podia se movimentar, aaltura do chiqueiro não permitia queele ficasse em pé, mas talvez pela poucacomida ele não adquiriu a opulênciaflácida dos porcos.Sabugo de milho, bicho de porco,licuri, pão seco. Mas o pouco movimentoda prisão lhe conferiu a passividadedos loucos românticos, repertório dosjustos. Bobos?Os filhos de Petronílio eram visitasconstantes de Secundo. Encostavam acabeça entre as madeiras e conversavamcom o tio-bicho.Secundo quase não falava, murmurava,fazia caretas infantis, cantava prálua. Quieto, Secundo ensinava as criançasque neste mundo lugar de louco éno chiqueiro. Que os homens normaissão os donos absolutos do destino dosloucos. Que o louco é menos perigosodo que o medo.Secundo ensinava às crianças que nochiqueiro também se vive, Comendobosta, corpo coberto de formiga, olhosinundados de remela. Secundo ensinavaàs crianças que o homem se acostumaa tudo. Os que fazem os chiqueiros eos que vivem dentro dele.O CHOQUE ELÉTRICO É CARICIAPARA QUEM PASSOU <strong>29</strong> <strong>ANOS</strong> <strong>NUM</strong>CHIQUEIRO?As autoridades de Jequié sentiram-seenvergonhados depois que correu anotícia de que bem próximo dali umlouco estava preso, morrendo a míngua.Para que Secundo saísse foipreciso destruir o chiqueiro. Não haviaportas.Ele foi arrastado e jogado numcarro fretado pela Prefeitura e o"arrôtary" club. Horas depois abria-seum portão, e Secundo ingressava noJuliano Moreira.O Juliano é um depósito de loucosexistentes em Salvador. Ocupa umquarteirão inteiro e foi modulado apartir de um casarão secular. Hoje dáimpressão de um cruzamento de engenhode açúcar com orfanato, alberguenoturno e depósito de cereais. Á sualocalização desenha o mapa da obscuraparanóia urbana, contida e recolhidaentre encostas e apartamentos financiadospor uma vida inteira: o Julianoocupa uma área circular, completamenterodeado por pombais do BNH.Sua população atual é de setecentosinternos. A dos pombais deve ser dedez vezes mais. Os pombais tem suassolitárias e os choques rede globo. 0Juliano tem seus corredores, suas alas,seus fios elétricos e uma divisãoradical: a pátria dos tuberculosos e opaís dos não tuberculosos.E para lá foi Secundo, saído do seuchiqueirinho. A terapia do sertãocontra os dragões elétricos dos sanatóriosurbanos. E agora Secundo?SERÁ QUE FIQUEI MALUCO?Secundo estava acostumado à solidão.Preso no seu chiqueiro estavaentregue somente aos seus fantasmas.Lá não tinha choque elétrico, pílulas,nem injeções de fazer bonecos duros,babões, e de olhos esbugalhados. Látinha bosta, bicho de porco e umaimobilidade total. As situações emparte trazem semelhança, a incapacidadeperante a loucura.Os diques, os açudes para conter odesaguar de águas perigosas. O quepode ter passado pela cabeça deSecündo depois de arrancado do seuchiqueiro e lançado no meio dedezenas de outros seres angustiados etorturados pelos métodos de sanatóriosurbanos? Talvez ele tenha pensado queenloqueceu ...DEPOIS O BRANCO ... OU OPRETO,OU O BURACOAFI<strong>NA</strong>L, ISTO É E NÃO É UMAFÁBULA.Existem agora poucas notícias doSecundo no Juliano Moreira. Umporteiro barrigudo, filão de cigarros,que barra as pessoas na porta, diz queele foi embora. Terá voltado para ochiqueirinho?E assim a história de um loucocontido, preso e torturado em doischiqueiros pela justiça terapêuticao encontro e o conflito da lucidez eda loucura. Um homem preso numchiqueiro como um bicho do mato.Um homem encolhido num sanatóriocomo um bicho da cidade.Entre os dois, e o mesmo homem, oestigma da loucura.Vinte e nove mais vinte e nove maisvinte e nove, tudo igual. A castração.A morte. O nascimento.Secundo José dos Santos, durocomo um jumento. Forte como umlouco que assombra a passividade dosmortos-vivos. Existirá sempre uma jaulaaberta-fechada para engulir um louco?Secundo, responda!Grite de dentro de seu chiqueiro!(e aqui morre o papo porque eu jáestou ficando bêbado)./ana


HOSPÍCIO CHINÊS: CALMANTE OCIDENTAL E ACUPUNTURANELESMAOTERAPIAUm relato sobre um importante centro psiquiátrico de Xangai; e umaentrevista com dois médicos de província; os chineses tratam ospacientes também com um remédio que consideram infalível: Pensamentosde Mao, os já famosos, em doses diárias e segundo prescriçãomédica.Por Gregório Bermann, cientista argentino. Bermann esteve três vezes na China,e em 1970 lançou "A Saúde Mental na China", série de artigos e reportagenssobre a situação psiquiátrica naquele país. Após uma vida política intensa, queabrangeu os mais variados campos da medicina e da filosofia, Bermann morreuem 1972, com quase 80 anos.Aproximava-se do fim a minhaúltima viagem à China, e eu estava bemlonge de ter captado os valores e osentido da revolução cultural na psiquiatria,apesar de todas as demonstraçõesque me fizeram. Tudo isto é tãodiferente de meus conhecimentos e deminha vida! Em primeiro lugar, o quetinha me chocado era a caricatura derevolução cultural que tinha testemunhadoem um hospital psiquiátrico deprovíncia. Devo acrescentar que tinhauma prevenção contra a ação dasmassas, eudeusadas na China como ascriadoras de um novo mundo, emrazão da experiência