Democracy Today.indb - Universidade do Minho
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outros o mo<strong>do</strong> como os princípios e as políticas que advogam e votam<br />
se fundamentam nos valores políticos da razão pública – trata-se aqui<br />
<strong>do</strong> dever de civilidade. Este dever inclui, igualmente, a predisposição<br />
para se ouvir a argumentação <strong>do</strong>s outros e um espírito de lealdade<br />
e equidade na deliberação sobre os ajustamentos a fazer de mo<strong>do</strong> a<br />
acolher as suas perspectivas [9] . No contexto da sociedade <strong>do</strong>méstica,<br />
os cidadãos cumprem o dever de civilidade caso façam o possível para<br />
que os detentores <strong>do</strong> poder se guiem pela razão pública.<br />
A fusão <strong>do</strong> dever de civilidade com os valores políticos produz o<br />
ideal de cidadania democrática - trata-se, como assinala<strong>do</strong> por Rawls,<br />
«[d]o ideal de cidadãos que se orientam e governam a si próprios<br />
segun<strong>do</strong> preceitos que cada um acredita que os outros podem razoavelmente<br />
aceitar; e, por sua vez, este ideal é favoreci<strong>do</strong> pelas <strong>do</strong>utrinas<br />
abrangentes que as pessoas razoáveis defendem» [10] . O liberalismo<br />
político apoia-se no suposto de que os direitos e os deveres básicos e<br />
os valores em questão são suficientemente determinantes para que os<br />
limites da razão pública sejam justifica<strong>do</strong>s pelas avaliações globais das<br />
<strong>do</strong>utrinas abrangentes razoáveis, quan<strong>do</strong> estas tenham perfilha<strong>do</strong> a<br />
concepção política da justiça como equidade.<br />
Sucintamente, os limites da razão pública são os limites que honramos<br />
quan<strong>do</strong> respeitamos o ideal de cidadãos democráticos. A razão<br />
pública pede-nos que acreditemos que a ponderação <strong>do</strong>s valores políticos<br />
que assumimos como razoável o seja igualmente para os outros; ou,<br />
caso isso não seja possível, que não seja tida como irrazoável. Segun<strong>do</strong><br />
Rawls, esta partilha de senti<strong>do</strong> preserva os laços de solidariedade cívica<br />
e é consistente com o dever de civilidade.<br />
No âmbito da Sociedade <strong>do</strong>s Povos, a razão pública desempenha um<br />
papel entre povos livres e iguais análogo ao exerci<strong>do</strong> numa democracia<br />
constitucional entre cidadãos livres e iguais. Nas palavras <strong>do</strong> filósofo,<br />
81<br />
OS DESÍGNIOS DA<br />
DEMOCRACIA GLOBAL<br />
INTERNACIONAL NA UTOPIA<br />
REALISTA RAWLSIANA<br />
Maria João Cabrita<br />
9<br />
«(...) Since the exercise of the political power itself must be legitimate, the ideal of citizenship<br />
imposes a moral, not a legal, duty - the duty of civility – to be able to explain to one<br />
another on those fundamental questions how the principles and policies they advocate and<br />
vote for can be supported by the political values of public reason. This duty also involves<br />
a willingness to listen to others and a fairmindedness in deciding when accommodations<br />
to their views should reasonably be made», Rawls, 1993a: 217.<br />
10<br />
«(...) The ideal of citizens governing themselves in ways that each thinks the others<br />
might reasonably be expected to accept; and this ideal in turn is supported by the comprehensive<br />
<strong>do</strong>ctrines reasonable persons affirm», Idem, p. 218.