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vezes, ao longo de três anos. Aqui desvela-se
mais uma vez, através da vivência pessoal de
alguém nascido em território colonizado, o seio
familiar e a complexa realidade que foi, de parte
a parte, a guerra e descolonização e a barbárie,
a crueldade e a miséria por elas provocada.
Mas voltemos à criança que regressa
ao lugar de origem dos seus avós, que na realidade
não é um regresso porque vem para o
desconhecido: é agora estrangeira, alheada,
num universo com uma língua outra, que tem
de aprender para passado um ano entrar na
primeira classe. Faltam-lhe as cores vibrantes,
os cheiros, a paisagem, os sons da mestiçagem
singular de Nampula. Existe uma ruptura com
o seu país, os amigos, a natureza, a liberdade e
descontração que o calor permite. É essa não
pertença e o que ficou para trás, que a leva, em
adulto, a desenhar este projecto que se desdobra
numa série de trabalhos entre a performance,
o teatro, a instalação, a fotografia, a imagem-
-movimento, o som e a pintura apresentados
em mostras colectivas e individuais.
O título da presente exposição, Um lugar
sem país no mundo, patente no espaço Mira,
revela a criação de um outro lugar, um lugar inexistente
enquanto espaço físico. Um lugar que
se estabelece pelo fazer, pelo vínculo e afeição,
por um fazer de mãos dadas. Pela devolução
de um tempo ao tempo. Cria-se um novo lugar
de reflexão, de idealizações, de aprendizagem;
um lugar que também pertence a quem vê e que
surge dessa sinergia entre o artista, o colaborador,
o espectador e a obra. Santos Maia recorre
novamente à família e aos amigos para esta