tão dolorosamentenegativa que tinha sofrido na Argentina,minha pátria. Lá, aclasse operáriae uma parte importante das classesmédias foram conduzidas por um líder,adorado pelo povo, e levadas em umadireção que, na minha opinião, nãofavoreceia a sua libertação, bem pelocontrário.Vou contar como começou a decepçãode que falei acima. Fui acolhidocom grande cordialidade pelo pessoaldo hospital e "pelos doentes, que nomeio da neve, ao ar livre, entoavamcitações do presidente Mao, repetindoconhecidos slogans. Me disseram que ohospital não tinha diretor, que ocomitê revolucionário assumia o poderno quadro de uma direção coletivaonde havia somente um jovem médico.Um membro da direção tomou apalavra, creio que era um enfermeiro,enquanto o responsável, que tinha todaa aparência de um oligofrênko, nãoabriu a boca durante toda a reunião.Os médicos estavam confinados nospavilhões esperando os doentes. Noúltimo momento, a meu pedido apareceuum professor de psiquiatria, e faloumuito pouco.No hospital não existiam estatísticas,não se publicavam estudos, não sefaziam pesquisas. Neste caso, ao menos,a revolução cultural era umagrosseira demagogia. A revolução culturalparecia ter, aqui, diminuído, oudegradado, aqueles que deveriam dirigir;no caso deste hospital, os médicos.Os rebeldes revolucionários que tomaramo poder ocuparam o vazio deixadopela direção, provavelmente porquenão havia entre os médicos pessoasenérgicas e com um pensamento claroe correto. Foi com estas coisas nacabeça que conheci, então, a experiênciado hospital psiquiátrico de Xangai.E Xangai é, sem dúvida, o centropsiquiátrico mais importante da China,não só pela sua organização e seuensino, como porque aqui trabalha ohomem que abriu o caminho para apsiquiatria no país* o professor Hsia. Ohospital que visitamos, em 1965, tem600 leitos, é bem equipado, tem muitopessoal, e sua disciplina e higiene sãoexcelentes. Em ! 967, no total, Xangaipossuía 2 700 leitos no domínio psiquiátrico.Vou procurar reproduzir aqui, namedida do possível, as próprias palavrasdas pessoas com as quais falei. Asituação da revolução cultural, ao níveldo hospital, é o reflexo exato daquiloque se passa no país, e que tende adestruir o privado para construir opúblico.A CURA PELO PENSAMENTOEles citam Mao Tse-tung: "as idéiasdos homens não têm outra origemsenão a prática". O trabalho clínicoensina que os doentes mentais estabelecemrelações precisas com as situaçõesreais. É necessário, antes de mais nada,conhecer a realidade do pensamento ea ideologia dos pacientes. O conhecimentoaprofundado dos pacientes realiza-segraças aos laços estreitos que osunem aos médicos e ao pessoal sanitário.Uma vez que se sabe o que elespensam e quais são os seus problemasideológicos, pode-se estudar com elesos meios de resolver os problemas, emfunção de cada doença.Ptir exemplo, um paciente melancólicoconsiderava sua doença muitograve e incurável; o que ele tinha de maissério era sua intensa preocupação -assim, tentou muitas vezes o suicídio;durante anos, nada disse do que sepassava na intimidade de seu coração, eaqueles que viviam a seu lado podiamconstatar somente a sua vontade desuicidar-se. Finalmente os médicosentenderam o que se passava. E, comeie, leram os tres mais importantesartigos de Mao, e constataram a suaperda de confiança na capacidade decura. Durante longos anos, nem osremédios puderam curá-lo, coisa queentendeu lendo os artigos. Uma vezcurado, o paciente escreveu um artigosobre o que tmhr, se passado em seuespírito e em seu coração no processode cura. „"Para que o pensamento de Maopenetre m espírito dos doentes, épreciso saber o que eles pensam. "Emprimeiro lugar, mostramos verdadessimples que cada doente pode colocarem prática. Os artigos de Mao sãomuito simples, mas têm um conteúdode verdade muito profundo que orientapara a ação", dizem os médicos.Eu perguntei em que medida osensinamentos da psicologia médica sãoutilizados na China. Me disseram que otrabalho médico se funda sobre o amorde classe: "em nossa sociedade, estabelecemosrelações de amizade íntimacom os pacientes, e isto nos permiteum justo conhecimento de seu espírito;conforme a realidade viva de cada um,empregamos métodos específicos Idetratamento".No hospital, assisti a uma reuniãode estudos mantida pelos doentes, apartir de leitura de citação de Mao; ascitações eram comentadas pelos própriosdoentes, na presença dos enfermeirose com a sua colaboração. Umdoente diz: "ser médico não é importante,o importante é aprender parapoder servir ao povo". Outro doenteatribui sua doença a uma causa ocasional;"é preciso se armar de coragempara enfrentar os problemas", diz ele,citando outro "pensamento".CADA DOENÇA, UM ARTIGOA grande maioria dos doentes sãooperários, camponeses e membros dopartido. Antes do intemamento, elesestavam habituados, como todo omundo, na China, a estudar os ensinamentosde Mao, o que facilita muito otrabalho. Segundo aqueles ensinamentos,um divide em dois: de um lado, osaspectos patológicos do espírito; deoutro lado, os aspectos sadios; "são osúltimos que devem ser reforçados paracurar as partes doentes".


