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Diário de Notícias Lisboa/ - Opinião, Seg, 16 de Abril de 2012<br />
CLIPPING INTERNACIONAL (Tribu<strong>na</strong>l Constitucio<strong>na</strong>l)<br />
Ilícito é o populismo...<br />
Com a veemente censura do Tribu<strong>na</strong>l Constitucio<strong>na</strong>l<br />
à crimi<strong>na</strong>lização do enriquecimento injustificado (que a<br />
lei fazia presumir ilícito), conheceu-se agora o epílogo<br />
de uma das mais lamentáveis expressões de<br />
demagogia alguma vez produzidas no nosso<br />
Parlamento, resultado de um infeliz casamento entre<br />
as pulsões populistas de uns e os laivos totalitários de<br />
outros, todos convergindo, a propósito de uma<br />
alegada "higienização" da sociedade, <strong>na</strong> postergação<br />
dos mais elementares alicerces de um Estado de<br />
Direito, mormente o princípio da presunção de<br />
inocência.<br />
Agora que, uns atrás dos outros, iremos certamente<br />
assistir ao desfile de avisados comentadores que<br />
e<strong>na</strong>ltecerão a sábia decisão do TC, importa recordar<br />
que, no momento em que muitos desses<br />
comentadores assistiam, mudos e quedos (alguns,<br />
inclusive, aplaudindo essa pretensa "conquista<br />
civilizacio<strong>na</strong>l"), à embriaguez populista que conduziu à<br />
lei ora censurada, só o PS se manteve firme <strong>na</strong> defesa<br />
dos princípios hoje reconfirmados como fundacio<strong>na</strong>is<br />
da democracia e liberdade. Só o PS teve então a<br />
coragem de sair em defesa do Estado de Direito<br />
Democrático, ousando arrostar com críticas que só<br />
hoje, graças à luz do acórdão do TC, se revelaram,<br />
enfim, aos olhos de todos, inequivocamente<br />
infundadas.<br />
Sucede que PSD e CDS não podem deixar de<br />
continuar a merecer uma forte reprovação. É que a<br />
gravidade do seu comportamento (a que se somaram<br />
PCP e BE) não decorre ape<strong>na</strong>s - e já seria o bastante<br />
- da circunstância de terem votado, apesar dos apelos<br />
à razão por parte do PS, uma lei que nos colocava à<br />
margem do universo civilizacio<strong>na</strong>l das democracias<br />
liberais. Os principais danos da sua conduta residirão,<br />
por um lado, <strong>na</strong> caução que incautamente (?)<br />
emprestaram a uma conceção totalitária da sociedade<br />
(segundo a qual ao Estado seria legítimo inquirir da<br />
virtude do cidadão e este seria devedor dessa<br />
prestação), mas, sobretudo, no dano que bem sabiam<br />
não poder deixar de vir a provocar <strong>na</strong> confiança nos<br />
nossos tribu<strong>na</strong>is e <strong>na</strong> Justiça. É que, ao confirmar-se<br />
agora a então mais que previsível<br />
inconstitucio<strong>na</strong>lidade da lei que apresentavam como<br />
salvífica no combate à corrupção, PSD e CDS não<br />
podiam ignorar que a iliteracia jurídica de muitos dos<br />
seus eleitores iria conduzir ao enraizamento de um<br />
pensamento tão simples quanto perverso: "São os<br />
tribu<strong>na</strong>is que não querem combater a corrupção",<br />
dirão agora muitos dos que permanecem iludidos pelo<br />
discurso populista dos seus dirigentes.<br />
Ora, esse é um dano sobre a credibilidade do sistema<br />
judicial que é tanto mais grave quanto partiu da última<br />
pessoa de quem poderia ter partido: da própria<br />
ministra da Justiça. Escutamos ainda o eco das<br />
palavras de Paula Teixeira da Cruz quando, <strong>na</strong><br />
"Universidade da JSD", ao mesmo tempo que<br />
asseverava, pela enésima vez, que o diploma em<br />
causa não padecia de "nenhuma<br />
inconstitucio<strong>na</strong>lidade", proclamava que este tipo legal<br />
era "absolutamente decisivo para o combate à grande<br />
corrupção"... (dois rotundos dislates, como o PS<br />
sempre denunciou e a decisão do TC vem confirmar).<br />
É, pois, da mais elementar justiça enfatizar hoje que,<br />
onde a direção do PS argumentou com seriedade,<br />
todas as outras se fizeram banhar no populismo mais<br />
rasteiro. Onde o PS permaneceu firme <strong>na</strong> defesa de<br />
princípios, todos os demais claudicaram.<br />
Hoje, com esta decisão do Tribu<strong>na</strong>l Constitucio<strong>na</strong>l,<br />
saíram vencedores os Direitos, Liberdades e<br />
Garantias de cada cidadão. Derrotados, os<br />
demagogos e as demagogas. E o populismo.<br />
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