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mentos decorativos kitsch como as molduras
ou as estruturas douradas das pinturas. Levamos
ou não a sério as suas provocações?
Afinal o que Carneiro faz é uma pintura
que nos arrebata tanto pela sua banalidade
como pela provocação, porque de facto já vimos
aquilo antes, que é o que ele chama “pintura
funcional” ou “pintura como ofício” roubada
à tradição de pintura dos ex-votos que tinha
como função ser um exercício de gratidão,
uma pintura devota, e não apenas um exercício
de contemplação estética. Nesse sentido, estamos
perante um tipo de pintura improvável,
que considera o público antes do artista, mesmo
que este público não exista ainda. Almeja
um consciente coletivo, em vez do artista intelectual,
e funcionam como um todo, mesmo
tendo sido realizadas em diferentes fases.
Destaque para os flyers realizados em
risografia que saem livremente da exposição
pela mão dos visitantes, e são eles próprios
também reproduzidos a partir das pinturas
que só têm palavra escrita: surgem numa linha
de continuidade das pinturas dos ex-votos em
que o texto aparecia como uma legenda na parte
inferior da pintura, mas que condicionava o
processo criativo de Carneiro, acabando por se
autonomizar em pinturas independentes.
Finalmente, essas pinturas aproximam-se
muito da estética do cartaz pintado
à mão do estabelecimento de comércio tradicional
do qual ainda se sentem uns resquícios
em algumas ruas da cidade do Porto.
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Interpretação livre, mais uma vez.