Os doentes são divididos em funçãoda etapa em que se encontram de suaevolução mental e orgânica. Diferentesartigos de Mao, são usados paraenfrentar essas situações diversas. Nodecorrer da terapia, acontece seguidamenteque os pacientes recusam tomarremédios ou seguir outro tratamento.Eles são ajudados pela leitura de"Como Yukong ultrapassou a Montanha",por exemplo. Um paciente queescondia seus medicamentos, após estasleituras, fez sua autocrítica reconhecendoos erros e mudou de conduta. Navéspera de sair do hospital, existempacientes que desenvolvem idéias erradas;que os outros zombam deles, etc.Neste caso, é sugerida a leitura de"Sobre a Guerra Prolongada", e assimeles "elevam o nível de consciência e aconfiança em sua possibilidade devencer as dificuldades". Há outros queperdem a coragem e vacilam emcontinuar vivendo: eles são encorajadoslendo "Servir ao Povo", ou as citaçõessobre a "Crítica e Autocrítica", etc,Os médicos apontam os resultadosde seu método:1. Eleva-se a atividade subjetiva dosdoentes e, por aí, eles são ajudados avencer seus sintomas e suas dificuldades.Numerosos doentes aprendem aconsiderar suas emoções como "tigresde papel", desprezando-as estrategicamentee tomando-as em consideraçãotaticamente. Numerosos pacientes "criticamas idéias errôneas que tinhamsido; por exemplo, alguns pensavam demaneira desordenada em mil coisasdiferentes, de maneira unilateral, tomandoassin; o aspecto pelo todo:depois desse tipo de estudo, elescorrigem seus pontos-de-vista errôneos".Alguns doentes manifestavam "confusãoideológica"; se preocupavam excessivamentecom o futuro, de modo queviviam sob perspectivas sombrias,tinham medo de não poder maistrabalhar; estudando, "seu nível seelevou, a luz aparece em seu espírito, esob o efeito da atração exercida pelasolidariedade e pelo fim de seu egocentrismo,o que desenvolve seu gostopelo interêsse público, suas crençasdesaparecem". Uma atividade corretada parte dos doentes diante de seuspróprios sintomas é uma vantagem quepermite levar mais adiante o tratamento.2. Os médicos se educam por simesmos, estudando junto com ospacientes e os enfermeiros.3. Através da organização do estudo,pode-se reforçar o sentimento dedisciplina através do trabalho conjunto,enriquece-se a vida cotidiana. Em tudo,as pessoas se ajudam e se criticammutuamente. Estudando com os doentes,os médicos podem ver se manifestaremalterações e sintomas que nãopoderiam ver nas entrevistas individuais.Os doentes falam e comentamentre si o que estão pensando, equando encontram alguma dificuldadeem um comportamento, falam com osmédicos. Os resultados obtidos "sedevem ao prestígio de Mao". O dr. YuShei-Tsei, de Xangai, diz: "Devemosestudar de maneira viva. Durante asdiferentes etapas do processo de suadoença, os pacientes têm diferentesidéias. Os médicos organizam o estudopara substituírem as idéias errôneas poridéias justas. Estimulam a ajuda mútuaentre os doentes, o que anima a vida dospavilhões. O hospital se transformanuma escola".O hospital que visitamos fica ao sulda cidade de Sian. Tem 250 leitos eum dispensário; 22 médicos, 62 enfermeirose 66 membros entre o pessoalda administração e empregados. Um"comitê revolucionário" de 10 pessoasdirige o hospital-, representando atríplice união: "soldados-quadros dirigentes-massaspopulares". Nossos entrevistados,dr. Han e dra, Sho, fazemparte desse comitê.Dr. Han — Adquirimos novos conhecimentossobre doenças mentais apartir das teses filosóficas do presidenteMao. No campo da psiquiatria,como em todos os outros, há uma lutaentre duas linhas, conseqüência de duasconcepções diferentes do mundo: aindividualista, onde o homem se situano centro do universo, e a coletivista,onde o homem está a serviço dasociedade. Em nosso campo, a primeiraconcepção criou as grandes sumidadescujas teorias são aceitas mais pelo pesode sua autoridade, que pelo seu valorobjetivo; essas sumidades detêm sozinhasas chaves da sabedoria e suassentenças são inapeláveis. Dessa maneira,muitas doenças mentais que podiamser curadas foram declaradas incuráveis;o erro dessa concepção é entregar oindivíduo a tratamentos ou medicamentossem pensar que as raízes domal se encontram na sociedade, e éelevando a consciência de cada um deseus membros que encontraremos osmeios de trazer o mal à superfície. Asteorias da psiquiatria ocidental podemser resumidas em três tendências:a) a tendência dos que explicam asdoenças mentais por um funcionamentopatológico dos órgãos; b) a tendênciados que explicam as doençasmentais por causas hereditárias; c) e,finalmente, o grupo dos "agnósticos",que preferem ignorar as origens reaisdos desequilíbrios mentais.O pensamento do presidente Maoconsidera que todas as coisas douniverso são regidas por leis próprias eque o homem é capaz de descobri-las edominá-las - o homem, é claro, no"ESTUDAMOS FREUD PARA COMBATER SEUS ERROS"sentido de coletividade humana, depovo. As massas populares, diz Mao,têm um poder criador ilimitado. Elassão capazes de se organizar, de