27.12.2013 Views

Democracy Today.indb - Universidade do Minho

Democracy Today.indb - Universidade do Minho

Democracy Today.indb - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

existentes - e mostra como a cidadania global se inicia com a educação<br />

<strong>do</strong>s cidadãos democratas [13] . Esta perspectiva coaduna-se com a a<strong>do</strong>pção<br />

rawlsiana <strong>do</strong> contrato internacional, cuja aplicação configura um<br />

processo ascendente a <strong>do</strong>is níveis - inicia<strong>do</strong> com os princípios da justiça<br />

da estrutura básica da sociedade <strong>do</strong>méstica e, só depois, progredin<strong>do</strong><br />

a uma sociedade de povos bem ordena<strong>do</strong>s.<br />

Na utopia realista rawlsiana os desígnios da democracia global<br />

internacional assentam nas ideias de “paz democrática” e de “direitos<br />

humanos” - conquanto estas sejam normalmente associadas à visão<br />

cosmopolita [14] . Antes de analisar estas duas ideias, gostaria de relembrar<br />

duas questões fundamentais. Em primeiro lugar, que na Lei <strong>do</strong>s<br />

Povos Rawls atribui protagonismo aos povos e não aos Esta<strong>do</strong>s - os<br />

povos justos estão prepara<strong>do</strong>s para garantir o mesmo respeito e reconhecer<br />

os outros como seus iguais no seio da sociedade internacional.<br />

O conceito de “povo” substancia um dispositivo de representação no<br />

âmbito <strong>do</strong> contrato internacional rawlsiano, conferin<strong>do</strong> aos indivíduos<br />

o estatuto de “membros <strong>do</strong>s povos” e não de “cidadãos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” -<br />

acepção que revela o afastamento de Rawls da visão cosmopolita quer<br />

sobre a justiça, quer sobre a democracia, e que confere protagonismo<br />

às pessoas individuais no mun<strong>do</strong> global.<br />

Em segun<strong>do</strong> lugar, que conquanto a Lei <strong>do</strong>s Povos se constitua<br />

a partir de uma concepção liberal de justiça política, não é etnocêntrica<br />

e puramente ocidental. Não se trata de aplicar um modelo ideal<br />

de sociedade <strong>do</strong>méstica - a democracia constitucional - no contexto<br />

internacional, mas antes de exigir de qualquer sociedade decente que<br />

imponha deveres e obrigações morais a todas as pessoas que se encontram<br />

no seu território, através de um sistema jurídico guia<strong>do</strong> por uma<br />

concepção de justiça que visa o bem comum e que respeite as regras da<br />

paz e os direitos humanos básicos. Ao estabelecer a distinção entre <strong>do</strong>is<br />

tipos de sociedade bem ordenada, as democracias constitucionais e as<br />

83<br />

OS DESÍGNIOS DA<br />

DEMOCRACIA GLOBAL<br />

INTERNACIONAL NA UTOPIA<br />

REALISTA RAWLSIANA<br />

Maria João Cabrita<br />

13<br />

“We must take education for democratic citizenship at the national level seriously if this<br />

is necessary for greater global democracy, and if the nation is the place where individuals<br />

can best act effectively to promote justice both at home and abroad. With respect to the last<br />

point, Gutmann writes: ‘Democratic citizens have institutional means at their disposal that<br />

solidarity individuals, or citizens of the world only, <strong>do</strong> not’ (1996: 71). Global democracy,<br />

in short, begins with the education of democratic citizens” in Tan, 2008: 175.<br />

14<br />

Sobre a relação entre direitos humanos e democracia global remetemos para Goodhart<br />

(2008).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!