dirigirsuas forças e de lançar sua energia emtodas as direções e dentro de todos oscampos. Noutro tipo de sociedade,cada pessoa é condicionada por seumodo de vida; suas idéias têm sempreas marcas de sua classe. Muitas dasanomalias e desequilíbrios mentais saoreflexo da luta entre duas concepçõesde mundo. Em regimes sociais diferentes,as doenças mentais têm característicasdiferentes. A psiquiatria, portanto,é ao mesmo tempo ciência médicae social.Nossa, sociedade evolui rapidamente.Há apenas 22 anos éramos dominadospor um regime feudal e capitalista.Nosso sistema atuai é uma etapa detransição. Esse progresso em busca deuma organização social mais justasó pode ser feito através de umconstante processo de "luta-crítica-reforma",cujo ponto crucial é a transformaçãoda mentalidade de cadaindivíduo. Num regime socialista, grandeparte dos desequilíbrios mentais seproduzem nos indivíduos que nãoassimilaram a nova concepção coletivado mundo e não aceitam a direção e ametodologia dos trabalhadores. Sãoindivíduos que não puderam resolver acontradição entre o subjetivo e oobjetivo, entre o proveito pessoal e obem-estar coletivo, entre o indivíduo ea nossa sociedade. Isso produz umaperturbação no cérebro, causadora degrande parte das neuroses e psicoses deque tratamos. Desse ponto de vista,nossa terapia consiste princip^ menteem educar o paciente de modo que elepróprio resolva suas contradições. Nossométodo consiste em fazê-lo estudartodo dia as obras do presidente Mao.Dessa maneira, ao mesmo tempo quecompreende a nova orientação da sociedade,integra-se aos três movimentos denossa revolução: a luta entre categoriassociais, a luta pela produção e experimentaçãocientífica.Essa educação do doente é seguidapor uma ação médica na qual intervém,ao mesmo tempo, elementos da medicinaocidental e da medicina tradicionalchinesa (a acupuntura, por exemplo).Da medicina ocidental, utilizamosalguns calmantes, aplicados em pequenasdoses. Após a revolução cultural,eliminamos os três elementos considerados"mágicos" para esse gênero dedoenças: o choque de insulina, ochoque elétrico e grandes quantidadesde calmantes. O tratamento ideológicoé o principal, o tratamento médico ésecundário.- O senhor nos falou de neuroses epsicoses produzidas por uma inadaptaçãosocial. Em seu hospital não existenenhum caso de demência produzidapor outras causas ?Dr. Han - Sim, temos também asdoenças provocadas por lesões deórgãos internos, por envenenamento,por intoxicação, doenças nervosas, etc.Quando as lesões cerebrais impedem acompreensão, utilizamos acupuntura ecalmantes, mas nos momentos delucidez, tentamos reeducar os pacientescom a ajuda do pensamento de Mao,para que eles adquiram, por seu lado, avontade de se curarem.- Em seu modo de ver, todas asdoenças mentais são curáveis?Dr. Han - Em nossos hospitais, 90%dos doentes melhoram; 80% recuperam-setotalmente.- E os incuráveis?Dra. Sho — Temos centros de internação,cuja orientação é completamentenova. Não há camisas de força nemcelas. Quando a situação permite, osinternos vivem com suas famílias.Participam das atividades do hospital,segundo a capacidade de cada um, eaos sábados e domingos vão à* cidadevisitar amigos. Organizamos tambématividades esportivas e culturais* comopor exemplo representações teatrais.- Qual é a idade média de seuspacientes e de que camada socialprovêm na maioria?Dra. Sho — A maior parte são operáriose camponeses, entre 25 e 50 anos.Mas se considerarmos que essas duasclasses representam 90% dos habitantesdo país, não podemos afirmar que amaior parte provenha dessas camadassociais. Isso significa que, seguindo adiretiva de Mao, as camadas sociaispobres são as mais visadas pelo esforçosanitário.- O senhor acha que a implantaçãodo regime socialista e sobretudo darevolução cultural provocou um aumentode doenças mantais?Dr. Han - Evidentemente, as pessoasmarcadas profundamente pelamentalidade individualista adaptam-secom dificuldade à nova organizaçãocoletiva; essa mudança radical podeoriginar um trauma psíquico. Mas emnossa sociedade atual não existemmuitos dos desvios da sociedade ocidental.- Vocês usam a psicanálise?Dra. Han - Nós usávamos antes darevolução cultural, mas hoje a consideramosum método idealista, e por issofoi suprimida. No lugar, procuramosfazer a mais completa pesquisa possívelno meio onde o doente nasceu. Em suamaneira de ser, em suas reações e emseus contatos com outras -pessoas,encontramos as raízes de sua doença.- Vocês conhecem Freud?Dr. Han - Suas teorias já tiverambastante influência sobre os psiquiatrasde nosso país. Hoje, estudamos Freudpara combater seus erros. Nossa concepçãonão aceita a existência deprincípios inatos que determinam ossentimentos e a vida do homem. Todoo conteúdo de nossa consciência vemdo conhecimento sensitivo.- Mas vocês não adiam que háneuroses provenientes de anomaliassexuais?Essa pergunta incomodou visivelmentenossos entrevistados, que, porum pudor incompreensível, evitaramtodas as perguntas referentes a problemassexuais./«•.


Durante muito tempo me apaixonoua pintura linear pura até que descobriVan Gogh, que pintava, em lugar delinhas e formas, coisas da naturezamorta como que agitadas por convulsões.E morta.Como sob o terrível embate dessaforça de inércia a que todos se referemcom meias palavras, e que nunca foitão obscura como desde que a totalidadeda terra e da vida presente secombinaram para esclarecê-la.Bem, são cacetadas, realmente cacetadaso que Van Gogh aplica sem parara todas as formas da natureza e aosobjetos.Desenredadas pelo punção de VanGogh,as paisagens exibem sua carne hostil,o rancor de - suas entranhas rebentadas,que não se sabe, além do mais, queforça insólita está metamorfoseando.Uma exposição de quadros de VanGogh é sempre uma data culminantena história,não na história das coisas pintadas,mas na própria história histórica.Pois não há fome, epidemia, erupçãovulcânica, terremoto, guerra, queseparem as mônadas do ar, que retorçamo pescoço da cara turva de famafatum, o destino neurótico das coisas,como uma pintura de Van Gogh, —exposta à luz do dia,colocada diretamente ante a vista,o ouvido, o tato,o aroma,nos muros de uma exposição —,lançada por fim como nova naatualidade cotidiana, posta outra vezem circulação.Em pinceladas vibrantes como as de seu biografado, Antonin Artaud revolve aalma atormentada de Van Gogh; traduz para a palavra escrita alguns de seusquadros geniais; e chega à conclusão de que o pintor de uma orelha só, não sesuicidou coisa nenhuma: foi "suicidado" por seu psiquiatra.Os corvos pintados dois dias antesde sua morte não lhe abriram, maisque suas outras telas, a porta de certaglória póstuma, mas abrem à pintura pintada,ou melhor, à natureza não pintada,a porta oculta de um mais além possível,através da porta aberta por Van Goghpara um enigmático e pavoroso maisalém.Não é freqüente que um homem,com um balaço no ventre do fuzil queo matou, ponha numa tela corvosnegros, e debaixo uma espécie deplanície, possivelmente lívida, de qualquermodo vazia, em que a cor deborra de vinho da terra se enfrentamloucamente com o amarelo sujo dotrigo.Mas nenhum outro pintor, fora VanGogh, foi capaz de descobrir, parapintar seus corvos, esse negro de trufa,esse negro de comilona fastuosa e aomesmo tempo como de excremento,das asas dos corvos surpreendidos pelosresplendores declinantes do crepúsculo.E de que se queixa a terra ali, sobas asas dos faustos corvos, faustos só,sem dúvida, para Van Gogh e, ademais,fastuoso augúrio de um mal que já nãolhe diz respeito?Pois até então ninguém como elehavia convertido a terra nesse traposujo empapado em sangue e retorcidoaté escorrer vinho.No quadro há um céu muito baixo,achatado,violáceo como as margens do raio.A insólita franja tenebrosa do vaziose eleva em relâmpago.A poucos centímetros do alto ecomo proveniente do baixo da tela,Van Gogh soltou os corvos como sesoltasse os micróbios negros de seubaço suicida,seguindo o talho negro da linhaonde o bater de sua soberba plumagemfaz pesar sobre os preparativos datormenta terrestre a ameaça de umasufocação vinda do alto.E, no entanto, todo o quadro ésoberbo.Quadro soberbo, suntuoso e sereno.Digno acompanhamento para a mortedaquele que, em vida, fez girartantos sóis ébrios sobre tantas parvasrebeldes ao exílio e que, desesperado,com um balaço no ventre, não pôdedeixar de inundar com sangue e vinhouma paisagem, empapando a terra comuma última emulsão, radiante e tenebrosaao mesmo tempo, que sabe avinho acre e a vinagre picado.O que mais me surpreende em VanGogh, o maior pintor de todos ospintores, é que, sem sair do que sedenomina e é pintura, sem se separardo tubo, do pincel, do enquadramentodo motivo e da tela, sem recorrer àanedota, ao relato, ao drama, à açãosem imagens, à beleza intrínseca dotema e do objeto, chegou a infundirpaixão à natureza e aos objetos em talmedida que qualquer conto fabulosode Edgar Poe, de Herman Melville, deNathaniel Hawthorne, de Gerard deNerval, de Achim d'Arnim ou deHoffman, não superam em nada, dentrodo plano psicológico e dramático, asuas telas de dois centavos,suas telas, por outro lado, quasetodas de moderadas dimensões, comorespondendo a um propósito deliberado.Penso que Gauguin acreditava que oartista devia buscar o símbolo, o mito,agigantar as coisas da vida até adimensão do mito,enquanto Van Gogh acreditava queé preciso aprender a deduzir o mitodas coisas mais rasteiras da vida,e segundo eu penso, caramba queestava certo.Pois a realidade é extraordinariamentesuperior a qualquer relato, aqualquer fábula, a qualquer divindade,a qualquer super-realidade.Não se necessita mais que o gêniode saber interpretá-la.O que nenhum pintor, antes que opobre Van Gogh, havia feito,o que nenhum pintor voltará a fazerdepois dele.Não preciso interrogar a GrandeCeifadeira para que me diga com quaissupremas obras-primas teria sido enriquecidaa pintura se Van Gogh nãotivesse morrido com 37 anos,porque, depois de "Os Corvos", nãoposso crer que Van Gogh chegasse apintar mais um quadro.Creio que morreu com 37 anosporque já tinha chegado ao termo desua fúnebre e lamentável história depossuído por um espírito maligno.Porque não foi por si mesmo, emconseqüência de sua própria loucura,que Van Gogh abandonou a vida.Foi sob a pressão, dois dias antes desua morte, desse espírito maligno quese chamava doutor Gachet, psiquiatraimprovisado, causa direta, eficaz esuficiente dessa morte.Lendo as cartas de Van Gogh a seuirmão cheguei à firme e sincera convicçãode que o doutor Gachet,"psiquiatra", na realidade , detestavaVan Gogh, pintor, e que o detestavacomo pintor, mas acima de tudo comogênio.É quase impossível alguém ser aomesmo tempo médico e homem hon-


ado, mas é vergonhosamente impossívelalguém ser psiquiatra sem estar aomesmo tempo marcado ao fogo pelamais indiscutível loucura: a de nãopoder lutar contra esse velho reflexoatávico da multidão que convertequalquer homem de ciência aprisionadona multidão, numa espécie deinimigo nato e inato de todo gênio.*No alienado há um gênio incompreendidoque cobiça na mente uma idéiaque produz pavor, e que só no delírioconsegue encontrar uma escapatóriapara as opressões que a vida lheprepara.O doutor Gachet não dizia a VanGogh que estava lá para retificar suapintura (como ouvi o doutor GastonFerdière, médico-chefe do asilo deRodez, dizer que estava lá para retificarminha poesia), mas o mandavapintar a natureza, sepultar-se numapaisagem para evitar-lhe a tortura depensar.Pois bem, tão logo Van Gogh viravaa cabeça, o doutor Gachet lhe desligavao comutador do pensamento.Como se não quisesse a coisa, masatravés de uma dessas desprezíveis einsignificantes torcidas de nariz nasquais todo o inconsciente burgês daterra inscreveu a antiga força de uinpensamento cem vezes reprimido.Van Gogh se representou a simesmo em grande número de telas, epor mais bem iluminadas que estivessemsempre tive a penosa impressão deque as haviam feito mentir a respeitoda luz, que tinham tirado de Van Goghuma luz indispensável para cavar etraçar seu caminho dentro de si.E esse caminho, não era sem dúvidao doutor Gachet a pessoa capacitadapara indicá-lo.Mas como já disse, em todo psiquiatravivo há um sórdido e repugnanteatavismo que o faz ver em cada artista,em cada gênio, um inimigo.E não ignoro que o doutor Gachetdeixou na história, com relação a VanGogh, a quem ele atendia, e queacabou suicidando-se em sua casa, aimpressão de ter sido seu último amigona terra, algo assim como um consoladorprovidencial.No fundo de seus olhos, comodepilados, de açougueiro, Van Gogh seentregava sem descanso a uma dessasoperações de alquimia sombria quetomam a natureza por objeto e ocorpo humano por proveta - ou crisol.E sei que segundo o doutor Gachetessas coisas cansavam Van Gogh.O que não era no doutor resultadode uma simples preocupação médica,mas a manifestação de zelos tãoconscientes quanto inconfessados.Porque Van Gogh tinha alcançadoesse estado de iluminação no qual opensamento em desordem reflui diantedas descargas invasoras da matéria,no qual o pensar já não é consumir-se,e nem é sequer,e no qual nada resta além de reunircorpos.Não, doutor Gachet, uma tela nuncacansou ninguém. São energias frenéticasem repouso, que não determinamagitação.Eu estou como o pobre Van Gogh;também deixei de pensar, mas dirijo,cada dia de mais perto, formidáveisebulições internas, e seria digno de sever que um médico qualquer viessedeclarar que me canso.Alguém devia a Van Gogh certasoma de dinheiro, e a propósito disso ahistória nos diz que Van Gogh estavade mau-humor fazia vários dias.As naturezas superiores têm a inclinação— sempre situadas num nívelacima do real — a explicar tudo pelainfluência de uma consciência maligna,a crer que nada se deve ao acaso, eque tudo o que sucede de mau édevido a uma vontade maligna, consciente,inteligente e deliberada.Coisa em que os psiquiatras nuncacrêem.Coisa em que os gênios semprecrêem.Quando estou doente, é porqueestou enfeitiçado, e não posso considerar-medoente se não admito, poroutro lado, que alguém tem interesseem me arrebatar a saúde e tirarproveito de minha saúde.Também Van Gogh acreditava estarenfeitiçado e o dizia.No que me diz respeito creiofirmemente que estive, e um dia direionde e como-aconteceu.O doutor Gachet foi o grotescocérebro, o pustulento e purulento cérebrode jaqueta azul e roupa engomada,posto diante do mísero Van Gogh paraarrebatar suas idéias sadias. Porque setal maneira de ver, que é sadia, sedifundisse universalmente, a Sociedadejá não poderia viver, mas eu sei quaisheróis da terra encontrariam sua liberdade.Van Gogh não soube livrar-se atempo dessa espécie de vampirismo dafamília, interessada em que o gênio deVan Gogh pintor se limitasse a pintar,sem reclamar ao mesmo tempo a revoluçãoindispensável para o desenvolvimentocorporal e físico de sua personalidadede iluminado.E entre o doutor Gachet e The o,irmão de Van Gogh, houve muitosdesses hediondos conciliábulos entrefamiliares e médicos-chefes dos asilosde alienados, em relação ao enfermoque tem em mãos."Tome conta para que não tenhamais esse tipo de idéias" "Olha, foi odoutor que disse, você tem de largaresse tipo de idéias". "Faz mal a vocêpensar sempre nelas; vai ficar internadotoda a vida"."Mas não, senhor Van Gogh, vamos,convença-se de que tudo é puracasualidade; além disso não fica bemquerer examinar assim os segredos daprovidência. Conheço o senhor Fulanode Tal, é uma excelente pessoa; seuespírito de perseguição leva a gente acrer que ele pratica a magia emsegredo"."Prometeram pagar-lhe essa soma ea pagarão. O senhor não pode continuarobstinado a ponto de atribuir esseatraso à má vontade".Todas essas práticas suaves de psiquiatrabonachão, que parecem inofensivas,mas que deixam no coração algocomo a fenda de uma linguinha negra,a linguinha negra inofensiva de umasalamandra venenosa.E algumas • vezes não é preciso nadamais para levar um gênio ao suicídio.Chegam dias em que o coraçãosente tão terrivelmente a falta de saída,que é surpreendido, como uma pauladana cabeça, com a idéia de que já nãopoderá mais ir adiante.Pois foi precisamente depois de umaconversa com o doutor Gachet queVan Gogh, como se nada tivesseacontecido, entrou no quarto e suicidou-se.Eu mesmo estive 9 anos num asilode loucos e nunca tive a obsessão dosuicídio, mas sei que cada conversacom um psiquiatra, de manhã na horada visita, fazia surgir em mim o desejode me destruir, ao compreender quenão poderia degolá-lo.E Theo talvez fosse muito bom paraseu irmão, do ponto de vista material,mas isso não lhe impedia de oconsiderar um delirante, um iluminado,um alucinado, e se obstinava, em vezde o acompanhar em seu delírio, de oacalmar.Que depois tenha morrido de pesar,não muda a coisa em nada.O que mais importava a Van Goghno mundo era sua idéia de pintor, suaterrível idéia fanática, apocalíptica deiluminado.Não há ninguém que tenha jamaisescrito, ou pintado, esculpido, modelado,inventado, a não ser para sair doinferno.E para sair do inferno prefiro asnaturezas desse convulsionário tranqüiloàs formigantes composições deBreughel, o velho, ou de JerônimoBosch, que não são mais do que artistasali onde Van Gogh não é senão umpobre ignorante empenhado em não seenganar.Para que escrever um quadro deVan Gogh! Nenhuma descrição tentadapor quem quer que seja poderá seequiparar com a simples enumeraçãode objetos naturais e de tintas a que seentrega o próprio Van Gogh, tãogrande escritor quanto pintor, e quetransmite a propósito da obra quedescreve a impressão da mais desconcertanteautenticidade.8 de setembro de 1888"No meu quadro Café à Noite,tentei mostrar que o café é um lugaronde a gente pode se arruinar, ficarlouco, cometer crimes. Em resumotentei, através de contrastes de rosatênue e vermelho sangue a borra devinho, de verde suave Luís XV e.Veronês em contraste com verdesamarelentos e esbranquecidos duros,tudo junto numa atmosfera de fornoinfernal de enxofre pálido, mostraralgo como a potência tenebrosa deuma taverna."E apesar de tudo isso, assumindouma aparência de alegria japonesaunida à candura de um Tartarim . .."Que quer dizer desenhar? Como se^


consegue? É a ação de abrir caminhoatravés de um muro de ferro invisívelque parece interpor-se entre o que sesente e o que é possível realizar. O quefazer para atravessar esse muro, pois denada serve golpeá-lo com força; paraconseguir é preciso corroê-lo lenta epacientemente com uma lima, essa é aminha; opinião."Como parece fácil escrever assim.Pois bem! Tente então, e diga-me sevocê, não sendo o autor de uma telade Van Gogh, poderia descrevê-la tãosimplesmente, sucintamente, objetivamente,duravelmente, validamente, solidamente,opacamente, maciçamente,autenticamente e milagrosamente,como essa breve carta.Não há fantasmas nos quadros deVan Gogh, nem visões, nem alucinações.Só a tórrida verdade de um sol dasduas da tarde.Um lento pesadelo genésico pouco apouco elucidado.Sem pesadelos e sem afetos.Mas ali está o sofrimento pré-natal.É o lustre úmido de um pasto, docaule numa plantação de trigo queestá ali pronto para a ceifadura.E de que a natureza um dia prestarácontas.Como também a sociedade prestarácoritas de sua morte prematura.Na hora em que escrevo estas linhasvejo o rosto vermelho ensangüentadodo pintor chegar até mim, numamuralha de girassóis desabrochados,numa formidável combustão de brasasde jacinto opaco e de ervaslápis-lazúli.Tudo isso no meio de um bombardeiome teórico de átomos no qual sedestaca cada grão,prova de que Van Gogh concebeusuas telas como pintor, e unicamentecomo pintor, mas que seriapor essa mesma razãoum formidável músico.Organista de uma tempestade detidaque ri na natureza límpida, apaziguadaentre duas torrhentas, ainda que, comoo próprio Van Gogh, essa naturezamostre claramente que está pronta parapartir.Depois de olhá-la, pode-se voltar ascostas a qualquer tipo de tela pintada,pois nenhuma tem mais nada a nosdizer. A tempestuosa luz da pintura deVan Gogh começa suas récitas sombriasno mesmo instante em que deixa deser olhada.Unicamente pintor, Van Gogh, enada mais; nada de filosofia, demística, de rito, nem de liturgia,'nada de história, nem literatura nem--poesia; esses girassóis de ouro bronzeadoestão pintados; estão pintados comogirassóis e nada mais; mas para compreenderum girassol na realidade, seráindispensável, de agora em diante,recorrer a Van Gogh, da mesma formaque para compreender uma tormentareal,um céu tempestuoso,uma planície real;já não se poderá mais deixar derecorrer a Van Gogh.O simples motivo de uma vela acesanuma cadeira de palha com armaçãovioleta diz muito mais, graças à mão deVan Gogh, do que toda a série detragédias gregas, ou de dramas de CyrilTurner, de Webster ou de Ford, queaté agora, por outro lado, ficaram semser representados.Pois não é para este mundo,nunca é para esta terra, que todostemos sempre trabalhado,lutado,suportado o horror da fome, damiséria, do ódio, do escândalo e doasco,que todos fomos envenenados,ainda que tudo isso nos tenhaenfeitiçado,até que por fim nos tenhamossuicidado,pois acaso não fomos todos, como omísero Van Gogh, suicidados pelasociedade!Então o velho Van Gogh era um reicontra quem, enquanto dormia, seinventou o curioso pecado denominadocultura turca (plebéia),exemplo, habitáculo, motor do pecadoda humanidade, que não soubefazer nada melhor do que devorar oartista quando vivo para se enriquecercom sua probidade.Pois a humanidade não quer se darao trabalho de viver, de tomar partenesse volutear natural entre as forçasque compõem a realidade, com oobjetivo de obter um corpo quenenhuma tempestade possa mais prejudicar.Sempre preferiu apenas existir.No que diz respeito à vida, costumair buscá-la no próprio gênio do artista.Ao contrário Van Gogh, que pôspara assar uma de suas mãos, nuncatemeu a luta para viver, isto é, paraseparar o fato de viver da idéia deexistir,e certamente qualquer coisa podeexistir sem se dar o trabalho de ser,e tudo pode ser, sem se dar otrabalho, como Van Gogh, o fora deórbita, de irradiar e relampejar.Tudo isso a sociedade tirou delepara organizar a cultura "turca" quetem a probidade como fachada e ocrime como origem e pontal.E assim que Van Gogh morreusuicidado, porque o consenso da sociedadejá não conseguia mais suportá-lo.Pois se não havia nem espírito, nemalma, nem consciência, nem pensamento,havia matéria explosiva,vulcão maduro,pedra de transe,paciência.Diante de uma humanidade demacacos covardes e cachorros molhados,a pintura de Van Gogh demonstraráter pertencido a um tempo em quenão havia alma, nem espírito, nemconsciência, nem pensamento; apenaselementos primordiais, alternativamenteencadeados e desencadeados.Paisagens de intensas convulsões, detraumatismos enlouquecidos, como osde um corpo que a febre atormentapara restituí-lo à saúde perfeita.Por debaixo da pele o corpo é umausina novamente aquecida,e por fora,o enfermo brilha,reluz,com todos os seus poros,explodidos,« 'como uma paisagemde Van Goghao meio-dia.Só a guerra perpétua explica umapaz que é unicamente transitória,como o leite a ponto de derramar-seexplica o bule em que fervia.Desconfie das famosas paisagens deVan Gogh remoinhantes e plácidas,crispadas e contidas.Representam a saúde entre doisacessos de uma febre ardente que estápara passar.Representam a febre entre doisacessos de uma insurreição de boasaúde.Um dia a pintura de Van Gogharmada de ferro e de boa saúde,retornará para lançar ao vento o póde um mundo enjaulado que seucoração não podia suportar.Antonin ArtaudPoeta, escritor, crítico, roteirista, ator de cinema, ensaísta, teórico do teatro, etc.'Considerado um dos maiores artistas do século. Suicidou-se.Editores: Hamilton Almeida. Myltainho,Delfim Fujiwara, Sérgio Fujiwara,Palmério Dória, Armindo Machado,Marcos Faerman, Regina Arakaki,Ricardo Alves, Dácio Nitrini,Luís Guerrero, Gabriel Romero,Alex Solnik, Sandra Adams. GabrielBonduki, Fernando Morais, CacoCaetano, Norma Freire, DomingosCop Jr., Lúcia , Robert Crumb.EX - F.ditora Ltda, rua SantoAntonio, 1043 - SP/ NENHUMDIREITO RESERVADO/ Ex - estáassentado no Cadastro da Divisão deCensura de Diversões Públicas doDPF, sob n«? 1.341-P.209/73/ Distribuiçãonacional: SupeibancasLtda. (R. Guianazes, 248, SP)/Tiragem: 20 mil exemplares/ Composição:Birôgraph/ Fotolito Poly-


ex-QUEM FAZO EQUIPESEMPRE TEMALGUMA COISAPRÁ DIZER.EQUIPE VESTIBULARES/COLÉGIO EQUIPE/COLEGIO EQUIPE SUPLETIVORua í-teirquês de Paranaguá 111 - tel.: 257 0177/257 0375Aquele texto que o Neil, o Joca, o Washington, o Otoniel, oPalhares não têm tempo de escrever prá você, nós escrevemos.Aquele iay-out que o Klaus, o Petit, o Zaragoza, o Gabi não podembolar prá você, porque não aceitam free-lance, nós bolamos.Aquela reportagem que o Bob Woodward, o Carl Bernstein, oRaimundo Pereira não farão prá você, porque estão viajando,nós fazemos.Aquele folheto que a DPZ, a Alcântara, a Mauro Salles,infelizmente não aceitam executar prá você, porque a verba épequena, nós executamos.Aquele jornalzinho que o Estadão, o JB, a Abril não estãoaparelhados prá editar prá sua empresa, nós editamos.Aquele livro seu que a Melhoramentos, a Nova Fronteira, aMacGraw Hill lamentam não publicar, nós publicamos.EX - EDITORARua Santo Antônio, 1043.LevrsLadrão: A calça Levfs ou a vida!P o n a yXVdpiUJ* • ••• • ••• • ••• • ••• • •••Conselho: Dê a calça Levfs que naJeans Store tem mais.jeans storeLI - Alameda Lorena, 718 / L2 - Rua Iguatemi, 455 / L3 - Rick Store (Av. Faria Lima) / L4 - Alameda Jaú, 1423 / L5 - Rua Maria Antônia, 116 / L6 - Rua Princesa Isabel, 235


Edição fac-similar realizada nas oficinas gráficas da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, junho de 2010.

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